Onomatofobia

23| Atividade Extracurricular.

– Clhöe? Acorde ou vai se atrasar. – ouço a voz de meu pai e abro os olhos – Bom dia querida – ele sorri.

Olho para os lados e vejo alguns travesseiros amontoados do meu lado.

– Bom dia pai – solto um longo suspiro.

– Ontem a senhora Edwards ligou para mim, perguntando se você poderia ir lá hoje, eu disse que você podia – assinto – Posso ligar para ela confirmando?

– Sim, claro que pode – caminhando até a janela e fecho a cortina.

Minha cabeça parece que vai explodir.

– Minha impressão ou você está de ressaca? – meu pai solta um leve riso.

– Não conta para mamãe – peço e ele assente rindo.

Procuro o remédio em cima da cômoda, mas ele não está, pelo contrário, encontro um pedaço de papel em baixo do copo de água.

'Você não precisa daquela d***a todo o dia' engulo o seco observando a caligrafia de Styles.

– Depois da faculdade eu te levo para lá, pode ser?

– Sim.

– Preciso ir agora, se não quiser chegar atrasado.

– Tchau pai – digo enquanto ele me dá um beijo na testa.

– Até mais – ele sorri.

***

Meu estômago está queimando e minha cabeça dá leves pontadas me fazendo fechar os olhos com força, fazendo uma careta para o professor que explica a matéria, meus olhos pesam mostrando que estou claramente cansada por conta da noite passada. Sem conseguir manter os olhos abertos, enterro a cabeça entre os braços em cima da carteira e imagens da noite passada invadem meus pensamentos.

Estou completamente sem rumo depois do que aconteceu. Não sei o que devo fazer ou se devo fazer alguma coisa.

Ouço a porta sendo aberta agressivamente, mas não levanto a cabeça para saber quem é. O cheiro da colônia masculina de Styles, logo invade o ambiente e eu noto que ele se senta na fileira ao lado da minha.

Coloco a touca da blusa e tento me manter acordada mas eu tombo a cabeça sobre a mesa e durmo. Não achei que eu estivesse tão r**m assim. Na verdade, nunca tive ressaca.

Eu desperto assim que uma garota me cutuca e eu abro os olhos ainda sonolenta, observando o monitor do curso grudar um cartaz no mural da sala.

– Bem, eu só vim avisá–los sobre as atividades extracurriculares que teremos de agora em diante para vocês acumularem pontos – uma explosão de reclamações invade a sala, mas ele continua – Todos terão que se inscrever em alguma atividade, cada uma terá um número limitado de alunos.

– Vai ser obrigatório? – Styles acaba com a graça do diretor.

– Se você não quiser ser reprovado... – retruca o diretor – A atividade extracurricular, vai para o boletim de vocês, serão 30minutos de aula todos os dias. Por enquanto é só isso. Boa aula. – ele dá as costas e o professor abre um sorriso irônico.

– Bem, era tudo o que vocês queriam. Ficar mais meia hora aqui ESTUDANDO! – ele gargalha de nós.

– Vejo vocês na próxima aula – se despede o professor enquanto saímos da sala – srta Beaumont? Será que podemos trocar algumas palavrinhas? – assinto.

O professor fecha a porta e eu me escoro em uma carteira coçando os olhos.

– Tudo bem com você? – assinto.

Ele me estende uma folha e sorri.

– Essa foi a explicação de hoje. Estude. Amanhã temos teste e eu quero que tire um A, já que dormiu a aula toda. – assinto dobrando a folha – Da próxima vez, durma em casa – avisa ele dando um tapinha em minhas costas.

–Isso não vai mais acontecer – é a única coisa que digo.

Antes de encontrar os outros no refeitório, vou até o banheiro jogar uma água no rosto, mas além de fazer isso, também acabo por vomitar.

Prendo os cabelos num coque bagunçado, e por fim, saio do banheiro.

– Clhoe! – Niall sorri com a mão em meu ombro – Será que teria um tempinho para mim? – assinto.

– O que houve? – pergunto enquanto nos sentamos em um banco no corredor vazio dos banheiros.

– Você... Am.. Conheceu Diana? – ele pergunta coçando a nuca sem jeito.

– Sim – arqueio a sobrancelha – Você conhece ela?

– Ela... Ela te disse algo?

– Que algo? – ele balança a cabeça negativamente e se levanta.

– Nada esqueça.

– Niall! Espera! – chamo – Por que está me perguntando isso?

– Nada. É besteira.

– Escuta Niall. Por que é que você não me disse antes sobre Emilly? Por que você me deixou pensar o pior dele, quando na verdade ele só está sofrendo e precisa de ajuda? Por que me deixou passar por tudo aquilo se eu podia ter ajudado ele? Por que Niall?! – berro e seus olhos estão quase saltando das órbitas.

– Eu só...

– Não Niall! Você nada! Styles não é um monstro!

– Eu sei Clhoe! Eu só... Ele sabe que você conheceu a mãe dele? – n**o – Clhoe, não deixe ele saber.

– Eu sei.

– E o que você vai fazer agora que sabe mais do que Megan? Vai ameaçar ele?

– Não Niall. Não sei o que vou fazer. É tudo tão confuso.

– Eu quero que saiba, que estarei com você no que precisar.

– Você conheceu ela?

– Sim. Na verdade, Harry conheceu Emilly por mim. Quando eu cheguei da Irlanda, frequentei aulas de inglês, ela era da minha classe, nos tornamos muito amigos. Eu convidei ela uma tarde para sair com amigos meus e Harry estava no meio.

– Como ela era?

– Era uma pessoa super simpática, fazia amigos aonde passava e adorava fazer piadas entre amigos. É por isso que eu não consigo entender. Vocês são totalmente diferentes. Não sei o que em você atraiu a atenção dele – ele explica brincando com os dedos enquanto encara o chão.

Algumas alunas se aproximam do corredor, e nós resolvemos silenciar a conversa.

– Você vai se inscrever em que atividade? – ele pergunta.

– Não sei. E você?

– Música talvez – ele dá os ombros – quer vir comigo? – assinto.

Caminhamos pelos corredores aonde os cartazes de inscrição estão colados, e Niall escreve seu nome na classe de música, chegamos a tempo, já que só tem uma vaga para ele.

Procuro alguma atividade, mas não me interesso por nenhuma, eu poderia fazer, artesanato, xadrez, ou até mesmo ajudar no reforço com os alunos do primeiro semestre. Mas nem para essas atividades encontro vaga.

– Aqui Clhoe! – Niall chama – só tem duas vagas. Mas para a aula de...ham... Dança. – faço uma careta e ele ri – É isso ou reprovar.

Bufo, reviro os olhos, faço bico, enquanto olho o nome das pessoas que se inscreveram.

· Tabitta

· Megan

Paro por ali torcendo o nariz.

– Niall... – resmungo.

– Clhöe Beaumont, a nova dançarina de lambada – ele me zoa e eu bato em seu braço.

Sou obrigada a escrever meu nome deixando sobrar uma vaga, para alguém que se inscreveria ali e também não iria com a minha cara.

– Logo, logo você vai estar dançando igual essas dançarinas profissionais.

– Isso não tem graça – bufo.

Vou para o refeitório aonde Marcelly, Violette e João, me esperam na mesa de sempre. Niall se despede de mim e vai para a biblioteca devolver alguns livros.

– Clhöe, nós já nos inscrevemos, – João comenta.

– No teatro. – Marcelly interrompe.

– Na verdade, nós vamos ficar só nos bastidores – João interrompe novamente.

– Nós íamos inscrever você também. Mas tinha que assinar – Violette bufa – Por favor, diz que conseguiu uma vaga lá.

– Não. Não consegui.

– No que você se inscreveu? – Marcelly pergunta.

– Dança – digo baixo e João finge cair do banco.

– Junto com as piranhas? – Marcelly exclama.

– Não tinha mais vaga para nada.

– E aonde você estava? – Violette pergunta me oferecendo um pedaço de sua mini pizza, mas eu recuso.

– Encontrei com Niall e nós ficamos conversando.

– Ótimo. Agora peça para o Nini arrumar a vaga para você no cenário do teatro, – Marcelly resmunga – agora você vai ficar bem amiguinha da Megan. Isso é ótimo.

– Hey, você está com ciuminho! – João gargalha e Marcelly bate nele.

– Se você não calar a boca, eu vou te dar um surra que vai arrancar essa sua pele branca – Marcelly repreende e nós gargalhamos.

***

– Clhöe – Tabitta sorri sinica para mim – Então quer dizer que você gostou mesmo da dança. Fico feliz por você. – ela me abraça porém eu demoro um pouco para retribuir o abraço falso dela.

Entro em uma grande sala, com espelhos por toda a porte. Uma mulher mulata de cabelos afro, nos espera sorridente.

Ela é linda, os olhos cor mel, alta e um turbante vermelho no alto da cabeça.

– Sou Malu – ela sorri fechando a porta e eu sinto o pânico me dominar – naquela caixa, tem roupas para vocês, vistam–se para podermos começar.

As garotas se aglomeram em torno de uma caixa de papelão,e eu as observo de longe brigando por uma saia rodada azul estampada, mas curta do que os shorts das brasileiras (como diz Niall).

– Você não vai escolher uma roupa? – um garoto moreno me pergunta.

– Estou esperando elas escolherem a delas – explico.

– Sou Cristian. – ele se apresenta.

– Clhöe.

– Está aqui obrigada também? – assinto – bem–vinda ao time.

– Você queria que atividade? – puxo assunto.

– Teatro e você?

– Cenário do teatro.

– Então acho que era o destino ficarmos juntos – eu coro e ele gargalha – desculpe, eu quis te... Desculpe.

– Tudo bem.

Me aproximo da caixa, e fico feliz com a roupa que sobrou para mim. Uma calça elástica preta, e um vestido rodado talvez com dois palmos acima do joelho. Opto pela calça, e amarro minha blusa de frio na cintura já que minha blusa de baixo não é tão cumprida.

Volto para a sala e Malu, ensina alguns passos um tanto rápidos para a minha memória.

– Três para o lado, um pra frente, girou. – ela nos mostra como faz e sorri – não se esqueçam de gesticular os braços e rebolem um pouquinho, já os garotos podem se manter normais – ela orienta – vamos lá, agora é a vez de vocês.

Dou um passo para trás, indo para a fileira de trás das meninas, e tento pelo menos girar.

Malu, nos ensina a coreografia inteira e após milhares de tentativas, não me saio tão m*l, mas também não tão boa.

Uma gota de suor escorre pela minha testa, e a calça elástica, parece estar prendendo meu sangue de tão colada que está. Minha cabeça lateja e eu a qualquer momento penso que irei vomitar, morrendo de sede.

Três batidas fortes, interrompem nossa dança, e Malu desliga a música. Eu aproveito e me sento em um dos bancos para descansar, olhando a hora no relógio na parede. Faltam 15 minutos.

Solto um suspiro e tento acalmar minha respiração ofegante.

– Encontrei esse garotão vagando pelo corredor – diz o diretor – vVamos logo! Entre ai.

– Não vou dançar. – escuto a voz de Styles.

– Vem cara. Tem garotos aqui também – a voz doce de Malu se destaca.

– Tem certeza que eles são garotos? – Styles bufa impaciente – Tudo bem, eu entro nessa porcaria, mas não vou fazer nada. – ele abre a porta irritado e para de andar ao me ver.

Ele não diz nada, apenas me ignora e se senta em cima de uma mesa perto da janela.

– Certo pessoal – Malu revira os olhos para Styles, mas acaba ignorando ele – vocês já balançaram bastante – ela ri – O que acham de uma dança lenta, só para mim ver como estão os pézinhos de vocês?

Tabitta é a primeira a levantar. Ela puxa um garoto branquelo de olhos verdes e músculoso que também deve estar aqui obrigado, mas ele aceita.

– Me dá a honra dessa dança? – Cristian estende a mão para mim, mas eu n**o – por favor – ele insiste.

– Não danço.

– Nem eu – ele ri e eu acabo cedendo – Nós podemos tentar juntos – ele sussurra em meu ouvido – você conhece essa música? – n**o – Nem eu. Bem, talvez, minha namorada conhecesse se ela estivesse aqui.

– Você namora? – 'que pergunta foi essa? Ele acabou de dizer isso'

– Sim. Ela se inscreveu no teatro, mas não tinha mais vaga para mim.

– Que pena.

– Tudo bem, agora eu vou te girar ok – eu gargalho e meu olhar se encontra com o de Styles, que nos encara.

– Ok pessoal, vamos trocar de par – Malu diz e Megan vem em minha direção me chamando para dançar com ela, mas Styles entra na frente e me toma pela cintura fazendo meia olhos se arregalarem.

– Me dá a honra dessa dança? – ele me puxa pela cintura atraindo os olhares de todos ali.

– Eu achei que você não queria participar da aula – comento apoiando minha mão em seu ombro.

– E não quero acredite, mas eu te pedi para ficar longe da Megan – ele comenta próximo ao meu ouvido.

– E também pensei que era para ficarmos longe um do outro – respondo e ele morde o maxilar.

E pela primeira vez eu consigo deixá–lo sem palavras, e não consigo deixar de sorrir por isso, mas ele molha os lábios com a língua e diz junto ao meu ouvido.

– Essa promessa eu já quebrei faz tempo.

E aí eu engulo o seco sentindo seus lábios roçarem na minha orelha enquanto ele sorri vitorioso.

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