Lucy
No primeiro dia da minha primeira folga eu dormi praticamente o dia inteiro. Juro, o meu corpo necessitava desse descanso, acordei depois do almoço e inventei uma comida breve, depois dormi novamente e quando acordei era quase de noite. Não recebi mensagens ou ligações do meu chefe e tudo isso é completamente inédito e me refiro as folgas e ao fato dele não ter me procurado para nada.
Quando lembro do que a esposa dele fez comigo, sinto uma raiva tão grande que é difícil explicar, mas ao menos pude descansar e de bônus, provavelmente não a verei mais.
Ainda bem que fiz tudo de forma antecipada antes desse ocorrido.
Como a minha casa já estava arrumada, só precisei fazer uma breve limpeza e depois, fui fazer as minhas compras no supermercado. Comprei tudo o que precisava e como sempre, alguns macarrões instantâneos estão inclusos para aqueles dias corridos e que o cansaço me impede de cozinhar algo mais favorável, mas também comprei as minhas frutas preferidas, legumes e tudo de essencial.
Tive que limpar e organizar todo o armário da cozinha, fazer uma limpeza na geladeira e assim, uma coisa foi levando a outra, e no fim, eu estava lavando roupa e a casa estava um brinco.
No segundo dia, fui caminhar por pelo menos por trinta minutos pela praça central e foi revigorante. Senti aquele sol da manhã e há muito tempo que eu não fazia isso e depois, fui a farmácia comprar uns produtos de higiene pessoal e íntimo*. Fiquei feliz e surpresa por ver a senhora Rute no caminho, a convidei para um café numa cafeteria próxima e conversamos bastante onde ela me contou como estão as coisas no orfanato e também contei sobre o meu trabalho.
-Nossa! Essa mulher fez isso? – Ela fica sem acreditar quando contei sobre o ocorrido no trabalho.
-Sim, não gosto de lembrar, fiquei exausta e com a vista turva. – Confirmo terminando o meu café.
-Sinto muito por isso, infelizmente algumas pessoas ricas menosprezam outras que não estão no mesmo nível que elas e até esquecem de dependem dos outros. – Concordo com a cabeça e ela continua. – Mas fora o cansaço, você me parece muito bem..., está mais corada, forte..., estou feliz. – Sorrio ao ouvir isso.
-Obrigada..., a senhora me ajudou muito! – Ela me olha com carinho ao ouvir.
-Nada de mais, mas quero ver você indo longe..., você se destacou dos demais. – Isso graças a ela.
-Os seus conselhos e alertas me trouxeram até aqui. – Respondo ciente disso.
Conversamos mais um pouco e depois, ela teve que ir, prometi uma visita ao orfanato e fui embora feliz por ter visto ela. Fiz um almoço constando em uma pequena lasanha, fiz um suco de abacaxi e me permiti ver um filme na parte da tarde com um pote de sorvete na mão e alguns salgadinhos. Eu nunca fui de ter um tempo assim, sozinha e sem preocupações.
Dormi cedo e por incrível que pareça ainda tinha bastante sono para pôr em dia e quando o celular tocou mostrando o alarme, acordei bastante descansada e me levantei tranquilamente sem aquela preguiça de sempre. Hoje optei por usar um vestido preto social de mangas curtas, vesti uma meia calça natural e um salto fino médio.
Odeio saltos muitos altos.
Deixei os meus cabelos completamente soltos com os meus cachos bem definidos, fiz uma maquiagem simples, mas com um batom um pouco mais forte e como já tinha organizado tudo, saí mais cedo para esperar um motorista de aplicativo, já que deixei o meu carro na empresa.
Não tive coragem de ir somente para buscá-lo.
Desligo as luzes, tranco tudo e saio vendo que falta um minuto para o carro chegar e assim, o espero na calçada de frente.
-Bom dia, Lucy Allen. – Ele diz quando chega e para o carro.
-Bom dia, Demétrio. – Respondo me acomodando no banco de trás.
Como toda manhã, o trânsito nova-iorquino é de lei e enquanto espero, busco os meus fones de ouvido na bolsa colocando uma música enquanto fico olhando pela janela do carro.
[...]
-Bom dia, Sr. Fox. – Entro na sua sala com o seu café depois de ele autorizar.
-Bom dia, Allen..., como está? – Ele larga os papéis me dando a sua atenção.
-Muito bem senhor, aqui está o seu café... – Deposito a garrafa na sua mesa e ele não perde tempo indo beber.
-Obrigado, espero que tenha conseguido descansar..., exigi muito de você nas últimas semanas, mas já resolvi aquele problema. –
Aceno em concordância o vendo se deliciar no café quente.
-Tudo bem, é..., vamos passar a agenda? – Pergunto querendo mudar o assunto.
-Claro. – Ele pede para eu me sentar e assim faço.
Ligo o tablet e informo os seus compromissos, ele pede para cancelar uma reunião que estava marcada para as dezesseis horas e diz que as nove, o seu advogado virá novamente e ele não quer ser incomodado.
-Ah, sobre a reforma daquela sala que falei antes, houve algumas alterações e a nova sala que será usada será a em frente a sua, a antiga está com uma infiltração e vai demorar mais que o previsto, então só preciso que depois do almoço você verifique se está tudo conforme a planta da reforma para depois autorizar o financeiro a transferir o p*******o pelo serviço. – Ele explica e já anoto para não esquecer.
-Sim senhor, mais alguma coisa? – Pergunto e ele n**a* na mesma hora então, peço licença.
Volto para a minha sala e verifico alguns e-mails, vejo também alguns posts it na minha mesa juntos com um clip e cada um tem uma informação diferente. Começo a ler e pelo que entendi, alguém ficou recebendo as ligações no meu lugar, mas não anexou os recados ou retornou sobre os assuntos e assim começo o meu dia.
Tenho pavor de errar agenda do Sr. Fox, esquecer compromissos ou misturar algo.
Reviso tudo umas cinco vezes para não ter erros e vejo o advogado dele chegar na sua sala. Ultimamente ele tem vindo bastante, praticamente todos os dias a mais de uma semana e todas as vezes, o Sr. Fox pede para não ser incomodado. Deve ser um assunto sério.
Esqueço isso e foco no meu trabalho.
As horas vão se passando e começo a comer umas balinhas enquanto cuido de uma planilha. Logo chega a hora de almoçar e como sobrou lasanha que fiz ontem, trouxe e deixei na geladeira da copa. Aviso ao meu chefe que irei tirar o meu intervalo e ele também diz que irá almoçar e assim, vou para a copa comer.
Trouxe também um suco de maçã, um potinho com alface e um outro com purê de batatas.
-Nossa, a sua comida está com um cheiro delicioso. – Ágata diz entrando.
Aqueci a lasanha e o aroma dominou a copa.
-Quer? Trouxe para você também! – Informo vendo-a sorrir na mesma hora.
-Aceito, mas não posso comer agora..., fui chamada para uma limpeza numa sala do décimo quinto andar. – Ela diz buscando uma garrafinha de água na geladeira.
-Tudo bem, vou deixar na geladeira. – Falo mostrando qual pote está.
Ela sai pouco depois e começo a comer. Não é porque eu fiz, mas a lasanha está deliciosa, o purê está cremoso e o suco bem gelado do jeito que eu gosto e depois de comer, lavo tudo e guardo os meus potes para levar quando for embora no fim do dia.
Quando saio da copa, recebo uma mensagem da senhora Rute e são algumas fotos do orfanato. Vejo algumas crianças brincando no pátio com alguns brinquedos de doações que receberam, há palhaços fazendo algumas brincadeiras, pipoca e algodão doce para elas.
Isso me traz muitas lembranças.
-Então está tudo certo... – Ouço vozes e vejo o meu chefe com um homem ao lado. -Allen, esse é Eric Lacerda, um dos nossos sócios mais importantes e também é dono de algumas outras empresas..., Eric, essa é Lucy Allen, minha secretária.
-É um prazer*, Sr. Lacerda. – Estendo a minha mão para o cumprimentar.
-Me chame só de Eric..., o prazer* é todo meu Sta. Allen. – Ele segura a minha mão e se inclina deixando um beijo casto no dorso da minha mão.
Ele é alto, forte, aparenta ter pouco mais de trinta anos e tem uns olhos castanhos médios.
-Bom, nos vemos em alguns dias e no que precisar, eu e a Allen iremos ajudá-lo. – O Sr. Fox diz todo simpático e o guia para o elevador.
-Até breve, senhorita! – Faço uma inclinação com a cabeça e assim continuo o meu caminho.
[...]
-Allen, venha..., quero que conheça uma pessoa. – O meu chefe diz me chamando.
Fui à sua sala buscar uns documentos e ele recebeu uma ligação. Notei o seu sorriso largo instantaneamente e pude ouvir ele dizendo que a pessoa estava subindo no elevador e ele já saiu da sua cadeira na mesma hora todo eufórico.
Caminhamos até as portas e fico no aguardo delas abrirem. Quem será para o deixar tão feliz assim?
Mantenho a minha postura com as mãos para trás, deixo os meus cabelos bem soltos e quando as portas se abrem, um homem alto e com um sorriso largo sai indo diretamente abraçar o Sr. Fox.
-Como é bom ver o senhor, meu pai! – O homem diz o abraçando forte.
-Meu filho..., que saudade! – Ele responde e é quase levantado por ele.
Então esse é o filho dele, mas não consegui ver bem o seu rosto.
-Que bom que chegou, espero que a viagem tenha sido tranquila..., essa é Lucy Allen, minha secretária. – Ele diz e só agora tenho uma visão mais completa dele.
Não é possível. Não pode ser!
Ele é...
-Lucy... – Ele sussurra me olhando toda, literalmente de cima a baixo.
Eu o observo mais de perto onde ele faz o mesmo e a com toda a sinceridade, parece que acontece uma explosão na minha cabeça.
Com certeza é ele. É o Noah!
-Noah? – Pergunto ainda em choque.
-Você lembra..., caramba você se lembra! – Ele diz eufórico.
Não tenho tempo de responder, pois sou tomada por um abraço surpresa e forte sendo cercada pelos seus braços.
É ele sim, é o Noah!