Celleney Peny.
Paralisada.
Foi o estado que fiquei durante muito tempo, pensando na curta conversa que eu tive com o príncipe do passado.
Com o Henrik nesse caso.
- QUE p***a! - eu grito jogando os sapatos para o outro lado desse quarto, com o meu sangue fervendo.
É, eu não estou mais no escritório e com certeza não regressei para aquela mesa.
A porta é aberta repentinamente, me fazendo olhar para ela assustada e o meu coração que começou a bater a mil por segundo, se acalmou assim que o rosto da Cora apareceu, me fazendo suspirar fundo.
- Que p***a? O que significa? - ela questiona entrando e eu levo as minhas mãos para o meu rosto tentando disfarçar a minha frustração andando para o outro lado confusa, enquanto os guardas fecham a porta assim que ela entra.
- Eu já escutei os meus irmãos falarem, mas eles nunca me dizem o que é. - ela comenta tão inocente que me faz encara-lá, para observar a sua face ingénua, enquanto ela se senta na minha cama.
Numa facilidade surpreendente com esse vestido imenso que ela está usando.
- Também não me irá dizer o que significa? - ela questiona levantando o seu olhar esverdeado para mim e eu suspiro.
- Se os seus irmãos negaram de explicar para você, é por uma razão, Cora. - não seja como eu.
Com certeza, eu não sou um exemplo a ser seguido.
Ela suspira indignada, mas não contesta.
- Porque tirou os seus sapatos? - ela questiona após levar os seus olhos até ao chão da outra parede onde os dois estão lá, estatelados.
- Os meus pés estão doendo. - eu respondo voltando o meu olhar para ela, que me observa com o seu olhar curioso, atentamente.
- Porque veio? - eu questiono-a e ela ruboriza.
- Eu achei que gostaria de conversar. - ela fala e eu suspiro.
Nesse momento eu nem sei do que gostaria, Cora.
- Sabe, normalmente quando eu preciso conversar, eu não tenho ninguém. - ela diz meio-aérea e eu observo-a, desistindo de pensar se eu desaperto esse corpete, mas aí, seria um ‘stress’ para colocar outra vez.
Está me sufocando.
- Como não tem ninguém? - eu a questiono conversando com ela. - Você tem três irmãos, tem algumas centenas ou milhares de pessoas aqui nesse palácio, as suas damas de companhia, como vocês chamam. - eu digo e ela sorri.
- Bem, eu sou uma princesa, o que me incomoda ou o que me deixa triste ou extremamente feliz, não pode ser compartilhado com os criados. - ela fala.
Não entendo o porquê, o Saul, o mordomo lá de casa, era o meu confidente.
Digo era, porque depois ele me apunhalava pelas costas e ia contar tudo para o meu avô.
Não tudo, algumas coisas, que supostamente eram perigosas e ele não iria compactuar com algo que pudesse causar a minha morte.
Um chato.
Olha só quem morreu? Não fui eu.
- As fofocas correm muito rapidamente pelos corredores e pelo reino, como parte da realeza e agora na quarta linha de sucessão, isso, enquanto o meu irmão não tiver o futuro herdeiro do trono, eu tenho que manter algumas coisas só para mim para não gerar um escândalo. - ela comenta e humn.
- E por que não conversa com os seus irmãos? - eu questiono curiosa, e as suas bochechas coram.
- Eu converso. - ela responde vagamente. - Mas, a Lyra e eu temos responsabilidades diferentes, ela anda muito ocupada com os treinamentos, ela tem que ser perfeita para o baile, e depois tem as suas obrigações como princesa. - ela conta. - E os meus irmãos, bem, eles são bem mais velhos que eu. - ela diz e ruboriza brutalmente. - E eu não posso falar dessas coisas com eles, eles são homens. - ela acrescenta e eu suspiro fundo a encarando indo me sentar do lado dela.
- Argh... - eu balbucio tentando me sentar mais confortavelmente na cama e ela me encara.
Isso está me sufocando.
- Está tudo bem? - ela questiona, me observando literalmente soar frio, com tudo isso esmagando as minhas costelas, e eu me limito em assentir a oferecendo um pequeno sorriso, desconfortável.
- Está. - eu a respondo ofegante, passando as mãos ajustando o vestido. - Você é muito linda Cora. - eu falo e ela sorri.
- Obrigada, você também. - ela elogia e eu sorrio em agradecimento.
- Eu não sei o que exatamente preocupa você, ou deixa você com muita vontade de falar com alguém. - eu falo a encarando. - Mas eu garanto que os seus irmãos iam escutar você e até mesmo aconselhar você, entre irmãos, não pode a ver segredos de homens e mulheres, eles existem para estarem lá um para o outro. - eu digo-lhe e ela sorri minimamente.
- Eu sei, quer dizer... - ela diz se retificando. - Eu acho que sim. - ela fala. - Mas todos eles estão sempre ocupados com coisas mais importantes. - ela diz e eu a escuto.
- Você tem irmãos? - ela me questiona e eu assinto que não com a cabeça.
- Não. - eu a respondo. - Eu sou filha única. - eu conto-a. - Mas estou cheia de primos, todos são rapazes e alguns deles têm irmãos. - eu digo. - Tecnicamente todos eles são meus irmãos. - eu conto e ela sorri.
- A forma com que falou sobre irmãos, fez-me achar que realmente tinha irmãos. - ela fala.
- Isso é porque eu tenho, eles me chateiam na maioria das vezes, mas são fantásticos. - eu conto e ela sorri.
- Deve ser... legal como você diz. - ela diz sem graça me imitando e eu sorrio.
Engraçadinha.
- Mas não importa. - eu falo mudando de assunto pegando na mão dela. - Eu só falei isso para deixar você sabendo que deve sim contar e conversar com os seus irmãos, mas se quiser, pode conversar comigo. - eu lhe digo e ela sorri animada.
- Obrigada. - ela fala e eu sorrio, já não aguentando de sufoco e o seu olhar desce em mim.
- Parece desconfortável. - ela comenta e eu assinto, pressionando a minha mão na cama, me apoiando para me levantar.
- Eu estou. - eu a respondo sentindo um calor insuportável. - Cara, eu preciso que você me ajude a tirar isso. - eu digo e ela se levanta franzindo o cenho.
- Cara? - ela questiona confusa.
- É. - eu afirmo. - Cara é uma expressão, só me dá uma ajudinha. - eu falo, tentando alcançar os laços por trás.
- Mas por quê? O que vai usar? - ela questiona confusa.
- Eu não estou a aguentar, isso está me sufocando. - eu falo puxando o laço, e acho que deixei ela em pânico, porque ela desapertou celeremente.
Ufa!
- Ah! - eu suspiro de alívio quando esse corpete finalmente desaperta os meus órgãos internos.
- Se sente melhor? - ela questiona-me aflita.
- Bem melhor! - eu exclamo aliviada, me sentando desmazeladamente na cama. - Como vocês aguentam isso? - eu questiono levantando o meu olhar para ela incrédula.
Isso deve m***r.
Estou dizendo.
- Não sei. - ela dá de ombros se sentando na poltrona de frente para a cama, me encarando. - Estava muito apertado? - ela questiona retoricamente. - Parecia que ia desmaiar. - ela afirma sozinha. - Normalmente dói quando se faz o laço, mas depois nem tanto. - ela diz e eu simplesmente me ocupo em respirar devidamente.
- E agora o que vamos fazer? - ela questiona, me observando, e eu franzo o cenho desentendida.
- Fazer com o quê? - eu a questiono.
- Ah! - ela exclama e ruboriza sorrindo sem graça. - Eu não disse por que vim para cá. - ela afirma e eu me sento adequadamente para a escutar.
Não era porque supostamente ela não tinha ninguém para conversar? Tem outro motivo?
- A minha tia quer falar com você. - ela diz e o meu ânimo vai do clímax ao estado de declínio.
- E você só me diz isso agora, Cora? - eu a questiono, observando o tanto de ilhós, buracos do corpete que esses malditos laços terão que passar outra vez.
- Me desculpe, eu vim com os meus devaneios e esqueci-me do que realmente vim fazer. - ela diz se levantando apressada. - E ela detesta esperar, se vire, deixe-me tentar apertar os laços novamente e eu suspiro frustrada.
- Cadê a minha roupa? - eu estou literalmente choramingando e ela arregala os olhos.
- Não, não pode usar aquelas roupas aqui! - ela exclama como se fosse um crime e eu me levanto para ela fazer isso logo.
São apenas oito da manhã, e para além de estar no fim dos tempos, fui esculachada e quase morri enforcada.
Na verdade, ainda posso morrer, nem meio-dia é ainda.
Socorro Deus!
- Só peça para as suas damas de companhia trazerem elas de volta. - eu falo enquanto ela me sufoca novamente.
Aquela roupa é exclusiva para mim, e eu adoro ela.
Obviamente.
Mas eu não tinha usado ela até ontem… antes de ontem, simplesmente porque achava demais, mas bateu uma coisa em mim que disse:
Você pode morrer a qualquer momento, vale à pena fazer e usar tudo o que eu tiver seja para onde for.
A morte do meu avô me deixou deprimente, e eu não tenho certeza de quando isso vai passar, ou se vai, mas o meu “seja para onde for”, era de lugar e não do século híper mega passado.