Capítulo XVI

2328 Words
Celleney Peny. Ele adentra no que mais parece ser um escritório, eu diria que é uma biblioteca pelo seu tamanho, largas e altas estantes estocadas de livros, mas o escritório do meu avô é assim, mais moderno do que clássico, e um pouco menor, mas assim. Eu cheguei aqui ofegante, com medo do que ele vai dizer, mas frustrada por ele simplesmente estar me ordenando como se eu fosse obrigada a cumprir o que ele diz. “Eu garanto a você, que não vai querer me desobedecer.” O que ele vai fazer se eu o desobedecer? E por que isso realmente me intimidou? Ele foi para detrás da mesa de madeira, e levantou o seu olhar penetrante e esverdeado na minha direção, mas seu olhar agora não é compreensivo, calmo ou até mesmo subtil como antes. Ele é pungente, mas não de ódio, intimidante, mas não me deixa com medo, mas deixa-me estranha e indecentemente sucumbida pelo seu olhar. Eu estou com raiva, e confusa, é por isso. - Vamos conversar seriamente agora senhorita, Celleney? - ele me questiona e eu observo as suas mãos por cima da mesa. Belas mãos. Celleney, você tem mais com o que se concentrar agora, eu suspiro fundo levantando o meu olhar para o dele novamente. - Em nenhum momento eu estive a brincar, Henrik. - eu falo e ele me observa minuciosamente por uns segundos, e em seguida se senta. - E não me chame senhorita outra vez, está me dando crise de ansiedade. - eu falo já exausta de escutar tanto senhorita. - O que fará se eu continuar chamando-a devidamente? - ele questiona, mas num tom provocativo e eu sorrio entendendo o que ele está a fazer. - Provavelmente o mesmo que sugeriu que aconteceria se eu não te obedecesse. - eu respondo e ele sorri ainda me observando. - Sente-se. - ele diz. - Por mais que eu queira, depois de me levantar daquela mesa, eu vou precisar aguardar mais alguns minutos para ajustar todos os ferros que estão aqui para me sentar outra vez, antes que um deles espete a minha costela. - eu digo-lhe ajustando o corpete que realmente está me sufocando. - Vai contar-me ou não o que fazia na floresta? - ele questiona-me e eu suspiro fundo. Aparentemente ele não comprou a minha história de ontem. Mas eu não posso falar de viagem no tempo com uma pessoa da época dos dinossauros. Nem sequer posso me arriscar desse jeito, porque simplesmente não irão acreditar, interpretarão como uma mentira e provavelmente vou acabar sendo escravizada aqui, ou algo do tipo que faziam nessa era do nunca, em que por culpa do meu avô eu estou. - Te pareceu que eu estava a fazer alguma outra coisa para além de querer sair daquele lugar lamacento? - eu questiono-o indignada e ele apenas me encara esperando “a” resposta e eu não darei, não posso dar. - Como eu já disse mil e uma vezes para você e para a sua família, eu não me lembro de como eu fui parar naquele lugar, eu sequer sei como voltar para lá se você me disser para ir para lá agora. - eu falo na defensiva. - Eu acordei no chão, lamacento, eu não ousaria arriscar a minha roupa e nem a finalização do meu cabelo debaixo daquela chuva por nada. - eu deixo claro. - Eu me dei conta que estava no meio do nada, sozinha, sem saber como eu fui parar lá, eu procurei caminhar pela estrada para ver se achava sei lá, algum carro que pudesse me levar para a minha casa. - eu falo vendo ele franzir o cenho. - Carro? - ele questiona e eu o encaro incrédula, mas tento manter a compostura. - É um diminutivo de… carruagem. - eu invento, mas pensando agora, eu acho que é mesmo isso. - E para onde pediria que a levassem? - ele me questiona, uma questão capciosa. - Eu me lembro de ter pedido para você que me levasse para à cidade, que eu achava que seria a minha cidade. - eu o digo. - Se assim fosse, eu me virava sozinha assim que lá chegasse e voltava para a minha casa, mas aparentemente, essa não é a minha cidade. - eu falo o óbvio. - Na verdade, você pediu para que os meus guerreiros e eu a levássemos para uma suposta festa que estávamos indo. - ele diz e caramba… Eu estava associando esse século, com… ser menos esperto. Que parvoíce minha achar que ele simplesmente ia deixar tudo o que falei antes passar batido, e acreditar na minha desculpa. Celleney você está no século das invenções e acha que os caras são tolos? - Porque eu achei que vocês estavam fantasiados indo para uma festa, Henrik, onde eu moro, a forma que vocês se vestem não é a mesma, eu achava que vocês estavam fantasiados. - não é uma mentira. - Mas disse que antes de perder a consciência, tinha chegado na sua casa e foi estudar. - ele diz, ele realmente não acreditou na história, e tudo bem. Eu também não estou afim de tentar mais. - Eu acabava de acordar desmaiada no meio do nada, eu achei que podia ter sonhado que ele estava lá, e vi vocês vestidos desse jeito, estava sem celu… - Celleney! - Sem transporte e sozinha, baralhada. Na minha cabeça fazia sentido eu ter caído no regresso da festa, ou amigos meus terem me tirado do meio da festa, caído, batido com a cabeça algures e ter perdido a consciência no caminho. - eu simplesmente vou falando. - Seria interessante se revisse as suas amizades se eles fossem deixar uma moça jogada sozinha no meio da floresta. - ele comenta me observando e eu inclino a minha cabeça do lado. É… é verdade. - Não estamos aqui para falar das minhas amizades, e eles são bons amigos no final do dia. - as vezes eles tendem a fazer umas brincadeiras de nível absurdo. E eu estava realmente torcendo que isso, fosse realmente uma brincadeira. Ele suspira ainda me encarando, aparentemente já farto da conversa séria que ele queria ter não estar a acontecer e se encosta a poltrona. Digam-me por que motivo, eu acompanhei o movimento minuciosamente, dele simplesmente se ajustando a poltrona, a luz suave do ambiente destaca levemente os contornos do seu corpo visivelmente esbelto, enquanto ele se acomoda na poltrona. O seu movimento ao puxar o quadril para frente é fluido, e revela uma postura confiante e descontraída, é quase hipnotizante, mas porque porras eu estou prestando atenção nisso. Celleney, pelo amor de Deus. - A única que não está falando seriamente é você, Celleney. - não é um bom momento para me chamar pelo nome agora. Senhorita estava bom, pelo menos agora. Está quente… com certeza é por causa desse monte de roupa. - Eu estou, e vocês não acreditam em mim, o que é totalmente compreensível. - eu falo para ele. - Mas sendo que o que eu conto não é verdade para vocês e eu também não quero causar mais problemas e muito menos ter nenhum de vocês me interrogando, eu vou embora. - eu digo. - E para onde? - ele questiona e eu suspiro frustrada. - Para a terra do nunca, mas aqui eu não fico mais um segundo se for para desconfiarem de mim desse jeito e me interrogarem como se eu fosse uma ladra. - eu falo. - Eu vou entender como terra do nunca, um possível, não sei. - ele diz sarcástico e eu sorrio sem graça para ele. Ele está muito desconfiado. - Exato. - eu o respondo. - Eu sei que não é nenhuma ladra, ou nenhuma assassina a mando de algum outro reino. - ele afirma com uma certeza assustadora, que eu realmente achei que ele fosse dizer: “Sei também que você é uma viajante no tempo.” Mas não. - Mas eu tenho certeza que está escondendo alguma coisa. - ele afirma sem me dar espaço para rebater, com os seus olhos nos meus. - Por acaso tem a ver com o que está no seu pulso? - ele me questiona, levando o seu olhar para essa geringonça, e no mesmo instante a minha mão foi até ele, com o meu coração ameaçando sair pela boca com a hipótese certeira dele. Que p***a… O meu olhar volta para ele assustada, pensando se eu tornei isso óbvio, ou se ele simplesmente é um nato observador. - Você acabou de dizer que tem certeza que eu não sou uma ladra. - eu falo tentando manter a minha voz firme. Eu sou uma mentirosa nata, era suposto ele ter acreditado em mim nesse estágio das coisas. Não me entendam m*l, eu não sou uma grande mentirosa, eu sou uma pequena, por exemplo… Eu mentia para o meu avô que não fugi de casa depois dele ter dito que não era para sair para uma festa ou outra. Que estou doente, para não ter de lidar com um monte de velhos falando de relógios, ou que a escola é faculdade está organizando uma viagem, para puder viajar sem culpa durante o período de aulas. Coisas básicas, sabem? Mas eu sou boa nisso, mesmo ele sabendo da verdade porque ele me conhecia de trás para frente, ele escolhia acreditar em mim, porque eu sou muito convincente. Um dom nato. A questão é porque ele não está comprando a minha história? - Eu disse. - ele afirma. E eu estou começando a ficar nervosa. - Esse é um relógio do meu avô… - eu falo observando com um aperto no coração olhando para essa p***a que eu fui terminar de montar. - Ele me deu. - eu concluo voltando o meu olhar para ele. - O que um relógio teria à ver com isso? - tudo. Mas ele não sabe disso. - Então é realmente um relógio? - ele questiona retoricamente e eu suspiro fundo. Eu não devia ter falado isso, pois não? - É, mas como pode ver, não funciona. - eu falo. - Eu o uso apenas pelo valor… sentimental. - eu falo e ele assente sem expressão alguma. E financeiro também, se bobear ele compra até o reino vizinho. Mas acho que esse tipo de troca ainda não existe aqui no passado. - Está fugindo de alguém? - ele questiona sério. - Eu acho que eu deveria fugir de você e da sua família, menos da Cora. - eu não me aguento e brinco, mas aparentemente ele não achou engraçado. - Nada do que contou faz sentido, Celleney. - ele fala. - É impossível uma moça como você simplesmente vir de um país completamente diferente e distante, e entrar nesse reino sem que nós soubéssemos. - ele diz e o meu coração acelera. - Com certeza, a senhorita não é daqui. - ele afirma. - Portanto, eu tenho certeza de que esteja perdida, mas também que está escondendo como possivelmente chegou aqui. - ele diz. - Eu… - eu ia me defender, mas ele simplesmente me interrompeu levantando um dedo. - Eu vou aguardar que me conte o que realmente aconteceu, mas até então, permanecerá aqui. - ele diz e eu suspiro. Eu quero ir embora, mas, ao mesmo tempo, o meu querer não será vantajoso de todo, eu não tenho nada e nem ninguém aqui, e eu estou simplesmente num palácio. Com certeza é melhor que ficar na rua, mas como eu posso me ocupar com o que eu devia estar me preocupando com todos eles com os olhos em mim? Eu não posso tomar banho desse jeito, outra vez. Bem, o banho é o de menos, na verdade, é usar essas roupas que mais parecem o fardo dos pecados de todos os seres existentes na terra. - Você está ordenando que eu fique aqui? - eu o questiono, porque assim… Por que ele acha que pode me mandar? - Estou. - ele responde. - Eu acho que não entendi… - eu falo indignada. - Eu não sou obrigada a permanecer aqui se eu não quiser, você não pode me dizer para onde eu vou ou onde eu devo ficar. - eu tento deixar isso claro, e ele levanta o seu olhar para mim novamente, mas com um sorrisinho divertido no rosto. - Você entrou no meu reino sem permissão alguma, sem documento e sem registo algum, Celleney. - ele fala e eu sinto o meu sangue fervendo de medo e ansiedade. - Eu posso coloca-lá nas masmorras agora. - ele diz com uma naturalidade que me intimida, e com um humor sarcástico. Caramba. - Mas eu estou a dando a oportunidade de repensar as suas omissões, enquanto permanece segura aqui no palácio. - ele fala e agora sim eu estou, sim, nervosa. - Sendo esse o meu reino, eu ordeno e você, como uma visita inesperada, obedece, se não quiser sofrer as consequências da sua aparição súbita. - ele conclui e eu estremeço, literalmente. - E, porque não me coloca para sofrer as tais consequências? - eu o questiono. - Porque eu quero a ajudar. - ele responde e eu suspiro fundo repensando se eu realmente devo contar essa coisa. - Ou não quer? - ele me questiona, e os meus batimentos cardíacos aceleram. - É—é claro que eu quero. - eu respondo agitada e ele assente, me encarando. - Pois pense no que falei, e depois venha e me explique quando achar que for a hora certa. - ele diz, e eu assinto me sentindo exposta, pelo simples facto dele ter decifrado tudo, sem que eu tivesse aberto a minha boca. - Apenas saiba que eu não tenho muita paciência. - ele pontua olhando a minha alma e arrepios tomam fortemente o meu corpo, por medo, e com indecência ao mesmo tempo. Em que porras, você me meteu senhor Peny? Céus.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD