49" Segredos da família "

1506 Words
Pesadelo Saí da casa da Priscilla com a mente fervendo. A raiva estava me consumindo, queimando tudo por dentro como um incêndio que não conseguia controlar. Como minha mãe conseguiu esconder isso por tanto tempo? Toda aquela história perfeita que eu tinha na cabeça, tudo foi despedaçado. O respeito que eu tinha por Jorge não mudou o fato de que ele e minha mãe estavam mentindo para mim desde sempre. Miguel, mesmo que não fosse meu pai biológico, sempre seria o verdadeiro para mim. Ele foi quem me criou, quem esteve ao meu lado, mesmo que minhas lembranças dele fossem nebulosas, fragmentadas pelas poucas memórias que restaram. Mas essas memórias eram tudo o que eu tinha, e agora até isso parecia contaminado pela traição. Subindo a rua, vi Rafaela encostada na parede, como se estivesse esperando por mim. Rafaela _ Que coincidência, né, amor? Estava com saudades de você! _ ela disse, aquele sorriso debochado que sempre me irritava. Eu estava sem paciência para joguinhos. Pesadelo _ Não tô a fim de você, Rafaela. Tô estressado pra c*****o! _ falei direto, tentando seguir meu caminho. Mas ela, sempre provocativa, não desistia fácil. Rafaela _ Se quiser, eu posso fazer seu estresse passar rapidinho, é só você deixar. _ a voz dela tinha aquele tom que sempre me fez ceder antes, mas agora era diferente. Agora, Priscilla estava na minha cabeça. A proposta era tentadora, mas não ia vacilar. Não dessa vez. Mesmo com tudo o que estava acontecendo, eu sabia que não podia fazer com ela o que já tinham feito comigo. Pesadelo _ Tô de boa. Vai pra tua casa, Rafaela. _ falei, me afastando dela e sentindo uma pequena vitória interna. Não ia dar esse gostinho para ela. Cheguei em casa com a cabeça a mil, peguei um baseado e acendi. As primeiras tragadas ajudaram a acalmar um pouco, e a fumaça parecia embalar meus pensamentos, mas eles ainda estavam caóticos. Depois de um tempo, a vontade de tomar um banho veio, então fui para o banheiro, tirando a roupa no caminho. Deixei a água escorrer pelo meu corpo, como se ela pudesse lavar as mágoas também. Mas nada lavava o que eu estava sentindo. Deitei na cama, nu, ainda molhado, com a mente tentando conectar os pontos. Minha mãe, Jorge, Miguel, eu… Como eles conseguiram me enganar por tanto tempo? Isso tudo começou a fazer sentido, mas ao mesmo tempo, parecia um pesadelo. Meus olhos pesaram com o cansaço mental, e antes que percebesse, o sono me levou. [...] Acordei com alguém batendo na porta do meu quarto. Coloquei uma cueca e uma bermuda rapidamente, abrindo a porta, e vi Fernanda ali. Fernanda _ A mãe mandou você descer pra tomar café. Ela disse que quer falar urgente com você também. É claro que queria. Já sabia exatamente o que vinha pela frente. Fui até o banheiro, fiz minha higiene e desci para a cozinha. Júlia estava ali, esperando, mas antes que ela pudesse abrir a boca, fui direto ao ponto. Pesadelo _ Não precisa falar nada, dona Júlia. Já sei muito bem o que a senhora quer falar. Só que já é tarde demais, não acha? Depois de 26 anos, pô! _ falei, sentando-me à mesa e observando cada reação dela. Ela começou a chorar, o que só alimentou mais minha irritação. Eu não estava no clima de dramas. Júlia _ A Priscilla deve ter te contado, né? Eu pedi para ela não te contar porque eu queria te falar isso. Filho, me desculpe! _ ela disse entre lágrimas. Pesadelo _ Só me responde uma coisa, mãe: como a senhora conseguiu olhar na cara do seu próprio filho enquanto escondia quem era o verdadeiro pai dele? _ perguntei, sabendo que Fernanda estava surpresa com essa revelação. Fernanda _ Que história é essa? Como assim, verdadeiro pai _ Fernanda perguntou, ainda sem entender. Dei de ombros e olhei para minha mãe, esperando que ela explicasse a situação. Pesadelo _ Fala pra ela, mãe. E pensando bem, será mesmo que o Miguel é o verdadeiro pai dela? _ provoquei, sentindo o gosto amargo das palavras na boca. Júlia estava em lágrimas, mas ainda tentou justificar o injustificável. Júlia _ Diogo, eu não te contei porque o seu pai preferiu assim. Eu era muito nova, tinha a mente fraca e acabei traindo o seu pai. _ ela começou, e eu já sabia onde aquilo ia parar. Pesadelo _ Espera aí! Você está me dizendo que eu sou fruto de uma traição? _ perguntei, tentando manter a calma. Ela confirmou com a cabeça, e isso foi como um soco no estômago. Ela continuou, dizendo que Miguel tinha descoberto a traição e que quase matou Jorge. Ele pediu para que ela escolhesse entre ele e Jorge, e mesmo com o erro, ela escolheu Miguel. Mas o amor que ela dizia sentir parecia vazio para mim, uma desculpa fraca para os erros que cometeu. Eu não podia continuar ali. Levantei-me bruscamente. Pesadelo _ Que belo amor você sentia por ele, hein? Até ficou com o melhor amigo dele. Não tô afim de me estressar logo de manhã, entendeu? Vou meter o pé pra boca! _ falei e fui para o quarto, trocando de roupa rapidamente. Peguei minha arma e meu celular antes de descer, mas a casa estava quase vazia. Só Fernanda me encarava. Pesadelo _ Para onde ela foi? _ perguntei sem muita paciência. Fernanda _ Foi pra casa da Priscilla, eu acho. Diogo, tenta esfriar a cabeça e entender o lado da mãe e da Priscilla. Ela já me contou que você ficou com raiva por ela não ter te contado. Pesadelo _ Isso não é assunto seu, Fernanda. Cuida da tua vida. _ falei seco e saí de casa. [...] Priscilla Quando finalmente cheguei em casa, o cansaço da rua parecia ter se multiplicado, mas ao invés de me entregar à exaustão, decidi tentar focar em algo mais simples, algo que não demandasse tanta energia emocional. O Natal estava chegando, e apesar do turbilhão que minha vida se tornara, havia uma parte de mim que ainda se agarrava a essas pequenas tradições, talvez na esperança de que elas trouxessem um pouco de normalidade em meio ao caos. Respirei fundo e me forcei a pensar no que precisava fazer. Sophia estava crescendo rápido, e eu sabia que ela merecia se sentir especial na noite de Natal. Lembrei-me de como seus olhos brilhavam quando escolhia algo novo para vestir, aquele brilho infantil que fazia com que todo o meu esforço valesse a pena. A ideia de vê-la radiante em um vestido novo me trouxe um fio de esperança. Talvez fosse a chance de proporcionar a ela, e a mim também, um pequeno respiro. Afinal, eu também precisava de algo novo, algo que me fizesse sentir renovada, mesmo que apenas por uma noite. Pensei em roupas que pudessem combinar com o espírito natalino, algo festivo e elegante, mas ao mesmo tempo confortável. Algo que me fizesse sentir bem, por fora e por dentro. A imagem de Sophia correndo pela sala, sorrindo com seu vestido novo, preencheu meus pensamentos por um instante. Talvez fosse isso o que eu precisava – pequenos momentos de alegria para suavizar o peso que carregava. Decidi que faria disso uma prioridade. Me joguei no sofá, abrindo o celular para começar a procurar algumas opções de roupas online. Eu podia não controlar tudo o que estava acontecendo ao meu redor, mas podia, ao menos, tentar criar uma noite especial para nós duas. Peguei o celular, pedi um Uber, mas antes que ele chegasse, vi o carro do Pesadelo parar na minha frente. Ele baixou o vidro e me olhou com aquele ar sério de sempre. Pesadelo _ Entra aí! _ ele disse, sem rodeios. Entrei no carro, ajeitei a Sophia na cadeirinha, e sentei no banco do passageiro. Pesadelo _ Queria te pedir desculpas pelo jeito que falei com você. Conversei com o C2 e com os caras, eles me fizeram ver que eu estava errado. _ ele disse, em um tom mais calmo do que o normal. Respirei fundo e olhei para ele. Priscilla _ Não te julgo, Diogo. Acho que eu agiria da mesma forma. Não fiquei chateada com você, mas sua mãe está péssima, sabia? _ falei, tentando não parecer muito envolvida emocionalmente. Pesadelo _ Minha mãe é outra história, Priscilla. Ela errou feio comigo. Não tinha o direito de fazer isso. Priscilla _ Ela é sua mãe, Pesadelo. Fez isso porque não queria destruir a família. Entenda isso. _ falei, esperando que ele absorvesse as palavras. Ele ficou em silêncio, processando, antes de mudar de assunto. Pesadelo _ Vai me dizer onde você estava indo ou vou ter que andar em círculos? _ ele perguntou, tentando aliviar o clima. Eu ri, quebrando a tensão do momento. Priscilla _ Estava indo para o shopping. Quero comprar roupas novas para o Natal, para mim e para a Sophia! _ respondi, tentando me animar com a ideia, mesmo com tudo o que estava acontecendo.
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