Capítulo VII

2359 Words
Celleny Peny. Eu fechei às portas e os meus olhos varreram esse quarto, visivelmente não pertencente à alguém como eu, do futuro, sendo mais específica. - ARGH! - os meus pulmões enchem-se, permitindo que eu expressasse, a minha confusão, o meu medo e a minha dor num grito doloroso. Lágrimas inundaram os meus olhos instantaneamente, e as minhas pernas enfraquecidas, me traíram e deixaram-me cair no chão de vez. Eu não sei do que eu realmente estou chorando, a minha mente está a mil por hora, e por diferentes razões. Eu estou com medo, o que é incomum que eu esteja, normalmente sou eu quem causa terror e raramente acontece o contrário. Mas eu acho que é mais do que válido o meu medo, eu simplesmente fui… teletransportada. No mundo estão acontecendo sempre coisas estranhas, mas uma p***a de viagem no tempo? Isso realmente existe e eu fui uma vítima, de uma psicopatia dessas. Eu estou dois séculos no passado, sozinha, e sem realmente entender como vim parar aqui, com a minha alma doendo, porque eu simplesmente não entendo como do nada o meu avô teve um ataque cardíaco e se foi, como se nada fosse. E isso tinha que acontecer justamente agora, nem sofrer por mais tempo eu posso, eu tive que ser trazida para o tempo arcaico, para sofrer em triplo. E não entra na minha cabeça, como ele estava literalmente fazendo um relógio desses, ou melhor, uma suposta máquina de tempo, esse tempo todo em silêncio. Na minha cabeça ele era apenas o meu avô, fofinho, atencioso, que me mimava e me amava mais que tudo, e que por alguma razão era fascinado por relógios, e por consequência, virou referência mundial quando se trata de relógios, e bilionário. Mas não achei que ele fosse longe de mim, um cientista maluco, porque o tanto de livros que aquele homem tinha, e o tanto de matemática, química e física existente na produção desses relógios é cansativo, seria apenas cientista. Mas não… ele é um cientista maluco! Por que quem faz uma coisa dessas? - O que você tinha na cabeça senhor Peny? - eu me questiono frustrada, limpando às lágrimas que estão a escorrer sobre o meu rosto, com uma dor absurda. E não entendendo nada, estou me sentindo completamente perdida, o que eu realmente estou. O meu peito, minha cabeça, minha alma dói. Eu não sei se é apenas pela falta imensurável que eu estou a sentir do meu avô, se é do medo, de não só ter viajado no tempo, mas também de não saber como voltar, de não ter ninguém aqui, e com medo do que pode acontecer comigo aqui. E dor física também, meus pés, estão a latejar, eu não devia ter pego naquele projeto e nem sequer ficar mais de dez horas tentando solucionar isso, por cima daquele salto finíssimo. Que d***a, que d***a… - Que d***a! - eu exclamo com raiva e mais um misto de emoções me descansando e me sentando na cama. Eu pego no relógio, e na força da raiva, e do desespero eu faço o mesmo movimento em que fiz com a coroa dessa geringonça. Não funciona, obviamente. Nem eu mesma acreditava que ia funcionar assim tão facilmente. Mas eu esperava que funcionasse. - Que p***a… - eu balbucio nervosa, retirando ele do meu pulso e respirando fundo. Levanto o meu olhar, observando o relógio de caixa alta, um típico relógio de parede, que está na parede em frente a cama, não é nada demais, como no nome, ele é construído em caixa alta e ornamentada é uma das características é que ela é feita de madeira nobre, logo, faz sentido estar aqui: Eu fecho os olhos e respiro fundo. Eu coloquei a hora que estava marcando no meu celular, talvez se eu tentar… - Isso… - eu balbucio com a minha voz arrastada e o nariz nasalado por conta do meu choro, olhando para o horário marcado no relógio. Eu estou tão nervosa, que consigo literalmente escutar os meus próprios batimentos cardíacos. Eu coloco calmante o horário, tentando ser o mais assertiva possível, rodando a coroa, que gira os ponteiros nesse bendito relógio, e quando finalmente marca o horário, eu pressiono-a de volta, carregando a esperança de um uma população mundial inteira em mim, o meu coração parece que até parou, na expectativa daquela luz ofuscante surgir. Um, dois e três. Tic-Tac… esse som aterroriza os meus ouvidos, e nada de luz, nada de eu sair daqui, nada dessa bata de idosa, sumir, nada de eu estar na oficina, e nada desse relógio funcionar. - Ah—ARGH. - eu grito de raiva sem me conseguir segurar obviamente, a minha reação foi pegar nessa geringonça no intuito de explodir com isso no chão, mas a consciência voltou antes que eu fizesse mais uma m***a. A consciência voltou, mas nenhum dos sentimentos se foi, e a única coisa que consegui fazer foi chorar mais e mais. De fome, de dor, de medo, de frustração, de saudades, de desentendimento, de tudo e mais alguma coisa de m*l. Podia acontecer essa desgraça pelo menos depois de eu não estar a sofrer tanto assim, né? Chorei tanto, e eu achei que as minhas lágrimas tinham acabado lá na oficina, mas não, chorei tanto, que a dor começou a ser física. Eu estava no auge do meu chororô, que eu penso ser muito válido, quando ouço apenas uma batida na porta, e logo em seguida abrirem à porta. Minha única reação, foi puxar o relógio para debaixo da almofada, assustada com a repentina a******a de porta, o escondendo, por instinto, e me sentando melhor na cama logo em seguida, limpando o meu rosto. - Oh, céus! - a Cora exclama, me vendo limpar as lágrimas, com a sua testa franzida de preocupação, vindo até mim, enquanto eu vejo as moças que estavam aqui quando eu acordei, com um carrinho recheado de comida. Ficaria muito feliz se tivessem batido a porta apropriadamente, por que imagina se eu tivesse tirado essa bata? Mas ver esse carrinho, cheiroso aqui, deixou ao menos a minha barriguinha feliz. - Você está chorando. - ela afirma, me encarando, e limpando às minhas lágrimas e eu a ofereço um sorriso forçado, vendo ela fazer um sinal discreto com os dedos da sua mão livre para as moças, que fazem uma vénia e retiram-se silenciosamente do quarto me deixando emperrada. - Eu estou bem. - eu digo, e ela me encara suspirando, e eu olho para o carrinho. - Não precisava se incomodar. - eu lhe digo e ela sorri, puxando o carrinho até mais perto. - Não é incomodo algum. - ela diz. - Por favor, fique à vontade e se sirva. - ela diz e eu assinto. - Obrigada. - eu falo a observando, provavelmente por ser mais nova, ela tende a parecer mais doce, mais ingénua eu arriscaria dizer. - Por favor, nos desculpe pelo comportamento da minha irmã. - ela fala e eu suspiro, pegando na sopa, sem conseguir fingir que estou sem fome. Eu não como há dias, para ser mais específica, eu não conseguia engolir nada, nada passava na minha garganta desde que tudo aconteceu, eu perdi o apetite, e a única coisa que passava era álcool. Acho que a minha barriga não aguenta mais a minha própria tortura. - Eu lhe entendo, eu cheguei aqui de maneira duvidosa. - eu falo, me sentando melhor, pegando a tigela de sopa, junto com a bandeja que coloquei sobre as minhas pernas, para comer, finalmente. - Isso quer dizer que não está chorando pelo que a Lyra falou? - ela questiona e eu suspiro. - Claro que não. - eu falo depois de pigarrear para arrefecer a minha garganta, que ficou quente por conta do choro, e enfio a colher de sopa na minha boca. Que delícia. - É preciso muito mais para me fazer chorar. - eu afirmo e ela assente ainda com o seu olhar preocupado em mim. - Então é por conta de não se recordar, de como cá chegou? - ela questiona curiosa e eu suspiro a encarando. - Sim. - eu afirmo. - É muito difícil simplesmente acordar num lugar completamente estranho, sem ninguém é muito menos sem saber como voltar, Cora. - isso porque não contei nem metade do que está acontecendo. - Eu imagino. - ela fala assentindo olhando para o lado como se imaginasse o cenário e continuo tomando a sopa. - Mas o meu irmão a irá ajudar, assim que se lembrar de alguma coisa. - ela diz voltando a olhar-me com um sorriso e por algum motivo o meu coração acelera. - Eu espero que sim. - eu me limito em concordar, e continuar comendo, e ela assente, tirando o seu olhar de mim, observando o quarto, eu ficaria calada também, mas a minha curiosidade não me permite ficar calada. - Cora, me diga uma coisa. - eu falo e ela ruboriza voltando o seu olhar para mim novamente. Porque ela ruborizou? - Pois não? - ela diz assentindo. Meu Deus, quanta formalidade. - E os reis? - eu a questiono com receio. - Eu não os vi. - eu digo, afinal, querendo como não, eu estou nesse tempo dos dinossauros, mas no palácio de alguém, ao menos educada ou me preparar para cumprimentar a realeza já seria bom. Eu não pretendo ser escravizada, por aqui. Mas a expressão dela me faz perceber que eu deveria ter permanecido curiosa. O seu rosto ruboriza e ela olha para baixo. - O meu pai, faleceu tem alguns meses, e a minha mãe há alguns anos. - ela diz e eu a observo parando de tomar a sopa. - Me desculpe. - eu lhe digo genuinamente e ela sorri forçadamente. - Está tudo bem. - ela diz e eu assinto. Valha-me, Celleney. - Quantos anos você tem? - ela questiona mudando de humor e de assunto. - Vinte. - eu acho. Não era suposto eu estar viva aqui. - Oh, já pode ser introduzida a sociedade no baile! - ela exclama animada e eu a encaro tentando a entender. - Ou já está noiva? - ela me questiona extraordinariamente curiosa. - Noiva? - eu a questiono ridicularizada. - É desse baile que a sua irmã estava a falar na mesa? - eu a questiono incrédula e ela assente como se nada fosse. - Sim, ela verá quais são os seus possíveis pretendentes esse ano, e finalmente se casará. - ela diz como se fosse fácil assim. - Cá entre nós ela estava à espera do príncipe de Austrias voltar do seu treinamento, por isso se recusou a se casar ano passado. - ela diz. - Quantos anos ela tem? - eu a questiono só para confirmar, ela parece ser da minha idade. - Vinte e um. - ela diz e eu fecho os olhos incrédula. Um ano mais velha que eu. - E você? - eu a questiono. - Eu tenho dezessete. - céus. - Vocês não acham que são novas demais para ficarem se preocupando com noivados? - eu a questiono e ela me encara. - Novas? - ela questiona como se eu tivesse dito algo absurdo. - A esse ponto a Lyra, já deveria estar casada. - deveria. Ela disse, deveria. - E bem, por conta do meu irmão, o Henrik, eu devo esperar até aos vinte anos, para que me case também. - ela diz como se fosse um sacrifício. - Esperar? Então já queria estar casada, Cora? - eu a questiono e ela ruboriza. - Sim. - ela fala sorrindo e eu não acredito nisso. Em que século nós estamos? Opa! - Você nem maior de idade é, tem muita vida pela frente para se preocupar com casamentos. - eu lhe digo e ela me encara. - Então você não tem um noivo? - ela me questiona. - Deus me livre! - eu exclamo e ela ruboriza. - Casamento é um martírio. - eu lhe digo, e ela fica cada vez mais vermelha. - Deve aproveitar a sua juventude ao máximo, antes de se meter nessa armadilha inventada pela sociedade, Cora. - eu lhe digo. - Isso quer dizer… - ela balbucia. - Que é contra o casamento? - ela me questiona, e eu suspiro frustrada. Aqui as pessoas não pensam como você e ela é apenas uma garota de dezassete anos, Celleney. - Particularmente, sim. - eu a respondo e ela ruboriza. - Quer dizer que nunca se apaixonou? - ela me questiona e eu encaro-a me perguntando se ela sabe ao menos o que se apaixonar significa. - Não. - eu a respondo e ela assente. - Então não está apaixonada pelo meu irmão? - ela questiona e o meu coração acelera. Por que razão? Eu também gostaria de saber. - Claro que não, eu conheci o seu irmão hoje, Cora. - eu falo, mas ao fundo me questiono se estou sendo sincera. - É… - ela diz ruborizando ainda mais e sorrindo sem graça. - É verdade. - ela diz e eu limito-me em observá-la. - Bem. - ela diz se levantando. - Eu irei me retirar para que possa se alimentar. - ela diz. - Foi um prazer conhecer você, senhorita Celleney. - ela diz e eu assinto sorrindo. - Me chame apenas de Celleney. - eu falo e ela assente feliz. - Tudo bem. - ela fala. - Celleney. - ela completa. - Tenha uma boa noite. - ela deseja, caminhando até a porta. - Para você também. - eu a respondo e vejo ela bater apenas uma vez na porta, que é aberta logo em seguida. O seu olhar doce retorna até mim. - Por favor não chore mais, amanhã poderá resolver o seu problema. - ela fala e eu sorrio me limitando em assentir. Se fosse tão fácil assim, Cora. Ela sai, e as portas são fechadas logo em seguida e eu suspiro. - Não parece que eu estou no século passado, parece mais que eu estou em outro planeta. - eu falo comigo mesma ridicularizada, levando o meu olhar para a sopa. Socorro!
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