Maria Luiza
A frase de Thiago foi como um soco no estômago. Em segundos, minha mente foi inundada com palavras fragmentadas, como "Pesadelo", "três tiros" e "parada cardíaca". O quebra-cabeça montou-se de forma assustadoramente rápida, e a realização de que a pessoa que eu mais amava poderia estar morta me despedaçou por dentro.
Minha mente lutava para processar as palavras, mas o medo e a dor eram esmagadores. Senti minhas pernas fraquejarem, incapazes de sustentar o peso da realidade que me atingia. Quando caí no chão, a dor física m*l se comparava ao vazio que se abriu dentro de mim, um buraco profundo e sombrio.
Passos se aproximaram, mas eu não tinha forças para levantar a cabeça e ver quem era. Tudo ao meu redor parecia distante, irreal, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Th _ Vem, Priscilla, tenta se acalmar. Vamos beber uma água. _ A voz de Thiago parecia distante, mas senti sua mão me puxando para cima, tentando me ajudar a levantar.
Priscilla _ É mentira, não é, Thiago? Fala que é mentira... Ele não pode ter morrido. _ Minhas palavras saíram com dificuldade, o desespero transparecendo em cada sílaba. Thiago me olhou com tristeza, seus olhos refletindo a dor que ele também sentia.
Th _ Vamos lá para a cozinha. Vou te dar um remédio para você se acalmar, tá bom? _ sugeriu ele, mas eu balancei a cabeça em negação, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Priscilla _ Não quero remédio nenhum. Quero ver ele, Thiago. Onde ele está? _ Minha voz tremia de angústia, o coração batendo acelerado no peito.
Th _ Eu te levo, mas vamos primeiro à cozinha para você beber uma água. _ Thiago insistiu, sua mão firme me guiando enquanto eu me apoiava nele, cada passo parecendo um esforço monumental.
Quando nos aproximamos da porta da cozinha, avistei uma figura familiar. Meu coração parou por um segundo. Era ele. Diogo estava lá. Antes que pudesse pensar, me separei de Thiago e corri para os braços de Diogo, jogando-me sobre ele como se minha vida dependesse disso. Ele me abraçou forte, seus braços ao redor de mim, e senti o alívio esmagador misturado com a raiva.
Priscilla _ Por que você fez isso, Diogo, seu i****a!? — Choraminguei, soluçando em seu peito enquanto o abraçava com todas as minhas forças. _ Eu te odeio!
Pesadelo _ Era só um susto, minha preta. Olha aqui para mim. _ disse ele, colocando-me no chão e segurando meu rosto com delicadeza. Seus olhos encontraram os meus, transmitindo uma sinceridade que quase me desarmou. _ Já fazia muito tempo que eu queria te dizer isso, entendeu? Primeiramente, quero te pedir desculpas por ter feito você chorar assim. _ Ele limpou minhas lágrimas com a ponta dos dedos, o toque dele era suave, mas eu estava furiosa.
Priscilla _ Não te desculpo. Eu achei que você tinha morrido, seu i****a. _ Falei, batendo nele com força, ainda tentando processar tudo, ainda atordoada pela dor recente.
Fernanda _ Deixa ele falar, amiga! _ pediu Fernanda, que estava ao lado, com um sorriso emocionado no rosto.
Diogo respirou fundo e continuou, seu tom agora mais sério. _ Você chegou em um momento da minha vida em que eu havia desistido do amor. Eu só queria curtir a vida, sem compromissos, mas você mudou isso. Fez meu coração perceber que vale a pena amar alguém, que a vida não é só diversão. Quando estou ao seu lado, tudo parece mais leve, o mundo parece parar. Você se tornou minha paz. Você é a mulher da minha vida. _ Ele fez uma pausa, seus olhos refletindo toda a emoção que sentia. _ De todos, é você. Eu te amo, minha preta. Então, minha marrenta, aceita namorar e depois casar comigo?
O mundo pareceu desacelerar naquele momento. As lágrimas continuavam a escorrer, mas agora havia algo mais. Apesar da raiva, um calor começou a crescer dentro de mim. Olhei para Fernanda, que estava com os olhos vermelhos de tanto chorar, e Júlia estava na mesma situação, ambas emocionadas.
Priscilla _ Eu aceito. Aceito namorar e depois casar com você! _ As palavras saíram do fundo do meu coração, e ele me beijou com uma paixão que me fez esquecer do mundo ao nosso redor.
Quando nos separamos, Diogo tirou uma pequena caixinha de veludo do bolso e a entregou a mim, com um sorriso tímido.
Pesadelo _ Abre aí, pô! _ pediu ele, envergonhado.
Ao abrir a caixinha, me deparei com um anel simples, mas lindo. Um símbolo do que estava por vir.
Priscilla _ Que lindo, amor! Eu amei! _ exclamei, e o beijei de novo, sentindo todo o amor que tinha por ele.
Th _ Agora meu irmão está de coleira, fudeu, parceiro! _ Th brincou, arrancando risadas de alguns, mas Fernanda o olhou com uma expressão fechada. _ Fudeu nada não, pô. Estou brincando. _ Ele riu, e a tensão se dissipou um pouco.
Pesadelo _ Agora estou casado, quero saber de mais nada! _ Diogo afirmou, abraçando-me de lado, mas havia algo que ainda pesava no ar.
Julia _ Muito lindo o discurso e tudo mais, mas achei uma palhaçada você mandar o Thiago dizer que você morreu. Você é um corno, Diogo. Que ódio de você! Você sabe a dor que é ouvir que seu filho morreu? Não, você não sabe. Então, antes de fazer as coisas, pense nas pessoas que podem se machucar, p***a! _ Júlia explodiu em lágrimas, ainda abalada pelo susto.
Diogo olhou para ela, claramente arrependido.
Pesadelo _ Desculpa, minha coroa. Era parte do plano... Eu só esqueci de comentar isso com vocês.
Fernanda _ Se eu tivesse perdido meu filho, eu te matava! _ falou com uma expressão de raiva, mas havia um brilho protetor em seus olhos. Ela estava grávida, esperando nosso pequeno Miguelzinho, e aquele instinto maternal estava à flor da pele.
Tentando mudar o rumo da conversa, perguntei sobre o que mais me preocupava.
Priscilla _ Mudando de assunto, quem invadiu o morro?
Th _ O Emanuel, pô. _ respondeu Th, e eu franzi o cenho, confusa.
Pesadelo _ O filho da p**a fugiu. Ele viu que estava perdendo e fugiu. Mas eu não vou deixar assim, não. Vou atrás desse desgraçado até no inferno. _ Diogo falou, sua voz carregada de determinação.
Priscilla _ Emanuel? Como assim? _ perguntei, sentindo que havia algo mais nessa história.
Diogo respirou fundo antes de explicar.
Pesadelo _ É, amor. Emanuel quer vingança. Ele colocou na cabeça que eu tomei o morro dele e agora quer revidar.
Minhas memórias começaram a se reorganizar, e de repente, tudo fez sentido.
Priscilla _ Então era você. Era de você que ele estava falando! _ Todos me olharam com curiosidade, sem entender a conexão que eu estava fazendo.
Th _ Está falando do quê, maluca? _ Th perguntou, franzindo o cenho.
Priscilla _ Ele me falou sobre um amigo de infância que tomou tudo dele e fez o pai do Emanuel virar contra ele. Ele disse que agora queria vingança. Eu só não percebi que era de você que ele estava falando! _ Expliquei, e vi as peças começarem a se encaixar na mente de Diogo.
Pesadelo _ Ele falou mais alguma coisa? _ perguntou, seu olhar fixo em mim, mas balancei a cabeça em negação. _ Eu não virei ninguém contra ninguém. O pai dele descobriu que o filho da p**a estava roubando as mercadorias dele e o expulsou da favela. Ele tinha raiva de mim porque o Jorge me considerava como um filho. _ Diogo esclareceu, e suas palavras ecoaram em minha mente.
Fernanda, que estava ao nosso lado, perguntou curiosa.
Fernanda _ Quem é Jorge?
Júlia _ O pai do Emanuel! _ respondeu, com um tom estranho, como se aquele nome trouxesse lembranças do passado.
Diogo olhou para ela com surpresa.
Pesadelo _ Você conhece ele?
Júlia hesitou por um momento, mas depois respirou fundo e revelou um segredo que ninguém esperava.
Júlia _ Já tive um caso com ele, há muitos anos atrás.
A revelação caiu como uma bomba no meio da sala. Diogo parecia atordoado, processando as palavras de sua mãe.
Pesadelo _ Que história é essa? Você já teve um caso com o melhor amigo do meu pai? Ele sabia disso, mãe?
Júlia _ Seu pai sabia de tudo. Ele descobriu sobre o meu caso com o Jorge, e eles até brigaram por isso. Mas depois ele me perdoou. Eu tive que escolher entre ele e seu pai... O resto você já sabe. _ explicou Júlia, olhando para o chão, sua voz carregada de arrependimento.
Minha mente girava, tentando entender o que estava acontecendo. Diogo havia mencionado que Jorge o considerava como um filho, e Júlia teve um caso com ele. Eu me perguntava se Diogo ou Fernanda poderiam ser filhos de Jorge. E se Júlia esconderia um segredo tão importante assim deles?