Naná e eu sentamos no sofá, com um balde de pipocas cada um. Esther ainda não tinha descido, e eu pedi que Naná escolhesse um filme pra nós.
- Pither, você achou Esther meio diferente no jantar? Naná me perguntou.
- Diferente como? Mordi o lábio inferior esperando a resposta.
- Sei lá! Ela deu de ombros. - Como se fugisse de você!
- Eu não percebi nada! Menti.
O que Naná não sabia era que Esther me encontrou, quase semi nu lá no quarto. E sem contar a cara que ela fez quando me viu assim. Mas se ela pensa, que fugir de mim é a solução... Está completamente enganada! Se nem eu que devia fugir, não estou movendo um dedo! Ela que não pense em fazer isso.
- Naná! Vá até o quarto de Esther, e a chame para ver o filme com a gente!
- E se ela não quiser vir? Perguntou.
- Insista! Falei secamente, olhando pra frente.
Ela levantou se e saiu.
Naná demorou alguns minutos e eu fiquei mexendo no meu celular, havia caído algumas mensagens de Deborah, e eu não respondi nenhuma delas.
Já estava cansado dessa garota bipolar! Que quando estava perto arrumava alguma desculpa para brigar, e longe bancava a arrependida e apaixonada noiva.
Sem contar que a maiorias das vezes queria só me seduzir e me levar pra cama! Acho que ela só quer usar o meu corpinho... ( Que coitadinho eu sou).
Naná desceu com Esther, e eu me senti mais aliviado. Joguei meu celular no puff e me ajeitei no sofá, para que ela se sentasse.
-Você demorou! Falei me virando pra ela.
-Eu dormi pouco essa noite... Me senti um pouco cansada! Ela sorriu.
E eu fiquei imaginando o tanto de trabalho que devo ter dado a ela na noite anterior.
-Por isso como sou muito legal, você vai escolher o filme hoje! Falei.
Passei devagar a galeria de filmes, e Esther observava atentamente a tela da televisão. Quando ela viu um que chamou sua atenção, disse animada.
-Esse! É a história do meu livro?!
-Sim! Esse filme " Como eu era antes de Você" foi inspirado no livro, é basicamente a mesma coisa! Expliquei e coloquei o filme pra gente ver.
No início Esther ria do modo como a personagem Louisa Clark se comportava.
Naná e eu já tínhamos assistido duas vezes, mas ficamos bem quietinhos para ela poder entender. Esse filme não era novidade pra mim, mais ver como Esther se emocionava com ele não tem preço.
-Ela gosta dele!!! Esther disse em meio a nós.
- Gosta Sim! Naná respondeu.
E continuamos assistindo. Eu observava Esther pelo canto dos olhos, ela estava apreensiva.
Quando o filme acabou ela deitou-se no ombro de Naná.
-Eu sabia que ele morreria, mas é muito mais real quando a gente assiste!!
Eu olhei pra elas com uma sombrancelha levantada.
- Você está chorando?
Ela secou uma lágrima com a manga da blusa.
-Não ligue pra ele Esther! Naná falou colocando seu braço em volta dela.
-Humm...Virou a defensora agora né?!
-Tá com ciúmes Pither?! Naná sorriu ironicamente... (Que palhaça!) Pensei, revirando os olhos.
- Você acha que ele realmente amava ela? Esther conversava com Naná.
- Claro que sim querida... Às vezes as pessoas tem um modo diferente de demonstrar o que sentem! Naná me olhou diretamente nos olhos, como se falasse pra mim.
-Eu vou beber água! Quando terminarem me avise... Saí do sofá e fui pra cozinha deixando-as, com aquela conversa melódica pós filme.
(...)
Quando voltei Naná e Esther estavam vendo outro filme. Este por sinal era tão chato, que ela encostou sua cabeça em meu ombro e dormiu. Naná também se cansou logo, e foi calçando suas pantufas.
- Acho que vou dormir meus amores... Amanhã o dia é longo!
- Naná! A Esther dormiu! Falei ajeitando-a, para que ficasse confortável.
- É sim! Coitadinha estava cansada...
- Me ajude a leva-la pro quarto?! Falei olhando pra ela, mas Naná somente sorriu e levantou-se do sofá.
- Eiii! Vai me deixar aqui sozinho com ela?! A olhei sério.
- Aaaah por favor Pither! Você a leva pra cima e para baixo nas costas, e precisa de mim pra que? Ela saiu sorrindo e acenando. - Boa noite querido!
Aaaah que ótimo! Ela ainda zombava de mim! Tentei acordar Esther para que fosse andando, mas ela somente se mexeu um pouco e voltou a dormir... - Tá de brincadeira!
Ela não era pesada, sorte a minha! Porque subir todos aqueles degraus não eram nada fáceis.
Ela dormia profundamente nos meus braços, quando eu puxei a maçaneta e avistei a cama.
Entrei em seu quarto, e coloquei ela sobre a cama. Ajeitei seu travesseiro, e puxei seu edredom. Nessa hora olhei para porta de vidro, e tive uns relapsos de ontem a noite.
"Vi quando os relâmpagos iluminaram o quarto, eu estava deitado na cama de Esther. Completamente bêbado, e falando coisas estranhas...
As imagens vinham caindo na minha mente, e tudo parecia um trailer de um filme, mas tudo completamente lento e muito confuso."
" Eu falei para Esther que ela teria gostado de mim se tivesse me conhecido antes..." Isso eu pude, entender perfeitamente.
Andei em volta da cama, ainda tentando lembrar. E pude ouvir quando Esther falou " Que gostava de mim do jeito que eu era!" Meu Deus! Às lembranças estão voltando...
Eu vi quando ela chorou ao me ver daquele jeito, eu toquei seu rosto e falei "Que ela era linda, que parecia um anjo".
Depois comecei a gritar por Naná sem parar feito um maluco.
Tudo estava vindo a tona! Quanto mais eu me concentrava mais as recordações vinham.
Eu coloquei meu rosto na cama, e ela tocava meus cabelos, estava triste e realmente preocupada. Quando um raio ecoou no quarto, a luz cessou e eu pedi que ela não me deixasse sozinho.
Eu lembro que levantei minha cabeça estava tonto de tanto álcool no corpo, e olhei seus lindos olhos azuis.
Sorri só de lembrar como seu rosto estava bonito, com o reflexo da chuva. Às recordações continuaram e meu sorriso fechou naquele instante... Eu não acredito!! p***a! Eu beijei a Esther!!
Cara! Não foi bem um beijo de cinema, porque eu não estava em condições pra nada, mais eu beijei ela nos lábios e ela cedeu, eu vi!
Depois ela foi pro banheiro e me deixou sozinho lá, largado sobre a cama.
Agora que a ficha caiu, eu me sinto um o****o! Um completo i****a! Que apesar de não lembrar o que tinha acontecido, pedi que ela esquecesse tudo! E com certeza ela incluiu o beijo, achando que era disso que eu falava.
Andei pelo quarto, e bati com minhas mãos na testa. Que burro que eu sou! Um perfeito i*****l! Esther se mexeu na cama, ainda de olhos fechados se virou para o outro lado. Sentei me na beirada da cama ao seu lado, respirei fundo e olhei pra ela que dormia lindamente.
Coloquei meus pés descalços debaixo do edredom e deitei ao seu lado. Apoiando a minha cabeça para trás sobre o meu braço. Apaguei a luz e deixei somente o abajur aceso.
Fiquei a observando dormir, até me deitar em um dos travesseiros de frente pra ela. Toquei em seu cabelo, até meus dedos alcançarem o seu rosto, eu sei que é errado! Eu não devia estar aqui! Sou noivo! E já não aguento mais me sentir culpado...
Desliguei o abajur e fechei meus olhos, amanhã eu resolvo os meus problemas... Sei que quando eu acordar eles ainda estarão me esperando! Mas hoje eu só quero paz! Estar com ela... Tão perto me trazia serenidade, e eu esquecia de tudo! Amanhã quero acordar assim, do seu lado, sentindo o seu cheiro Esther!
(...)
O dia amanheceu, e mesmo com a noite fria, o sol apareceu deslumbrante hoje. Eu estava com tanto sono, que ignorei os pássaros, e me cobri com o edredom até o rosto e dei adeus a claridade.
Eu sabia que já era tarde! Aposto que já se passavam das nove, quando me dei conta que meu edredom não estava mais no meu rosto, e eu ouvia barulhinhos de alguém rabiscando o papel.
Abri os olhos devagar, pisquei algumas vezes, eu ainda estava sonolento. Quando vi Esther.
Ela estava sentada na cama ao meu lado, sua concentração eram algumas folhas de papel, que ela rabiscava sem parar com um lápis.
Seus olhos azuis me fitaram, fiquei sem graça de ter acordado depois dela, imaginando como estaria meu rosto logo cedo.
- Bom dia! Ela me disse sorrindo.
- Bom dia, que horas são? Perguntei indo me virar para o lado, mas ela me impediu.
- Nãoo! Não se mexa por favor! Olhei pra ela, meio sem entender.- Estou te desenhando, falta pouco!
- Você está fazendo o que? Perguntei ainda não acreditando no que tinha ouvido.
- Fica paradinho aí! Esther continuou com seus rabiscos, me olhava atentamente como se estudasse cada traço meu.
- Você não poderia me desenhar em condições melhores? Eu acabei de acordar! Falei imaginando quão inchado eu estava.
- Calma! Estou quase acabando!
Esther terminou, e virou a folha para mim. Eu levantei minha cabeça na mesma hora para olhar .
- Caramba! Se eu não visse você fazendo não acreditaria...
Esther tinha me desenhado com total perfeição. Ela era uma artista e não sabia.
- Você gostou? Ela perguntou, esperançosa.
- Nossa Esther ficou perfeito! Sentei-me na cama analisando os traços do meu rosto. Até minha expressão séria, ela não deixou passar.
- Você é uma artista, e não sabe!
- O ângulo estava bom... Ela respondeu tímida. - E o modelo ajudou bastante também!
Desviei meu olhar do papel, e olhei pra ela. Esther abaixou seu olhar envergonhada, sorria delicadamente.
- Posso ficar com ele? Perguntei.
- Claro! É seu! Esther sorriu e assinou a folha, com seu nome e a data. Eu pulei da cama, me espreguiçando.
- Vou pro meu quarto, a gente se vê lá embaixo.
Ela assentiu e eu beijei sua testa, antes de sair do quarto. Quando fechei a porta papai estava indo em direção a escada, e me viu saindo.
- Pither?! Ele me chamou meio confuso. Eu parei no meio do caminho. - Você está saindo do quarto daquela moça?
- Claro Pai! Não poderia estar entrando, se estou conversando com o Senhor agora... Papai me olhou com cara de poucos amigos.
- Não faça me arrepender de ter aceitado essa moça em nossa casa!
- Aham! Sorri! - Como se você tivesse escolha...
Saí de sua direção, antes que papai me falasse outra besteira. Sempre usei o bom humor para contornar algumas enrascadas em que me metia.
Entrei no quarto, e tomei o meu delicioso banho da manhã. Na clínica eu só tinha paciente as duas da tarde, até lá muito tempo pra passar com Esther. Quando sai do banho, Naná me chamou na porta.
- Filho!
- Entra Naná! Respondi.
Naná entrou, e eu vesti minha calça preta da Adidas, enquanto procurava uma camiseta no armário.
- Pither é melhor você descer! Ela me olhava preocupada.
- O que foi dessa vez? Perguntei vestindo a camiseta.
- Seu Pai... Respondeu aflita.
- Deve ser outro dos seus chiliques! E saí do quarto revirando os olhos.
Quando desci as escadas, ele estava me esperando lá embaixo. Sem muito rodeios, papai me questionou.
- Pither! Cadê o seu carro, que não está garagem?
Naná, desceu logo em seguida com seus olhos meigos, demonstrando apoio.
- Ele não vai mais voltar Pai! Olhei com firmeza para ele.
- Por que? Papai se exaltou. - Você já ligou para a seguradora?
- Não! Ele não foi roubado... Ele me analisava impaciente. - Eu o vendi!
- Você o que?? Papai gritou na sala. Assustando Naná que colocou sua mão em meu ombro. Ela me protegia feito uma leoa.
- Eu vendi o Porsche ontem! Falei desviando meus olhos de Naná, para olha lo novamente.
Papai apertou seus olhos, enfurecido.
- Eu posso saber, porque o vendeu?
Mexi meu maxilar, nervoso com as perguntas de meu pai.
- Eu precisava de dinheiro!
Papai se aproximou de mim como se quisesse me estrangular.
- Como precisava de dinheiro?! Você sabe quanto vale aquele carro? Naná entrou no meio, afastando meu pai de mim.
Papai balançava a sua cabeça inconformado. Levantei o meu rosto e avistei Esther me olhando no corredor de cima, perto da escada.
Voltei minha atenção para o meu pai, evitando que ele notasse a presença dela