Olivia
Depois de me recuperar na casa do meu pai, que mandou me resgatar assim que ficou sabendo da minha má sorte, como ele mesmo havia descrito em alto e bom som, ordenou o conhecido dele de ontem me trazer para o local que mais detestava na face da Terra; O seu amado quartel general. O local onde ele era mais temido pelos seus homens de roupa camuflada, além das patentes mais baixas do seu cargo de Coronel.
A pedido dele fui orientada a entrar naquele gabinete, relembrando-me parte da minha infância. Logo deixei o passado de lado, não me faria bem pensar nela agora. Papai já havia me dado aquela bronca severa por ter me deixado engravidar, além de ter faltado na homenagem que sempre se prontificou organizar desde do primeiro dia da morte da mamãe. Isso foi há cinco anos atrás, tinha dezoito anos na época. Deixando-me orfã.
Entrei em sua sala particular sem bater, afinal sendo a filha do próprio Deus, não precisava de meras formalidades. A porta foi fechada por um dos seus cabos.
- Bom.. estou aqui, o que quer? Era tão urgente assim que não podia esperar chegar em casa?
Olhei-o vendo aquela expressão carrancuda naquele rosto marcado pelo tempo, embora, secretamente achá-lo um partido aceitável para muitas mulheres maduras de plantão. Mas quem nesse século aceitaria se casar com um ser tão machista?
- Sente-se, preciso lhe informar o que será do seu futuro e desse espúrio que arrumou de brinde. - Mirou a minha barriga com fogo odioso nos olhos. - Graças a um pingo de bom senso que lhe resta nessa sua cabecinha de vento, veio de blusão. Sendo assim guardaste a tua vergonha muito bem.
Sentei suspirando, revirando os olhos, ignorando mais um sermão da montanha a respeito de moralismo.
- Olha… - Descansei as mãos no colo. - Vamos acabar com essa seção e partir logo para o plano inicial. Volte a me pagar a pensão gordinha todo mês que sumo da sua vista para sempre. Não precisará passar perrengue por minha causa.
Sem desviar o olhar sério, repousou os cotovelos sobre a mesa, juntando as mãos para apoiar no queixo. Ele fazia isso quando me analisava.
- Não tem condições mentais de se cuidar sozinha, muito menos se responsabilizar por uma outra vida. Portanto tenho três soluções seguras para lhe oferecer.
- E uma dessas tem a possibilidade de rever meu p*******o mensal?
Tentei novamente, fazendo-o bufar. Pondo-se reto em sua poltrona, esticando os braços.
- Nunca mais verás um tostão de minha ossada.
- Então…
Falei, ansiosa para saber qual seria o meu castigo divino.
- Que vá numa clinica de aborto e se livre desse bastardo. - Ditou calmamente, como se não fosse nada.
Me aproximei dele, encostando parte da frente naquela madeira de mogno pura.
- De jeito maneira, e pensar dessa forma esdrúxula só me prova quem você é de verdade. Um monstro. - Murmurei odiosamente a última palavra.
- Posso te obrigar.
- Pode nada! - Rebati enfezada.
Por um instante curto ficou ali estudando-me.
- Tudo bem, já que faz questão de por um sofredor no mundo, tereis ele num convento bem distante de mim. E lá faça o favor de deixá-lo com as freiras, pois elas ficarão responsáveis pela adoção.
Ouvi aquilo tudo, sentindo um embrulho repulsivo no estômago, cheguei a me erguer. Fortemente revoltada, coloquei o dedo em sua cara, pela qual permanecia imóvel. Na sua plena paz de espírito.
- Nenhum pinguim de vestido vai ficar com o filho que carreguei no ventre, muito menos colocá-lo à venda!
- Eu disse adotada por uma família exemplar, não pensa em dar o melhor para o seu menino?
Fitou de novo a barriga que ainda não tive vontade de acariciar.
- Penso, é claro!
- E como faria isso, Oli?
Seus olhos buscaram a minha face.
Rebeldemente sai dali, indo com tudo para trás daquela imponente mesa, a sua cadeira giratória acompanhou a minha locomoção.
- Sem dinheiro posso ordenar o que quiser na sua vidinha. Portanto, sobra a antelação pelo qual esperei. Quer ouvir o que de fato procurei resolver para você?
Gesticulei pondo as mãos na cintura, esperando impacientemente a deixa final.
- Diga logo. - Falei entre dentes, completamente sem saída, nas mãos dele. - Vai me jogar no inferno, aposto.
- Só te desejei o melhor, contudo sempre deu um jeito de distorcer as minhas reais intenções.
- Chega de embromar Coronel, acabe logo com esse suplício.
- Arrumei um marido para você Olivia, terás que se casar imediatamente.
Ao fazer o seu ardiloso pronunciamento se virou abrindo a tela do seu velho computador.
- “Tá” zoando com a minha cara? - Apontei para mim mesma, virando-me na intenção de buscar o seu rosto impassível com a realidade.
- Não, disse que havia três opções, e você prontamente riscou as duas primeiras, escolhendo a terceira da lista. Parabéns, irá se casar brevemente, e ele assumirá esse adulterino como se fosse dele. Tomará conta de você e do seu filho, fim de papo.
Aquilo me deu tanto ódio que comecei a explodir com ele, berrando para não fazer isso, que não tinha o direito. A vida era minha, p***a! Estamos na era digital e o meu pai teve que fazer um acordo nupcial só porque engravidei por acidente?
- Pensasse nisso antes de sair trepando feito uma vaca no cio!
Bateu raivosamente na escrivaninha, voltando a me olhar. A severidade em pessoa.
- Ou se casa, ou aborta, ou ponha para adoção! Escolha Olivia! O destino está lhe dando uma escolha! - Relatou rancorosamente, magoado, sentido. Pensando nela ao olhar a cópia escarrada da sua esposa.
Passei as mãos para arrumar os fios soltos do coque desajeitado que fiz pela manhã.
- Só digo uma coisa, esse homem vai penar na minha mão.
- Te garanto que não. - Falou confiantemente, dando-me mais raiva corrosiva.
- Esse aí não vai demorar para ser largado! Assim que ganhar essa criança vou solicitar divorcio!
Apontei o dedo novamente, buscando uma forma de atingi-lo, já que havia se virado para o seu objeto da era pré-história. Sem se importar mais comigo, o Coronel planejou essa união pelas minhas costas, sabendo que eu não tinha o privilégio de recusar!
- Irei trair o meu marido na primeira oportunidade que tiver! Está ouvindo!
Deu de ombros.
- O esposo que escolheu para sua única filha vai tomar chifres, vai virar um corno! Corno! Cornoooooo!!!!
A porta foi aberta de supetão, fazendo-nos olhar no mesmo instante para o soldado que vinha com o quepe debaixo do braço. Trajando aquele uniforme que conhecia de có e salteado. O soldado aparentemente jovem maduro fitou reto, direto ao meu pai, que por sua vez fez um aceno breve.
- Como ousa interromper?! - Ditei bravamente, ganhando lentamente a sua atenção máxima.
Como não me respondeu fui com tudo até aquele soldadinho. Chegando de frente a ele coloquei a mão no quadril, sem tirar os olhos daquela face segura, e uma feição serena misturada a perfeccionismo que trazia uma certa irritação genuína de minha parte.
- Quem é você pra chegar assim no meio de uma discussão? Heim?!
Dei um peteleco na medalha Soldado do Silêncio, pendurada junto de mais de dez na farda bem passada.
Aqueles olhos castanhos pareciam brilhar, nutrindo possivelmente uma certa diversão interna.
- Futuro corno se apresentando para a missão. - Murmurou-me sem pestanejar.
- Soldadinho… - Resmunguei debochadamente, olhando-o de cima a baixo.
Pablo
Assim que focou unicamente no enquadramento certeiro da minha face, lançou o olhar de mulher conquistadora. Aquela mirada era de matar qualquer ser sem um pingo de orientação antecedente daquela moça. Sim, ela era linda, mas os olhos de cigana, oblìqua e dissimulada mostrava-me o quanto podia ser perder neles em um passe de mágica. Portanto, me manter distante de qualquer sentimento referente a minha futura companheira do lar, virou uma honraria de sobrevivência no campo de batalha.
A filha rebelde do Coronel do exército, se manteve nessa postura, até se dar conta que nada nesse mundo abalaria minha paz de espírito. Estava convicto do compromisso selado com o seu pai, e internamente contente por ganhar uma família completa.
Pensar no filho indesejado de sua parte, no ventre, fez-me escorregar o olhar na direção daquela barriga, coberta por uma roupa que não valorizava o verdadeiro contorno de suas curvas. Tive vontade de tocá-la, e me convenci que era somente o desejo de virar o pai substituto dessa criança, gritando fervorosamente em minha mente.
Ao perceber que olhá-la abertamente a incomodava, resolvi elevar os olhos naquele rosto cheio de rancor. Lotados também por puro escárnio.
- Como tem coragem de se prestar a esse papelão, soldado?
- Seu futuro esposo se chama Pablo, e quero que comece a vê-lo dessa maneira, Oli. - Relatou o meu honorável sogro. Já o enxergava dessa maneira, afinal, sou o único que poderia se dar bem nessa incrível missão. Domar a gazela indomável.
- Depende, esse tom que usas se refere a julgamento?
Sorriu sem demonstrar muita graça, além de cruzar os braços abaixo do volume acetinado daquelas duas esferas redondas. Olivia não vestia sutiã de bojo, e a peça íntima fria revelava os m*****s eriçados debaixo daquela vestimenta larga.
- Obviamente.
- Da mesma maneira que julgar tomarei a afronta na mesma medida.
Revirou os olhos de forma bastante inconsequente. Não condizente com a sua real idade, circunstância ou nascença.
- Prossiga soldadinho. - Resmungou quase trincando a mandíbula ao efetuar o movimento arredio.
- Se achas que honrando sua imagem somado ao meu sonho de constituir família, um papelão, por que se deixou engravidar, senhorita Olivia? Se tivesse se comportado melhor não estaríamos nesse impasse. Estaria livre para continuar sua trajetória sozinha, onde constitui somente em baladas fúteis, não te levando para lugar nenhum.
Bufou ela, a pequena mulher esticou os braços na lateral daquele corpo, que em breve estará espichado o meu maior interesse nessa união comprometedora.
- Nada nesse mundo justifica isso! Casamento de fachada? - Fitou brevemente o orquestrador dessa façanha de mestre. Seu pai.
- Garanto a senhorita que viveremos um matrimônio verdadeiro, não precisa ser falso. Porém por enquanto será limitado.
Olivia parecia querer chorar, mas sabia controlar bem as emoções quando lhe convinha. O Coronel conversou comigo por horas a fio ontem, dizendo como se portava sua filha desgarrada. Vim preparado para tudo o que está acontecendo, previsivelmente estou vestindo a couraça.
- Explique-se!
- Quando se casar comigo verás. Mas que fique subentendido que a desejo primeiramente para ser a minha adjutora da casa. Nossa casa. Serás alimentada e vestida pelo meu salário. Além de cuidá-la durante toda a gestação, e pós. O quanto se permitir.
- Preciso agradecê-lo por esse discurso machista!
- Não sou machista…
- Ah… - Gesticulou, repousando as delicadas mãos nos quadris. A cada movimento dela, registrava mentalmente. Imaginando nosso bebê. - … Isso é o que todo homem machista diz.
- Não sou e estou a léguas de distância de ser. Talvez esteja me confundindo com o homem que a deixou à deriva.
Foquei muitíssimo nela, queria que soubesse das minhas intenções.
- Eu, no lugar dele, não a teria deixado escapar da minha vida. Azar o desse cara, agora viraste minha total responsabilidade.
- Pablo cuidará de vocês dois. - Ditou ele solenemente, fazendo-a olhar diretamente ao executor dessa história.
- Prometo nunca lhe faltar nada, posso bancar, esposa e… - De repente ela virou o rosto com tudo, desfazendo o penteado desajeitado. O cabelão escuro desceu feito um cortina de pano. Seu rosto parecia de boneca agora que a moldura impecável se revelava. Brilhante, sedosa. - … quantos filhos desejar.
Consegui finalizar a frase, antes que percebesse como havia me deixado impactado com a sua beleza feminina. Sempre achei linda as mulheres de cabelo comprido, acho que me deixei levar pela surpresa. Recuperado, mantive-me sereno.
Continua...