(Pither)
Depois que eu falei com meu tio, pude ter certeza que Lúcia cumpriu com sua parte do trato, só faltava eu cumprir a minha. Saí de casa sem avisar ninguém, e procurei a concessionária mais próxima e confiável ao meu ponto de vista... Eu ia abrir mão do meu carro!
No caminho tentei pensar o mínimo possível nele, não queria me entristecer. Então lembrei de Esther, da nossa conversa, e de quando ela disse "Que seu maior medo era me perder!". Ela era tão ingênua que me disse isso sem nenhuma pretensão! Vi sinceridade nos olhos dela. Papai falava de Deborah com ternura, porque não conhecia bem a Esther! Ela era o exemplo vivo de pureza! Extremamente inocente e sincera. Meu Deus! O que vai ser dela quando eu me casar? Pensei.Talvez Naná a proteja, como fez a vida toda comigo. Eu não suportaria se algum Filho da mãe partisse o coração dela.... Claro! isso que eu sinto é preocupação de irmãos, eu não tive irmã! Por isso estou assim... Logo vai passar, quando ela encontrar alguém que realmente a mereça! Eu só estou a protegendo... Nada demais!
Na concessionária nem me esforcei para pegar um valor alto. O dinheiro não era pra mim mesmo!
Na volta peguei um táxi, e voltei pra casa. Não tinha mais consultas na clínica, e eu não estava afim de ter que explicar para o meu pai onde meu Porsche foi parar.
Entrei no condomínio a pé, e aproveitei pra fazer uma corrida até em casa, há dias não me exercitava e eu queria chegar logo. Precisava de novo ficar perto de Esther.
- De onde vem tão cansado? Naná perguntou quando me viu chegando pela porta da cozinha.
- Estava correndo um pouco! Falei pegando uma garrafa d'água e a bebendo.
- Quer alguma coisa? Naná perguntou.
- Sim! Disse tirando minha camiseta. - Por favor coloca na máquina pra mim?
Dei minha camiseta à Naná e nem percebi que Olívia entrava na cozinha naquele momento.
- Ah Meu Deus! Ela disse tapando os olhos. - Patrãozinho se você for tirar a calça, avise que eu saio daqui!
Naná deixou escapar uma risada, e eu fiquei confuso, não sabia se ria ou se saía da cozinha. Me aproximei de Olívia e tirei sua mão dos olhos.
- Tá tudo bem! Eu não vou tirar a calça na cozinha! Fique tranquila!
A cozinheira abriu seus olhos, mas ainda me observava assustada.
- Desculpe Patrãozinho pela minha petulância! Mais é que eu chego na cozinha e vejo o senhor arrancando a camiseta e... Ela me olhava meio tímida.- O senhor é um partidão, sem camiseta ainda... Eu também sou filha de Deus!
Nessa hora quase morri de rir. Olhei para Naná e ela também estava gargalhando. Dei tapinhas no ombro de Olívia e saí. Era incrível a alegria que os funcionários da minha casa me transmitiam... Pena que papai passava o mínimo de tempo possível com eles, e nunca pôde conhece-los de verdade.
(...)
Tomei um banho bem demorado. Lavei meus cabelos, escovei meus dentes e sai do quarto enrolado com uma toalha na cintura. Abri minha gaveta eu procurava uma cueca boxer e uma roupa que eu pudesse ficar a vontade. Hoje era enfim sexta-feira!
Alguém bateu na porta. Só podia ser Naná vindo buscar a calça suja.
- Entra minha linda! Respondi focado nas gavetas. A porta se abriu , e percebi que a pessoa desistiu de entrar logo de cara. Eu levantei minha cabeça para tirar onda com a cara da Naná.
- Poxa! Não vai me dizer que está com vergonha agor... Quando enfim olhei para porta e percebi que não era Naná , fiquei mudo na hora.
Esther me olhava extremamente vermelha.
- Eu achei que era a Naná! Falei quando enfim a voz saiu.
- Eu.... Me desculpa! Eu... Eu... Eu volto outra hora! Esther saiu praticamente correndo do quarto, fechando a porta e eu tive que segurar a minhas emoções, com toda força que eu tinha para não correr atrás dela e acabar fazendo uma besteira.
Encostei na escrivaninha e comecei a contar, respirando fundo.... Esse truque nunca falha!
- Um, dois, três.... Como me arrependo de ter recusado a proposta s****l de Deborah! Quatro, cinco, seis - Isso é consequência do tempo em que estou sem ficar com ninguém! Sete, oito, nove... Eu preciso me controlar, respira fundo Pither, vai passar! Dez, onze , doze.... Se não passar eu vou atrás de Deborah e resolvo esse problema! Treze.... Mas que inferno!! Não está funcionando...
Dei um murro no meu espelho, fazendo o cair cacos pelo chão. c****e! O que essa garota veio fazer aqui justo agora?! Coloquei minhas mãos em punhos fechados sobre a escrivaninha. A minha fúria era tão grande que eu era capaz de quebrar todo o quarto! Meu coração estava acelerado, meu corpo pegava fogo e minha boca secou por inteira. Esther ativou o homem das cavernas em mim, com aquele olhar. Ela sabia que eu não podia toca-la, e porque diabos apareceu no meu quarto assim?
Aos poucos fui caindo em si.... Passei as mãos pelos cabelos umas vinte vezes! E toda vez que a loucura vinha eu pensava 'Não Pither! Não faça nada que possa se arrepender depois...'
Respirei pela boca uma porção de vezes , mandei oxigênio pro cérebro e a ereção aos poucos foi diminuindo e fui me sentindo melhor.
(Esther)
Depois que Pither saiu de carro, fiquei lendo o meu livro e balançando no Parque. Eu me arrependi de ter dito aquelas coisas pra ele... Principalmente sobre o medo que eu tinha de perde-lo! Nossa que egoísmo o meu! Eu vi o sofrimento dele na outra noite e mesmo assim, eu não facilitei as coisas pra ele. Às vezes eu sou assim, faço coisas sem pensar... Sou extremamente transparente, e não consigo esconder nada! Mentir, nunca foi o meu forte e às vezes eu me odiava por isso. Pither deixou bem claro que nunca olharia pra mim, até citou o homem perfeito em sua filosofia poética. O que ele não sabia, é que eu não tinha mais controle sobre mim, e sobre o que eu sentia estava transparecendo demais. Eu precisava apressar a Naná, tínhamos que ir embora antes do casamento. Eu não quero passar cinco meses da minha vida feliz com Pither, depois vê lo se casando com outra mulher. É a mesma coisa de você tentar reanimar um paciente em seu estágio final, nunca dá certo! Ele sabe que no fundo tudo isso é uma completa ilusão. É assim que eu me sinto quando estou com ele, parece que um relógio tic tac fica ecoando na minha cabeça, e eu temo que a qualquer momento, vou explodir! É cedo, eu sei! Mais no final Ele vai colocar uma aliança no dedo dela, e dizer SIM' perante o juiz, e eu não quero estar aqui pra ver... Por que, eu Esther! Estou perdidamente apaixonada por você Neto!
(...)
Quando Olívia me disse que Pither tinha chegado, eu fui ao seu quarto. Queria que ele soubesse que o livro que me dera, eu já tinha lido. Bati na porta duas vezes, e ele gritou "Entra, linda" lá de dentro.
Quando puxei a maçaneta da porta, e ela se abriu devagarinho eu levei o maior susto da minha vida. Pither mexia nas gavetas, estava sem camisa e esperai.... Ele estava só de toalha!! Então fiquei tão envergonhada, que não tive nenhuma reação naquele instante. O pior quando ele me disse que achava que fosse a Naná, e eu já nem lembrava mais do resto da conversa. Fitei o com os olhos até a sua tatuagem na barriga... Aquele leãozinho era tão bonitinho, e mais lindo era o dono dele! Quando voltei com meus olhos para o seu rosto, eu pude perceber que ele tinha notado como eu o olhava. E eu gaguejava feito uma boba, diante daqueles olhos verdes maravilhosos que me encaravam... A minha única saída foi fechar a porta, e sair voando dalí.
(...)
Naquela noite Pither ainda não tinha descido para jantar, e o lugar dele ficou vazio na mesa, Naná e eu nos olhamos algumas vezes sem dizer nada. Senhor Álvaro comia sem dizer uma só palavra... Pelo menos já não me olhava tão feio!
Ele terminou seu jantar primeiro, limpou sua boca com um guardanapo e pediu licença para sair. Deixando nós duas numa completa solidão... Quando terminei o meu, também ia sair e voltar para o quarto, lembro que tomei o último gole do meu suco, quando vi Pither aparecer na porta.
Ele estava de bermuda, e camiseta preta gola em V. Seus cabelos não estavam mais úmidos, porém o charme era o mesmo, eles eram rebeldes, alguns fios caiam sobre a testa, outros permaneciam pra cima. Pither aparou a barba, e quando ele sorriu, tive que me esforçar o máximo para agir naturalmente. Ele era muito atraente! Déborah com certeza era uma mulher de sorte!
Ele se aproximou da gente, e beijou o topo da minha cabeça. Estava tão cheiroso! Depois beijou o rosto de Naná, e sentou-se do outro lado.
- Vou pegar o seu jantar filho! Naná se levantou, e foi para a cozinha.
- Eu já terminei! Falei ameaçando se levantar da mesa também.
- Eii! Pither chamou minha atenção. - Pode ficar sentadinha ai! Não vai me fazer companhia?
Sorri e permaneci no lugar. Ele estava muito tranquilo, como se nem lembrasse do que tinha acontecido mais cedo.
- Você queria falar comigo? Perguntou.
- Aah sim! Eu ia te entregar o livro, eu já terminei de ler! Respondi o encarando o mínimo possível.
- Aquele livro é seu! Não o quero de volta, eu te disse que era um presente!
Ele sorriu e suas marquinhas na bochecha apareceram nitidamente. - Eu estava pensando... Porquê você, Naná e eu não vemos um filme depois?
- Pode ser! Sorri e Naná apareceu com o seu jantar.
Aproveitei que Naná estava de volta e fui escovar os meus dentes.
- Vejo vocês na sala de filmes! E saí da sala de jantar, sem nem ao menos olhar pra trás.
(Pither)
Quando cheguei na sala de jantar, sua expressão mudou completamente. Ela até tentou disfarçar, mais eu sou " macaco velho" no termo mulheres. E percebi que ela estava extremamente sem graça, com a minha presença. Eu agi naturalmente, beijei seu cabelo, ele cheirava a condicionador e ela estava mais linda do que nunca...
"Meu Deus! O que tem nessa garota, que me enfeitiça tanto?!"
Quando sentei na cadeira ela quis correr, mais eu a segurei ali, só pelo prazer de continuar vendo seu nervosismo. De algum modo sua timidez mexia comigo, e eu pude desfrutar ainda mais quando perguntei, o que ela queria no meu quarto.
Esther corou no mesmo instante! Falou sobre o livro, m*l me olhava nos olhos, e quando Naná chegou ela enfim achou uma brecha para se esquivar de mim.
Se eu fosse sensato, provavelmente me afastaria dela... Sei lá, alugaria um apartamento até o casamento e ia embora.
Poderia ajuda-la mesmo assim, mas eu sou teimoso! E sigo minha intuição... Ela está pedindo pra mim ficar, a presença de Esther me fazia tão bem! Há tempos eu não me sentia tão vivo, e ela com certeza sentia o mesmo por mim. Só pelo modo como me olhou no quarto, ela nem sabia o porque, mais me desejou!
Eu pude ver nos seus olhos! Cara! Eu não sei onde isso vai dar, mais daqui eu não arrédo o pé! Mesmo que eu perca totalmente a minha tranquilidade, e o resto do juízo que me sobra, mas vou ficar perto dela até o meu último minuto solteiro... Claro! Isso se eu não conseguir me livrar de Deborah até lá, estou até pensando na possibilidade de fugir da igreja! Até imagino a cara de desgosto do meu pai. Eu tinha alguns meses, um tempo para raciocinar... Até lá eu fico admirando a beleza de Esther de perto...