15| Muros.

2002 Words
De onde estou, olho por cima do ombro de tio e meus olhos se encontram com o de Styles. Eu estremeço sentindo seu olhar queimar sobre mim. – Vamos embora. Esquece isso – ponho a mão no ombro de tio Will e ele se vira para mim com um sorriso gentil no rosto. – Como quiser garota – ele beija minha testa e pega minha mão levando–me para fora do bar, mas Styles vem atrás e o acerta o rosto sem aviso. – Sua garota? É sério isso Clhöe? – Styles se vira para mim que agora estou de queixo caído com o que ele acabara de fazer. – Qual o seu problema?! – berro, ele esta bêbado com certeza. Algumas pessoas formam um círculo ao redor deles mas Styles fuzila todos com um olhar de ódio e eles entram para dentro do bar novamente. Nunca vi seu rosto tão sombrio como está agora enquanto ele soca a cara de meu tio que por sua vez não revida. – Termina logo de me bater porque eu tenho que levar a Clhöe para casa, a mãe dela disse que não era para demorarmos – tio Will sorri com a boca sangrando e Styles acerta seu rosto novamente. – Styles! Para! – seguro seu braço e ele me olha por um instante com os punhos cerrados e eu dou um passo para trás segurando sua mão pesada. – Saia daqui, não quero te machucar Clhöe – eu não me movo e ele revira os olhos. – Por favor pare com essa violência – minha voz sai trêmula e ele me olha por um instante – vai embora, você está bêbado – digo duramente e ele hesita antes de partir para cima novamente. – Clhöe, – Não, – faço sinal para que ele não diga mais nada – só vai embora ta bom – peço fazendo sinal para que ele não se aproxime. Os homens saem para fora do bar de novo e ficam boquiabertos ao verem Styles dar as costas e ir embora pisando duro no chão sem questionar e eu fecho os olhos fortemente quando ele entra em seu carro e saí catando pneu. – Obrigado pelo atenção dos senhores – tio Will imita a cara deles, retirando o chapéu da cabeça e depois ele coloca o chapéu de volta – Vamos Clhöe. – Está doendo muito? – pergunto a ele. – Não – ele ri – Desculpe ter batido no seu amigo, mas ele me irritou de verdade falando aquilo para você. – Ele não é meu... Tudo bem, depois eu resolvo com ele. – Já nos aventuramos muito hoje, você não acha? Ah! Você pode rir de mim, eu devo estar engraçado com a cara assim – ele solta um riso. – Minha mãe vai nos m***r. – Com certeza. Mas eu sou o irmão mais velho e quando ela me ver neste estado vai desejar que esse tal de Estilos tivesse me matado. – É Styles tio – corrijo gargalhando. – Tanto faz... – É. Ele abre a porta e não tem ninguém na sala então nós corremos para meu quarto e ele se joga na cama suspirando. – Será que eu posso tomar um banho? – assinto. – Enquanto você toma seu banho, vou ver se meu pai está em casa para montar sua cama. Você deve estar cansado – saio do quarto junto com ele. – Mas ainda nem anoiteceu – ele protesta. – O Senhor não vai descansar? – pergunto. – Sim. Mas não agora. Acho melhor você descansar enquanto eu tomo banho, porque quando eu sair, nós vamos bagunçar muito pequena garota. Ou melhor Grande Garota. – ele fecha a porta do banheiro e eu gargalho descendo as escadas. – Mãe? – bato na porta de seu escritório e escuto o barulho da velha máquina de escrever. – Está tudo bem? – Sim, hã – solto um suspiro – Vim avisar que chegamos. Vou até a sala, aonde deixei os livros que meu tio me deu e resolvo ler alguma coisa. Os livros são sobre duques, realeza, condes... História clássicas, todos falam de romances. Eu os levo para meu quarto colocando–os na prateleira. Tio Will entra no quarto vestindo uma camiseta preta e uma calça jeans marrom, seus cabelos estão grudados no rosto enquanto ele seca com a toalha e ele me olha como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa. – Você quer comer? – pergunto. – Ah não, agora não – ele acaricia meu rosto pensativo – Eu ainda não acredito que você cresceu tanto – ele balança a cabeça – Nossa, sério, você cresceu muito e ficou mais linda do que imaginei que ficaria. Sinto meu rosto queimar. – Brincadeira, brincadeira – ele levanta as mãos como sinal de rendição – Bem, eu vou deixar você ler meus livros, enquanto isso eu vou encher o saco da sua mãe e ver as maluquices que ela anda escrevendo, quer dizer as fantasias da cabeça dela – eu assinto e ele desce as escadas sem jeito. Estou sem cabeça para ler agora, não sei se estou preocupada por Styles . Será que ele está com muita raiva de mim, por eu ter mandado embora? Balanço a cabeça negativamente e vou até o banheiro jogar uma água gelada no rosto. Estou esgotada nesses últimos dias, só gostaria que as coisas voltassem a ser como eram antes. Ligo a Tv e começo a assistir a algum programa, enquanto escuto minha mãe gritando com tio Will coisas do tipo 'Que machucados são esse?' 'Pra onde você levou minha filha?' 'Willian! Você arrumou briga na rua?!' depois de algum tempo, tio Will se senta do meu lado no sofá sem dizer nada e em poucos minutos ele adormece com a cabeça no braço do sofá. . . . – Willian, acorda – minha mãe cutuca ele enquanto eu arrumo, a mesa para o jantar. Nós nos sentamos em silêncio, e eu me forço a dar algumas garfadas na comida que está ótima, mas não estou com um pingo de fome. – Esta comida está ótima maninha – tio Will diz de boca cheia e minha mãe apenas assente – Está boa Clhöe? – assinto tentando engolir a comida na marra. – E então Clhöe, gostou dos livros de Will? – meu pai pergunta. – Sim, eles são ótimos – sorrio. – Isso é muito gentil da sua parte – meu tio rouba uma folha de alface do meu prato e nós começamos guerrear com nossos garfos, mas minha mãe nos lança um olhar repreensivo e nós paramos – Eu estava comentando com Clhöe que ela está muito crescida, e linda também. – Eu concordo – meu pai sorri enquanto eu rezo para o chão me engolir. – Bem, você não achou que ela ia te esperar voltar para ela crescer – minha mãe o encara e ele finge cair da cadeira. – Menos querida – meu pai sorri. – Só estou dizendo a verdade – minha mãe dá os ombros. – Bom, pelo menos eu voltei na hora em que ela mais está precisando. Aliás, não é de mim que ela precisa nesse momento e sim da mãe, que está fingindo que ela não está aqui – meu tio retruca e eu me levanto da cadeira irritada. – Não vai comer Clhöe? – meu pai segura meu braço. – Não quero mais – eu me livro de sua mão e subo as escadas correndo sem olhar para a cara deles. Tio Will se levanta da cadeira e vem atrás de mim, mas eu me tranco no banheiro ele bate algumas vezes, eu não respondo. – Se precisar de mim, estarei fumando lá fora – ele diz e ouço passos longes. Serei condenada pela minha mãe o resto da minha vida? Por que ela trata ele tão m*l? Tio Will é uma pessoa tão legal e ela parece o odiar. O que houve com ela? Nunca vi minha mãe tão fria como agora e ela parece não saber mais o que fazer, ou como agir perto de mim, é como se ela estivesse esperando mais um surto, a qualquer momento. Abro a porta do banheiro e dou de cara com meu pai arrumando a porta de meu quarto. – Seu tio está te esperando lá fora. – Obrigada pai. – Clhöe – ele chama antes que eu termine de descer as escadas. – Perdoe sua mãe. Ela está... Bem... Ela precisa de um tempo. Assinto dando as costas e bato a porta de entrada da casa. O vento trás consigo o cheiro da nicotina e tio Will está em pé com um dos pés apoiados na parede ao lado do portão tentando fazer bolhas com a fumaça do cigarro. – Desculpa. – Não tem porque se desculpar – encosto no muro ao lado dele – Eu só não entendo por que ela te trata assim, como se você fosse um estranho sem juízo – comento e ele ri. – Bem, acho que ela tem motivos para isso. – E que motivos são esses? Tio Will joga a bituca de cigarro no chão e pisa em cima de mesma. – Sua mãe construiu muros ao seu redor. Ninguém pode chegar perto de você, tem os remédios, a hora certa de fazer brincadeiras, os canais que você pode assistir, os locais que pode frequentar, tudo sempre estará certo se você estiver no quarto lendo qualquer coisa. – ele faz uma pausa para tossir e continua – Já eu faço tudo ao contrário, te levei para um bar, te tratei como um bebê, te enchi de elogios nos assuntos nada ver, te fiz rir até chorar, deixei minhas coisas jogadas, arrumei briga com você por perto sem pensar se sairia algum palavrão na hora... Eu destruo toda a barreira que sua mãe tenta construir ao seu redor, e ela fica pê da vida comigo por isso, porque sabe que eu não sou uma boa, maravilhosa, exemplar companhia, mas ela precisa saber que no mundo não existem apenas pessoas como ela. Você não é como ela. E vai haver um dia que você vai ter que enfrentar esse mundão sozinha você vai conhecer alguém que vai demolir esses muros e vai acabar com tudo Clhöe. A sua mãe é uma doida. – ele tenta descontrair ao perceber que eu estou entrando em uma reflexão e eu sorrio enquanto alguns pingos caem do céu e tio Will me puxa para dentro de casa. Visto minha roupa de cama e tio Will e meu pai me dão um beijo de Boa Noite. Muros. As palavras de meu tio não saem da minha mente. Ele tem toda a razão. Minha mãe construiu uma verdadeira muralha China ao meu redor e eu sei que se ficar perto de Styles é ele quem vai destruindo todas essa muralha de p******o. E ao contrário do que eu deveria sentir, eu não me importo em ele fazer isso, eu não me importo se sou eu que ele vê toda vez que fecha os olhos, e eu também posso vê-lo, bem na minha frente, mordendo o maxilar de um jeito que só ele sabe, me olhando friamente me colocando em chamas. Encaro o teto branco por alguns minutos e logo adormeço. . . . Viro–me para o outro lado da cama e sinto meu rosto se chocar contra alguma coisa, logo em seguida a colônia e mãos a rodearem minha cintura. Mantenho os olhos fechados e tento voltar a dormir. – Clhöe? – a voz rouca dele entra em meu ouvido e eu não respondo sentido suas mãos me puxarem para mais perto de seu peito. O quarto está um breu e a luz da lua entra pela janela escancarada. Styles deposita um beijo molhado em minha testa e eu permaneço imóvel. – Boa noite Minha pequena – posso sentir sua respiração calma sobre minha testa e com a cabeça apoiada em seu peito posso sentir seu coração pulsando. Tento manter a respiração calma, enquanto conto quantas flores tem no papel de parede, mas o sono me vence e eu adormeço novamente ouvindo a ritmo do coração dele.
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