Continuação...
Pablo
- Ganhei Um Soldado Como Marido. Hu! - Mordeu nervosamente a parte inferior e interior do lábio, demonstrando sua completa insatisfação. - Garanto que não te darei paz. Não sei cuidar de uma residência, passar, limpar e cozinhar. Serei inútil rapidamente para o certinho soldadinho. Compensa?
A mirada desafiadora me transformava naquele competidor possessivo para efetuar o melhor de mim. Olivia não me conhecia, não tinha a dimensão do que seria capaz de fazer para concretizar esse casamento predestinado.
- Possuo todas essas qualidades, e organização é o meu segundo nome de batismo.
- Ou seja, um tremendo chato!
Esbravejou, e inquietamente se prontificou a sair do gabinete do meu superior. Fitei rapidamente, dando-me a liberdade de ir atrás dela.
Olivia
Andei apressadamente para fora daquele espaço sufocante, onde existia tudo aquilo que mais desprezava nesta vida, por que caralho.s precisava sufocar a minha total liberdade em pró de uma criança quem nem havia pedido permissão para vim a esse mundo? Essas situações embaraçosas deveriam ser barradas pela força do destino. Uma autoridade divina.
- Olivia!
Respirei fundo, nutrindo um impulso desesperador, uma agonia sufocante de gritar aos quatro ventos que não o queria se metendo. Podia fazer o que quizesse, não estavamos unidos em p***a de aliança nehuma. Aquilo era doideira de um velho louco.
- Oh! SENHORITA TEIMOSINHA! - A voz autoritária só me deixou com mais gana de continuar nesse ritmo.
- Afaste-se soldadinho! Já demonstrei o suficiente a minha recusa, será que preciso desenhar para você?!
Andei sem precisar olhá-lo, pois o sentia guiado pelo meu cangote.
- Não tema a mim, só quero nos ajudar mutuamente.
Parei abruptamente, dando uma longa respirada pela intensa caminhada. De repente o senti tão perto que fui forçada a me virar com tudo, quase dando um jeito de torcer o tornozelo. Por sorte, ou, porque não dizer, azar, o atento soldadinho pegou-me no instante exato da possível queda. E quase me fez esbarrar de encontro ao seu corpo. Assustada pela misteriosa pegada de socorro, olhei imediatamente as veias saltadas dos dois braços. Descobertos daquela roupa camuflada.
- Perdão, somente agi por impulso. Não era minha intenção me aproveitar da senhorita.
Lentamente aqueles longos braços condecorados, soltaram-me. Nesse meio período do tato, senti as pernas fraquejarem, além de um calor em locais antes adormecidos desde que fiquei sabendo dessa gravidez indesejada. Sem saber o que fazer, ou como lidar com essa inesperada aproximação, limitei os movimentos permanecendo estática. Correndo o risco de ser puxada para ele, ou não.
Fitando até o fim o ato daquela conexão faiscante, retornei a olhar aqueles olhos escuros, mirando-me intensamente. Reparei que usava o quepe em sua cabeça raspada, fazendo-o ficar com aquela expressão ainda mais séria. Estragando o pouco clima entre nós.
Composta, sentindo-me bem equilibrada, umedeci os lábios, pronta para argumentar novamente a respeito dessa loucura de casamento.
- O que quis dizer ao afirmar que estaria lhe ajudando também? Sou um pacote extremamente insultuoso a ser carregado? Confesse, não sou o sonho de nenhum homem com o parafuso no lugar, tenho plena consciência disso.
Tive um vislumbre imediato do sorriso daquele soldado, uma pequena amostra. Logo a boca voltou-se para o mesmíssimo lugar, como se nunca houvesse um sorriso ali.
- Estou cansado de ficar sozinho, e não existe uma fila de moças dispostas a me aceitar. Sou exigente com a pessoa quando me apego demais, isso determina o afastamento delas por completo. Sendo assim, não sou um cara perfeito para encontros, casinhos, festinhas. Baladas.
Respirei fundo ao ouvir a palavra final em forma de advertência.
- Deveria procurar a futura parceira em cultos religiosos, talvez acharia uma certinha. Toda Amélia.
- Não é desse jeito que funciona Olivia. As pessoas têm os seus temperamentos formados, a religiosidade não interfere nisso. O que estou dizendo que não adiantaria caçar uma noiva certa por aí, seria uma luta em vão. Prefiro poupar desgaste emocional, já sofri com esse sentimento no passado.
Fazer essa rápida referência pareceu desequilibra-lo um pouco, mas nada que o tirasse do prumo, da qual nasceu para permanecer.
- Então como vou me encaixar no papel de sua esposa se não preenche os requisitos necessários?
- Está redondamente enganada.
Aquele olhar caiu novamente no meu ventre, incomodada por essa verificação emocional, dei um jeito para fazê-lo parar com o que estava fazendo. Nossos olhares, se buscaram de novo. Ansiosos para pôr fim nessa disputa sobre quem tinha mais razões.
- Grávida vou poder dá-la a proteção de um teto, não precisará sair como antes. Sempre estarei ao seu lado, mesmo tendo os meus compromissos com o exército. Meu país. Minha pátria.
- Sei… - Peguei parte do cabelo pondo para o ombro, ele acompanhou aquilo com enorme interesse. - Irá me fazer de prisioneira do lar.
Olhou-me bronco, ficando impaciente.
- Continua vendo as boas intenções das pessoas que estão dispostas a lhe oferecer o socorro, com outros olhos. Diga-me… - Limpou o canto da testa, fazia muito calor hoje, e ele devia soar naquele traje imponente. - Onde foram parar as suas amizades de noitada quando souberam de sua dificuldade financeira?
Abracei o corpo, sentindo um vazio tremendo em meu peito. Cheguei a olhar ao derredor, não havia uma viva alma andando pelo perímetro.
- Responda-me Olivia. - Exigiu sem precisar aumentar o tom.
Voltei a olhá-lo, sentindo o coração pesado ao constatar a realidade do fato sendo redigido pelos lábios de um completo desconhecido, que insistia em se tornar o meu marido. O único que podia realmente oferecer o alicerce do qual precisava para manter a mim, e ao meu filho a salvo. Papai já me deu as costas, Pablo era tudo o que eu tinha, tudo que havia conseguido. Era lamentável.
- Sabe perfeitamente que me deram as costas, o Coronel te deixou ciente de todo o ocorrido.
- Pois então, não difame a mão amiga. Em nenhum momento disse que ficaria em casa feita uma prisioneira. Somente afirmei que devido a sua real condição de mãe, a faria ficar mais quietinha. Longe do tumulto de multidões dançantes.
Ao ouvir sua definição, soltei uma breve risada. Percebendo que não movimentava um músculo daquele rosto rígido, parei de achar graça.
- E durante a amamentação estará na sua obrigação maternal. Portanto, não terá tempo para pensar em saidinhas. Aos poucos quero ir minando isso de você, tornando-a uma mulher caseira, mas futuramente podemos sair nós dois. Para não deixar a rotina do dia a dia afetar o relacionamento.
Gesticulei, passando a língua no céu da boca, mirando-o firmemente. Inclinei levemente a cabeça de lado, olhando o meu embrulho de presente de natal adiantado.
- Tem tudo planejado, não é soldadinho?
- Totalmente não. - Ditou solene.
- O que falta?
- A senhorita conceder o veredito final. Embora seja um trâmite quase forçado, não posso simplesmente raptá-la e fazê-la assinar as papeladas do casamento. O juiz anularia o matrimônio na hora. Sobretudo, é de extrema importância a sua aceitação. Aceita-me como teu marido?
Me movi para ficar retamente.
- Se recorda que não sei fazer nada? Não sou perfeita pra você, será que não enxerga isso?
Estreitei o olhar, mas o soldadinho se manteve naquela mesma postura. Ele não arredaria o maldito pé, nunca desistiria de ter a sua sonhada familia torta.
- Sou um soldado bem treinado, ficaria aqui por horas a fio relatando precisamente as minhas qualidades. Éticas, moralistas, honraduras e o que mais vai lhe interessar, as domésticas. Depois de provar da minha comida vai me pedir em casamento mesmo estando já casada comigo.
- Engraçadinho. - Fiz uma careta modesta. - Muito convencido.
- Sou convincente, você quer dizer.
- Entendeu muito bem soldadinho.
- Com certeza teimosinha.
Abri a boca para lhe dar um fora, porém concedeu-me uma trégua, esticando a mão na minha frente.
- Volte comigo no gabinete do seu pai, vamos organizar a cerimônia e a festa de casamento. Unicamente, no mesmo ambiente. Ele deseja que seja inesquecível para a filha. Irá privá-lo disso também? Igual a desfeita da sua falta de consideração a memória de sua amada mãe?
Senti o desejo sublime de partir para cima dele, que cara abusado!
- Como ousa…
- Aceita-me?
Balançou aquela mão feito uma corda a um afogado no mar da desesperança. Bufei, antes de admitir que o melhor era aceitar aquilo que era-me oferecido de bom grado. Mesmo sentindo que seria uma perda de tempo e esforço. Jamais me moldaria a ele, nunca seria um sonho de verão permanecer casado com uma mulher das avenças, pelo qual tinha aversão a tudo o que ele representava na minha vida.
Logo após fechar o acordo suicida, soltei aquela quentura, andando lado a lado com o meu novo destino. Escrito pelos dedos do próprio Pablo.