Celleney Peny.
Eu adormeci, depois de algum tempo.
Foi uma tarefa difícil, já que a minha cabeça funcionava tal como a engrenagem de um relógio, o meu cérebro não parava nem sequer por um milésimo, mas assim que a minha cabeça encostou no travesseiro, adormeci de tão exausta que eu estava.
Estava tudo bem, no último sono, até sentir uma movimentação estranha ao redor da cama, o que me acorda assustada, e faz-me abrir os olhos de imediato com a estranha sensação de que estou a ser observada.
- Levante-se. - ainda atordoada, os meus olhos sonolentos observam a silhueta de ninguém mais, ninguém menos que a duquesa me assustando para c*****o, me fazendo sentar na cama de imediato.
Será que ela descobriu alguma coisa?
- O que está acontecendo? - eu a questiono sonolenta, preocupada e chateada porque, poxa, eu estava dormindo.
Há necessidade para entrar desse jeito no quarto de alguém?
- Acontece que a senhorita virou assunto nesse reino. - ela responde sarcástica, lançando um jornal na minha direção e eu pego ele preguiçosamente semicerrando os meus olhos para confirmar o que ela disse.
Eldravia Deslumbrante: Um Despertar Gracioso e Súbito no Coração da Corte Real.
Gostei.
Eu suspiro deixando o jornal do meu lado, passando as minhas mãos pelo meu rosto, morrendo de sono, e voltando a olhar para a cara dela que me observa visivelmente furiosa.
Eu não sei por quê.
- Aparentemente o povo daqui é bem fofoqueiro, não é? - eu a questiono e ela suspira frustrada, me encarando.
Por favor...
- Olha... eu não saí, ninguém me viu, não sei como sabem que eu sou graciosa, mas eu concordo. - eu pontuo e ela me fulmina com o seu olhar. - Porém, isso não é motivo de simplesmente entrar no meu quarto enquanto eu estou dormindo. - eu falo chateada.
E com sono!
- Levante-se. - ela manda acerada e céus.
Eu só queria dormir mais um pouco, só mais um pouco.
Por que fui dormir tão tarde?
Eu levanto o meu olhar para o relógio na parede, e ainda são cinco da manhã, não foi nesse horário que o pequeno-almoço começou, ontem.
- Para quê? - eu a questiono confusa, retirando o lençol de mim a contragosto e vejo ela suspirar.
Esse suspiro foi um pedido de paciência, eu conheço bem ele porque eu tenho dado muito desses ultimamente.
- Irá tirar medidas para os vestidos que usará durante a temporada. - ela fala, me observando de cima a baixo minuciosamente enquanto coloco as minhas pernas para fora da cama. - Enquanto permanecer aqui, deverá se vestir adequadamente. - ela diz e traduzindo ela disse:
"Visto que você não vai embora, não tenho outra escolha para além de garantir que ao menos se vista como alguém pertencente a essa família extremamente nobre."
Mas precisava ser às cinco da manhã?
- Tudo bem. - eu falo sem disposição para brigar, porque fim ao cabo, eu não tenho escolha alguma morando de favor por aqui.
Após me dar uma olhada presunçosa, com a sua elegância ela retira-se do quarto e fecham a porta assim que ela sai e eu fecho os olhos passando as minhas mãos pelo meu rosto até aos meus cabelos que estão todos embolados no meu rosto, suspirando fundo e frustrada.
Você acordou Neyney, mas não na sua casa, mais uma vez…
- Eu já preparei o seu banho senhorita. - a voz da dama de companhia que nem vi entrar na casa de banho soa, me fazendo abrir os olhos assustada, novamente para a encarar.
Quanta invasão de privacidade.
- Obrigada. - eu agradeço-a escondendo a minha desanimação e ela assente, me observando.
Ficamos as duas paradas olhando uma para a outra por alguns instantes.
Céus.
- Pode fazer as suas coisas, eu tomo banho sozinha. - eu lhe digo e ela ruboriza assentindo positivamente com a cabeça.
- Como desejar, senhorita. - ela fala, e eu simplesmente levanto-me e vou até a casa de banho morrendo de sono.
O que foi que fiz para merecer isso?
O quê?
- É melhor eu me apressar antes que a água quente esfrie. - eu murmuro olhando para o balde e a caneca querendo chorar.
Que vida de sofrimento.
Tomo o meu banho querendo morrer.
Está frio, e eu preciso fazer um exercício para tomar banho estando exausta, cartando a água quente com a caneca para despejar sobre o meu corpo, mas a sensação boa da água quente nesse frio se vai quando a água na caneca esgota, outra vez e outra vez até eu terminar o meu banho.
Sinceramente por que aquele senhor inventou de criar uma geringonça dessas?
Para quê?
O que ele queria fazer aqui no tempo jurássico?
Era suposto essa coisa vir me fazer parar justamente aqui?
ARGH!
Já chega, chega Celleney.
- Eu já estou com dores de cabeça e aqui nem comprimido para dores de cabeça deve ter. - eu reclamo comigo mesma escovando os meus dentes.
O bom é que o sabão aqui cheira bem, tão bem quanto perfume importado e a pasta de dentes parece menta pura de tão refrescante que é.
Eu tive que molhar o meu cabelo e desembaraçá-lo, porque eu simplesmente não o trancei antes de dormir e ele ficou todo embaraçado.
Nessas últimas semanas nada anda ao meu favor, nem o meu cabelo.
Termino a minha pequena batalha, vulgo, banho, e saio do banheiro em direção ao closet encontrando a dama de companhia aqui, com os seus ferros e os seus tecidos a minha espera.
Ela morde os lábios me encarando receosa, acho que ela já sabe que eu detesto tudo isso.
- Vá, pode me sufocar. - eu falo para ela, desistindo de reclamar, me virando para ela que dá um sorrisinho e começa a minha tortura.
O vestido é de cor rosa-claro, pesadíssimo, porém até que bonito.
- Eu faço o meu cabelo. - eu lhe digo, e a mesma assente.
A minha cabeça está querendo explodir para eu simplesmente deixa-lá puxar o meu cabelo hoje.
Eu limito-me em pentear o meu cabelo, faço apenas uma trança embutida, deixando um cachinho e outro solto, só para um charminho a mais e pronto.
Ficou bonito, combinou com a configuração do vestido, já que ele tem as mangas dos lados e deixa os ombros descobertos, e o mais importante, não está apertando a minha cabeça.
- Podemos ir, senhorita. - a dama de companhia diz para mim, enquanto eu fecho o relógio no meu pulso.
- Tudo bem. - eu a respondo e saímos do quarto e vamos em direção à sala de desjejum.
- Onde eu tirarei às medidas? - eu a questiono desentendida, eu achei que iria tirar essas medidas antes de vir para cá.
- Na cidade, senhorita. - ela me responde enquanto entramos na sala de desjejum que como sempre possui um banquete em cima da mesa, mas nenhum deles está aqui.
A Lyra vai gostar disso.
- Cidade? Quer dizer que eu vou sair daqui? - eu a questiono e ela assente positivamente, me fazendo sorrir.
Isso é bom, não é?
Quer dizer, se a cidade for como eu imagino, espero que seja, deve ter ao menos um relojoeiro, aonde eu possa pedir ajuda com o meu relógio, ou ao menos com ferramentas.
- É mesmo? - eu a questiono pegando um bolinho na mesa, enquanto a encaro animada e ela assente positivamente. - E com quem eu vou? - eu a questiono curiosa.
- Irá comigo. - a voz da Lyra soa, me fazendo levar o meu olhar até ela que entra na sala com o seu enorme e belo vestido bege.
O seu olhar encaixa no meu enquanto ela caminha em direção à mesa.
A dama de companhia faz uma vénia e só se endireita assim que a Lyra passa por ela.
Impressionante.
- E, por que com você? - eu a questiono mais curiosa que outra coisa.
- Tem medo de alguma coisa, Celleney? - ela questiona-me e eu dou de ombros a encarando enquanto mastigo o bolinho que levei.
O que mais pode me dar medo a essa altura do campeonato? Eu literalmente viajei no tempo.
- Do que eu teria medo, Lyra? - eu a questiono e a mesma sorri forçadamente me encarando como se fosse óbvio.
- Provavelmente, que a sua mentira seja exposta pelos demais assim que a virem. - ela diz e eu reviro os olhos.
Não estou com paciência para lidar com ela hoje.
- Quem confeciona as roupas? - eu questiono para a dama de companhia que pisca repetitivamente e oscila o seu olhar de mim para a princesa como se estivesse a pensar se podia ou devia me responder.
- A modista Marigold Thristledown. - ela fala e humn.
- E ela é boa? - eu questiono querendo criar um assunto, assim evito que eu mesma seja o assunto por aqui.
Estou cansada de ser destratada e ter que ficar calada.
Eu não fico, mas continuo a ser destratada.
- Ela é a melhor modista de entre os reinos. - a Lyra fala, e eu a encaro. - Mas é claro que você não sabe disso. - ela diz e eu ignoro o seu último comentário.
- Então você vai para a cidade com frequência? - eu a questiono tentando ser amigável e eu vejo ela morder a parte interna da sua bochecha, me observando de uma maneira completamente desnecessária.
Ela não gosta mesmo de mim.
- Claro que não. - ela responde como se fosse óbvio e eu ignoro-a, pegando mais um bolinho recebendo um olhar de repreensão dela que também ignoro.
Por que razão mais ela iria comigo para a cidade tirar medidas, quando ela simplesmente não vai com frequência para a cidade do reino dela?
Eu não acredito que eu estou me questionando isso!?
Eu realmente vim parar no fim… início do mundo eu quis dizer.