Sem Regras ou Culpa!!

2914 Words
(Esther) Depois do susto na piscina, entrei em um dos quartos e fui tomar um banho. Naná estava cuidando de mim como se eu fosse um bebê. Eu precisava tranquiliza-la. - Naná eu estou bem! Não foi culpa sua! Disse a ela depois que eu saí do banho. - Você deu baita susto na gente menina!Só imagina se o Pither não chega a tempo? Ela disse fazendo um sinal da cruz com as mãos. - Toma eu trouxe roupas secas! Ela estava calma, sorria com leveza. Me deu as roupas, e ainda cuidando de mim perguntou: - Vai querer almoçar na mesa, ou prefere uma bandeja no quarto? Olhei pra ela, penteando os cabelos. Eu estava de roupão (Naná me ensinou que era para usar após o banho). - Por favor, traz pra mim? Vou preferir almoçar no quarto hoje... Naná assentiu. - Vou pedir para a Olívia providenciar pra você... Agora vou ver se o Pither precisa de alguma coisa. Antes que ele comece a chamar meu nome pela casa. Ela saiu sorrindo. Eu terminei de pentear os cabelos, e vesti minha primeira troca de roupas novas. Era um sonho! Coloquei uma camiseta mangas longas, e uma calça de moletom. Pelo que eu li, estava escrito nelas Adidas. Eu não tinha noção de marcas, preços ou estilo! Passei a maior parte da minha vida trancada dentro de um quarto, lendo livros. Pra mim a única facilidade que eu tinha era com as palavras. Conversar era o meu ideal. Por isso eu era extremamente curiosa. Tudo alí era muito novo pra mim. A casa, os móveis, as pessoas e até mesmo o Pither. Ele era a única pessoa que eu realmente confiava! Porque ele acreditou em mim, quando ninguém mais queria me ouvir. Quando eu já tinha perdido as esperanças da minha vida ele apareceu. Como um anjo enviado do céu e me salvou! Me resgatou daquele lugar horrível e agora eu estou aqui na casa dele. Onde eu me sinto tão bem. O pior é que por mais que eu tentasse ser agradecida, e grata por toda aquela generosidade. Eu sentia que Pither não prestava atenção. Eu queria que ele soubesse o quanto eu estava em dívida com ele. Mas ele agia como se ele tivesse que fazer isso por mim. Não se via como um herói! Um Anjo! Como eu realmente o via. Eu não sei se é da natureza dele ajudar os outros. Se ele é acostumado a não receber nada em troca. Porque eu via uma pessoa que não ligava pra nada! Não se importava com ele, sei lá ... Meio perdido sabe?! Só sei que eu queria muito, que ele olhasse para dentro de si! E visse tudo o que eu via!... Que ele pudesse se enxergar... E isso com certeza, eu vou mostrar a ele! Olivia me trouxe aquela tentação de almoço. Eu a agradeci e sentei na escrivaninha para comer. Pra falar a verdade, eu não estava preparada para comer com os outros. Passei anos fazendo minha refeições sozinha no quarto. Por isso, quando minha massa chegou com um frango, que Olívia me disse que chamava se à parmegiana. Eu pude comer à vontade! Sem preocupações ou etiquetas, pois sabia que ninguém estava me vendo. Depois que comi e escovei meus dentes, decidi que ia levar a bandeja para a Olívia e ajuda-la na louça. Eu não tinha nada pra fazer, e seria muito legal a companhia dela. Nessa hora alguém bateu na porta do quarto, eu estava em pé e vi quando a porta abriu-se um pouquinho. Era ele! Colocou seu corpo entre a porta e apareceu sorrindo. - Posso entrar? - Claro! Entre! Pither fechou a porta e sentou-se na cama. Ele estava com roupas normais, então percebi que iria ficar em casa aquela tarde. - Senta aqui! Ele bateu com a mão ao seu lado. Para que eu me sentasse com ele, e eu o fiz. Quando me sentei fiquei totalmente estonteante, com o cheiro que ele exalava. Pither estava extremamente cheiroso, ou deixou cair o frasco de perfume em si por engano. Seus cabelos estavam molhados, então eu percebi que ele também tinha tomado banho, e aparado a barba. Era difícil deixar de notar todos os detalhes, quando se estava perto de alguém como ele. - E então? Ele me olhou com o canto dos olhos. - Tá mais calma? Sorri me encostando na parede. - Eu não estava nervosa... Você que estava nervoso! Pither também encostou se na parede, olhando para a escrivaninha. - É porque você não viu o que eu vi! Como eu te encontrei, e o jeito que eu te tirei da piscina. Pither estava quieto, sua voz rouca parecia baixa, falava passivo e sem emoção. - Não culpe a Naná! Por favor! Ela não teve culpa de nada... Ela não sabia que eu estava ali... Foi quando me desequilibrei e cai! - Eu não estou culpando ninguém Esther! Eu sei que a desastrada aqui é você, que vive caindo a toa... Eu abri a minha boca em surpresa com o comentário que ele fez, olhei para seu rosto e ele se manteve sério. Mas quando me viu o encarando, sua boca formou se em um bico e soltou a risada. Gargalhando em alto e bom som. Peguei uma almofada na cama e desci em sua cabeça, enquanto ele se esquivava ainda rindo de mim. - Não teve graça! Falei tentando esconder a risada. - E eu não sou desastrada! Pither tentava ficar sério mas acabava me olhando e rindo. Como se fazer piadas de mim, fosse mesmo divertido. - Tabom Esther! Você não é desastrada... E tão pouco cai à toa! Ele disse fingindo de sério, só para me irritar. - E você? Falei tentando jogar a bola pra ele. - Senhor Pither Neto! - Aaaah Não! Por favor, não me chame assim... Ele balançou a cabeça ainda rindo. - Já tenho o mesmo nome do meu avô! Não torne isso ainda mais humilhante, me chamando de Neto! - Por que não? Falei rindo. - Te deixa fofinho! - Aaaah Para! Desde quando fofinho combina para alguém da minha idade? - Ooow! Falou o senhor velho da casa! Dei um sorriso, e depois fiquei séria. - Para de ser tão formal, tão certinho... Ele franziu a testa e elevou uma sombrancelha. - Certinho eu? Você realmente não me conhece bem... - Claro! Balancei meus ombros. - Se você não fosse tão misterioso, e deixasse eu ver mais.... Ele balançou sua cabeça em negativa, olhando os móveis. Seu sorriso agora era curto, somente exibindo suas marquinhas nas bochechas. - Não... Talvez... Se eu deixasse ver mais... Você poderia não gostar do que visse! Ele ficou sério. - Vamos mudar de assunto? Assenti ao seu pedido, não queria chatea-lo com perguntas inconvenientes. - Tá! E como foi sua manhã na clínica? Perguntei, esperando ele falar de Lúcia. - Aah, eu atendi um paciente no horário das onze... Pither parou de falar, e depois me olhou. - Adivinha quem apareceu no consultório? - Pela sua cara, só pode ser a diretora do orfanato... - Em Pessoa! Pither fez cara de preocupado, e eu fiquei ainda mais. - E o que ela queria? Me virei para ficar de frente a ele, me aproximando mais. - Saber onde você estava?! Pither franziu o cenho, como se aquilo fosse óbvio. - E você disse a ela que eu estava aqui? Perguntei preocupada. - Não precisei dizer... Mas fica tranquila! Ela concordou em colaborar com a adoção, e daqui ninguém jamais te tira! Eu juro! Pither me olhou conformado. - Ela concordou?! Simples assim?! Pither tentou disfarçar, levantou-se da cama e começou a mexer no quarto olhando os móveis e a decoração. Como se quisesse estudar o que me dizer. - Aquela mulher é ardilosa Esther. E muito maquiavélica... Ele se virou pra mim. - Mas eu faço qualquer coisa pra você não precisar voltar para aquele orfanato! Passei minhas mãos pelo rosto. - Tá! Vamos supor que eu sei o que significa, "ardilosa e maquiavélica"! Com certeza, são adjetivos de tudo de r**m que Lúcia fez hoje no consultório! Pither sorriu, e eu continuei. - Vai me dizer o que ela pediu em troca da minha liberdade? - Como sabe que ela pediu algo em troca? - Porque Lúcia não combina nada com ninguém, ela negocia! E não faz nada pra perder! Respondi convincente. - Hum... Conhece bem ela! Ele puxou os lábios pro lado, com expressão de pensativo. - Aaaah vai ficar me enrolando, e não vai me contar? Me diz Néto o que Lúcia queria? Ele apertou os olhos. - Do que a senhorita me chamou? Ele foi se aproximando, como se quisesse fazer cara de mau. - De Néto... Não é o seu nome? Pither chegou mais perto de mim me encarando, como se tivesse aprontando alguma. - Agora vou te punir por ser tão curiosa! Pither começou a fazer cócegas em mim, me pegando desprevenida. - Eu não me chamo Néto! Eu cai na cama dando gargalhadas, enquanto ele se aproveitava para chantagear uma garota indefesa. - Como é meu nome? - Néto! Falei entre risadas - Errou! vai levar cócegas dobradas... - Não! Para! Eu não aguentava mais dar risada. - Então... Segunda chance! Como eu me chamo? Nessa hora, alguém bateu na porta e Pither parou por um momento. Me sentei na cama aliviada, quando a porta se abriu era Naná. - Com licença! Pither seu Tio Osvaldo está no telefone... Quer que eu peça para ele retornar mais tarde? - Não! Eu vou atende-lo. Pither me olhou balançando a cabeça. - Isso não acabou! Me aguarde! Ele fez sinal com sua mão para mim esperar, e eu respondi. - Eu vou querer uma revanche Néto! - Você m*l pode esperar... Ele saiu me olhando perversamente. Naná olhava pra mim, e pra ele como se não entendesse nada. - Você pode me explicar o que esse doido estava fazendo em você ? Ela perguntou, sorrindo com o canto da boca. - Estava me enchendo de cócegas... - Pither estava fazendo cócegas em você? Ela me perguntou surpresa. - É... Ele me pegou desprevenida! Naná assentiu ainda admirada, e depois saiu para fazer outras coisas. Depois disso, subi para o meu quarto. E fui dar continuidade no meu livro, enquanto Pither conversava no telefone com o tio. (Pither) Saber a opinião do Osvaldo era essencial pra mim. Primeiro eu não confiava em Lúcia! Segundo Osvaldo era um advogado muito bem remunerado no país. Pela sua competência em causas ganhas! E terceiro ele era o meu Tio preferido! Toda família tem aquele tio solteirão que viaja bastante e nunca quer nada com nada! Quando aparece, sempre com presentes, roupas caras e fotos das suas férias surfando na Califórnia! Eu tinha um e era o Osvaldo... Ele era divertido!! Papai dizia que ele era a ovelha n***a da família! Mais acho que era inveja! Pois meu tio soube curtir a vida! Conheceu tudo o que pôde. Viajou para lugares incríveis e depois voltou para o Brasil. E se formou em direito à pouco tempo. Agora meu pai, passou a maior parte da sua juventude estudando. Se formou em medicina com as melhores notas possíveis. Além de ter feito residência e dado muito orgulho aos meus avós. Depois se casou em seguida. E teve a mim! Que com certeza foi o maior arrependimento de sua vida! E se um dia ele esquecer... eu estarei aqui. A cada segundo para lembra-lo como é inesquecível a missão de ser meu Pai. Osvaldo prometeu me ajudar, marquei uma visita em seu escritório e depois desliguei o telefone. Naná estava na sala aspirando o tapete. - Deixa isso aí Naná! Amanhã é o dia da faxineira vim. Falei fechando a porta do escritório. - Ah! Não me custa nada! Além disso, é entediante ficar parada! - Sei! Falei sorrindo. - E Esther? - Subiu para o quarto! Ela ergueu a cabeça. - Naná! Falei antes de subir as escadas. - Se souber de uma professora particular me avise! Preciso de uma para vir dar aulas para a Esther... Ela me deu um sorriso irônico. - E agora, tá rindo de que? Perguntei. - Nada! Mais alguma coisa para a Esther? - Tá debochando de mim? Perguntei fingindo estar ofendido. - Imagina Pither! Vá ao encontro da senhorita Esther! Ela respondeu irônica. - Sua boba! Falei e subi as escadas rápido, enquanto Naná continuava com seu aspirador e seu sarcasmo. Bati na porta do quarto e entrei, ela estava deitada na cama lendo o livro que eu dei. Estava tão calma, serena... Seus olhos azuis estavam vidrados nas páginas e seus cabelos louros caiam sobre o rosto. Ela levantou a cabeça e me viu. - Entra... Eu estava concentrada no livro, não te vi chegar! Sentei na cama, e lembrei que na gaveta do criado tinha um jogo de dama. Eu abri e peguei o jogo. - Vamos jogar dama? Perguntei. Ela olhou atentamente enquanto eu ajeitava as peças no tabuleiro. - Eu não sei jogar isso! Ela me disse enquanto eu terminava de arrumar. - É fácil... Veja, você escolhe uma cor e um lado! E eu fico com o lado oposto. O propósito do jogo e fazer a sua peça andar, tentando fazer com que ela chegue no time adversário e vire uma dama. E tomar a maior quantidade de peças um do o outro. Quando você conseguir pegar todas as peças... Fim de jogo! Ela assentiu parecendo entender. Jogamos duas partidas seguidas, mesmo eu pegando leve com ela ganhei as duas. Esther cruzou os braços sobre o peito. - Eu não quero jogar mais! - Por que? Perguntei me segurando para não rir. - É muito chato! Ela disse disfarçando a sua derrota. - Só porque você está perdendo? - Vamos fazer outra coisa! Ela disse. - Não! Vamos jogar mais uma vez! falei. - Mais eu não quero! Ela me olhou séria. - Quer Sim! Vamos, você é boazinha... Esther jogou mais uma partida, e eu segurava a cada instante para não rir. Com a minha distração ela acabou ganhando. - Não vale! Ela disse. - Você me deixou ganhar! - Não deixei! Respondi quase rindo. - Deixou sim! Ela disse com teimosia. - Já disse que não deixei! Mas se não está acreditando vamos jogar mais uma vez... - Não! Chega de dama ! Ela disse se levantando. - Prefiro jogo da velha! - Mais eu não gosto de jogo da velha! - Aah é! Então a gente só faz o que você quer né?! Ela disse me olhando brava. Mas o que ela não sabia é que eu estava provocando-a. Era muito divertido! Déborah fazia ceninhas, dramas e choramingava. Mas nunca ficava brava comigo, a ponto de bater de frente. E isso me encantava em uma mulher, sua opinião. - Já disse que não vamos jogar mais! - Mais está dois a um Esther! Precisamos ver quem é o campeão! Eu falava com dificuldades, minha vontade era de rir tanto. - Já disse que não! Ela me olhava com o canto dos olhos irritada. - Tá vamos fazer assim... Vamos jogar só mais uma vez. E se você ganhar... Tem direito a me pedir três coisas! E se eu ganhar depois a gente conversa... Esther me olhou como se tramasse algo. - Se eu ganhar... Quero que aceite te chamar de Néto para o resto da vida... Revirei meus olhos com seu pedido. - Por que essa insistência nesse nome sem graça? Esther sentou-se na cama, e olhou pra mim. - Combinado?! Ela deu sua mão esquerda como garantia . - Tá feito! Olhei-a com meu olhar desafiador. Jogamos muito entusiasmados nossa última partida. Depois de muito mexe mexe de peças. Esther acabou ganhando. - Aaaaa! Eu venci! Ela levantou-se e começou a pular em cima da cama, com seus braços estendidos. - Me ferrei! Deitei na cama com minhas mãos sobre o rosto fingindo decepção. - Tá o que você quer ? - Primeiro vou te chamar de Néto! Enquanto vivermos ! Ela disse gritando, e pulando na cama eufórica. - Não podia ser mais humilhante! Continuei deitado, enquanto via Esther pulando no colchão. A observei por um tempo, depois peguei a perna dela, que se desequilibrou e caiu no colchão. Nessa hora fui eu que ri. - Desastrada! Falei. Enquanto ela encostou se na cabeceira descansando. - E aí? Qual será as outras duas condições? - Não sei ainda ... Disse me com a voz acelerada pela adrenalina da sua comemoração. - Ta! Enquanto você pensa, eu tenho uma idéia melhor! Se arruma, que a gente vai sair ! Saí do quarto correndo e fui me arrumar. Esther ficou me olhando, com uma cara de quem não estava entendendo nada. Eu sei que eu era noivo, que provavelmente meu casamento seria marcado para até o fim do ano. Mais eu nunca tive uma amiga que fosse legal, e topasse qualquer parada. Por exemplo, ir comigo no brinquedo mais radical do parque de diversões da cidade. Meu pai diria que isso era uma perca de tempo. Naná sempre com aquele medo de altura, e Déborah?! Aaah essa nem se fala! Com certeza, iria de salto! Com um vidro de álcool em gel nas mãos, passando em todos os acentos dos brinquedos. Eu queria ir pra me divertir, com alguém que realmente me fizesse sorrir. Esquecer tudo... Sem regras ou culpa.
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