Chegamos na Mansão dos D'Ávila. A casa era um exagero pro meu gosto, assim como a cara emburrada de papai ao meu lado. Ele parou o carro para se indentificar, e deu uma breve olhada pra mim. Se ele estava querendo me intimidar com aquele olhar não funcionou! Porque o riso já estava na boca pra sair quando ele quebrou o silêncio:
- Pither eu te peço por favor não me envergonhe nesse almoço! Eu nem sei onde você passou a sua noite ontem, que chegou tão bêbado a ponto de dormir no tapete da sala! Mas conto com você hoje ...
Papai falava como se eu tivesse 5 anos de idade.
Eu nem respondi não queria que ele sentisse o cheiro do seu uísque francês, e descobrisse que eu bebi.
Deixei a surpresa pra festa! Você pode imaginar a minha cara agora né?!
Entramos naquele lugar, papai deixou o carro em um lugar próximo a entrada da casa. Porquê segundo ele o motorista da família ia estacionar depois... "Quanto Mimimi"
Os pais de Deborah já estavam nos esperando na porta, papai entrou primeiro e eu logo atrás.
- Senhora D'Ávila... Papai beijou a mão dela.'' Eu não acredito nisso! Quem ainda faz essas coisas?!" Virei meu rosto pro lado enquanto sorria com o canto da boca para que ninguém percebesse.
-Augusto! Como vai ? Papai apertou fortemente a mão dele , como se não quisesse mais soltar... E agora era a minha vez... Eles olharam pra mim esperando alguma reação, então a "Dona sorridente" veio em minha direção:
- Piiiitheer.... Como você está querido? Quando eu percebi que ela estava se aproximando só conseguia pensar "abraço não! abraço não!'' Mas não teve jeito, ela me abraçou tão forte e beijou minhas bochechas, que eu só conseguia rir de desespero.
- Eu vou bem e a senhora? Perguntei.
- Aaa pois eu vou muito bem também... Há tanto tempo que a gente não se vê... Ela não parava de sorrir, eu não sei como ela conseguia manter a boca flexionada por tanto tempo!
- Boa tarde Sr D'Ávila!!
- Boa tarde Pither'... Você está mais alto do que da última vez! Senhor Augusto disse me isso e começou a rir sozinho eu e meu pai não entendemos nada.
- Relaxe meu jovem, é uma piada eu estava brincando... "Piada muito sem graça por sinal, pensei" Papai sorriu pra ele! Eu continuei quieto.
Fomos todos pra sala de estar, sentei em um sofá com o meu pai. Augusto e a esposa em outro.
Passavam se cinco minutos e eu já estava entediado, me perguntando o que tanto Déborah fazia lá em cima que não descia logo. Papai tagarelava sem parar sobre a clínica e seus adoráveis pacientes. Foi quando o Senhor D'Ávila se virou para mim.
- Aah Pither enquanto a Deborah ainda não desce, vocês querem beber alguma coisa?
Previ que papai ia recusar mais eu não podia perder essa por nada.
- Aah sim! Porque não um copo bem cheio de Vodka?
Senti como se o meu pai tivesse levado um banho de água fria na cabeça, a senhora D'Ávila por outro lado me olhava como se eu a tivesse ofendido.
- Perdoe meu filho, Augusto! Ele é muito brincalhão as vezes... Não é filho?
Somente assenti com a cabeça. O Senhor D'Ávila levantou se e foi até seu barzinho pessoal.
- Vou providenciar algumas taças de vinho. Enquanto ele abria a garrafa percebi que era importada. Ele estava querendo impressionar ainda mais o meu pai.
Papai por outro lado queria impressiona-lo falando de mim... Como se eu realmente tivesse todas aquelas qualidades.
-... Pither já está trabalhando na clínica comigo Augusto, ele agora tem o seu próprio consultório!
- Aééh? Creio que o jovem Pither deve está muito feliz ! Senhor Augusto entregou uma taça de vinho para papai e outra pra esposa. Enquanto ele colocava vinho para mim, me fez a excelente pergunta:
- E então Pither como é ouvir tantos dilemas todos os dias das pessoas?
- Aah muito bem! Você acredita que só essa semana atendi dois empresários?! Por incrível que pareça os administradores de empresas são os que dão mais trabalho!
Nessa hora senti que a golada que papai tinha dado no vinho tinha descido totalmente errado, porque ele começou a tossir sem parar.
Senhor Augusto ficou tão sem jeito, que resolvi virar a taça de vinho de uma vez só pra animar mais o ambiente. Foi nessa hora que Déborah apareceu descendo as escadas. Papai deve ter agradecido assim todos viraram a sua atenção para ela, e eu parava de falar bobagens.
Papai deu sinal para que eu fosse recebe-la na escada. Eu fui! E olhando a bem vi que ela estava muito bonita. Déborah me abraçou e eu sussurrei no seu ouvido:
- Você está linda! Ela sorriu grata pelo elogio.
Na hora do almoço foi a parte principal. Papai se sentou do lado esquerdo do Senhor D'Ávila e do direito a esposa, seguido por Deborah e eu.
Quando papai viu servirem carne de cordeiro na mesa quase desmaiou. Ele não gostava e com certeza não saberia o que dizer ao seus amigos, que tanto amava. Mais a cozinheira inteligente fez um ensopado de frutos do mar, e isso com certeza foi a salvação de papai.
Antes de tudo Senhor Augusto propôs um brinde aos noivos. Todos ergueram suas taças, inclusive eu. Déborah fazia uma carinha tão angelical ao pai que nem parecia aquela felina em outras ocasiões...
- Você andou bebendo? Ela cochichou comigo
- Só um pouquinho... Fiz um sinal com os dedos a ela.
- Devo me preocupar? Ela disse com receio
- Não... Claro que não!
Senhor D'Ávila apesar dos meus vexames na sala, conversava com papai na mesa como se não se importasse. Ele ria e falava da sua última pescaria, como se aquele assunto fosse mesmo interessante. Mas eu não disse nada até então.
A minha missão não era envergonha-lo e sim mostrar que eu não era um bom partido para a sua filha. Até que a Senhora D'Ávila abre a sua bendita boca:
- Aai Álvaro eu já imagino nossos filhos casados, com certeza teremos netos lindos...
- Sem dúvidas Dayse... Nossos netos serão os mais bonitos do mundo!
Foi aí que eu entrei com mais um comentário m*****o:
-Aposto que serão muito mais, se vierem com o sorriso da avó e o bom humor do Senhor Augusto...
Todos naquela hora sorriram , até meu pai mais por dentro ele sabia que eu estava sendo irônico.
Déborah estava ansiosa para ver o seu anel de noivado:
- Aaaih amor vamos pra sala pra gente começar logo..
- Filha ainda nem provamos a sobremesa... Disse Senhor Augusto.
- O seu pai tem razão, vamos esperar a sobremesa! Papai me encarava sem parar e eu sorria para todos com cara de paisagem.
Depois da deliciosa torta de maçã, fomos todos pra sala. Déborah e eu sentamos num sofá sozinhos, ela me abraçava tanto que comecei a ficar sem graça diante da família dela.
"Qual é?! Eu era um rapaz de respeito, até então." Daí pensei " Se tenho que passar por isso, que seja logo!" me levantei e em seguida pedi que Déborah ficasse de pé também, segurei nas mãos dela.
- Deborah... Sei que faz poucos meses que a gente está junto, e... " Cara! Eu não sabia o que dizer pra minha noiva". Papai pigarreou me dando a caixinha.
Eu toquei naquele objeto aveludado e abri cuidadosamente. Quando olhei aquela pedra tão brilhante que se destacava naquele anel, uma emoção forte me tomou. Não porque eu estava noivando, mas porque aquele anel de noivado pertenceu a minha mãe. Então me ajoelhei diante de Deborah, com a caixinha em uma das mãos e a outra eu segurava a mão dela.
- Déborah Lílian D'Ávila.... Aceita se casar comigo'?
Déborah sabia que eu ia pedir sua mão, mas ela fez todo aquele suspense, como se realmente estivesse surpresa.
-Sim! Sim! Eu aceito! Coloquei o anel em seu dedo, e beijei sua mão. Depois me levantei e ela me beijou toda animada enquanto admirava seu anel.
-Deixa eu ver filha?! Senhora Dayse se aproximou tocando o anel como se tivesse admirada. - Nossa é lindo! Deve ter custado uma fortuna!
Papai ficou quieto como se não tivesse resposta, mais eu jamais esqueceria dela num momento como esse.
- Na verdade esse anel pertenceu a minha mãe... A senhora Raquel Monteiro! Por isso o valor sentimental é bem maior.
Senhor Augusto percebeu minha sinceridade.
- Por isso ele vale muito mais... Déborah se sentirá honrada de usa-lo, não é filha?
- Claro Pai...
Depois dessa "cerimônia" toda papai e Senhor Augusto foram jogar uma partida de xadrez. Enquanto Senhora Dayse tocava seu piano com perfeição.
Déborah me puxou pela mão do sofá e foi me levando pra fora. Fomos para o jardim, e paramos em frente a uma fonte onde caía uma cascata artificial tão bonita que não pude deixar de olhar.
- Ei! Olha pra mim... Déborah chamou minha atenção.
- Desculpe.
- Posso saber porque ontem o senhor não atendeu as minhas ligações?
Sentei em um dos pilares da fonte, e trouxe ela mais perto de mim.
- Ontem eu não estava bem, tomei um calmante e fui dormir cedo.. " Meias verdades".
- Hum... Será que não é o mesmo calmante que você tomou antes de chegar aqui?
Sorri com o canto da boca.
-Deborah posso te fazer uma pergunta?
- Nossa... Agora fiquei assustada, depois da cara de sério que você fez! Respondeu sorrindo.
- Eu só queria saber, se você tem certeza que quer se casar comigo?
Quando eu disse isso, a fisionomia de Deborah mudou. Ela parecia tensa, gelada.
- Tá tudo bem com você? Perguntei.
Ela mexeu a cabeça diversas vezes como se estivesse nervosa...
- Estou bem! Por que me perguntou isso?
- Queria saber se você está realmente feliz?
- Claro que estou Pither!! Ela me disse quase cantando de tão fina que sua voz saiu. - E Por que não estaria? Você é maravilhoso...
Ela me abraçou, e eu me senti um dos piores cafajestes da face da terra. Pensei... Como eu queria poder te amar... Mas eu não amo ninguém há muito tempo!
Déborah me beijou e por diversas vezes pensei em desistir de tudo, pegar o meu anel de volta e ir embora pra casa. Mas depois eu cai em si, não poderia fazer isso com a família dela, nem decepciona-la dessa forma. Foi aí que Déborah deitou sua cabeça em meu ombro, e comecei observar aquele seus cabelos negros, sua pele morena e pensei. " Tenho a vida inteira para me apaixonar por ela, ou fazer ela se desapaixonar por mim."
(...)
Naquela Noite papai e eu voltamos pra casa feito dois mudos. Ele m*l me olhava, eu por outro lado dei graças a Deus pelo menos evitava outro desentendimento.
Encostei minha cabeça no apoio do banco e fiquei pensando em tudo! Na Déborah, na minha vida, e na minha mãe. Será que onde ela estivesse sentiria orgulho de mim? Ou estava decepcionada com o que me tornei?! Se pelo menos eu soubesse a opinião dela. O que ela diria sobre esse casamento?! Sobre eu estar com alguém que eu não goste! Não que eu não gostasse da Déborah, ela é linda e muito legal mas... Eu não estava apaixonado!
E será que esse tal amor que as pessoas dizem sentir, quando decidem viver para sempre com alguém realmente existe?
Chegamos em casa, e vi quando a luz da cozinha ainda estava acesa. Papai passou por mim e falou:
- Vou me deitar... Boa Noite!
- Boa Noite! Ele subiu as escadas e eu fui na cozinha, porque sabia que certamente Naná estaria lá me esperando.
- Oii meu filho, não vai jantar? Ela me disse, e eu a abracei praticamente me jogando em cima dela. - Nem vou perguntar se você está bem, pois eu sei que você não está!
Depois de um tempo quando me senti realmente abraçado por ela a soltei, e sentei me na banqueta do balcão.
- Faz um leite quente pra mim?
- Faço! Ela tocou meu rosto levantando os meus olhos pra ela - Filho, como foi lá na casa dos D'Ávila?
- Bem... Balancei meus ombros sem emoção. - Correu tudo como meu pai esperava...
- Pither você sabe que não precisa fazer isso se não quiser...
- Só sei que fiz o que pude hoje Naná para que aquela família percebesse que eu não sou o cara certo pra Déborah! Foi tudo em vão...
Naná sentou em outra banqueta, e olhou pra mim como uma mãe olha um filho.
- Por que você acha que não é o cara certo pra aquela moça?
Virei meu rosto pra ela.
- Porque eu sou uma péssima pessoa Naná!
Naná segurou meu queixo com firmeza.
- Jamais repita isso outra vez! Você me ouviu? Nunca mais repita isso!
Balancei minha cabeça em aprovação e ela continuou:
-Você não é uma pessoa r**m! Apenas alguém que passou por muitas coisas... Se você conseguisse ver o que eu vejo em você Pither... Tem tanto da sua mãe aí dentro! Você só precisa se encontrar ...
- Obrigado! Respondi.
Ela beijou meu rosto e fez o melhor leite quente que eu já tomei um dia.