Capítulo XXIV

1851 Words
Celleney Peny. O olhar esverdeado é tão intenso que parece penetrar a minha alma, os seus cabelos escuros estão levemente desarrumados, e o fumo do charuto sai da sua boca para o ar gelado da madrugada e eu encaro-o paralisada. - Que susto! - eu exclamo levando a minha mão para o meu peito como se isso fosse acalmar a intensidade dos meus batimentos e o seu olhar permanece em mim me fazendo sentir o meu rosto aquecer. Eu não estava fazendo nada demais. Se acalme, Celleney. - Eu… - que susto. - Eu estava apenas caminhando. - eu me explico e ele continua me observando e eu suspiro fundo tentando recuperar a minha postura. - Estava a correr. - ele afirma ainda me observando. - Eu ouvi galopes de cavalo e quis ver quem era, achei que pudesse encontrar alguém que me pudesse responder. - eu falo ainda ofegante e ainda atordoada o observando também. Eu não esperava que ele fumasse. Bem, eles são a versão século passado e real de 'bad boys', isso deu para notar faz tempo, mas eu esperava ver o Virgil ou até mesmo o Henrik com um charuto na mão e não necessariamente ele. O Charles parece mais doce ou ao menos, mais suportável que os dois. - Respondê-la o quê? - ele questiona-me e eu engulo em seco o encarando. Eu deveria ter permanecido naquele quarto. - Sabe. - ele diz suspirando e ainda me encarando com um pequeno sorriso agora. - Devia se abrir mais. - ele fala e eu respiro fundo. - Desde que cá chegou, responde defensivamente como se estivesse a esconder alguma coisa. - ele afirma e eu estou me sentindo congelar, e não pelo frio em si. - Eu não respondo defensivamente, eu apenas respondo às insinuações e ataques que vocês fazem contra mim, Charles. - eu o respondo e ele observa-me minuciosamente. - Você ainda não respondeu a minha questão, Celleney. - ele diz e eu suspiro fundo. - Está a correr, sozinha, distante do palácio, com um traje… - o seu olhar desce em mim e eu prendo o meu ar, fechando por instantes os meus olhos de vergonha, afinal, essa bata não é nada o meu estilo. - Não apropriado para andar pelos corredores ou pelo resto do palácio, ainda nesse horário. - ele conclui. - O que está sugerindo? - eu o questiono exausta. - Eu não estou a sugerir nada, Celleney. - ele pontua novamente. - Mas talvez você queira me deixar entender o que está a acontecer e deixar de responder as minhas questões com outras questões. - ele fala e eu suspiro frustrada. Eu não posso falar o que realmente se passa. Por quê? Ponto número um, eles nem sequer TV têm, ainda usam relógios de bolso, não possuem quase nada de tecnologia, se calhar nem rumores de viajantes no tempo eles têm ainda. Ao menos lá, aonde eu deveria estar agora, sempre tiveram essas histórias de viajantes no tempo que até agora eu achava que era tudo uma grande fantochada. Se calhar, eu devesse ter prestado mais atenção para conseguir arrumar uma solução para isso. Se eu falo disso, eles me dão como louca se uma vez por todas, mandam-me para essa coisa, de masmorras que o Henrik falou, e simplesmente me ferrarei de vez. Mas o que eu faço? Como eu faço? Por que razão o meu avô estava gastando tanto dinheiro para fazer uma geringonça dessas? Qual era a razão? Eu sei que eu o chamei de cientista louco, quando me dei conta do que aconteceu, mas ele não era louco, muito pelo contrário, ele era a pessoa mais pés no chão que eu conheço. Por que razão ele faria isso? E por que insistiria que eu o terminasse, ele com certeza tinha esperança que essa coisa funcionasse, ele devia saber dos riscos disso. São muitas questões que não param de chegar na minha cabeça e eu simplesmente não encontro uma resposta sequer. - Celleney? - a voz do Charles desperta-me da minha breve dissociação, e eu encaro-o. O que eu faço? Como eu faço? Socorro! - Eu não tenho nada para falar, Charles. - é a única coisa que eu consigo dizer, e ele retira o charuto da sua boca ainda com o seu olhar esverdeado no meu. - E eu não insistirei. - ele diz, me dando um pequeno sorriso, que é reconfortante. Eu suspiro fundo sentindo os batimentos fortes do meu coração contra o meu peito. O seu olhar sai de mim e ele levanta até ao céu, me fazendo imitar o seu movimento. O céu está bem escuro, nem a luz da lua aparece direito por conta das nuvens negras no nela. Não tem muitas estrelas também. - Você gosta da lua, Celleney? - ele me questiona depois de um tempo observando o céu e eu volto o meu olhar para ele. - Não sou fanática de astros. - eu falo para ele. - Acho ela legal, ela ilumina a noite, não? - eu o questiono o óbvio e ele sorri. - Legal? - ele questiona retoricamente para mim, e eu dou um curto sorriso. Parece que ele e a Cora gostaram dessa palavra. - A lua, para além de iluminar a noite, ilumina as partes mais obscuras das pessoas. - ele fala voltando o seu olhar para mim, e arrepios tomam o meu corpo. - Mas ela não as expõe como o sol faz, muito pelo contrário, ela é confidente de todas as omissões existentes. - ele diz e por que razão eu estou impressionada? - Filosófico. - eu falo e ele sorri, inclinando a cabeça para o lado. - O Henrik falou isso para mim uma vez, e nunca mais saiu da minha cabeça. - ele fala dando os créditos para o irmão. - Ele tem uma fascinação pela noite. - ele diz e humn… Interessante. - Então quem estava no cavalo era ele? - eu o questiono curiosa, ligando um ponto ao outro. - Eu estou curioso, você está curiosa… - ele insinua e eu encaro-o. - Você falou que não ia insistir. - eu digo-lhe, e ele dá um passo para frente e eu o sigo, começando assim uma caminhada. - Eu só estou tentando ajuda-lá. - ele diz e os meus batimentos cardíacos aceleram novamente. - Eu não sou nenhum homem mau, e a senhorita claramente precisa de ajuda. - ele fala e a maneira atenciosa, paciente e dócil dele ao falar comigo, dá-me vontade de contar tudo para ele, mas eu preciso ser cautelosa. Eu suspiro fundo, olhando para frente enquanto caminhamos na direção da entrada do palácio lentamente querendo simplesmente despejar tudo na minha cabeça, nele. Mas como eu chego e falo para um príncipe do século passado: Oi, o meu nome é Celleney, basicamente o meu avô têm um império bilionário lá no futuro, eu sou a neta dele, e herdeira dos relógios, mas o que realmente acontece é que um deles, me trouxe para esse fim de século onde Judas bateu as botas e eu não faço a mínima ideia de como vim parar aqui e nem de como voltar. Me ajuda? Que patético. - Tudo isso parece uma comédia trágica, uma tragicomédia. - eu falo após suspirar fundo, ainda olhando para frente, sentindo o seu olhar em mim, com o vento batendo a minha pele que faz os meus cachos voarem levemente. - Eu me sinto encurralada. - eu falo sentindo o meu coração apertar. - Aqui não é o meu lugar, eu não sou daqui, e nunca passou pela minha cabeça vir para cá. - eu falo levando o meu olhar até ele e suspiro fundo frustrada. - Eu queria estar na minha cama, no meu quarto, tentando entender o porquê da pessoa que eu mais amei em toda a minha vida ter simplesmente partido e me deixado sozinha. - eu continuo falando e ele vira o seu olhar para frente e eu faço o mesmo. - Eu não tenho noção de como vim parar aqui, e eu também não tenho noção de como voltar. - eu continuo a falar sentindo o meu coração chorar, porque eu não posso chorar, não mais, não agora. - Eu quero respostas, mas eu simplesmente não sei aonde buscar e nem como começar a buscá-las, eu não sei, não sei, Charles! - eu falo aflita voltando o meu olhar para ele como um pedido de ajuda e ele parece entender, mas o máximo que faz é sorri empático. - Normalmente, quando as respostas não vêm quando nós as procuramos, mas sim quando paramos de procurar. - ele fala e eu o encaro indignada. - Charles, o seu irmão disse que pode me mandar para essa prisão, que vocês chamam de masmorras, olhe para mim. - eu o digo visivelmente aflita. - Por acaso eu tenho cara de quem aguentaria ficar presa? - eu o questiono agoniada e ele ri. - Você é engraçada. - ele diz e valha-me. - Isso não é brincadeira. - eu pontuo não achando a graça. - A sua tia, é uma escro… - Celleney. - Ela é uma pessoa extremamente grosseira comigo. - eu falo. Que bonito chamar a tia dele de grosseira, justamente para ele. Mas eu não ligo, ela é mesmo. - Ela está apenas preocupada com o escândalo que a sua aparição pode causar no reino. - ele a defende obviamente. - Mas ela simplesmente quer me obrigar a ir para esse maldito baile de acasalamento retrogrado, quando eu não quero, quando eu devo me preocupar com outras coisas, como sair daqui do que ficar a dançar com mil e uma toneladas de tecidos no meu corpo para atrair homens. - eu tiro tudo da minha cabeça e ele dá um sorriso invertido. - Baile de acasalamento retrogrado? - ele questiona meio-confuso querendo rir e eu cerro os meus lábios. Eu falei isso? Estou tão nervosa que nem filtro estou conseguindo ter agora. - É. - eu afirmo, mesmo. E paramos alguns metros antes da entrada do palácio. - Eu não quero participar desse baile, ou ter um esposo, Charles. - eu digo-lhe, porque talvez assim eles entendam. - Eu só quero ir embora. - eu concluo e os seus olhos oscilam nos meus. - Pois deveria entrar e descansar para encontrar uma solução. - ele diz. - Porque não se supõe que uma jovem solteira esteja sozinha com um homem, principalmente eu, na calada da noite, porque aí, sim, terá de se casar. - ele fala e eu franzo o cenho. - Você está me dizendo que se me encontram sozinha com um homem, eu sou obrigada a casar? - que doideira. - Exato. - ele confirma e eu suspiro fundo abandonando a cabeça negativamente, não me surpreende nada. - Então eu vou voltar para o quarto. - eu afirmo, e ele assente sorrindo. - Tenha uma boa noite, senhorita Celleney. - ele diz e eu inspiro fundo, o encarando. - Boa noite, Charles. - eu o despeço, e simplesmente viro-me e entro no palácio. O que eu faço?
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