(Pither)
"O que foi que deu em mim?" Foi a frase que não saía da minha cabeça. Cheguei no meu quarto e bati a porta com tudo, eu estava enfurecido, meus nervos palpitavam sobre a pele e eu tinha dificuldades pra respirar. Naná bateu na porta e entrou logo em seguida.
- Você pode me explicar o que foi que aconteceu lá embaixo? Ela falou entrando no quarto. Não respondi, estava debruçado com minhas mãos sobre a escrivaninha. - Pither você não é um menino agressivo, o que deu em você?
Eu virei meu rosto e a olhei, ela estava tão preocupada que varreu todo o quarto com seus olhos.
- O que foi que houve com o espelho? Ela se aproximou e avistou os cacos no chão, me olhou assustada na mesma hora. - Meu Deus!
- Isso não foi hoje! Esqueci de pegar ...
Naná andou pelo quarto, como se pensasse e eu acabei falando.
- O Miguel me tirou do sério! Ele é um i****a, mas ... Desculpa!
Ela se virou incrédula, ainda me analisando.
- E o espelho, porquê quebrou?
Eu olhei pro lado lembrando do verdadeiro motivo .
- Esmurrei o espelho evitando fazer uma besteira! Falei me explicando.
Naná assentiu ainda séria.
-Suponho que seu comportamento exagerado tem haver com Esther? Pensei em negar mais ela sorriu. - Se você pudesse se olhar!
-O que tem? Perguntei irritado.
-Diria que está com todos os sintomas de um homem apaixonado!
A fitei com os meus olhos nos seus.
-E eu diria que você está louca! Saí do quarto e ela se virou me olhando, ainda com aquele sorriso bobo no rosto.
(...)
Desci as escadas ainda perturbado com as idiotices de Naná, quando a campainha tocou. Abri a porta da sala e Déborah entrou ( Era só o que me faltava!).
Eu não sei porque tem dias que acordamos com o pé esquerdo, parece que o universo conspirava contra mim hoje. E pra completar essa garota aparece com suas exigências e cobranças... Ou querendo alguma outra coisa!
- Oii Amor! Ela entrou e eu fechei a porta. Ela veio em minha direção e me beijou na boca, tive a sensação que vinha vindo alguém, então me afastei... Era Esther! Déborah olhou pra ela.
- Oi pra você também! Ela disse enquanto Esther vinha da cozinha com seu livro.
- Boa tarde! Esther respondeu tímida.
Déborah a mediu de cima a baixo, e eu sorri por dentro.
É esse o problema né Deborah?! Ela é linda e isso te incomoda!
Esther voltou pra cozinha, e eu fiquei m*l de talvez ela se sentir ofendida pela grosseria de Deborah.
- O que ela ainda faz aqui? Déborah me perguntou voltando minha atenção pra ela.
- Esther mora aqui! Falei andando pela sala.
Déborah abriu sua boca para dizer alguma coisa, mais a porta da sala abriu-se no mesmo instante. Era o meu pai "Salvo pelo Gongo" pensei.
- Déborah! Querida... Como está? Papai a cumprimentou com um belo sorriso no rosto. Nem parecia o mesmo quando estava perto dela.
- Eu vou bem! E o senhor?
- Aaah Por favor me chame de Álvaro... Logo seremos uma família, esqueça as formalidades!
Revirei meus olhos enojado com a hipocrisia de papai, em mostrar para as pessoas algo que não existia.
Papai e Déborah se sentaram, ele pediu que eu me sentasse também, como se nada tivesse acontecido. Ele simplesmente esqueceu toda a discussão que tivemos mais cedo, só de olhar para Déborah e seus milhões.
- Então Álvaro... Ela disse sorrindo quando deixou um ênfase no nome dele. - Pither e eu estávamos falando sobre a moça que está morando com vocês.
- Esther? Me virei na mesma hora surpreso quando o vi chama-la pelo nome. - Ela é minha sobrinha! Ele mentiu na cara dura.
- Eu não sabia que o senhor tinha sobrinha?! Ela disse desconfiada.
- Sim! Ela é filha do meu irmão Osvaldo! Mais um ponto pro mentiroso.
Olhei para a porta e vi quando Esther saiu da cozinha de cabeça baixa meu coração gelou na mesma hora. Ela não sabia do teatro que papai estava fazendo em relação a ela, e eu estava vendo o momento em que uma pergunta errada colocaria tudo a perder.
Esther passou sem olhar para o lado, ela não viu meu pai, mais ele a viu.
- Esther! Ele a chamou. - Senta com a gente querida...
Esther olhou para ele, depois para Déborah e por último a mim. Gostaria de ler o seu pensamento, parecia deslocada e um pouco triste.
- Obrigada! Mais vou fazer algumas coisas...
- Vem querida! Faça companhia pra nós eu não quero segurar vela sozinho!
Provavelmente ela não sabia do que Papai se referia quando mencionou as velas. Ela quase não conhecia gírias populares, e eu fiquei feliz por isso.
Esther se sentou ao lado de papai. Eu fiquei olhando sua timidez, e senti seu desconforto por estar ali. Fiquei pensando que eu iria recompensa la por toda a chateação dessa noite, e não deixarei esses dois gananciosos ir muito além, a ponto de constrange-la.
- Se você é filha do Osvaldo... Suponho que tenha morado em vários lugares com ele? Déborah a perguntou. E eu vi quando papai engoliu em seco, vendo seu plano quase sendo despencado. Esther não respondeu, mais papai sim. Antes que ela o comprometesse.
- Nas aventuras de Osvaldo, Esther ainda era muito pequena... Morou a maior parte na Espanha, e depois voltou pro Brasil...
- Humm.... Déborah a analisava com cautela. - Você estudou na Espanha? Déborah perguntou, e papai rebateu outra mentira.
- Esther é muito reservada preferiu aulas em casa!
- Sei... Déborah parecia não acreditar em nada. - E pensa em fazer faculdade?
Nesse momento eu entrei na conversa, e falei olhando para Esther. Para que ela sentisse as minhas palavras.
- Esther vai estudar arte! Seus desenhos são ótimos e merece ser reconhecida...
Ela me olhou com ternura, somente eu e ela sabíamos do que eu estava falando.
- E ela não fala nada?! Déborah perguntou desconfiada. - Por que não a deixam responder as perguntas?
Papai sorriu meio desesperado, e Esther enfim falou.
- Como meu tio disse senhorita... Sou tímida! E muito reservada! Por isso prefiro estudar em casa... Gosto muito de arte! Principalmente desenhos! Com certeza optarei por esse curso na faculdade! E a Espanha é um país muito bonito, mas sem dúvida ainda prefiro estar perto da minha família no Brasil.
Papai abriu um enorme sorriso. Eu fiquei boquiaberto com a inteligência dela em matar a charada. Esther me ouviu mencionar o nome do Tio Osvaldo algumas vezes. E entendeu perfeitamente o que estava acontecendo ali.
Nesse momento a campainha tocou e eu me levantei para abrir a porta. Quando avistei meu primo Matheus e uma moça com ele na porta. Essa moça é a sua namorada Luísa ( E as visitas não paravam de chegar!!) pensei.
Matheus entrou todo alegre, tocando em minha mão e me abraçando em seguida.
- E aí Pither?! O cumprimentei também.
- Entrem, Por favor!
- Como vai Pither? Luísa disse me cumprimentando.
- Bem obrigado! É bom revê-la.
Matheus, Luísa e eu já tínhamos saído juntos algumas vezes. Foi quando eu tive a desinsorte de conhecer a Déborah! Aliás quando Déborah avistou Luisa, ela se levantou na mesma hora. As duas tinham uma rincha antiga desde a faculdade, que nunca conseguiram se acertar. Déborah fuzilou Luisa com seu olhar, mais ela não se importou era extremamente educada e cumprimentou a todos na sala. Depois se virou para mim.
- Sua casa é muito bonita Pither! Sorri e agradeci pelo elogio. Enquanto Déborah a encarava quase dando o bote certeiro em Luisa.
Papai se sentiu um rei perto de tantas mulheres. As três sentaram-se no sofá e eu fiquei logo atrás junto com o meu primo Matheus. Que só falava bobagens!
Observei-as por alguns instantes... Uma ruiva de olhos castanhos, uma morena também de olhos castanhos, e uma loira de olhos azuis. Que semetria linda elas faziam! Mas sem dúvida Esther se destacava! Tanto pela beleza, quanto pela simplicidade que carregava nos olhos. Foi quando o meu primo se aproximou de mim sussurrando.
- De onde saiu essa beldade?
- Se eu te contasse não acreditaria! Falei sorrindo.
- Você sempre teve bom gosto para mulheres... Mas agora se superou!
- Não! Ela é só a minha amiga! Falei me virando para ele.
- Tá! E seu noivado com Déborah?! Ainda procede?
- Sim... Falei desanimado.
- Por que vejo você como um cordeiro indo para o abate? Matheus perguntou ainda falando baixo. Enquanto meu pai tagarelava entre as mulheres.
- Porque é assim que eu me sinto... Matheus me olhou nos olhos e percebeu que eu não estava rindo, então mudei de assunto. - E você e a ruiva?
- Luísa?! Ele sorriu no mesmo instante.- Aaah! A gente enfim conseguiu assumir o nosso namoro pra todo mundo! Ela não liga de eu ser um garçom!
- Eu tenho muito orgulho de você Matheus! E você sabe disso! Falei apoiando minha mão sobre seu ombro.
Matheus foi alguém que perdeu a mãe muito cedo. E apesar de vim de uma família de pouco recursos deu a volta por cima, conquistou uma bolsa na faculdade e já ia se formar.
- Eu também tenho de você Pither! Apesar de as vezes você ser cabeça dura e tomar certas decisões erradas... Matheus balançou sua cabeça, mostrando sua posição sobre o meu casamento. Nessa hora Déborah se aproximou de nós, colocando seu braço em meu pescoço.
- O que os dois bonitões estão de cochichos? Ela perguntou olhando pra nós.
- Não estamos cochichando Déborah! Matheus respondeu sem hesitar. - Só estamos conversando...
Ela virou para atrás e olhou para Esther. Naná servia aperitivos para as visitas, Esther sussurrou algo no ouvido dela, e eu poderia apostar que estava oferecendo ajuda.
Tive certeza quando Naná negou com a cabeça, afirmando que estava tudo bem. Esther era muito prestativa, e carinhosa com as pessoas, principalmente com os empregados! Uma das qualidades da minha mãe! Nunca fazer acepção de pessoas, era o lema dela.
- Vocês homens são tão bobos! Déborah chamou nossa atenção para ela.- Nem disfarçam que estão babando por essa moça!
Matheus e eu nos entre olhamos, ela revirou os olhos e continuou com suas afrontas.
- Você já conhecia a protegida do Pither, Matheus?
- Não! Ele negou.
- Deborah! Aqui não! Chamei a sua atenção, mais ela fingiu não me ouvir.
- Então, essa garota simplesmente chegou do nada e estão fazendo eu acreditar que é da família...
- Déborah por favor! Pedi outra vez temendo um escândalo.
- Pode ficar tranquilo Pither! Não vou dar espetáculo na sua casa! Só quero que saiba que não engoli essa história e muito menos essa garota!
- Com licença! Matheus falou e depois saiu.
Respirei fundo, porque eu já não estava mais aguentando essa situação! Precisava dar um fim nisso!