Capítulo 2

2096 Words
Lucy Depois de trancar tudo, caminho até o meu carrinho e entro colocando a minha bolsa no banco ao lado. Quando fiz os meus dezoito anos, a senhora Rute me deu uma boa quantia em dinheiro para me manter nos primeiros meses e foi logo quando consegui a vaga de estagiária, e o que me fez continuar todos os dias, foi pelo simples fato de ele ser remunerado. Aguentei muita coisa só por causa disso. Ao lembrar que eu tinha aluguel para pagar, outras contas fixas e que precisava guardar algo para emergência, continuei sem reclamar, mas se eu não disser que não teve dias em que queria gritar e ir embora, estarei mentindo. Quando fiz dois anos de estágio, fui contratada e só meses depois que me tornei secretária do Sr. Fox, e tudo o que eu ganhava e ganho ainda hoje guardo o máximo possível, porque nunca se sabe o que pode acontecer. Quando me “estabilizei”, consegui tirar a minha carteira de carro e só a três meses atrás foi que consegui comprar o meu carrinho. Ele já é usado, mas tive que parcelar até os meus rins para conseguir comprar, mas apesar de ele não ser novo, eu gosto dele e tem me quebrado um galho enorme. Ele é o mais simples dos funcionários da empresa, mas não me importo. Dou a partida depois de pôr o cinto de segurança e de quebra já tem um trânsito enorme. Nova York sem trânsito de manhã cedo não é Nova York e sendo assim, não demoro a ficar presa no meio do caminho. Como sei bem dessa rotina, sempre saio de casa cedo para não correr o risco de chegar tarde, pois já ouvi piadas chatas de pessoas que chegaram atrasadas e por isso nunca cheguei. A sorte é que o Sr. Fox é um homem tranquilo, o problema mesmo são os outros gerentes e as pessoas do RH. Fico cerca de quinze minutos presa ouvindo umas músicas e depois consigo dirigir normalmente. O meu estômago começa a protestar e me lembro que não jantei ontem, cheguei tão cansada que simplesmente me banhei e me joguei na cama caindo em um sono profundo. Dormi a noite inteira sem interrupções, mas mesmo assim ainda me sinto cansada. Poucos minutos depois, chego na entrada do prédio onde a minha passagem é liberada pelos seguranças e dirijo até o estacionamento. Há poucos carros ainda estacionados e pela hora, ainda tenho uns quarenta minutos ainda antes do meu horário e busco a minha bolsa travando o carro após sair. Entro no prédio vendo a recepcionista da entrada organizando o seu balcão e apenas desejo bom dia ouvindo o seu cumprimento e caminho até o elevador apertando o botão que indica o vigésimo quinto andar que é o da presidência. As portas se abrem pouco depois e caminho até a minha pequena sala que fica ao lado da sala do meu chefe. Há uma porta na lateral que me da acesso a sala dele, e por mais pequena que seja, é bem aconchegante, tem duas poltronas acolchoadas, uma mesa adequada com os equipamentos, uma decoração sofisticada e até um pequeno banheiro somente para mim e antes que pensem se o meu trabalho é r**m*, não, ele não é, mas é cansativo, e o que o torna aceitável é o meu chefe e poucas pessoas que aqui trabalham, mas não gosto quando a esposa dele vem aqui. Ela não vai com a minha cara de jeito nenhum e acho que é por causa da minha cor. Tenho uma pele morena, os meus cabelos são cacheados bem modelados e longos, amo os meus cabelos e não os alisaria por nada nesse mundo. Tenho pouco mais de um metro e sessenta, os meus olhos são claros e tenho um corpo normal na minha opinião, mas ainda assim, sou julgada. Já passei por algumas situações bem desagradáveis. Ela sempre me olha de canto de olho, praticamente não dirige a palavra a mim e uma vez, ela me questionou pelo fato de que o Sr. Fox saiu para almoçar e a deixou desavisada. Ouvi a suas reclamações sendo que ele e o marido dela e, além de eu não saber que ela viria, eu não posso simplesmente dizer ao meu chefe que ele não pode sair sem dizer para onde. É cada coisa que acontece. Coloco a minha bolsa na mesa e já a abro para retirar o meu celular e carregador, plugo na tomada e o deixo carregar e assim, saio da sala indo para a copa. -Bom dia, Allen, está servida? – Ágata pergunta sentada à mesa. Vejo café, leite e algumas guloseimas de café da manhã. -Bom dia..., estou faminta. – Respondo me acomodando na sua frente. -Sorte a sua..., consegui ir naquela padaria, comprei alguns pãezinhos doces, bolo e até alguns biscoitos salgados..., pode comer. – Ela diz mostrando algumas coisas e o aroma é delicioso. -Obrigada..., não comi nada ontem a noite e hoje ainda não. – Comento me servindo do café. -Menina..., não pode ficar sem comer, da forma como trabalha pode causar gastrite. – Ela me repreende e escondo um sorriso envergonhada. -Estava tão cansada..., quando vi já era de manhã. – Explico por cima e busco um pãozinho doce. - Nossa..., isso é tão bom. -Amo esses pães..., pode comer a vontade, é só pra nós mesmo. – Abro um sorriso largo ao ouvir isso. -Você é um anjo... – Ela gargalha negando* com a cabeça. Como de tudo um pouco enquanto conversamos, ela me diz que tem diversas coisas para fazer e que uma colega que a ajuda está adoentada. Ela é copeira e chefe da equipe de limpeza, conhece praticamente todo mundo daqui, do primeiro andar ao último, mas são os poucos que ela tem contato como eu. Ágata tem trinta e cinco anos, é uma mulher branca muito simpática, é um pouco mais alta que eu e temos contato desde que me tornei secretária do Sr. Fox. Ela é muito gentil, gosta de conversar e sempre trata as pessoas com cordialidade e para ela é difícil ter dia r**m* e confesso que gosto dela. -Bom, muito obrigada pelo café..., tudo estava uma delícia, mas na próxima, posso ajudá-la com o café para não comprar tudo sozinha... – Falo referente a ajudar a pagar. -Que isso..., mas se quiser todos os dias posso trazer e dividimos tudo. – Aceno em concordância e prefiro assim. -Está ótimo..., prefiro comer aqui do que em casa. – Explico e combino de deixar um dinheiro com ela depois. -Combinado..., vou fazer mais café para o Sr. Fox. – A ajudo recolher tudo e ela diz que ela mesma irá lavar os utensílios. Saio da copa me sentindo satisfeita, caminho até a minha sala e ainda tenho quinze minutos e decido ligar tudo para depois escovar os meus dentes. Entro na sala do meu chefe e ligo o ar da sala, organizo a sua mesa, abro mais as cortinas, recolho alguns papéis amassados e ligo o seu notebook. Volto para a minha sala já ligando o computador, tablet, ligo o ar também e busco a minha escova e creme dental. Acho que pelo cansaço, sinto o meu corpo tenso. No banheiro mesmo estico os meus braços ouvindo alguns estalos, os levanto indo um pouco para trás e a minha coluna faz o mesmo som, giro um pouco a cabeça e começo a sorrir sozinha pelo meu estado. Os meus ossos estão em idade avançada. Isso é falta de exercício. Escovo os meus dentes, uso o enxaguante bucal e dou uma arrumada no cabelo, depois, uso um batom vinho para não ter que usar muita maquiagem e saio indo para a copa. Faltam menos de cinco minutos para o meu chefe chegar e preciso levar o café dele e por bondade da Ágata, ela já o fez e já separou na garrafa térmica. Forte com pouco açúcar do jeito que ele gosta. Caminho para a sala dele e na porta o vejo se aproximar e já abro lhe dando espaço. -Bom dia, Allen. – Ele diz fazendo um aceno com a cabeça. -Bom dia, Sr. Fox. – O cumprimento e o sigo. -Parece cansada..., tudo bem? – Ele diz quando chega atrás da sua mesa e me olha o rosto. -Sim, obrigada..., aqui está o seu café do jeito que gosta. – Mudo de assunto e ele se acomoda na sua poltrona. -Obrigado..., o que temos para hoje? – Ele bebe um pouco e sorri pequeno em seguida. -Bom, as nove o senhor precisa estar em uma videoconferência com a equipe do marketing sobre a nova campanha, o link de acesso está no seu e-mail..., as onze tem uma visita do seu advogado e as quinze horas uma reunião com o setor financeiro. – Explico calmamente onde ele acena em concordância. -Certo..., é tudo calmo por enquanto..., ah, preciso lhe pedir uma coisa..., virá algumas pessoas reformar a sala vazia dessa ala, preciso somente que verifique o andamento e mostre a designer o plano original..., preciso que a sala fique pronta o mais rápido possível. – Ele bebe mais um pouco de café e continua. – A Helena ia acompanhar isso, mas teve uns imprevistos e não vou poder supervisionar..., esse café está bom! Helena é a esposa dele. -Tudo bem, eu cuido disso..., mais alguma coisa? – Pergunto antes de sair. -Não, é só..., eles virão amanhã de manhã e o meu filho ficará naquela sala, teremos mais ajuda por aqui. – Ele explica e eu nunca o ouvi falar de algum filho seu. -Sim, senhor..., com licença. – Dou meia volta e saio fechando a porta. Volto para a minha sala e começo a scanear alguns documentos que precisam ser arquivados no sistema, alguns contratos e planilhas, depois, verifico o e-mail onde tem alguns que preciso responder e assim vou passando a minha manhã. [...] -Já caiu..., ainda bem! – Falo comigo mesma vendo o meu saldo bancário. O meu salário já consta na conta e já está no horário de almoço. Normalmente, eu não almoço em restaurante. Eu tenho direito a um cartão alimentação e opto por fazer as minhas compras do mês nele, e assim, preparo o meu almoço a noite colocando em pequenos potes e só esquento lá na copa. É uma forma de economizar, pois pequenos almoços em restaurantes são caros, fora que são lotados e fico numa espera enorme. Na empresa não tem refeitório, mas em cada andar há três copas bem equipadas para quem desejar almoçar aqui, mas são poucas pessoas que a usam e no andar da presidência eu sou praticamente a única. Só as vezes que Ágata me faz companhia. Como não consegui fazer comida ontem, decido pedir pelo delivery. Escolho um frango grelhado com purê de babatas, uma salada crua e peço também um suco natural. Aqui tenho uma hora e meia de almoço e quando trago comida, consigo até tirar um pequeno cochilo na minha sala ou saio para tomar um sorvete numa sorveteria que tem aqui ao lado. Amo os sorvetes de lá. Quando o meu almoço chega, busco lá em baixo e vou diretamente para a copa. Separo o meu prato e o meu copo que deixo aqui junto com os meus talheres e me sirvo me acomodando à mesa. A comida está quentinha e deliciosa. -Ah..., você está aí..., onde está o meu marido? – A esposa do meu chefe chega na copa com uma cara nada boa. -Boa tarde, Sra. Fox, o Sr. Fox saiu para almoçar com o advogado dele. – Informo onde a vejo levantar uma sobrancelha. -Qual restaurante? – A sua impaciência é notória e o seu olhar de desprezo como sempre se faz presente. -Me desculpe, ele não me informou. – Respondo onde ela suspira em irritação. -Não sei por que ainda pergunto algo a você. – Dito isso, ela se vira e sai. Eu acho que ela não bate bem da cabeça. Ainda não consigo entender o motivo de ser tratada assim por ela e depois de respirar fundo tentando fingir que nada aconteceu, volto a comer tranquilamente. Depois de comer, lavo o que sujei, descarto a embalagem e deixo tudo limpo como estava, volto para a minha sala fechando a porta e como ainda tenho quase uma hora dentro, decido dar um jeito nas minhas unhas de forma bem básica. Ontem não tive tempo para mais nada e como tenho tudo aqui na gaveta, opto por iniciar. Só espero que o restante do dia seja tranquilo.
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