Priscilla
Esperei que Diogo e Fernanda saíssem de casa antes de ir até Júlia, que estava sentada no sofá, visivelmente absorta em seus pensamentos. O ambiente estava carregado de uma tensão que não consegui ignorar.
Priscilla _ Tá tudo bem, Júlia? _ perguntei, sentando-me ao lado dela. O olhar dela estava fixo no chão, e seu sorriso parecia forçado.
Júlia _ Tá tudo bem sim. _ ela respondeu, tentando aparentar normalidade, mas a inquietação em sua postura não passava despercebida.
Priscilla _ Júlia, eu queria te perguntar uma coisa sobre o Jorge.
Ela imediatamente se levantou, uma expressão de desconforto tomando conta de seu rosto.
Júlia _ Priscilla, não quero falar sobre isso. Ele é passado. Deixa isso pra lá. _ a voz dela estava carregada de uma urgência para evitar o assunto.
Priscilla _ O Jorge é pai do Pesadelo, não é? _ perguntei de forma direta, sem rodeios, e sua reação foi de um choque evidente.
Júlia _ Não fala isso para ele, Priscilla. Por favor, se o Diogo descobrir, ele vai surtar. _ Júlia implorou, seus olhos mostrando uma mistura de medo e desespero.
Priscilla _ Você precisa contar para ele, Júlia. Isso é muito importante. O Pesadelo cresceu acreditando que era filho de outra pessoa!
Júlia _ Eu sei, mas eu só preciso de tempo para criar coragem. Só me dá um tempo, tudo bem? _ Júlia me olhou com uma súplica nos olhos, e eu assenti, sentindo o peso da responsabilidade.
Priscilla _ Tudo bem. Vou embora para casa,meus pais estão lá. A Sophia já está quase dormindo. _ falei, dando uma última olhada na pequena deitada no sofá.
Prometi a Júlia que não contaria nada a Pesadelo, mas estava difícil lidar com essa mentira. Como eu poderia esconder algo tão crucial?
Estava descendo a rua em direção à minha casa, com Sophia no colo, já visivelmente cansada. Quando passei por Rafaela, que estava subindo a rua, tentei ignorá-la, mas a provocadora não deixou.
Refaela _ Tá levando a filha para os seus programas? _ ela debochou, um sorriso sarcástico no rosto.
Priscilla _ p***a, Rafaela, só não dou na sua cara porque estou com minha filha no colo. Mete o pé e me deixa em paz, sua p*****a do c*****o! _ respondi, tentando seguir em frente.
Ralfaela _ Não precisa arrumar desculpas. Quebro você e essa coisa feia junto!
Não consegui mais me conter. Virei-me e me aproximei dela com raiva.
Priscilla _ Lava a boca pra falar da minha filha, sua p*****a. Eu te mato se fizer alguma coisa com ela!
Sem dar mais atenção a Rafaela, segui para casa. Quando cheguei, encontrei meus pais e Kaua assistindo TV. O ambiente familiar me trouxe um alívio temporário.
Priscilla _ Que vida boa. Como vocês estão? _ perguntei, tentando manter a normalidade.
_ Estamos bem. _ responderam em uníssono, com um sorriso acolhedor.
Kauã _ Como a tia Júlia está, Priscilla? _ perguntou Kaua, sua curiosidade era palpável.
Priscilla _ Ela está... está bem. _ respondi, pensando na conversa tensa que tivemos.
Murilo _ O Que foi, filha? Fez essa cara por quê? _ meu pai, notou meu semblante preocupado.
Priscilla _ Não é nada, é só a Rafaela me enchendo o saco. Garota insuportável. _ falei, revirando os olhos. _ Acredita que ela ameaçou bater na Sophia. _ Meu pai imediatamente fechou a cara, seu olhar se transformando em um semblante de raiva.
Murilo _ Como é que é? Vou acabar com essa filha da p**a! _ se levantou com a intenção de agir, mas eu o segurei.
Priscilla _ Por favor, pai, não faça nada. Pode deixar que eu me resolvo com ela. Vou dar banho na Sophia e colocá-la para dormir. _ falei, começando a subir as escadas.
Paula _ Eu vou fazer a janta. Vocês querem strogonoff ou lasanha? _ perguntou.
_ Strogonoff! _ todos nós respondemos em coro, tentando desviar o foco para algo mais leve.
Dei banho na Sophia, dei uma papinha a ela e a coloquei para dormir novamente. Após isso, fui jantar com meus pais e Kauã.
[...]
Depois do jantar, fui escovar os dentes e me preparar para dormir. Meus pais e Kaua já estavam na cama. Eu me deitei, mas não consegui parar de pensar na conversa com Júlia. Olhando para Sophia adormecida, me perguntava como lidar com a verdade que estava prestes a explodir.
Priscilla _ O que eu faço, filha? Como vou olhar para seu pai sabendo que ele foi enganado a vida toda? _ murmurei, fazendo carinho em seu rosto suave e tranquilo.
Levantei-me e fui para a cozinha preparar um chá de camomila, na esperança de encontrar algum alívio para a minha mente agitada. Ao chegar na cozinha, encontrei minha mãe, Paula, sentada à mesa com um sanduíche e o celular na mão.
Priscilla _ Você vem para a minha casa à noite para assaltar minha geladeira? _ perguntei, tentando descontrair.
Paula _ Quando você morava comigo, fazia a mesma coisa. E o que você está fazendo acordada a esta hora? Por que não está dormindo? _ perguntou, seu tom de preocupação evidente.
Priscilla _ Estou sem sono. Vim fazer um chá.
Paula _ Me fala o que está te preocupando. Estou vendo que você não está bem. _ minha mãe insistiu, seus olhos cheios de preocupação.
Priscilla _ É sobre o Pesadelo, mãe! _ falei, respirando fundo.
Paula _ O que aconteceu? Vocês brigaram?
Priscilla _ Não, ainda não!
Paula _ Então, o que é? Ele fez alguma coisa com você?
Priscilla _ Teve uma invasão aqui no morro. _ Ela me olhou assustada. _ Não se preocupa, mãe. Então... _ Comecei a contar tudo o que aconteceu, desde a invasão até a conversa com Júlia. _ A Júlia me pediu para guardar segredo até ela ter coragem de contar. Mas eu não sei como vou encarar o Pesadelo depois disso. Como vou mentir para ele?
Nesse momento, Pesadelo apareceu na porta da cozinha, nos surpreendendo.
Priscilla _ Diogo? Como você entrou aqui? _ perguntei, assustada e confusa.
Pesadelo _ Eu vim te ver. Pulei a janela do seu quarto e escutei você falando com a Sophia. Segui você até aqui e escutei tudo! _ disse Diogo, com um olhar sério.
Priscilla _ Olha, podemos conversar? Deixa eu te explicar o que aconteceu! _ tentei me aproximar, mas ele se afastou, seu rosto marcado por uma expressão de frustração.
Pesadelo _ Me explicar o quê, Priscilla? Você estava tentando esconder a verdade sobre meu verdadeiro pai, c*****o! _ falou com raiva, a paciência se esgotando.
Priscilla _ Amor, por favor, me escuta. Eu não te contei porque sua mãe me pediu, era ela quem deveria te contar, não eu! _ expliquei, tentando me aproximar mais uma vez.
Pesadelo _ Você tinha que me contar sim. Você é minha mulher, c*****o.
PPriscilla _ Fala comigo direito, Diogo. Você não está falando com seus amigos, não. Sou sua namorada, então você me respeita. Tenta entender, sua mãe me pediu para não contar porque queria falar com você sobre isso. É um assunto de família, e eu não podia me meter!
Ele começou a andar de um lado para o outro, passando a mão no cabelo, claramente agitado.
Pesadelo _ Vou meter o pé! _ disse, dirigindo-se para a porta. Eu o segurei, desesperada para encontrar uma solução.
Priscilla _ Amor, por favor, tenta me entender.
Pesadelo _ Priscilla, me solta. Quero tomar um ar. É melhor eu sair antes que eu faça alguma coisa r**m! _ disse, sem me olhar.
Eu não disse mais nada. Apenas o soltei, compreendendo seu lado. Ele estava lidando com uma mentira que moldou toda a sua vida, e eu sabia que a dor e a confusão que ele estava sentindo eram intensas. No entanto, também sentia que ele precisava entender meu lado, o lado de quem tenta proteger e apoiar, mesmo quando as circunstâncias são dolorosas.