Sou despertada com o barulho do despertador.
Em cima da cômoda como sempre, estão os remédios, mas acho melhor não tomá-los, ao lado do copo de àgua tem um pequeno bilhete com a caligrafia de minha mãe.
"Hoje você tem uma consulta no psicólogo, marquei às 15:30"
Mas ainda são 09 da manhã.
Por que ela não veio me avisar como sempre faz? Será que ela quer me dar um tempo?
Desço as escadas e meus pais estão tomando café em silêncio. Eu me sento e meu pai sorri para mim, já minha mãe, dá um gole na xícara de café encarando o vaso de flores atrás de mim sobre o balcão.
Pego um cacho de uva verde e me concentro na parede branca, em seguida como um pão com geleia de amendoim e meu pai me olha surpreso por eu estar comendo pão ao invés de alguma fruta.
– Clhöe, seu tio Willian vai vir passar um tempo conosco – diz minha mãe com a voz distante e eu quase caio da cadeira.
– O tio Will?! – abro um enorme sorriso.
– Sim – ela diz indiferente.
Meu pai percebe meu entusiasmo e sorri vitorioso.
– Eu sabia que você se alegraria com essa notícia – ele aperta minha mão sob a mesa.
– Ele não devia vir – minha mãe resmunga desconfortável com o assunto.
– Mas ele é seu irmão querida – meu pai se vira pra ela.
– Estou fazendo isso por Clhöe – ela se levanta e entra em seu escritório levando consigo a xícara de café.
Eu meu pai terminamos de tomar nosso café em silêncio, porém, não consegui conter minha animação.
A última vez que vi tio Will, foi quando eu ainda era criança, depois disso ele se mudou para os Estados Unidos, e desde então nunca mais o vi.
– Por que ela não quer ele aqui? – pergunto enquanto ajudo meu pai a limpar a mesa.
Ele solta um riso.
– Ele faz muita bagunça – meu pai diz aos risos – Ele ainda nem chegou e já estamos rindo dele...
– Gosto dele.
– Só por favor não deixe ele tomar meu lugar – meu pai me dá um beijo na testa e eu o abraço – vai ser bom ter Willian de volta.
– É
...
As horas parecem não passar nunca. Seguro o livro com firmeza, e percebo que li alguns capítulos sem absorver o significado das palavras. Resolvo guardá-lo para ler em outra hora. Meus pensamentos voam e a hora no relógio indica que devo me arrumar para ir a mais uma consulta com a Doutora Nora.
Me preparo para entrar no banheiro, e então escuto uma gargalhada diferente no andar de baixo.
É ele!
Vou até a porta da escada e vejo algumas malas no meio da sala.
– Alex! Como você está... Grande! E você minha pequena escritora! Você continua tão pequena!
Ouço ele matando a saudade de meus pais e solto um leve riso vendo a cara de minha mãe quando tio Will a chama de pequena escritora.
– Eu nem estava com taaaaanta saudade assim – ele anda de um lado para o outro e abre a porta do escritório de minha mãe – quero vê–la, cadê ela? Cadê a minha garota? – sinto meu rosto queimar de vergonha – ela está lá em cima? – ele olha para a escada e me vê – É...É ela? Essa é Clhöe? – assinto enquanto ele tampa a boca impressionado – Meu Deus pequena! Como você cresceu! – ele sobe as escadas correndo – Ah eu estava morreeeendo de saudade de você! – ele me abraça me erguendo no ar e percebe meu desconforto então me solta e sorri educadamente – A Senhorita está encantadora se me permite dizer – ele beija minha mão – Ou se preferir, continua deslumbrante doce Clhöe.
– Bem! – ele grita me despertando – Pelo visto, eu esqueci de olhar no calendário, você está muito crescida o tempo passou rápido – ele passa a mão em meu rosto e eu sorrio – Está a cara da sua mãe. Ou melhor está a minha cara – sorrio tímida – Viu como você sorri como eu?
– Chega de palhaçada Will – minha mãe corta a brincadeira – Clhöe precisa sair.
– Sair? Agora que eu cheguei? Você vai para onde? – Ele fala enquanto desço as escadas com ele.
– Ela tem psicólogo – responde minha mãe.
– Sua voz se parece com a da sua mãe – tio Will, diz ironicamente – por um minuto achei que ela tinha respondido por você – Minha mãe bufa e vai para a cozinha – Por que ir a um psicólogo se o tio Will está aqui? Vem pequena – ele me puxa para meu quarto e eu hesito, mas meu pai sussurra 'depois eu resolvo com a sua mãe, não precisa ir hoje'
Subo as escadas atrás de meu tio e ele está em meu quarto ajustando seus óculos redondos no rosto.
– E então pequena garota, está indo ao psicólogo por causa daquela fobia? – assinto – Seus problemas acabaram! – ele me surpreende com um abraço apertado – Eu estava com muita saudade de você Senhorita Clhöe.
– Eu também tio.
– Senti falta da sua voz.
– E eu das suas gargalhadas.
Ele faz uma careta.
– Acho que sua mãe não sentiu minha falta – gargalhamos juntos – Mas eu não ligo pra ela. – ele se senta em minha cama e me observa em silêncio me fazendo pigarrear.
– Sua mãe me contou sobre... O que aconteceu. Você quer me contar o que houve? Alex disse que sua mãe ficou bem abalada.
– É, ela está... Estranha.
Minha mãe não perdeu tempo espalhando minha desgraça para meu tio.
Ele se senta do meu lado na cama e eu conto a maldita história desde o começo, quando eu e Marcelly marcamos de nos encontrar na frente do colégio, disse dos homens no beco e tio Will fingia ter um infarto na parte que eu disse sobre o sabão, tio Will estava jogado no chão se fingindo de morto.
Eu forço um riso para não cair no choro novamente e tio Will se senta na cama de novo.
– É complicado pequena. Mas creio ir você já tomou consciência do que fez – assunto para as palavras dele – Clhöe, sabe o que você precisa fazer para melhorar? – ele me pergunta e eu n**o – Você precisa disso – ele me derruba na cama me enchendo de cócegas.
– Para, Para, Para, Para, Para!! – grito em meio aos risos.
– Não estou te ouvindo – ele gargalha junto comigo.
– Tio! – eu imploro e meu tio se interrompe ao ver que minha mãe nos observa da porta.
– Você também quer cocégas? – ele pergunta e minha mãe revira os olhos.
– Não, eu quero que você vá buscar as suas bagunças do meio da sala.
– Desculpe.
– Tudo bem tio – me levanto da cama e ajeito meus cabelos, enquanto minha mãe me olha sem piscar – eu te ajudo. Ele vai ficar no quarto dos empregados? – pergunto e tio Will gargalha.
– Vocês tem empregados?
– Não – minha mãe dá os ombros – você pode ficar por lá. Peça para Alex te ajudar a montar a cama – ela dá as costas e eu solto um suspiro.
– Será que pode me ajudar? – assinto – Certo, mas não agora – ele sorri – Venha ver os presentes que eu te trouxe – ele desce as escadas tropeçando no último degrau me fazendo gargalhar e arrancando um riso de minha mãe, mas ela logo volta a ficar seria e entra dentro de seu escritório.
Eu me sento no sofá e ele me entrega uma caixa extremamente pesada. Eu abro e um imenso sorriso sai de meus lábios.
– Tio... Esse é seu nome na capa desses livros todos? – ele assente – Você se tornou um... Nossa! Eu amei! – ele me abraça e eu percebo que minha mãe nos espia da porta.
– Você não vai ler pelo menos as introduções? – ele está apreensivo batendo o pé no chão.
– Ah Claro que vou. Por quê não me disse antes que tinha se tornado um escritor?
– Era uma surpresa – ele fica em silêncio e balança a cabeça negativamente – Quer dizer... Eu não... Ah esquece essa história. Vamos! Leia! Sua mãe, me disse que é você quem lê os livros dela antes que ela os publique. Bem, eu já publiquei esses, mas quero saber sua opinião.
– Tudo bem – eu abro um dos livros e me concentro nas letras, mas o livro é arrancado da minha mão.
– Quer saber? Por que você não lê depois? – eu gargalho e assinto.
– Tudo bem.
– Am... Por que você não vem dar uma volta comigo, para podermos conversar sem sermos espiados pelo sua mãe? – tio Will provoca ela e eu olho diretamente para a porta ela está lá com o rosto vermelho sem jeito.
– Eu não estava... – ela tenta se explicar mas tio Will a interrompe.
– Nós já entendemos que você está sem jeito. – seguro o riso enquanto tio Will se levanta e vai até a porta – Posso levar ela comigo? – minha mãe assente e eu vou com ele.
– Só não demorem.
Tio Will a imita por trás da porta e eu me controlo para não rir.
–Só vamos beber um pouco – ele sussurra e eu espero que minha mãe não tenha escutado.
Ela está mesmo chateada com tudo o que aconteceu, e parece que toda vez que ela me olhar, a mesma entra em uma espécie de transe, como se pudesse ver de novo aquela cena terrível.
– Aonde você quer ir? – tio Will pergunta.
– Você quem sabe – dou os ombros.
A companhia de meu tio é tão boa, que não me importo aonde vamos. Estou tão feliz por ele ter voltado. Ele é tão extrovertido, sabe transformar as situações difíceis em uma piada engraçada e não se importa com o que vão falar sobre as adversidades, ele sempre vai continuar rindo, e isso me faz rir também. Não sabia o quanto ele me faz bem, fazia tanto tempo que eu não sorria e aqui estou gargalhando enquanto ele tenta se equilibrar na guia da rua. Estou ansiosa para ler um de seus livros, e como estou. É tão legal saber que ele virou um escritor.
Não sei por quanto tempo consegui não pensar em Styles. Mas sei que foi muito. E estou feliz por tio Will ter conseguido fazer com que eu me esquecesse dos problemas, mesmo que tenha sido por algumas horas, mas estou feliz e não consigo parar de sorrir.
– Será que a gente podia passar naquele bar? – arqueio as sobrancelhas – Prometo que serão só cinco minutinhos – ele insisti e eu assinto – Eu preciso tomar uma dose de wisky – ele comenta empurrando a porta do estabelecimento.
O bar está um pouco vazio, nós nos aproximamos do balcão e tio Will pede sua bebida. Alguns homens o encara e ele sorri ridiculamente como se estivesse com um incomodo na boca. Eu me impeço de rir e me concentro nos nomes das bebidas nas prateleiras.
– Clhöe, – meu tio me cutuca – desde que nós entramos aqui, um rapaz não para de te olhar. Não olha para trás ok – assinto indiferente – Quer beber alguma coisa? – n**o – Ah vamos lá, só uma cerveja por favor.
– Só uma.
– Não, acho melhor só um gole – ele se corrige e eu solto um riso.
– Okay, só um gole.
Ele pede para o homem se aproximar e manda ele encher meio copo de cerveja para mim.
Dou um gole e faço um careta, enquanto tio Will paga as bebidas.
– Vou perguntar a aquele cara por que ele tanto te come com os olhos – antes que eu peça para ele não ir, tio Will já está lá.
– Am... – escuto ele dizer – ela é linda não? – posso ouvir a voz de ironia dele – Eu concordo, mas se você continuar secando ela desse jeito, ela vai chegar em casa desidratada.
– E quem você pensa que é para falar essas coisas para mim? – essa voz é de...
– Eu sou um m***a igual você – meu tio retruca e eu me viro para eles – E você é quem pra olhar para ela desse jeito?
– Prazer, sou Harry Styles – ele se levanta mas meu tio não parece estar intimidado – E você pensa que é quem para trazer ela para esse tipo de lugar mesmo sabendo o que ela pode ouvir aqui?