Sophia
Como se já não bastasse a minha conversa estranha com meu pai, eu estava em outra situação maluca com Chris, que me encarava. Porém, eu evitei encará-lo; observava o prato à minha frente. LP tinha saído para uma noite, como boas-vindas à Nova York, e já que eu faço o tipo "sem graça", preferi ficar em casa. Até porque fui eu quem pedi para Christophe não sair e ficar comigo ali.
Você é mesmo uma burra. Quanto mais tempo ficar perto dele, mais complicado ficará essa estranha amizade.
— Você não está bem. O que aconteceu? — ele me perguntou, chamando a minha atenção.
Chris havia acabado de chegar do trabalho e ainda estava com metade do terno; a camisa branca tinha alguns botões abertos e seu cabelo bagunçado o deixou ainda mais charmoso. Portanto, evitei fazer contato visual com ele.
— Geralmente, você não para de falar. E sei que tem muito o que falar. Por isso, é estranho não ouvir a sua voz nos cinco minutos em que estamos aqui. — completou.
Com um meio-sorriso, finalmente tive coragem de olhá-lo. Seus olhos castanhos me davam frio na barriga e me deixavam envergonhada por nada.
— Meu pai e eu conversamos hoje. — contei, relembrando a situação bizarra.
— Hum. Então, é por isso. — Levantou uma das suas sobrancelhas.
Chris sabia como era a nossa relação. Foi por esse motivo que sempre me apoiei nele.
— O que ele disse dessa vez?
— Aí é que está. — Eu sabia que, assim como eu, ele ficaria surpreso. — Ele disse que sente orgulho de mim e que foi um péssimo pai por todo esse tempo.
— O quê?! — Eu ri de como ele ficou surpreso e confuso. — É uma pegadinha?
— Achei o mesmo, mas passamos um tempo falando sobre isso e ele me pareceu sincero. — apontei, realmente sem acreditar no que estava dizendo. — Richard até se ofereceu para me ajudar e disse que eu parecia com a minha mãe. Por isso queria que eu fosse como Jessica. Ah... Ele mencionou que minha irmã era insuportável e que isso é culpa dele também.
Nós nos encaramos. Eu sabia o que estava se passando na sua cabeça. Ele e eu ainda estávamos céticos.
— Seu pai está bem ou é uma...?
— Ele disse que estava saudável, que teve muito tempo para pensar e que quer mudar. — expliquei.
— Por isso você está pensativa?
— Confusa. Nunca achei que isso poderia acontecer. E é estranho. Pensei que ele me deserdaria por não seguir seus passos, mas até que foi compreensivo. — confessei.
— Você é maravilhosa. Não me surpreende que ele tenha reconhecido. — Começou a rir do nada. Estava caçoando de mim. — Mentira. Isso é, sim, surpreendente. — ironizou. — Talvez tenha sido por esse motivo que quando fiz aquelas perguntas sobre você, ele não se opôs em me responder, nem disse aquelas coisas que sempre dizia. — pensou.
— Ainda acho estranho.
— É estranho, mas não impossível. Talvez Richard realmente esteja tentando mudar e consertar as coisas com você.
— Depois de tanto tempo, não estou acostumada com essa mudança. Cheguei a pouco tempo e está tudo diferente. — pensei alto.
— É. Até entre nós, certo? — Ao me encarar, ele esperou por uma resposta, a qual eu não tinha. Entrar nesse assunto não era nada bom.
Eu não costumava mentir, ainda mais para ele, porém revelar a verdade i****a do porquê nos distanciamos tanto não era a solução.
— Acho que o tempo mudou algumas coisas, mas nem tudo. — Peguei a taça com a água e a bebi.
Poderíamos estar tomando um bom vinho, no entanto fiz Chris prometer que não tomaria álcool até que voltasse a ser o Christophe que eu conhecia. E se ele não podia, eu não devia. Foi o que ele falou, tirando a garrafa da minha mão.
— Você não falou muito sobre o que aconteceu na minha ausência. Seu irmão e a namorada...?
— Eles se casaram. — Revirou os olhos. — Sei que fui eu quem o coloquei naquele experimento, que insisti e o incentivei a fazer aquela loucura, mas eu não sabia que meu irmão se tornaria um chato romântico. Ele está naquela fase em que acha que a solução para tudo na minha vida é encontrar um amor. — comentou meio que chateado. — Como se fosse fácil.
— O que acha difícil? Encontrar uma mulher que aceite o desafio ou deixar a vida de solteiro e a fila de mulheres que querem dormir com você? — questionei, sendo 50% irônica e estando 50% chateada por falar sobre essa possibilidade. Contudo, sorri e disfarcei o meu incômodo.
Ele me encarou antes de responder. Estava pensativo; eu diria que buscando a resposta certa.
— Não estou mais indo a baladas e saindo com mulheres aleatórias. — argumentou. — Não quero ser mais esse cara; já falei isso. — Acenei com a cabeça, concordando. — É que ele está feliz demais. Sinto falta do meu irmão que me dava broncas. Assim, eu podia infernizá-lo.
— Não respondeu a minha pergunta. — apontei. Confesso que estava curiosa.
— Não odeio relacionamentos. Até seria uma boa, já que minha reputação não é das melhores e eu tenho certeza de que é por causa dela que estou encontrando umas dificuldades com alguns investidores. — Bebeu um pouco da sua água antes de continuar.
Se o conhecia bem, podia ver que ele estava nervoso. O que me deixou curiosa.
Será que há alguém que ele gosta e não tem coragem de falar?
Balancei a cabeça, achando ridículo o meu medo e ciúme repentino.
— A questão não é essa. Eu só não acho que sou alguém que mereça uma pessoa para amar e que vá achar isso tão fácil. Parece que as coisas nunca dão certo para mim. — A última parte, eu quase não ouvi, pois ele falou praticamente sussurrando.
O silêncio tomou conta da mesa por um tempo. Ele encarava o prato, e eu a ele, com medo de dizer alguma coisa errada ou incentivá-lo a buscar por algo que eu queria que fosse comigo. Eu podia até ser um pouco tola, porém compreendia que ele nunca me veria desse jeito. E se, por um acaso, acontecesse, ainda havia o medo de dar tudo errado. E se desse errado, era provável que toda a amizade que construímos por tantos anos pudesse acabar em um piscar de olhos. Por essa razão, eu me sentia em um campo minado.
Meu coração estava quase na boca, pois eu seria a amiga a quem ele recorreria, a quem pediria conselhos amorosos, que conheceria a mulher sortuda e que o veria sendo feliz com outra, enquanto eu, a i****a, apenas assistiria a tudo e lamentaria por não ser eu em seu lugar.
— Você não é uma péssima pessoa e não faz essas coisas por querer. Não deve se culpar. Seja lá o que vá acontecer, penso que se houver a oportunidade, não deve deixar escapar. — Por sorte, bebi um grande gole de água, pensando em me livrar do aperto na garganta. — Então... Como vai a sua mãe? — mudei de assunto.
— Está aqui, em Nova York. Ela não vai embora nunca e fica me jogando indiretas que me deixam com dor de cabeça.
— Ela me visitou em Paris uma vez e reclamou, a todo o tempo, do seu comportamento. — Ri dele, vendo que ele não gostou nada de saber disso. — Ela falou que só eu posso dar um jeito em você, como se eu fosse a sua babá e o colocasse de castigo.
— O linguarudo do meu irmão abriu o bico e a contou sobre Hoper. Ela fez um alvoroço e quase marcou o nosso casamento. — Pôs o copo, com força, sobre a mesa.
Pensei que essa mulher fosse apenas mais uma, entretanto ele não reagiria assim se fosse o caso.
— Depois que terminamos, ela só lamentou.
— Não tem chance de voltar? — perguntei, mais curiosa do que deveria.
— Não. A Hoper me dá calafrios. É mais exigente que você. — comentou, irritado.
— Mas, você gosta dela? — Tive medo de ter demonstrado a minha preocupação na pergunta, principalmente depois que ele me fitou antes de responder. — Ela foi o mais perto de um relacionamento que teve. Acho que é uma pessoa especial.
— Não amo. Nunca amei. Só foi um interesse, uma tentativa i****a de mudar. — Eu me senti m*l por estar tão aliviada. — Você encontrou alguém em Paris?
— Sabe que não.
— Na verdade, não sei, já que me pediu para não ir visitá-la e quase não me atendia. Este jantar é o mais perto que estive de você em cinco anos. — comentou, irritado novamente.
— Saí com alguns homens. — falei só para ver seu olhar de raiva. — Mas não deixei que me fotografassem e colocassem em sites de fofocas.
— Está jogando na minha cara ou me acusando de ser displicente? — pareceu ofendido.
— Acha que por que sou mulher, não posso sair com homens?
— Não falei isso.
— Fico feliz, pois seria um b****a.
— Mas não quer dizer que falar sobre isso me deixe feliz.
Ah, não?!
— Por que não?
Eu gostava de conhecê-lo bem. Quando ele estava nervoso, com medo ou chateado, eu sabia reconhecer isso nele. Ele estava nervoso, visto que me olhou, sem saber o que dizer.
— Você é minha melhor amiga. Não gosto de pensar que pode sair com caras como eu. — foi cauteloso.
— Caras como você?
— Safados, babacas, que podem se aproveitar por uma noite e te esquecer no outro dia. Além disso, imaginar um homem tocando em você não me deixa feliz. Não sei o porquê, ou sei e não quero admitir. Mas você merece alguém que não a queira apenas por uma noite; merece uma pessoa que pense em você a todo o momento, que não se veja sem você nunca e que fará de tudo para a fazer feliz, pois gosta das covinhas do seu rosto quando isso acontece.
Devo admitir que estava surpresa. Não estava esperando ouvir essas coisas. Meu coração i****a simplesmente quis sair pela boca, minhas mãos começaram a suar e eu senti meu rosto arder. Podia apostar que estava vermelha de vergonha. Pior foi quando ele voltou a me encarar e pareceu surpreso pelo que falou anteriormente.
— Não sei se existe alguém assim. — comentei, ainda mexida. — Nunca fui notável. Na maioria das vezes, os caras só olham para os meus p****s e estão bêbados. — confessei, ainda tímida.
— Seus p****s são bonitos, mas não são a única coisa que me chamam a atenção.
— Presta atenção nos meus p****s?! — indaguei, surpresa.
— Quero dizer... Os homens, os idiotas com quem sai, aposto que não olham só para os seus p****s. — Pigarreou.
Mentira. Eu sabia quando ele mentia. Um dos sinais era não olhar nos meus olhos e depois se sentir culpado, pois mentir um para o outro é quebrar a nossa promessa.
— Christophe!
— Eu não olho, juro. Não sou esse tipo de i****a com você. Não penso em você...
— Acho melhor mudarmos de assunto. — falei, irritada. Eu nem queria permanecer nessa conversa. — Já sei que não sou atraente. Não precisa repetir.
— Eu não disse isso. Você é linda...
— Como foi o seu trabalho? — Estava a ponto de jogar o prato, com a massa já fria, no rosto dele.