O Bendito Noivado

1974 Words
Acordei com o despertador tocando já se passava das 8 da manhã. Levantei e fui tomar um banho, fiquei pensando se eu ia aparecer de novo de social no consultório ou ia de camiseta só pra irritar o meu pai. Após muitas indecisões, estava eu tomando meu café bem devagar, quando ela apareceu: - O que faz ainda aqui? Já são quase nove, não devia estar na clínica? - É... Devia mas estou aqui assoprando o meu café. Naná sorriu e beijou o topo do meu cabelo. - Não seja bobo Pither seu café não está quente, faz tempo que você está aí. Me diz no que tanto pensa? - Bobagens ... E papai já foi?! Presumo. - Aah tem um bom tempo... Ele te esperou, mas desistiu e foi sozinho. Sorri mexendo a colherzinha na xícara. - Deve ter se aborrecido! Ele diz que eu sou um preguiçoso, sabia? Naná permaneceu quieta. Ela sabia das minhas discórdias com meu pai, sempre soube porque ela sempre esteve ali presente em tudo. Naná foi minha babá, depois cozinheira, governanta e agora é a conselheira da família. Depois que minha mãe morreu, ela sempre esteve muito mais presente na minha vida do que qualquer outra pessoa. - Filho talvez você devesse tentar... - Não!! Eu sei o que vai me dizer... Eu não quero trégua com ele, tudo o que meu pai faz é para seu próprio bem estar... - Mudando de assunto, sábado é o seu noivado... Naná me abraça enquanto diz. Depois senta ao meu lado com sua xícara - Como se sente? - Eu sinto que tudo isso é outra artimanha do meu pai, ele acha que me casando eu vou tomar jeito! Sorri forçado para Naná... - E você o que acha do noivado? -Eu não estou em posição de achar nada! Falei e depois me levantei, pegando meu jaleco e dando um beijo na bochecha de Naná. (...) Na clínica cheguei e a secretária do meu pai se levantou para me dizer algo. Só dei um sinal com a minha mão. - Depois Pâmela. Entrei no meu consultório e fiquei olhando uns papéis, imaginando que desculpa daria pra não voltar pra clínica depois do almoço. Foi quando meu pai entrou na minha sala sem bater. - Bom dia Pither! - Oi Pai! Obrigado por bater antes de entrar, foi muita gentileza sua ... Papai sentou se na poltrona da sala e encostou sua cabeça no apoio. - Eu sabia que você estava sozinho, aliás você sempre está sozinho... Me diga quando vai parar de ignorar seus pacientes? Naquela hora tive vontade de dar todas as"resposta possíveis", mas não disse nada. Então ele levantou sua cabeça do apoio e me encarou. -Hoje eu mandei polir o anel de noivado da sua mãe. Ele ficará tão bonito na Déborah, você não acha ? - Tanto faz... Respondi com desdém. Então ele se levantou e foi até mim em passos leves e eu já sabia o que ele ia dizer: -Filho... Eu sei que você sente a falta dela, eu também sinto... Eu o interrompi. - Pai! Agora não é o momento da gente ficar falando da mamãe! Não se preocupe! Sábado estarei lá na casa dos D'Ávila com um sorriso no rosto e um anel na mão pra te encher de orgulho! - Você fala como se casar com a Deborah fosse um martírio?! Abri o sorriso mais sarcástico possível. - Não Pai! Martírio é viver com você me pressionando a cada minuto com esse casamento!! Ele saiu sem me dizer nada, fechou a porta e não voltou pra clínica o resto da tarde. Agora eu aproveitei a boa ocasião e fui embora também mais não voltei para casa, pelo contrário fui em um lugar muito mais divertido. (...) - Senhor Donsom, sou eu o Pither! Falei enquanto apertava o interfone. -Pode subir Pither, o Miguel te espera. - Obrigado! Respondi Entrei com o meu carro no condomínio. Estacionei em uma vaga e subi para o apartamento, onde meu primo Miguel morava. Toquei a campainha e ele aparece na porta descabelado e com cara de sono. - Boa tarde bela adormecida... Sabe que horas são? Entrei no apê e fui procurado um lugar para sentar no sofá. - Falou a Ovelha n***a da família! Miguel fechou a porta e sentou se no outro sofá, sorrindo não sei do que. - Você está péssimo! Olhei para trás como se verificando que ele estivesse sozinho em casa. - E o seus irmãos? - Fica tranquilo cara! André tá na pista de skate, Matheus está na faculdade e o mala do Lorenzo não sei nem por onde anda... - Tem café? Perguntei como quem não quer nada. - Eu tenho algo muito melhor aqui... Ele foi até a geladeira e pegou uma garrafa de tequila, e me mostrou. Levantei naquele exato momento. - Onde conseguiu isso ? - Se eu falasse tu não acreditaria mesmo... Ele respondeu presunçoso. Sentei junto ao balcão e ele me serviu um copinho, virei sem nem pestanejar. Coloquei ele vazio no balcão, e senti quando o líquido desceu pela minha garganta, queimando tudo. - Amanhã é o meu noivado... Falei olhando enquanto ele colocava outra dose pra mim. - Nossa que animação pra colocar algemas Pither! Miguel disse isso rindo, e depois virou um copo no mesmo instante que eu. A cara que ele fazia era tão engraçada que me fez sorrir. - Você sabe o porque desse noivado... - Sei! Miguel sentou na banqueta de frente pra mim - Pither! Eu não entendo porque você deixa seu pai te manipular assim cara?! Você não gosta dessa moça, saí dessa! - Claro que gosto! Falei virando outro copo entornando a cabeça pra trás e percebi que o líquido já não queimava tanto, mas meu corpo sim ardia. Eu não sei se era a bebida ou a raiva que eu sentia. - Gosta é? Mais não está apaixonado! Miguel disse me olhando , enquanto me via virar o quarto copo. - Isso não importa! Não pro meu pai! Ela é herdeira, filha única! Eles precisam de um sucessor, e aqui estou eu para administrar um negócio que eu nem sei do que se trata!! Tentei colocar mais tequila, mais Miguel me parou. - Vai devagar aí!! Sabe Pither... A gente já saiu tanto pra curtir, e eu não vejo você amarrado com uma pessoa que não gosta, principalmente pra satisfazer o seu pai... Sendo que você nem se dá bem com ele! Foi aí que revirei os meus olhos, e levantei da banqueta pegando a garrafa de tequila e levando pra sala. - Sabe... Falei entornando a garrafa na boca e bebendo enquanto eu sentava em um dos sofás. - Depois que minha mãe morreu naquele acidente de carro em que eu estava dirigindo, tudo mudou! Meu pai! Minha vida virou de ponta cabeça... Ele se trancou por meses no escritório depois de um dia cansativo só pra não precisar olhar pra mim. E na primeira oportunidade me mandou estudar fora, só para poder sentir o alívio de não me ver em casa! Miguel se aproximou de mim me olhando beber. - Você não teve culpa! - Ah tive sim... Eu estava correndo demais... Ela pediu para mim reduzir a velocidade e eu brincava . Queria mostrar o quão bom de volante eu era... E depois... Começei a ver o acidente se passando na minha frente como um trailer de um filme, sem som. Só a imagem minha sendo arremessado enquanto eu a via desacordada naquele asfalto. - Chega!! Me dá essa garrafa você já bebeu demais! - Nãaaao! Desviei de Miguel e bebi mais um pouco. Minha visão estava ficando turva eu não tinha almoçado, meu corpo estava fraco. Mas lembro que a garrafa estava quase vazia quando me virei e disse. - Depois de anos sem falar com meu pai, me sentindo culpado por isso... Ele falou comigo! Sorri feito um bobo pra Miguel.- Ele falou comigo! E foi quando eu trouxe a Deborah pra casa, depois da nossa primeira noite no barzinho. Meu pai me olhou e disse; -"Eu gostei dessa moça !'' eu não posso decepciona lo Miguel! Não agora ! (...) Acordei no sofá de Miguel. Estava escuro já. Olhei no meu relógio de pulso marcavam exatamente 3 da manhã. Esfreguei meus olhos, e procurei meus óculos, minha cabeça latejava e pensei" Porque aquele i****a me deixou aqui". Levantei e sem barulho abri a porta do apartamento, e chamei o elevador. Precisava ir embora, não queria ouvir o sermão do Matheus no outro dia. Já bastava meu pai com essa missão. Quando procurei a chave do carro no meu bolso, percebi que meu celular vibrava. Olhei no visor marcava "10 ligações perdidas'' e de quem poderia ser? dela!... Da Déborah, minha futura esposa. Patético tudo isso!! Voltei dirigindo, não me pergunte como porque eu estava tão zonzo que m*l enxerguei o portão da minha cas. Ele abriu pra mim e eu entrei com o carro, estacionei na garagem, acionei o alarme e o portão se fechou. Abri a porta da sala e ali mesmo fiquei, deitei no tapete e dormi o resto da noite. (...) Acordei com alguém que acariciava meu rosto: - Pither, acorda ... Levanta filho! - Mãe?! Falei sem abrir os olhos, enquanto passava meus dedos pelos cabelos tentando acordar . - É a Naná! Levanta vai tomar um banho, vou fazer um café bem forte pra você... Abri meus olhos e sentei no chão, minha cabeça parecia que ia explodir. Naná estava agachada, seu olhar era triste. Ela se levantou e depois segurou a minha mão. - Vem filho! Eu te ajudo a se levantar... Levantei meio cambaleando, tudo girava ao meu redor, quase caí de novo. Mas ela me segurou e foi comigo até a escada, coloquei meu braço em seus ombros e fui subindo com ela me carregando escada acima. Foi então que no topo eu vi meu pai em pé, me olhava decepcionado, parei no último degrau e olhei pra ele. - Que decepção Pither! No dia do seu noivado... A gente precisa conversar! Eu olhei pra ele meio mole e sorri. - Eu m*l posso esperar... E sorri com irônia. Naná continuou me arrastando pro meu quarto. - Vamos Filho, você precisa tomar um banho... Passei pelo meu pai que balançava a cabeça indignado. (...) Tomei um banho frio, deixei a água do chuveiro escorrer pela minha cabeça e pelo meu corpo por vinte minutos. Permaneci ali imóvel, imaginando que cara de i****a eu e meu pai teríamos que fazer perante a família da Déborah, nesse bendito almoço. Me sequei, me vesti e fui para a cozinha. A ressaca era certeira e o meu café forte também, quase não conseguia engolir de tão amargo. - Isso aqui tá horrível! Falei fazendo uma cara de nojo pra Naná que estava em pé junto a mim. - Você queria o quê? Suquinho de laranja? Quem vê pensa que a sua noitada foi tão doce assim! - Cadê meu pai ? Fiz cara de sério. - Está lá em cima se arrumando, ele quer sair cedo! Pois ficou de pegar o anel e não quer chegar atrasado. Sorri pra ela com o olhar mais maléfico que eu consegui fazer... -Ah ele está lá em cima, é? Eu já volto... -Pither por Deus, o que vai fazer? Entreguei a xícara dando lhe uma piscadela. Sai da cozinha, enquanto Naná me olhava sem entender nada. Fui até o escritório de papai e entrei encostando a porta. Na mesinha perto da cristaleira ficava os uísques dele, peguei um copo com gelo e servi uma boa porção, virei goela abaixo: - ''Eu vou fazer parte do seu joguinho papai! Mas vou estar bêbado o suficiente para poder te envergonhar ...." Falei sorrindo enquanto enchia outro copo.
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