Henrik Cartier.
Cora, Cora…
“Não feche os seus olhos, não tem onde se esconder.”
Foi o que eu disse para ela quando a encontrei chorando quando não conseguiu guardar um segredo muito maior que ela.
Segredo esse que pode simplesmente iniciar uma guerra, que eu estou completamente disposto a começar, mas pela promessa que fiz ao meu pai, eu não farei até a coroação.
- No que tanto pensa, meu príncipe? - a voz da Márcia soa, me fazendo tirar o meu olhar que se perdeu algures na parede a minha frente, enquanto abotoo a minha camisa.
As suas mãos acariciam os meus ombros, mas memórias inapagáveis que continuam tão acesas quanto o fogo que me consome invisivelmente desde aquele dia, não me permite simplesmente esquecer, por uns instantes.
Nem sequer com ela, que sempre foi ótima para me distrair de tudo isso.
Eu limito-me em não respondê-la, e me levanto da cama para pegar o meu relógio na cabeceira, e ela estende-se pela cama exibindo o seu belo corpo minimamente coberto pelos lençóis.
- Está a pensar naquilo, outra vez? - ela questiona-me cautelosamente, e eu a observo.
Por que a única pessoa que sabe de tudo isso é ela?
Não sei.
Não era suposto que isso fosse sabido por ninguém, mas ironicamente, a única que confidenciei o maior segredo desse reino, foi ela.
Ela é uma concubina, mas por incrível que pareça, é a única mulher ou pessoa que me passa confiança o suficiente para desobstruir tudo que eu não posso, não devia.
Os seus olhos oscilam nos meus, e eu a observo se sentar na cama.
- A coroação se aproxima. - ela fala, me encarando. - Assim que encontrar alguém… a sua altura. - ela diz piscando os olhos repetidamente, desconfortável.
Não é preciso muito para saber que ela não quer que eu encontre alguém adequada a mim e ao reino, quando ela queria ser esse alguém.
Mas mesmo se ela fosse, ela jamais seria alguém que eu quereria, independentemente do quão bem nós nos damos, do quão compressiva ela seja.
Nenhuma das debutantes que se apresentará, é do meu interesse, e provavelmente jamais terá alguém que me faça comprometer-me por vontade própria, apenas pelas leis da nossa monarquia que não podem jamais ser alteradas.
A coroação será o único motivo pela qual o farei.
O único requisito para a minha escolha, será que ela seja tão compreensiva quanto a Márcia e entenda que só ela, não será o suficiente.
- Poderá fazer tudo, assim que a coroação for realizada. - ela conclui e eu suspiro.
- Não se trata apenas de mim, ou da coroação, Márcia. - eu lhe digo. - Tem todo um reino que se envolverá, e com isso os meus irmãos. - eu falo. - A minha irmã. - maldição.
O seu rosto ruboriza e ela não fala nada.
Afinal, não tem mais o que ser falado.
Deixo o seu p*******o na mesa de cabeceira e quando fiz menção de sair, a sua mão pega na minha.
- Não vá. - ela pede, e eu a encaro frustrado.
O melhor seria se eu não continuasse a vir para cá.
- Não faça isso consigo mesma. - eu lhe digo e vejo ela engolir em seco e o seu rosto ruborizar.
- Não se preocupe comigo. - ela fala.
Claro que não.
- Eu preciso ir. - eu falo, me desenvencilhando do seu toque e fiz o que devia fazer, regressar para o palácio.
Foi justamente no meio da escuridão da noite que tudo aconteceu.
“- Henrik! - o grito da Cora preencheu os meus ouvidos de maneira que me fizesse ter certeza do que realmente aconteceu.
Os seus olhos estão arregalados, com lágrimas escorrendo sem esforço algum sobre o seu rosto pueril, agora pálido enquanto dentre os seus lábios o vapor de frio se espalha pelo ar.
Daqui eu consigo escutar o som do seu coração espalmando o seu peito.
As suas mãos estão trémulas, sujas de terra e sangue.
E nesse preciso momento eu não soube o que fazer.
Foi o único momento em que eu alguma vez me encontrei paralisado, sem ter noção do que fazer ou de como agir.
O seu estado de choque machuca-me tanto quanto o que descobri.
E eu não sei o que fazer, o que me deixa ainda mais entorpecido, eu fui criado justamente para saber o que fazer e agora sequer sei o que fazer e nem como agir com a minha própria irmã.
- Eu… - ela soluça e a sua voz aflita ecoa na minha mente.
- Está tudo bem. - eu lhe digo, voltando a mim, procurando a acalmar e ela se acalma gradativamente.
- O que vamos fazer? - ela questiona-me ainda soluçando enquanto eu vejo os guardas reais trocando de lugar, o que a deixa aflita.
- Nós precisamos ficar onde for mais escuro. - eu lhe digo, acariciando as suas mãos sujas.
Ela não fez nada e por mais extasiado de emoções que eu esteja, a minha única preocupação agora é acalma-lá.
No cingir o meu mundo está se desmoronando e depois disso, com certeza assim será.
- E o papai? - ela questiona e eu suspiro fundo, buscando controlar a minha frustração, a minha raiva, e a vontade imensurável de fazer o que com certeza não é lógico.”
- Henrik! - a voz do Virgil me desperta do conflito interno na minha mente.
Eu nem sequer escutei quando bateram na porta.
Neste momento estou no escritório, cheguei tal como vim para cá, preso na minha própria mente.
Fui tomar um banho, vestir-me e vir para cá, afinal, eu tenho obrigações dos quais não acabarão até o meu último suspiro.
Isso é o que eu chamo maldição da realeza, ou dos príncipes regentes, porque só quem é, tem essas responsabilidades.
- Não grite. - eu falo com a minha cabeça doendo.
Eu definitivamente exagerei na bebida.
- Para quem passou a noite fora, a vossa alteza está muito m*l-humorado. - ele fala se sentando pegando a minha taça de vinho e eu encosto a minha cabeça na poltrona, exausto.
O Charles fala demais.
- O que é isso? - eu refiro-me ao jornal impresso que ele colocou na minha mesa, sem vontade alguma de olhar o que eles escreveram.
- A nossa mais bela convidada, é definitivamente o assunto do reino, é a segunda vez que escrevem sobre ela. - ele fala e eu pego o jornal, observando o título frontal.
Eldravia Deslumbrante: Um Despertar Gracioso e Súbito no Coração da Corte Real.
Podia ser mais um tema sensacionalista dos editores, mas definitivamente é condizente a beleza e a aparição enigmática da Celleney.
Eu volto a pousar o jornal na mesa.
- Ela ainda não colocou os pés para fora do palácio e se tornou o assunto do reino. - ele diz e eu sorrio o encarando.
- A Christine já viu? - eu questiono-o e ele sorri.
- Ainda não, mas foi a tirar da cama logo cedo. - ele me diz. - Se ela estiver a mentir ou a ocultar alguma coisa, com certeza não irá aguentar, por muito tempo. - ele afirma e eu suspiro voltando a olhar para o título no jornal.
O que ela está escondendo?