Capítulo 5

1836 Words
Continuação... Pablo Alisei o seu ventre, fazendo-a fechar os olhos por um lance de segundos apenas, mas foi o suficiente para saber o quanto esse gesto havia mexido com aquele egocentrismo da sua alma fútil. Quando voltou a abrir aquelas esferas redondas, com formato de duas bolas de cristais negr*as, quis mergulhar nelas profundamente, porém a fortaleza que plantei em minhas veias não deixaria-me afogar nessa imensidão nascida para provocar. Então procurei desviar e soltá-la devagar, respiramos na mesma escalada, ficando estranhos pela intensidade do momento. - Podemos fazer logo essa ultrassonografia? Estou faminta. - Sim claro. - Concordou ele. Adiantou-se o respeitável profissional da saúde. Pensei em tom de deboche, como se deixou levar facilmente? Não poderei permitir a sua próxima consulta mensal sem a minha presença. O doutor era uma isca fácil. Manipulável. Levantei acompanhando a bela grávida sair do consultório médico, mas ao atravessar o corredor dei de cara com o meu passado, e ele olhou de volta. Sorrindo. - Pablo… - Aproximou a jovem enfermeira, enquanto o doutor aguardávamos na entrada da salinha onde seria realizado algo mais importante de tudo que havia vivido e presenciado. - Como vai, Solange? - Falei secamente, sem um pingo de emoção. Passei duramente por ela, desfazendo aquela feição de felicidade do rosto aparentemente gentil, mas somente eu sabia das nuances daquela máscara que ela gostava de usar em público. O que essa mulher fazia na cidade? - É assim que trata uma velha amiga, soldado? Parei, mas instrui o obstetra e a Olivia para entrarem, mesmo que o meu interior gritasse para não cometer esse erro. Ele se foi prontamente, cansado de presenciar saias justas. Presumo. Mas a teimosia ficou, e veio se posicionar ao meu lado. Fingindo ser amável deu-me a mão, forçando aquele sorrisinho falso naquela boca bastante desejável pro meu gosto. - Não vai me apresentar? Afinal somos noivos. Solange sondo-a de viés, tentando miseravelmente disfarçar a expressão assassina. - Olivia… - Olivia… - Interrompeu-me propositalmente focando em nossas mãos unidas. - Esse é o nome da sua futura esposa, que bom que conseguiu a sua tão sonhada predestinada. Preparada para ser a escrava de um lar? O soldado já disse como deseja… - Solange. - Chamei-a severamente. Minha noiva quis soltar-me mas me recusei, e a segurei firme. Sentia que ela era a minha âncora naquele instante de tensão. - Antigamente na cama me chamava de Sol… - Bateu a ponta do dedo esmaltado no queixo, como se estivesse pensativa. Aumentando ainda mais a minha raiva. - Ou… Lange, quando chegava a gozar. - Escuta aqui ô coisinha! - Olivia avançou, rapidamente precisei intervir. Fiquei no meio das duas, segurando a grávida brigona bufando e dizendo “vou esfregar a cara dessa loira bandida no chapisco” - Sou a ex namorada dele, fica sabendo. - Colocou as mãos na cintura mirando-me fortemente. - E retornei a cidade para reconquistá-lo. - Vadi*a! - Nem tente, irei me casar em breve e estamos esperando um bebê. A enfermeira ficou seríssima de repente, se arrependendo visivelmente daquela atitude incoveniente. - O que? Nossa. - Passou os dedos na franja tentando achar um local para esconder a cara. - Por essa não esperava, achava que o soldado era todo certinho. - Para você ver como a fila anda filhinha. - Entoou minha noiva de forma bastante triunfante. Olivia saiu da minha proteção, dando a volta e parando bem na minha frente, dando as costas à provocadora, e me empurrou para a nossa última parada. Sol, ficou lá. Perdida em seus próprios pensamentos. Mas antes de passar pelo batente da porta, a mesma mirou o seu alvo de um jeito absolutamente sinistro. Solange não aceitou compartilhar a vida comigo, pois preferiu valorizar o seu profissional. Somente. Ela fez a escolha dela, e nada que fizesse me faria mudar os meus novos projetos com a Olivia. Nem mesmo por aquele sentimento verdadeiro que sentia por essa… pessoa. Olivia Deitada naquela maca, sentindo a geleca que aquele obstetra, meio gatinho, passava na minha barriga, pensava o quanto desejava ter pulado no pescoço daquela galinha, iria depená-la inteira. Argh! Claro, se não tivesse com essa barriga podia ter feito isso. Sorri comigo mesma, visualizando o cenário. Todavia, se não fosse essa gestação nossos caminhos jamais se cruzariam. Nunca teria conhecido Pablo. De um jeito ou de outro seria uma boa vida na minha opinião. Ser solteira tem seu charme, possui muitos pontos positivos, o fato de não se apegar a niguém era uma delas. Olhei-o, notando aquela concentração fixa no ventre de uma quase desconhecida para ele. Até que ponto chegaria um homem para alcançar seus sonhos? - Bom, vamos prosseguir. Olhem para a tela casal. - A voz soou divertida. Olhamos os dois no mesmo instante que o doutor esfregava o aparelho no gel translúcido e gelado, aparecendo na tela a silhueta completa de um bebê formado. Na hora não escondi a surpresa que me banhava por inteira. - Nossa! Olivia. Pablo segurou na minha mão, mas nós estávamos tão compenetrados que naquele momento deixamos as diferenças de lado. Só víamos o ser pequenino sendo gerado no útero de uma… - Aqui está, deitado de frente, curtindo a viagem uterina. - Dizia-nos enquanto marcava cada detalhe daquela vida inesperada. - Cabecinha, corpinho, pés, mãos, dedos e o mistério sendo finalmente revelado. O pêni*s. Senti os olhos lacrimejar. Sempre suspeitei que fosse um menino, até o meu pai previa, com total certeza. Mesmo assim, escolheu rejeitar o próprio neto. - Emocionante. - Comentou o soldado, soltando uma risada que eu tive que admitir que era gostosa. Por um breve instante fitei-o, notando aquela boca retorcida de maneira sublime, o semblante harmonioso, os olhos brilhando de alegria. Porém, ao repará-lo perdi os últimos momentos da visão do meu filho. O médico removeu o aparelho, dando-me lenços de papel para limpar a barriga. Pablo piscou voltando ao normal, usando a postura de soldado bem treinado. Virou a face, focando o obstetra que por sua vez, ajudava a me levantar da maca. - Pode deixar que eu cuido disso, doutor. Tirou-me imediatamente do amparo profissional daquele homem. Trocamos os olhares, mas nada saiu de nossos lábios enquanto me levantava do local. De inicio deixei, mas logo me desprendi do maldito transe, soltando-me abruptamente do toque amoroso. - Perfeitamente. - Disse o obstetra secamente ao se distanciar de nós em direção a porta. - Obrigado. - Revelou-me todo emotivo enquanto eu descia a peça larga com certa timidez pela primeira vez na minha distinta vida, senti até as bochechas queimarem. Sentimento estranho, nem quando me despia na frente de um carinha novo ficava assim. Por que esse soldado desperta sentimentos contraditórios à minha natureza? - Tudo bem. - Foi tudo o que consegui dizer, o momento era esquisito demais. Não sabia o que responder. Passei por ele com enorme rapidez, jogando o papel amassado na lixeira, no canto da salinha. - Me leve para almoçar, estou quase comendo o reboco das paredes. - Sim, claro. Veio correndo me acompanhar. - Até o próximo mês casal! - Sim, doutor. - Respondemos juntos sem olhar para trás e sem muita empolgação. Cada um com seu motivo particular. Olhei em volta sem parar de andar, put*a da vida caso encontrasse aquela vadi*a de novo batendo as asinhas por aqui. - De todos os hospitais da cidade, teve a cara de pa*u de me trazer nesse. - Disse entre os dentes após abandonar a propriedade particular, em seguida soltei um longo e categórico suspiro de alívio. - Olivia, eu não tinha ideia onde encontrar Solange, ela terminou comigo tem mais de um ano, e desde então sumiu no mapa. Seguiu com o sonho dela. Ser mulher independente e livre de qualquer outro compromisso extracurricular. Satisfeita? - Interessante. A conversa não parou a nossa caminhada, andamos paralelamente até o outro lado da rua, onde entramos num amistoso restaurante de comida caseira self service. - Não tenho nada a esconder, o meu passado é um livro aberto para você. - Nossa que cavaleiro. - Ditei lançando aquela olhada de viés, mas não perdi tempo, fui rapidamente pegando o prato de porcelana branca. Pablo imitou-me, vigiando na cara dura o que ia pegar para colocar no recepiente. - Sou mesmo, mas podemos deixar esse assunto para depois do almoço. Que tal? Pode lhe dar indigestão. Achei graça, acreditando que a mulher era uma mocrei*a com ele. Contudo a fila andou e comecei a escolher. Peguei massa, purê, salsicha frita… humm… - Olivia, vou fazer um prato colorido e com muito verde para você querida, visto que sem mim não vai se alimentar direito. - Presunçoso. - Murmurei cantando todos os alimentos comestíveis que o meu paladar reconhecia naquele balcão térmico. O buffet livre. - Posso ser o que quiser Oli. - Sussurrou de repente, cravando o corpo imenso e quente ao meu. Fechei e abri os olhos, adiantando-me, na intenção de sair desse tipo de feitiço absurdo. - Acabe logo com isso soldado. - Mandei ele se adiantar, fazendo-o soltar uma risadinha baixa. Andei rapidamente com o prato lotado, procurando a melhor mesa disponível perto da janela, mas no meio do trajeto desviei da primeira intenção, pois precisava pesar o rango. Após esse pequeno contratempo encontrei Pablo e quase nos esbarramos. A tempo consegui me deslocar, rindo da sua carinha séria. Por pouco não o fiz derramar toda aquela selva do prato extra. Que pena… Pensei debochadamente comigo mesma. Achando o espaço ideal apressei os passos, mas devido as pessoas que saiam, acabou me prejudicando, e quando finalmente consegui chegar encontrei a bruxa do setenta e um, sentada poderosamente na melhor localização para se fazer uma boa refeição caseira. A megera sustentava um sorriso largo. Arrogantemente colocou a mão embaixo do queixo, o cotovelo afundado no território escolhido, fazendo uma pose zombeteira, propositalmente para me irritar. - Acho que nessa você perdeu garota, cheguei antes. O que vai fazer agora? - Questionou sem exitar. Me peitando! Atrevida! - Está doid*a que eu arranque seu aplique, loira maldita. Bora, se levante e deixe uma grávida se sentar! Falei alto o suficiente para chamar a atenção de meia dúzia de olhares furiosos na direção da pest*e, que por sua vez se empertigou, olhando em volta preocupadamente. - Mas o que está acontecendo aqui? - Perguntou Pablo, mirando invocado a sua ex namorada. - Nada… - Solange catou a bolsa carteiro da cadeira e se mandou sem almoçar. Toda sem graça por ter enfrentado uma gestante diante dessa multidão. Em seguida eles me fitaram, e eu os agradeci com um sorriso meigo no rosto. Teve um pai de família que recebeu um tapão por ter me dado tchauzinho. Ri daquilo, logo me aconcheguei para comer. - Gosta mesmo de causar, não é, Olivia? Sentou-se seriamente. - O que posso fazer se gostam de mexer com quem está quieto. Dei de ombros, aproveitando a deliciosa refeição. E sendo obrigada a comer a salada que o meu futuro maridinho arrumou para mim. Aff!
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