Continuação…
Pablo
— Desculpe, mas terei que recusar. — Me expressei gentilmente, mesmo assim ela revirou os olhos parecendo irritada. — Além disso gosto de tomar o café da manhã bem cedo, mas não antes de fazer a minha corrida matinal, é claro.
Dei uma piscadela enquanto ela bufava de desgosto.
Guardei o livro precioso na gaveta do criado mudo, vendo seus olhos seguirem os movimentos precisos da minha mão. Fetiche por mãos, Olivia?
No entanto, ao me levantar me espreguiçando, tive que me virar para ela não notar a barraca que formava no meu short, pois sua nudez mexia tanto comigo que me fazia esquecer até do meu nome.
— Por que não está coberta?
Ouço sua respiração saindo de forma raivosa.
— Eu detesto, mas mudando de assunto, soldado. Vai mesmo correr às quatro da manhã? Tem coisas bem melhores para se fazer ao acordar, a prova disso é essa barraca de acampar aí na frente desse seu shortinho.
Completamente encabulado me movi dali onde estava assim que senti suas garras avançando sem misericórdia na minha direção, pronta para apertar minhas nádegas.
— Isso é só a função fisiológica do corpo, todo homem acorda desse jeito. Estou com vontade de ir ao banheiro e…
— Blá, blá, blá… — ditou preguiçosamente, bocejando bem alto enquanto eu, mas distante daquela tentação ambulante terminava de se alongar. — Acha que não percebi que sua tenda se armou assim que me viu? Acorda soldado, não nasci ontem.
Respirei cansado.
— Não mesmo. Minha esposa é esperta até demais.
— Acha mesmo? Nunca… — Não completou a frase, preferiu o silêncio invés de se abrir com o seu marido.
Finalizei o alongamento dos braços e sai logo do quarto dizendo que voltava logo.
— São só uns trinta minutos de corrida, volto para fazer nosso café da manhã querida esposa!
Nada, apenas o silêncio reinou naquele quarto.
****
Assim que passei uns dez minutos de corrida em volta do meu bairro tranquilo, de ruas pavimentadas, cercadas por casinhas que parecem de bonecas, senti uma leve estranheza no ar, e logo essa coisa se materializou ao meu lado feito uma alma penada vestida de roupas de ginástica; top e bermuda de cotton, correndo juntamente comigo no mesmo ritmo. Sem se importar se era bem vinda ou não. Olhei de relance, lançando uma longa repreenda naquela pessoa indesejável.
— Bom dia para você também, Pablo. — Bebeu água do seu cantil, jogando um pouco no seu rosto enquanto suas pisadas ficavam mais suaves.
Aproveitei sua distração para correr mais rápido, mas ela não desistiu tão fácil, e logo me alcançou. Rindo de alguma coisa, da qual eu não achava nenhuma graça.
— O que está fazendo aqui, Solange?
— Correr, ué. Igual fazíamos juntos na época de namoro. Lembra? — questionou com entusiasmo.
— Isso foi há muito tempo.
— Mas você se recorda? — Me lançou um empurrãozinho, fazendo encostar meu braço de relance sem querer no seiö esquerdo dela.
Estagnei olhando para o relógio de pulso, ela fez o mesmo, mas como tinha corrido um pouco mais, voltou a se aproximar. E a sua aproximação me fez ficar com mais raiva dela. Tanto que a olhei de maneira bastante fria.
— O que está fazendo aqui?
Solange revirou os olhos querendo me tocar no ombro, mas desviei a tempo. A cada gesto dela me deixava mais tenso, querendo terminar esse encontro caótico.
— Já lhe disse, vim correr, por que? Não posso?
— Pode, é claro. Vivemos em um país livre. Mas corra fora do meu perímetro, por favor.
Coloquei as mãos na cintura, notando seu olhar ser desviado descaradamente para o meu peitö desnudo.
— Soube que se casou mesmo, achei que fosse um devaneio.
Ela imitou meu gesto, de forma impetuosa, empinando os seiös fartos, mas seus olhares furtivos continuavam direcionados ao peitoral descoberto. Me amaldiçoei internamente por não ter colocado uma camiseta.
— Você sempre soube que esse era meu maior objetivo de vida, portanto não há nenhuma surpresa nisso.
— Mas uma certa coisa me intriga… O bebê que a sua mulher espera, é mesmo seu?
A pergunta me atingiu mais do que deveria.
— Lógico, porque alguém disse ao contrário?! Sou o pai do bebê da Olivia, qual o problema nisso, Solange?
— Me incomoda saber que ela te deu tudo o que não consegui lhe dar.
Respirei profundamente quando seus olhos buscaram os meus. Agora só havia tristeza nela, embora não confiasse cem por cento naquele semblante. Solange era uma grande manipuladora. Umas das coisas que me fizeram desgostar dela.
— Sabe que sou infertil, não sabe? Lembro de ter lhe contado.
— Olha… — Cruzei os braços. — Que eu me recordo, não foi por esse motivo que você não quis oficializar a nossa união.
Ela soltou uma risada triste, secando os cantos dos olhos, como se houvesse brotado lágrimas ali. Uma fingida de carteirinha.
— Vamos fazer o seguinte, segue a sua vida, que eu já segui com a minha faz tempo.
Não esperei por nenhuma reação dela, descruzei os braços e retornei a correr, marcando o resto do tempo que eu tinha. Solange precisava entender, mesmo que fosse na marra. O nós já não existia mais, meu futuro era ao lado da minha Olívia e ao lado daquela criança. Meu filho.
Olivia
Tentei voltar a dormir depois que ele saiu, mas a minha barriga roncava tanto que podia me deixar surda. Rolei de um lado para o outro, tentando pensar em outra coisa além de comida… Imaginei a rola do meu marido, no ponto para sentir em meus lábios a grossura, a textura, a maciez daquela tora de carne pesada… Droga! Tudo era de certa forma comestível.
Sentei na cama, desistindo de continuar dormindo. Olhei em volta e percebi que o soldado não tinha desfeito a cama provisória, o que me fazia pensar que o maridinho que arrumei não era tão organizado assim. Bom, sai do colchão me agachando ali, peguei e dobrei as peças, do meu jeito, não tinha muita prática nisso. Na verdade, não tinha prática em nenhum serviço doméstico. Ajeitei tudo dentro do guarda roupa, guardando até seu travesseiro com cheiro de homem suado. Um perfume de macho, ele tinha um cheiro muito bom, em decorrer fui à sala e peguei umas roupas.
Tomei um banho daqueles, em seguida escutei Pablo abrindo a porta da sala meio abrupto, algo ou alguém o irritava naquele momento. Talvez preocupações com o seu cargo no exército.
Ao fechar o chuveiro escutei ele mexendo nas panelas da cozinha, um tanto irritado.
Terminei de me enxugar, pondo uma roupa fresquinha. Um vestido de alça na cor azul. Depois encarei meu reflexo no espelho, e deduzi que estava de arrasar naquela manhã sem precisar pôr um pingo de maquiagem na cara.
— Olivia, você é muito gata.
Pisquei para mim mesma, jogando beijinho, pronta para mais um embate com aquele soldadinho.
Sai dali quase que saltitante, quando me deparei com aquele homão na cozinha. Ele estava de costas para mim, pensativo, parado em frente a pia, enquanto isso na larga bancada a torradeira fazia o seu trabalho, e a cafeteira passava um café fresquinho. Pensei comigo, que talvez não fosse tão complicado preparar um mísero café da manhã já que os eletrodomésticos faziam praticamente todo trabalho.
— Agora sim. Bom dia soldado.
Pablo se virou todo, mas não deu um segundo e ele veio apressadamente me abraçar.
Fiquei parada, toda dura, sem reação. Enquanto seu corpo grande se encaixava ao meu.
— Obrigado por ter me aceito em sua vida, corrigindo, em suas vidas.
Não sabia o que responder, Pablo se encontrava emotivo demais, mas aí um perfume enjoativo veio dele, queimando meu nariz de uma tal forma que foi impossível disfarçar. Na mesma hora reagi, afastando-me daquele abraço caloroso e inesperado pondo dois dedos em meu nariz ao sentir a profunda repulsa daquele odor de… putä!
— Pablo! — Bati as mãos naquelas montanhas rochosas, impossibilitada de me afastar daqueles músculos nos olhamos profundamente sem entender o que se passava na cabeça do outro.
— Qual é o nome da quenga?
Continua…