Confidências

1681 Words
(Esther) Ele pediu para que eu esquecesse a noite anterior, e eu concordei. Eu menti! Mesmo querendo, eu não podia esquecer como ele me olhava. E mesmo sendo um simples beijo, eu pude sentir seus lábios quentes nos meus. Eu precisava sair! Conhecer outras pessoas! Pither tinha dona, e eu precisava esquece-lo. Ele foi tão amável comigo na mesa, pedindo que Naná se sentasse ao meu lado e me orientasse sobre como usar aqueles talheres...( E ah! Isso ele também me ensinou, que chamavam se talheres. Aqueles garfos, facas e colheres sobre a mesa) Naná era uma mãezona, sempre com sua voz pacífica, e seu jeito meigo de ser. Ela bagunçou os cabelos de Pither com seus dedos e se pronunciou. - Está grande esse cabelo não? Ela me olhou sorrindo. - Quando pretende corta-lo? Pither mastigava sua comida, parecendo não se importar. - Não! Não vou cortar, quero deixa-lo crescer mais! Amo meu corte quiff ! Deu de ombros. Naná e eu rimos, como pode ele querer mais grande que àquilo? - Assim logo vão te chamar de Doutora de Fragma! Naná falou e nos duas caímos na risada. - É impressão minha ou vocês estão juntas nessa?! Ele disse levantando uma de suas sombrancelhas. Foi nessa hora que o Senhor Álvaro chegou na sala e nos olhou por um tempo. - Vou preparar o prato do senhor! Naná disse se levantando. - Não Diana! Você está almoçando, não tenho pressa! Termine-o primeiro.... Senhor Álvaro saiu em direção ao escritório. E Pither fez uma cara muito engraçada, como se imitasse o pai. - Ele que faça o seu próprio prato! Tem mãos pra isso! Naná o olhou com o canto dos olhos. - Que malcriação! E todos nós rimos. Depois que terminamos fui ajudar Naná a levar os pratos na cozinha. Eu até quis ajudar a Olívia com a louça, mas Pither me puxou da cozinha pelo braço, e eu tive que acompanha-lo se não caia no chão. - Vem! Quero te mostrar uma coisa! Passamos pelo escritório de fininho e seguimos para o outro corredor. Esse levava nós para o fundo da casa, Pither abriu uma das portas, e entramos. De início vi um grande telão na parede, o cômodo era escuro, havia um sofá luxuoso enorme, com várias almofadas e uns quadrados de estofados pelo chão. Mais tarde Pither me disse que eles se chamavam puffs. - Então o que achou? Ele me perguntou, analisando o cômodo junto comigo. - Muito legal! Respondi, olhando para o telão. - Lembra um cinema né? Ele perguntou. - Não sei! Nunca fui em um! Ele me olhou surpreso. Depois acho que se lembrou onde eu estava presa até esse dias. - Não foi ainda.... Ele enfatizou sorrindo.- É aqui que eu venho assistir ao meus filmes preferidos quando estou entediado! - Sozinho? Perguntei rapidamente. Logo em seguida me arrependi de ter dito. - A Naná nunca quer assistir e quando vem fica me perguntando o filme todo... "Quem é que vai morrer?!" Gargalhei com o comentário dele. Saímos de lá e me deparei com o fim do corredor ao lado direito. Nele uma "outra salinha". Com um sofá pequeno branco, e um abajur numa mini mesinha ao lado. - Vem! Quero te mostrar uma coisa! Pither se sentou no sofázinho no fundo do corredor e apontou para que eu sentasse ao lado. Quando me sentei, vi ele tirando os sapatos, ficando de meias e colocando suas pernas no sofá. - Quero fazer uma coisa com você! - Comigo? Perguntei assustada. Ele gargalhou. - É Esther! Me dê a sua mão... Pither pegou minha mão esquerda, e fechou meus dedos com os seus. Ficando somente os polegares pra fora. - Conheço essa brincadeira! falei. -Temos que tentar segurar o dedo do outro né? Falei sorrindo e lembrando que eu fazia isso quando tinha dez anos, com algumas meninas do orfanato. - É sim! Mas a gente não vai só tentar prender o dedo do outro.... - Ah não?! Falei surpresa. - Não! Vamos nos comunicar um com o outro, enquanto mexemos nossas mãos... Analisei Pither por alguns instantes. - É uma espécie de terapia que você está fazendo né? Pither jogou a cabeça para trás e começou a rir sem parar. Quando conseguiu se recompor, ele me olhou ainda rindo. - Nãaaao Esther! Não estou aqui como médico... E sim como o seu amigo! Ele pegou minha mão e me olhou nos olhos. - Tá! Você primeiro... Me conte algo sobre você ? - Sobre mim? Perguntei tentando prender o dedo dele com o meu. - É sobre você! Qualquer coisa! Ele falou esquivando o seu dedo do meu. - Hum... Qualquer coisa!... Eu não sei o que é leite desnatado! Pither gargalhou na mesma hora. - Aaaah Esther! Quando eu acho que você não pode ser mais engraçada, você me aparece com essa! Ele disse sorrindo. - Eu estou falando sério! Falei prendendo o dedo dele. - Ta! Leite desnatado é um leite sem gordura! Sua vez agora! - Eu quero saber algo sobre você, também! Falei concentrada nos dedos. - Ixii... Ele deu uma pensada. -Ta! Sou apaixonado por carros em miniaturas! - Sério? Falei surpresa. - Sim, tenho uma porção delas no meu quarto.... Minha vez agora! Pither disse prendendo meu dedo pela segunda vez, e sorrindo. - Fale um sonho seu?! Senti um nó no estômago, porque o meu sonho mais profundo eu não podia dizer. - Eu... Sonho em se casar de branco! Disse olhando pra ele. - Não vale! Isso é o sonho de qualquer mulher! Pither disse parando seu dedo no ar. - Tá! Falei. - Gostaria de conhecer o mar! - O mar? Pither se surpreendeu. - Poxa é aqui pertinho... A gente vai qualquer dia! Sorri para a sua generosidade. - Minha vez! Falei. - Um arrependimento da sua vida? Pither parou sua mão por um tempo, e me fitou nos olhos. - Você me pegou! Tenho vários arrependimentos na minha vida.... Um deles é ter saído de carro com a minha mãe, no dia dez de maio de dois mil e doze... Seus olhos marejaram. - Talvez ela tivesse viva agora ! - Eu sinto muito! Falei e ele assentiu. - Minha vez! Ele disse mudando de assunto, e prendendo meu dedo. - O nome do primeiro menino que você beijou? Eu quase caí do sofá. Será que era um teste que ele estava fazendo comigo? -Eu... Gaguejei ao falar, e Pither parou sua mão na minha pra me ouvir. - Qual é não vai me contar não? - Néto! Passei a minha vida toda trancada num orfanato de meninas! Como pode me perguntar uma coisa dessas? Ele sorriu do modo como me expliquei. - Tabom! Só achei que você poderia ter conhecido algum filho do caseiro... Sei lá! O fuzilei com os olhos. - Que foi? Ele disse rindo. - Acontece nos filmes! E gargalhou em seguida. - Sua vez! - Por que vai se casar com a Deborah, se não a ama? Falei na lata. - Isso é apelação sabia?! Ele respondeu sorrindo com o canto da boca. - Tabom! Ele respondeu suspirando. - Vou me casar porque no conceito do meu Pai, ela é a mulher ideal pra mim! E eu já fui longe demais para voltar atrás... Assenti com a cabeça, e tive vontade de fazer mais umas dez perguntas só relacionada a esse assunto. Mas me calei porque era a vez dele. - Sua vez! Falei olhando pra minha mão. - Tá! Ele respondeu ainda pensando. - Por que nunca tentou fugir daquele orfanato? - Quem disse que não?! Falei sorrindo. -Minha vez... O que mais te chama atenção numa mulher? Pither engoliu em seco, a minha pergunta o tinha deixado nervoso. - Aaah! Não vou negar que há vários artefatos, mas... Acho que os olhos! Um olhar de uma mulher diz tudo! Pither me olhou nos olhos e sorriu. - Minha vez! E agora vou parar de ser bonzinho... Ele continuou sorrindo. - Qual é o seu maior medo? - Perder você! Fui direta outra vez. - Uau! Acho que você está se saindo melhor nesse jogo, do que eu! Pither respondeu ainda admirado. - Minha vez! Falei ainda observando o jeito como Pither tinha ficado. - Você sabia que eu ainda tenho dois pedidos do jogo de dama, que eu venci?! - Isso é um fato, não uma pergunta! Disse sorrindo, e desviando seu dedo do meu. - Tá! O que você quer? -Hum.... Quero trabalhar com você! Falei. - Que? Pither parou de mexer seu dedo. - Você pirou? Isso acabaria com todo o nosso processo sobre a adoção! - Não é bem trabalhar... Falei. E ele levantou suas sombrancelhas desconfiado. - Eu queria te ajudar no consultório... Um meio de te agradecer por tudo o que você faz por mim! E me sentir útil também! - Você sabe que não faço isso pra ter retornos! Ele me olhou sério. - E não é bem assim que funciona.... Mas vou pensar! Sorri e continuamos com nosso apertões de dedos. - Obrigada! É a sua vez! Vou deixar meu terceiro pedido em segredo, por enquanto.... Pither sorriu mordendo seu lábio inferior. - Quero que fale um defeito e uma qualidade minha ? Pensei um pouco e o fitei nos olhos. - Qualidade? Extremamente generoso, é raro achar alguém assim hoje em dia... - Obrigado... E o defeito? Sua voz saiu mais rouca como de costume. - Seu jeito consigo mesmo! Você sabe que não ama e nunca vai amar aquela mulher, e mesmo assim não se importa.... Age como se isso não tivesse valor! Os olhos de Pither brilharam. - É a sua felicidade que está em jogo! Ele abaixou sua cabeça, e soltou minha mão. Naná apareceu no corredor correndo. - Meninos até que enfim os encontrei... Pither seu tio está no telefone te esperando! - Vou atende-lo! Ele levantou e saiu andando pelos corredores de meias. Naná olhou pra mim e sorriu, sem imaginar do que Neto e eu estávamos brincando até agora.
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