Capítulo 3

1650 Words
Lucy Com as unhas basicamente feitas, abano as mãos e caminho até a janela da minha sala apreciando um pouco a vista daqui de cima. Há um silêncio enorme aqui, mas da para ver que lá em baixo as coisas parecem uma loucura sem controle, vejo vários prédios em volta, o céu meio nublado e penso que é capaz de chover mais tarde. Amo chuva! Começo a pensar nas minhas obrigações de hoje. Já arquivei tudo o que tinha de pendente, a reunião com o marketing foi feita, a reunião do financeiro não preciso comparecer e acho que só preciso verificar a agenda da semana. Se for só isso, a minha tarde será tranquila. Penso que quando der o meu horário, terei que ir ao mercado fazer as minhas compras do mês. Ao lembrar disso, busco o meu celular e faço a transferência correspondente ao meu aluguel, p**o outras contas e logo preciso voltar ao trabalho. Busco o tablet indo diretamente para as minhas anotações e dou graças a Deus que tudo de mais urgente já passou e que esses dias serão na mais perfeita paz. Nas duas ultimas três semanas, vivi uma loucura aqui. Houve um problema na fábrica durante a produção dos novos perfumes e assim, o Sr. Fox foi chamado e tive que acompanhá-lo. Confesso que quase não suportei ficar ali, o cheiro forte e desconexo era exorbitante, fiquei com uma enxaqueca absurda na mesma hora e o meu chefe também. Foi a primeira vez que o vi virado na fera*. Ele ficou tão irado*, vermelho e furioso que confesso que fiquei com medo dele, e tudo porque uma pessoa se distraiu com o celular enquanto manuseava a máquina. Resultado? A data de lançamento foi alterada e está indefinida no momento e o rapaz foi demitido. Enfim, como tiveram que começar tudo do zero na produção, o meu chefe está focado no marketing, pois se não fosse aquele problemão, tudo estaria vendendo como água agorinha mesmo. Eu mesma adorei os novos perfumes quando foi apresentado na reunião passada e fiquei até de comprar um kit de lançamento para mim. Os nossos produtos são realmente de qualidade excepcional, tudo o que já vi adorei, mas esse, eu amei de verdade. Depois de fazer somente pequenas alterações na agenda dele, faço algumas ligações para confirmar alguns compromissos e informar a mudança de outras, e recebo um documento por e-mail referente ao balanço mensal da nossa empresa da França. Faço a impressão dele e verifico alguns dados e já caminho em direção a sala do meu chefe e bato na porta. -Pode entrar! – Ele responde e assim faço e vejo a bolsa da esposa dele na mesa. -Com licença, senhor. – Caminho em sua direção e mostro os papéis. – Vim entregar o balanço mensal que veio da França. -Ah, sim..., tudo bem, depois eu lhe entrego assinado. – Aceno e quando ia dar um passo ouço a porta do banheiro ser aberta. -Como ia dizendo, não sei como você suporta aquela... – Ouço a voz se aproximando, mas a sua fala é cortada. -Eu não quero mais ouvir, já disse isso e não me irrite que estou sem paciência. – O Sr. Fox diz irritado e ela aparece. – Obrigado, Allen..., pode ir. -Com licença... – Ela revira os olhos para mim e saio o mais rápido possível. Há poucos meses venho percebendo como eles dois tem se estranhado e discutido frequentemente. Quando comecei a trabalhar aqui mesmo que sendo estagiária ainda, os via chegando juntos em meio a conversas e sorrisos, mas hora, parecem cão e gato e todos percebem a forma como se comportam juntos. Melhor esquecer isso. Entro na minha sala respirando fundo e sei que ela falava de mim, sou a única mais próxima do Sr. Fox e nunca a vi falar de forma azeda com mais alguém fora eu. Já tentei imaginar os motivos, mas nada vem na minha mente, não me lembro de nada que eu tenha feito que possa ter a irritado, pois é raro o contato que tenho com ela. Decido voltar a trabalhar e quando termino de preencher uma planilha, vejo que já passou quase vinte minutos do meu horário e abro um sorriso por finalmente sair na hora certa. Farei as minhas compras, meu jantar e almoço e de sobra, dormirei cedo para descansar mais um pouco. Me sinto ainda cansada. Recolho tudo e começo a desligar o computador, busco a minha bolsa e caminho até a porta a fechando e quase me esbarro na Sra. Fox. -Cuidado..., onde pensa que vai? – Ela pergunta arrumando a sua roupa e me afasto rapidamente. -Desculpe, eu não a vi... – Respondo recebendo o seu olhar como se fosse me matar*. – Bom, eu estou indo embora. – Respondo a vendo sorrir levantando uma sobrancelha. -Bom, você ia embora, mas tenho um serviço para você..., me siga. – Ela da meia volta e anda entrando na sala do Sr. Fox. Respiro fundo sentindo que coisa boa não virá e assim que entro na sala, ela praticamente joga uma pasta nos meus braços e busca a sua bolsa. -William teve que ir antes de mim, ele disse que precisa desses documentos redigidos no novo formato que você já deve conhecer e fiz algumas anotações referentes as fontes e tamanhos que deverá usar..., depois, precisa arquivá-los e não deixe nada para amanhã, porque a equipe de TI virá logo cedo fazer uma atualização no sistema. – Ela fala rapidamente e continua. – Entendeu? -Sim, senhora! – Respondo não acreditando nisso. -Ótimo, desligue tudo da sala. – Ela diz passando por mim sustentando um sorriso. Ouço o som dos seus passos diminuírem e um nó se forma na minha garganta. As minhas mãos tremem em um suor frio e começo a desligar as luzes e o ar da sala do meu chefe, depois, volto para a minha sala ligando tudo novamente e apoio a minha cabeça nas mãos em cima da mesa tentando não surtar. Tenho até medo de olhar quantos documentos são e quantas páginas eles contém. [...] -Allen..., Allen... – Ouço uma voz baixa, mas não consigo distinguir de quem seja. – Allen, acorde! Abro os meus olhos erguendo a minha cabeça em um sobressalto e vejo o Sr. Fox na frente da minha mesa. O meu coração bate feito um tambor e me levanto rapidamente arrumando a minha roupa e na minha mesa, vejo os documentos que estava usando todos bem espalhados e vejo o seu semblante confuso. -O que faz aqui a essa hora, Allen? – Ele pergunta confuso e preocupado ao mesmo tempo. -Que horas são? – Procuro pelo meu celular, mas a minha vista está embaçada. -Quase onze da noite..., o que faz aqui? – Ele pergunta novamente e fico chocada. É muito tarde! -Desculpe, senhor..., estava redigindo os documentos que pediu, falta pouco, mas eu vou... – Tento explicar, mas sou interrompida. -Que documentos? – Ele pergunta olhando a mesa toda desorganizada. -Os que a senhora, a sua esposa disse que o senhor pediu para eu fazer..., são muitas folhas, mas vou concluir. – Garanto respirando fundo e ele n**a* com a cabeça. Ele começa a olhar as folhas e cada uma delas, o seu semblante vai se fechando de uma forma que nunca vi antes. -p***a*, ela passou dos limites... – Ele resmunga e depois, respira fundo me olhando. – Allen, me perdoe, eu nunca faria isso..., esses documentos são desnecessários, depois que você saiu da minha sala no período da tarde, eu pedi a ela para os jogar fora, porque queria que ela saísse e me deixasse em paz e antes de ir embora, recebi uma ligação de fora e só tinha um único documento que precisava ser redigido e não era para hoje. – Ele explica e me sento na cadeira respirando fundo. - Fiquei sem acreditar quando Edward me disse que você ainda estava aqui a essa hora. Edward é um dos seguranças do prédio. -Não acredito nisso... – Falo de olhos fechados e o meu corpo está exausto. -Por favor, me desculpe e eu vou resolver esse assunto..., tire dois dias de folga e descanse. – Abro os meus olhos olhando para ele. – Vem, lhe dou uma carona. -Eu..., eu estou com o..., o meu carro. – Juro que estou segurando o choro. -Depois resolvemos isso, você está cansada e p**a* merda*, não acredito que isso aconteceu. – Ele mesmo começa a desligar tudo e busco a minha bolsa. – Pode deixar tudo aí, vamos! Saímos da sala e evito de falar algo, pois com toda a certeza a minha voz sairia trêmula e agora só quero chegar em casa e me deitar. Pegamos o elevador e o silêncio predomina, o vejo digitar algo no celular e as portas se abrem, ele me conduz para o estacionamento e mais uma vez, falo que posso dirigir, mas ele insiste em me deixar. Aceito a carona e entro no carro me acomodando no bando de trás e explico a ele o caminho. -Chegamos..., Allen, mais uma vez..., me perdoe pelo ocorrido. – Ele diz respirando fundo enquanto aperta o volante. -Tudo bem, eu fiquei sem entender, mas... – Confesso que nem sei o que dizer. -Olha, o que ela falar, não leve mais em consideração e depois dessa, ela não pisa tão cedo lá dentro. – Fico calada e ele continua. – Podemos fazer assim, se alguém for até você falando sobre algum serviço que não mencionei, fale comigo antes..., e mais uma vez, me desculpe. – Ele pede novamente e aceno em concordância. -Tudo bem, farei isso..., obrigada pela carona. – Seguro a minha bolsa e abro a porta. – Boa noite. -Boa noite descanse nesses dois dias... – O agradeço e fecho a porta. Retiro a chave da bolsa e quando entro é que vejo o carro dele se distanciar.
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