(Esther)
Ele pediu para que eu esquecesse a noite anterior, e eu concordei. Eu menti! Mesmo querendo, eu não podia esquecer como ele me olhava. E mesmo sendo um simples beijo, eu pude sentir seus lábios quentes nos meus. Eu precisava sair! Conhecer outras pessoas! Pither tinha dona, e eu precisava esquece-lo.
Ele foi tão amável comigo na mesa, pedindo que Naná se sentasse ao meu lado e me orientasse sobre como usar aqueles talheres...( E ah! Isso ele também me ensinou, que chamavam se talheres. Aqueles garfos, facas e colheres sobre a mesa)
Naná era uma mãezona, sempre com sua voz pacífica, e seu jeito meigo de ser. Ela bagunçou os cabelos de Pither com seus dedos e se pronunciou.
- Está grande esse cabelo não? Ela me olhou sorrindo. - Quando pretende corta-lo?
Pither mastigava sua comida, parecendo não se importar.
- Não! Não vou cortar, quero deixa-lo crescer mais! Amo meu corte quiff ! Deu de ombros.
Naná e eu rimos, como pode ele querer mais grande que àquilo?
- Assim logo vão te chamar de Doutora de Fragma! Naná falou e nos duas caímos na risada.
- É impressão minha ou vocês estão juntas nessa?! Ele disse levantando uma de suas sombrancelhas. Foi nessa hora que o Senhor Álvaro chegou na sala e nos olhou por um tempo.
- Vou preparar o prato do senhor! Naná disse se levantando.
- Não Diana! Você está almoçando, não tenho pressa! Termine-o primeiro....
Senhor Álvaro saiu em direção ao escritório. E Pither fez uma cara muito engraçada, como se imitasse o pai.
- Ele que faça o seu próprio prato! Tem mãos pra isso!
Naná o olhou com o canto dos olhos.
- Que malcriação! E todos nós rimos.
Depois que terminamos fui ajudar Naná a levar os pratos na cozinha. Eu até quis ajudar a Olívia com a louça, mas Pither me puxou da cozinha pelo braço, e eu tive que acompanha-lo se não caia no chão.
- Vem! Quero te mostrar uma coisa!
Passamos pelo escritório de fininho e seguimos para o outro corredor. Esse levava nós para o fundo da casa, Pither abriu uma das portas, e entramos.
De início vi um grande telão na parede, o cômodo era escuro, havia um sofá luxuoso enorme, com várias almofadas e uns quadrados de estofados pelo chão. Mais tarde Pither me disse que eles se chamavam puffs.
- Então o que achou? Ele me perguntou, analisando o cômodo junto comigo.
- Muito legal! Respondi, olhando para o telão.
- Lembra um cinema né? Ele perguntou.
- Não sei! Nunca fui em um! Ele me olhou surpreso. Depois acho que se lembrou onde eu estava presa até esse dias.
- Não foi ainda.... Ele enfatizou sorrindo.- É aqui que eu venho assistir ao meus filmes preferidos quando estou entediado!
- Sozinho? Perguntei rapidamente. Logo em seguida me arrependi de ter dito.
- A Naná nunca quer assistir e quando vem fica me perguntando o filme todo... "Quem é que vai morrer?!"
Gargalhei com o comentário dele. Saímos de lá e me deparei com o fim do corredor ao lado direito. Nele uma "outra salinha". Com um sofá pequeno branco, e um abajur numa mini mesinha ao lado.
- Vem! Quero te mostrar uma coisa! Pither se sentou no sofázinho no fundo do corredor e apontou para que eu sentasse ao lado.
Quando me sentei, vi ele tirando os sapatos, ficando de meias e colocando suas pernas no sofá.
- Quero fazer uma coisa com você!
- Comigo? Perguntei assustada. Ele gargalhou.
- É Esther! Me dê a sua mão...
Pither pegou minha mão esquerda, e fechou meus dedos com os seus. Ficando somente os polegares pra fora.
- Conheço essa brincadeira! falei. -Temos que tentar segurar o dedo do outro né? Falei sorrindo e lembrando que eu fazia isso quando tinha dez anos, com algumas meninas do orfanato.
- É sim! Mas a gente não vai só tentar prender o dedo do outro....
- Ah não?! Falei surpresa.
- Não! Vamos nos comunicar um com o outro, enquanto mexemos nossas mãos...
Analisei Pither por alguns instantes.
- É uma espécie de terapia que você está fazendo né?
Pither jogou a cabeça para trás e começou a rir sem parar. Quando conseguiu se recompor, ele me olhou ainda rindo.
- Nãaaao Esther! Não estou aqui como médico... E sim como o seu amigo!
Ele pegou minha mão e me olhou nos olhos. - Tá! Você primeiro... Me conte algo sobre você ?
- Sobre mim? Perguntei tentando prender o dedo dele com o meu.
- É sobre você! Qualquer coisa! Ele falou esquivando o seu dedo do meu.
- Hum... Qualquer coisa!... Eu não sei o que é leite desnatado!
Pither gargalhou na mesma hora.
- Aaaah Esther! Quando eu acho que você não pode ser mais engraçada, você me aparece com essa! Ele disse sorrindo.
- Eu estou falando sério! Falei prendendo o dedo dele.
- Ta! Leite desnatado é um leite sem gordura! Sua vez agora!
- Eu quero saber algo sobre você, também! Falei concentrada nos dedos.
- Ixii... Ele deu uma pensada. -Ta! Sou apaixonado por carros em miniaturas!
- Sério? Falei surpresa.
- Sim, tenho uma porção delas no meu quarto.... Minha vez agora! Pither disse prendendo meu dedo pela segunda vez, e sorrindo.
- Fale um sonho seu?! Senti um nó no estômago, porque o meu sonho mais profundo eu não podia dizer.
- Eu... Sonho em se casar de branco! Disse olhando pra ele.
- Não vale! Isso é o sonho de qualquer mulher! Pither disse parando seu dedo no ar.
- Tá! Falei. - Gostaria de conhecer o mar!
- O mar? Pither se surpreendeu. - Poxa é aqui pertinho... A gente vai qualquer dia!
Sorri para a sua generosidade.
- Minha vez! Falei. - Um arrependimento da sua vida?
Pither parou sua mão por um tempo, e me fitou nos olhos.
- Você me pegou! Tenho vários arrependimentos na minha vida.... Um deles é ter saído de carro com a minha mãe, no dia dez de maio de dois mil e doze... Seus olhos marejaram. - Talvez ela tivesse viva agora !
- Eu sinto muito! Falei e ele assentiu.
- Minha vez! Ele disse mudando de assunto, e prendendo meu dedo. - O nome do primeiro menino que você beijou?
Eu quase caí do sofá. Será que era um teste que ele estava fazendo comigo?
-Eu... Gaguejei ao falar, e Pither parou sua mão na minha pra me ouvir.
- Qual é não vai me contar não?
- Néto! Passei a minha vida toda trancada num orfanato de meninas! Como pode me perguntar uma coisa dessas?
Ele sorriu do modo como me expliquei.
- Tabom! Só achei que você poderia ter conhecido algum filho do caseiro... Sei lá!
O fuzilei com os olhos.
- Que foi? Ele disse rindo. - Acontece nos filmes! E gargalhou em seguida. - Sua vez!
- Por que vai se casar com a Deborah, se não a ama? Falei na lata.
- Isso é apelação sabia?! Ele respondeu sorrindo com o canto da boca. - Tabom! Ele respondeu suspirando. - Vou me casar porque no conceito do meu Pai, ela é a mulher ideal pra mim! E eu já fui longe demais para voltar atrás...
Assenti com a cabeça, e tive vontade de fazer mais umas dez perguntas só relacionada a esse assunto. Mas me calei porque era a vez dele.
- Sua vez! Falei olhando pra minha mão.
- Tá! Ele respondeu ainda pensando. - Por que nunca tentou fugir daquele orfanato?
- Quem disse que não?! Falei sorrindo. -Minha vez... O que mais te chama atenção numa mulher?
Pither engoliu em seco, a minha pergunta o tinha deixado nervoso.
- Aaah! Não vou negar que há vários artefatos, mas... Acho que os olhos! Um olhar de uma mulher diz tudo! Pither me olhou nos olhos e sorriu. - Minha vez! E agora vou parar de ser bonzinho... Ele continuou sorrindo. - Qual é o seu maior medo?
- Perder você! Fui direta outra vez.
- Uau! Acho que você está se saindo melhor nesse jogo, do que eu! Pither respondeu ainda admirado.
- Minha vez! Falei ainda observando o jeito como Pither tinha ficado. - Você sabia que eu ainda tenho dois pedidos do jogo de dama, que eu venci?!
- Isso é um fato, não uma pergunta! Disse sorrindo, e desviando seu dedo do meu. - Tá! O que você quer?
-Hum.... Quero trabalhar com você! Falei.
- Que? Pither parou de mexer seu dedo. - Você pirou? Isso acabaria com todo o nosso processo sobre a adoção!
- Não é bem trabalhar... Falei. E ele levantou suas sombrancelhas desconfiado. - Eu queria te ajudar no consultório... Um meio de te agradecer por tudo o que você faz por mim! E me sentir útil também!
- Você sabe que não faço isso pra ter retornos! Ele me olhou sério. - E não é bem assim que funciona.... Mas vou pensar!
Sorri e continuamos com nosso apertões de dedos.
- Obrigada! É a sua vez! Vou deixar meu terceiro pedido em segredo, por enquanto....
Pither sorriu mordendo seu lábio inferior.
- Quero que fale um defeito e uma qualidade minha ?
Pensei um pouco e o fitei nos olhos.
- Qualidade? Extremamente generoso, é raro achar alguém assim hoje em dia...
- Obrigado... E o defeito? Sua voz saiu mais rouca como de costume.
- Seu jeito consigo mesmo! Você sabe que não ama e nunca vai amar aquela mulher, e mesmo assim não se importa.... Age como se isso não tivesse valor! Os olhos de Pither brilharam. - É a sua felicidade que está em jogo!
Ele abaixou sua cabeça, e soltou minha mão. Naná apareceu no corredor correndo.
- Meninos até que enfim os encontrei... Pither seu tio está no telefone te esperando!
- Vou atende-lo! Ele levantou e saiu andando pelos corredores de meias. Naná olhou pra mim e sorriu, sem imaginar do que Neto e eu estávamos brincando até agora.