(Esther)
A proposta de Pither me pegou de surpresa! Juro que nunca passou pela minha cabeça essa hipótese.
Tipo primeiro eu não sabia que a mãe dele era uma artista, e ganhava dinheiro tirando fotos. Segundo eu também não sabia que ela tinha uma galeria, onde fazia suas próprias exposições! Sem contar que apesar de seu falecimento, esse investimento nunca falhou.
Essa era uma oportunidade sem volta para o Pither, mostrar todo o seu potencial. Ele poderia dar continuidade no trabalho da mãe, fazendo o que gosta.
Tudo parecia perfeitamente aceitável, menos a convicção de Pither em me querer para a sua exposição. Eu não tinha padrão de modelo, nem sei ao menos fazer poses pra isso. Essa ideia era extremamente maluca! Eu?! Uma garota de 17 anos, super tímida, que nunca peguei em uma câmera na minha vida, como é que eu ia posar na frente dela? Isso era mais a cara de Deborah! Com sua elegância, altura, e super magrelinha, correspondia mais as exigências.
Pither parecia não me ouvir. O fato era que quando colocava uma idéia na sua cabeça não tinha quem o fazia mudar de opinião. Sorte que ele era bonito, porque sua teimosia me estressava às vezes.
- Esther! Isso não é uma campanha de televisão... Também não estou pedindo pra você ser garota propaganda de marcas famosas! Eu quero o seu rosto no meu evento! E tenho certeza que vai funcionar!
Eu olhei para Pither ainda não convencida. Ele mastigava uma bala encostado na quina da mesa.
- Você não confia em mim? Ele perguntou. Revirei meus olhos na hora.
- Essa tática é velha! Você usa esse papo de confiança pra me fazer ceder!
Cruzei meus braços e balancei minha cabeça em negação.
- Tah! Vamos fazer o seguinte... Ele se aproximou de mim olhando nos meus olhos, pude sentir seu hálito fresco cheirando a menta no meu rosto. "Aaah! Agora era apelação". - Você deixa eu tirar algumas fotos suas... Se você não gostar, a gente apaga tudo e eu procuro alguma outra inspiração para as fotos!
Pither me olhava atentamente sem dar trégua. Eu não conseguia raciocinar direito com tanto charme me embriagando! Se a idéia era me convencer com seu poder de sedução, deu certo! Por que eu só conseguia pensar como seu olhos eram perfeitos e a sua boca era extremamente atraente, junto com todo o resto do corpo. E daí então eu já estava mais do que envolvida, enquanto ele nem prestava atenção em mim.
Assenti com a cabeça, pedindo libertação com os olhos. Pither sorriu e eu me afastei olhando para os armários tentando respirar. Quando me virei ele me olhou exaltado.
- Fica aí! Desse jeito! Pegou sua máquina e mirou em mim.
- Aaah, por favor agora?! Sorri.
- O ângulo está perfeito! E esse vestido vermelho deixará um contraste melhor em você! Pither me disse enquanto tirava fotos.
- Veja!!
- Não vou negar! Ficou muito boa! Falei.
- Eu disse que você era perfeita para as fotos! Ele disse animado.
- Não se empolga não!! Falei sorrindo.
(...)
Pither e eu almoçamos no jardim. A mesa branca e aquela cobertura sobre nós me fez sentir confortável. Além da ótima vista que tínhamos para a piscina. Comiamos uma comida deliciosa, acompanhada de suco de laranja natural.
- E a sua noiva, nunca mais apareceu? Falei enquanto tomava um pouco do meu suco. Pither mudou seu semblante na mesma hora, franzindo o cenho.
- Déborah é complicada! Só aparece quando quer...
Sorri enquanto dava outra garfada.
- Eu amei o filme ontem!
- Espera pra ver quando eu te levar no cinema, você vai amar!
- Sério?! Falei animada.
- Tem um filme de terror que está em cartaz, pelo que ouvi é muito bom!
- De terror? Se for de monstros eu tenho medo!
Pither gargalhou de mim na mesma hora, se ajeitando na cadeira.
- Não tem problema! Nas cenas fortes a gente fica jogando pipoca nos outros! Eu ri do seu comentário, enquanto vi Naná se aproximando.
- Querem mais comida, amores?
- Pra mim não, estou cheia! Falei.
- Naná! Que bom que você está aqui! Eu preciso de ajuda e tenho a sensação que você é a solução! Disse Pither sorrindo como se tramando alguma.
- Fala! O que você quer agora?! Ela respondeu piscando pra mim.
- Você me empresta seu carro? Ele falou olhando para ela.
- Meu carro? Ela perguntou surpresa.
- Sim! Você sabe que estou sem... E enquanto não pego meu Porsche de volta, você bem que poderia me emprestando o seu!
- Sim Pither, emprestar não é problema! Mas você sabe que meu carro não se compara com o seu, ou com o do seu pai!
- Se ele funciona, isso é o que vale! Tudo para não pedir emprestado para o mesquinho do meu pai.
- Okay! Ele está na vaga de visitantes. Ela falou e fomos os três, ver o famoso carro de Naná.
(...)
Quando nos aproximamos das vagas, Pither apertou seus olhos e virou se pra Naná.
- Seu carro não está aqui Naná, você deve ter deixado do outro lado!
- Claro que está querido! É aquele! Naná apontou para o seu carro. E todos nós, nos viramos para olharmos.
- Aquele??? Ele perguntou assustado.
- Sim Pither! Esse é o meu carro ...
- Não... Você está brincando com a gente! Onde essa lata velha seria sua! Ele começou a rir me cotucando com o seu braço, para ver se Naná revelasse o engano. Mas isso não aconteceu. E então ele parou de rir e fez cara de paisagem.
- Isso é sério mesmo? Parecia decepcionado.
- Sim! Ele não é o seu Porsche, mais te leva nos mesmos lugares!
Pither assentiu meio desolado. Deu pra perceber que ele nunca foi pobre, e que estava fazendo todo esse sacrifício para não dar o braço a torcer ao Senhor Álvaro.
Enquanto Pither testava o carro de Naná, fiquei pensando o que aconteceu de tão grave, para ele vender o carro que amava tanto?!
- Esther, Vem! Vamos dar uma volta. Esse carro precisa se destravar um pouco... Aposto que Naná só vai até 80 km!!
Naná beliscou seu braço fingindo estar brava.
- Chega de ser palhaço e vamos logo!
Demos uma volta no condomínio. E Pither foi se adaptando ao carro de Naná.
- Não é de todo m*l! Ele disse sorrindo.
- Eu te disse que era falta de costume! Ela se deliciava ao vê lo envergonhado dentro do carro velho.
-Tá se divertindo né?! Ele a olhou pelo canto dos olhos. -Mas vou pedir ao papai que aumente seu salário! Você precisa de um possante...
-Não Pither, eu gosto desse! Naná era uma mulher refinada! Conviver com os De Fragma a deixou uma completa dama. Porem sua simplicidade era a sua marca registrada. Ela sempre deixou bem claro que não precisamos de muito para ser feliz!
Depois que chegamos em casa, Pither abriu a porta do carro para mim e Naná descer. Ele estava um pouco apressado pegou seu jaléco, sua pasta na sala e se despediu de nós.
- Naná valeu mesmo pelo empréstimo! Ele falou enquanto saía de casa, ela assentiu e ele se virou pra mim.
- E você? Vai ficar bem sozinha?
- Não estou sozinha! A Naná está comigo... Falei.
- Tabom... Longe da piscina, das sacadas ou de algum material cortante! Pither disse e gargalhou em seguida.
- Você é um bobo!! Falei sorrindo também.
- Cuida dela Naná! Ele beijou meu rosto e saiu. Naná sorriu pra ele e depois fechou a porta da sala me olhando.
- Ele se preocupa com você! Ela me disse levantando as sobrancelhas.
- É cuidado de irmão... Falei sorrindo e indo em direção ao jardim.
(...)
Sentei me na cadeira embaixo do guarda sol. Em minhas mãos a companhia de um livro e sobre os olhos a ótima vista do jardim e a piscina.
Aquele livro me fascinava, fiquei tão distraída que nem percebi quando alguém se aproximou, tocando em meus ombros. Me virei de repente.
- Então você é a famosa Esther?! O dono da voz era um rapaz de mais ou menos a idade de Pither. Ele tinha olhos e cabelos castanhos, era forte porém mais baixo que o Pither. Ele tirou os óculos de sol e eu me levantei da cadeira, ainda surpresa com a sua presença.
- Quem é você? Perguntei séria.
- Aah desculpe! Disse me estendendo a sua mão. - Meu nome Miguel Ângelo! Muito prazer!
Peguei em sua mão ainda desconfiada, pois sabia que ele era o parceiro de copo do Pither.
- Eu sou primo e amigo do Pither! Mas claro que ele já te disse isso!
- Não! Ele não me disse nada! Não menti.
Eu soube da existência de Miguel pela Naná, Pither nunca mencionou o primo em nenhuma das conversas.
Ele se sentou na cadeira ao lado e me analisava como se quisesse me conhecer.
- Como sabe o meu nome? Perguntei me sentando também.
- Eu liguei ontem! Ele disse sorrindo. - O celular de Pither só dava caixa postal! E então consegui falar com a Naná pelo fixo. Ela me disse que ele estava vendo filmes com você!
Assenti com a cabeça, ainda séria.
- Você dormiu aqui? Ele perguntou.
- Sim! Respondi, e ele sorriu maliciosamente. - Eu moro aqui! Continuei.
- Você mora aqui com o Pither? Miguel arregalou seus olhos como se eu tivesse falado absurdos.
- Sim, moro! Respondi.
- Caramba! Pither safadinho sempre escondendo o jogo! Franzi minha testa analisando o comentário m*****o de Miguel.
- Ele está me ajudando... Falei.
- Imagino que sim! Ele sorriu irônico, analisando todo o jardim como se pensasse. - E vocês se conheceram a onde?
- Uma longa história! Falei, não querendo prolongar muito. - Neto está sendo um irmão pra mim!
Aquele rapaz fez um bico com os lábios e soltou sua risada numa gargalhada sem fim ( Será que eu disse algo errado?).
- Moça agora você está apelando! Ele disse ainda sobre risos. Fiz cara de confusa e ele se explicou. - Desculpe mas Pither... Ou Néto como você o chamou agora! Não é irmão de mulheres bonitas...
- Por que não? Perguntei preocupada.
Ele parou de rir, e fitou meus olhos com suspense.
- Porque simplesmente mulheres bonitas como você é o perfil ideal do meu primo!
Ele inclinou seu corpo para frente para ver minha reação. Não hesitei em dar minha resposta.
- Talvez Neto não me considere tão bonita assim.! Falei balançando os ombros.
- Bom... Só se ele estivesse cego!! Ou se você fosse realmente a irmã dele! Agora pelo contrário...
- Talvez ele esteja só respeitando a noiva! Falei como alternativa.
- Não acredito que seja o caso. Mas você conheceu a Déborah?
- Tive o prazer! Falei sorrindo e ele sorriu também.
- Se ela soube da sua estádia aqui não acredito que tenha sido um encontro muito agradável.
Naná nos serviu um suco e saiu logo em seguida.
- Quantos anos você tem? Ele perguntou.
- Dezessete! Respondi tomando o suco.
- Aah você é novinha! Ele respondeu.- Deve ser uma tentação para o pobre do Pither conviver com você na mesma casa! Com certeza a história de irmãos de vocês dois, foi a única saída que ele teve!
Miguel falava várias coisas que me faziam ficar perdida.E então fiquei raciocinando para entender suas conversas enigmáticas.
(Pither )
Apesar de ter ido trabalhar no sábado, me alegrei quando vi que a fila de espera na recepção era pro meu Pai. Atendi meus pacientes e fui embora, sem precisar olhar pra cara dele. Eu estava apanhando um pouco com o carrinho de Naná, mas ele me serviria até eu juntar uma grana e buscar meu Porsche de volta. Não vou pedir um centavo ao meu pai! Isso eu juro de dedo mindinho.
Quando cheguei em casa avistei a moto de Miguel na entrada. Entrei feito um foguete pela porta, Naná ajeitava as almofadas quando me viu chegar.
- Já chegou filho?!
- Onde está Miguel? Falei já perdendo os sentidos.
- Ele está no jardim com Esther.... Nem ouvi o restante da frase. Joguei minhas coisas no sofá e fui em direção a eles.
Quando saí pela porta da cozinha vi Miguel sentado no jardim com a Esther. Ele gargalhava, e ela parecia sem graça com a conversa dele ( Aquele depravado vai ver agora).
Me aproximei da mesa e ele me olhou com seu sorriso maléfico.
- E aí Pither?! Como você está? Estava na companhia da sua irmãzinha!! Que por sinal é muito simpática!
Esther se virou me olhando nos olhos, parecia tranquila mas eu não.
- O que faz aqui Miguel? Perguntei entre os dentes.
- Aah queria te ver! Ele disse se levantando.
- Então já me viu! Falei apertando meus olhos de raiva. Miguel pediu licença para Esther e me seguiu até dentro da casa. Eu andava na frente quase me explodindo de raiva enquanto ele tagarelava logo atrás.
- Agora entendo sua ausência repentina Neto! Ele disse gargalhando. - Não atende minhas ligações, me abandonou no bar aquele outro dia com o Matheus... E curiosamente do nada está dedicado ao trabalho!
Miguel me provocava por que sabia que ninguém me chamava assim exceto ela. Continuei caminhando sem responder.
- Agora você é muito egoísta! Cara! Esconder um pitelzinho desses na sua casa só pra você, é maldade! Parei na mesma hora cerrando meus dentes, e fechando minhas mãos em punhos.
- É melhor você ficar quieto! Falei bem devagar.
- Aaaih Pither não vai me dizer que não é tortura morar na mesma casa que essa gostosa, e não poder fazer nada?!
Eu não vi mais nada fiquei cego no mesmo instante. Me virei empurrando Miguel contra a parede com toda a força que um cara nervoso tem.
- Eu mandei você calar a p***a da boca!! Falei batendo minha mão na parede, com o meu outro braço inteiro sobre o seu pescoço.
- Pither! Calma! Ele disse assustado.
- Eu não quero que você fale assim dela! Você me ouviu?
- Cara! Eu sou seu primo! Miguel falava desesperado.
- Eu sei! Isso é a única coisa que me impede de quebrar a sua cara! Tá dado o recado...
Saí de cima dele, e me virei passando por Naná que me olhava aterrorizada. Subi as escadas e fui direto pro meu quarto.