Marcelly está inquieta, ela meche nas minhas coisas, revira minha cômoda, folheia alguns livros, e por fim diz animada.
– Eu e uma turma de amigos, vamos ao cinema hoje á noite. Vim te convidar. Na verdade eles também me mandaram aqui para fazer o pedido – eu me livro de meus pensamentos cruéis e faço um careta e balanço a cabeça negativamente –Ah qual é, qual é a desculpa?
– Não conheço essa sua turma de amigos – torço o nariz fazendo uma careta.
– Você vai conhecer ué. João, Violette, Niall, vão estar lá também, e eu! – cruza os braços batendo o pé no chão – Precisamos sair Clhöe.
– Tudo bem, tudo bem, eu vou.
– Ótimo! Eu venho te encontrar ás 19:00 – ela dá pulinhos de animação.
O celular dela toca, e ela atende. Quando vejo seu celular lembro que também tenho um, e o mesmo está desligado á dias dentro da última gaveta da cômoda. Enquanto ela conversa no celular, eu resolvo pegar o meu aparelho, que por algum motivo, não uso a muito tempo, e coloco o mesmo no carregador. A tela se ilumina e como eu já esperava, não há nenhuma mensagem ou chamada perdida.
– Por que não me disse que tem um celular? – indaga Marcelly assim que desliga.
– É que... Eu não gosto muito.
– Se eu soubesse que você tinha um celular, eu não tinha vindo até aqui, e sim tinha te mandado um sms Clhöe! – ela faz bico irritada – Eu deveria falar um palavrão agora, só para você aprender, sua garota estranha! – ela grita, mas depois sorri e toma o celular da minha mão, digitando seu número em meus contatos – Agora eu só venho até aqui, se for questão de vida ou morte – ela diz vitoriosa – Pode se acostumar a usar essa belezinha agora – me entrega o celular e eu reviro os olhos.
– Já disse que é muito difícil eu usar isso.
– Ah fala sério, você precisa ser mais normal, não gostar de celular também é um sintoma da Onomatofobia? – eu abaixo a cabeça sem graça – Desculpa. Mas você é muito estranha Clhöe, será que dá para ser um pouco mais humana? – nós gargalhamos juntas.
– Vou me esforçar – sorrio.
– Eu volto ás 19 horas, esteja pronta, e lembre–se de usar umas roupinhas de gente da sua idade – ela me lança uma piscadela.
Eu a levo até a porta enquanto minha mãe me olha surpresa.
– Que cara alegre é essa? Pelo visto você arrumou uma pessoa que consegue te divertir mais do que eu – ela cruza as pernas no sofá.
– Marcelly veio me convidar para ir ao cinema.
– E desde quando você gosta de cinema?
– Mãe...
– Okay, fico feliz que esteja arrumando amigos aqui.
– É a noite – ela me olha séria e presumo que ela não vai mais deixar – ok, eu já entendi – dou as costas e subo as escadas.
– Você não deveria ir – paro de subir as escadas e olho para ela – Mas vai me prometer que vai tomar cuidado.
Volto para o quarto e pego um livro na prateleira para ler, já que ainda são 13:00 da tarde, e eu tenho 6 horas para me arrumar. Me cubro com as cobertas até o peito. Tenho que manter minha mente o mais ocupada possível, tentando esquecer essa história toda de Styles.
Depois que Marcelly me contou sobre sobre ele e Megan. Tudo está ficando mais claro e a cada minuto que passa minha curiosidade só faz aumentar.
Meu celular vibra desperta–me de meus pensamentos e percebo que li alguns capítulos do livro sem prestar atenção. Eu me levanto, guardo o livro de volta na prateleira e pego o celular em cima da cômoda.
'Mensagem on_'
Desconhecido: Já encontrou uma roupa?
Eu: Ainda são 14:00 da tarde
Desconhecido alterado para Marcelly.
Marcelly: E daí?
Marcelly: Você pretende ir com que roupa?
Eu: não sei. Talvez uma calça e um casaco.
Marcelly: Talvez você vá com as calças do seu pai.
Eu: O que?!
Marcelly: O que acha de irmos fazer umas comprinhas hoje?
Eu: Não sei não.
Marcelly: aff. Anda logo, levanta dessa cama e vai se arrumar, eu te encontro ás 14:30.
Como ela adivinhou que estou deitada?
Eu: Não quero sair agora.
Marcelly: Desculpe, não sabia que você gostava tanto das calças do seu pai.
Eu: Argh!
Eu: tudo bem eu vou.
Marcelly: você pode me encontrar perto da livraria da Sra Dawil?
Marcelly: É mais perto pra mim ^^
Eu: sem problemas.
'Mensagem off_'
Largo o celular em cima da cama e vou para o banho. Procuro a calça mais apertada que tenho em meu guarda–roupa pois tenho certeza de que Marcelly me mataria se me visse usando a calça que costumo ir para o colégio. Visto minha jaqueta de couro, e meu par de botas cano baixo. Estou pronta. Nada de maquiagem hoje.
Pego minha pequena bolsa de lado, e confiro se meu cartão de crédito para emergências está lá dentro. Mamãe se anima quando eu digo que vou ao shopping comprar algumas coisas e me deixa sair sem problema algum.
. . .
O dia como sempre, está péssimo. O sol que saiu de manhã, está encoberto por algumas nuvens deixando o céu cinza escuro, e o vento forte traz consigo pequeno pingos formando uma garoa fina, quase imperceptível.
De pé, o caminho é longo e deserto eu não havia reparado nos inúmeros becos no decorrer do trajeto.
Passo por um grupo de homens que fumam em um beco, e eles mexem comigo. Eu aperto o passo antes que eles digam coisa pior e tento me concentrar no visor do celular. A rua está vazia, como todas as outras que levam ao colégio, eles continuam a me perseguir e ao se aproximarem demais, eu corro, o mais rápido que posso.
Meu pulmões, gritam por ar e meu corpo implora para que eu pare, mas não posso parar. Não sei o que eles querem fazer comigo, então me esforço para continuar correndo porém, sinto meu braço ser puxando para trás fazendo com que pare.
– Podem levar tudo – entrego a bolsa a um homem de camiseta vermelha enquanto outro de jaqueta azul marinho me segura fortemente – Podem levar – repito ao notar que homem que aparenta ter 40 anos ainda não me soltou.
Eles se entreolham e soltam gargalhadas horríveis me olhando de cima a baixo maliciosamente.
– Não queremos sua bolsa – ele contorna minha boca com o dedo indicador – Queremos você – eu tento me soltar de seus braços , mas sou segurada por um outro homem de camiseta preta.
Eles me arrastam para um beco enquanto eu luto contra os quatro.
Não! isso não pode estar acontecendo comigo!
Minha vista está turva, e eu deixo alguns soluços saírem de minha boca por conta própria.
– Fique calma – um deles solta um riso – Se você for uma garota boazinha, eu juro que não vai doer nada.
– Por favor – choramingo, enquanto outro dois homens seguram meus braços – Por favor, eu já fui estuprada.
– Cala a boca garota – o homem que aparenta ter 40 anos aperta um seio meu e morde o lábio inferior ele arranca a minha jaqueta jogando–a no chão, em cima de uma poça d'aguá.
– Socorr...– grito porém eles tampam minha boca.
– Cala a d***a da boca dela! – grita o de vermelho – Será que eu tenho que fazer tudo sozinho?!
– Quietinha... – o de blusa xadrez sussurra em meu ouvido – se não quiser que fique pior – Ele arranca minha regata com tamanha agressividade enquanto um outro desabotoa meu jeans – Você é tão gostosinha... – fecho os olhos tentando me encolher desesperada.
– Por favor... – digo em meio a um soluço.
Isso só pode ser um pesadelo. Só um pesadelo.
"Já já você vai acordar em cima de sua cama quentinha, e vai ver que isso tudo não passou de um pesadelo horrivel."
– Clhöe? – estou tão desesperada ao ponto de escutar Styles me chamando – Clhöe! – grita.
É Styles! ele está aqui! Styles está aqui. Styles é minha única saída.
– Solta ela – escuto sua voz pela terceira vez. E com a vista embaçada, vejo uma figura alta se aproximando de nós – p***a! solta ela logo! – eu fecho os olhos com força, tentando me abaixar mas eles continuam me segurando com a mão em minha boca – Ninguém toca nela!