CAPÍTULO 2

3003 Words
Chris Naquele exato momento eu estava parado na frente de uma das pessoas mais especiais e incríveis para mim, no mundo. Ela era uma espécie de irmã de outra mãe. Bem... Era assim que eu a imaginava antes de sua ida à Europa, deixando-me sozinho e vazio ali por cinco anos. Sophia Reis não era a mais extraordinária e não era perfeita, porém era perfeita para mim. Sim, eu passei todo o tempo sendo um completo i****a, devo reconhecer. Ela tinha um poder subliminar sobre mim. Sem dizer uma palavra, conseguia fazer o que ninguém mais conseguia comigo: controlar o que eu pensava e fazia. Soph era três anos mais nova que eu e nos conhecemos quando éramos crianças por causa da amizade eterna entre a minha mãe e a dela. Confesso que, no início, eu não gostava da menina falante, que tinha olhos escuros e um sorriso doce. Para mim, um garoto b****a que só pensava em achar maneiras de chatear os pais, ter que ficar em uma sala com duas meninas de seis anos, que brincavam de boneca e riam de bobagens, era chato. Contudo, Sophia, desde jovem, era diferente da irmã. Ela gostava de entrar em lugares escondidos, ouvir as conversas dos adultos e ficar na cozinha enquanto eram feitas as melhores comidas que crianças, como nós, amavam: doces. Aos poucos fui me afeiçoando à menina. Ela era uma boa ouvinte e, mesmo falando besteiras às vezes, era engraçada e fiel. Não vi quando nos tornamos tão amigos, mas no ensino fundamental, quando as meninas malvadas queriam zoar com a cara dela, sendo uma delas a sua própria irmã gêmea, eu a defendia. Nunca pudemos estudar o ensino médio juntos, só que era a mim a quem ela recorria quando tinha um problema e não sabia resolver. E, também, eu sentia que podia lhe contar tudo, mesmo ela ficando chateada e me punindo depois. Cinco anos foi muito tempo separados. Acredite: eu pensei várias vezes em visitá-la, m***r a saudade. Todavia, ela sempre encontrava uma desculpa. Cheguei até a cogitar que estava se distanciando de propósito. Pensei que eu tinha feito algo imperdoável para que minha melhor amiga no mundo, simplesmente, deixasse-me. As recusas de Sophia poderiam não dar em nada, pois sempre fiz o que eu queria, mesmo ela recusando, mas no meio disso tudo, dessa saudade e necessidade de vê-la, acabei descobrindo que sempre que eu saía com alguma mulher ou estava sozinho, meus pensamentos iam direto à baixinha de cabelos ondulados, que mexia com o meu coração. Ri de mim mesmo ao pensar que, talvez, estivesse apaixonado por ela. Na verdade, pensei que estava confundindo as coisas e que meu lado s****o estava indo longe demais. Por isso decidi deixar tudo como estava, acreditando que esquecer essa maluquice salvaria a nossa amizade. Nunca, jamais, eu iria deixar que esse desejo e paixão estragasse o único relacionamento verdadeiro que eu tinha. O problema era que no momento, parado na sala, depois das loucuras que fiz, sentia meu peito palpitar e minhas mãos suarem. A raiva por não saber que ela voltaria era a camuflagem para não deixar o cretino dentro de mim acabar com tudo nos vinte minutos do primeiro tempo. — Como...? Como chegou aqui tão rápido? — ela me questionou, pondo as mãos na cintura e levantando o nariz, como sempre fazia quando queria demonstrar firmeza. Estava com saudade de ver suas bochechas fofas ficarem rosinhas e seu rosto de traços simples e delicados ficarem furiosos, mesmo isso sendo um disfarce para ela não sair por baixo. — Como...? — Sophia, eu não... — Uma outra mulher, de cabelos castanhos com pontas rosas, alta e esguia, quase pelada, saiu do corredor e parou praticamente na nossa frente. Eu sabia quem era ela, e devo admitir que era muito bonita, porém, o que antes seria um prato cheio para mim, naquele instante eu só conseguia ver uma mulher comum com os p****s de fora, que não despertou o desejo do meu instinto s****o. Pensei que fosse por causa do minúsculo ciúme que eu sentia de Sophia. Laura era como uma versão europeia e feminina de mim, e isso não me agradava. Soph e eu tínhamos algo especial, e mesmo achando ridículo tudo isso, ainda me deixava chateado. — LP! — reclamou Sophia. — Cadê as suas roupas? — O que ele está fazendo aqui? Pensei que não tinha avisado que estava vindo... — É, ela não avisou. E isso ainda me irrita. — Encarei f**o a minha melhor amiga, caminhei até a ilha da cozinha e coloquei sobre ela a caixa de pizza que havia trazido do meu apartamento. — Desculpa, LP, mas quero conversar a sós com minha amiga. — Peguei Sophia pelo braço e, praticamente, carreguei-a até o elevador. Ela se manteve calada durante esse tempo e eu... senti como se minha mão formigasse, só porque estava tocando nela. Por dentro me martirizava. Não sabia o que estava fazendo ou como iria parar o turbilhão de sentimentos idiotas que estavam pondo tudo a perder. Sophia era a minha amiga, a única no mundo que eu tinha e em quem confiava. Mas eu estava confundindo as coisas. Era para ter dado certo com Hoper. Ela era linda, inteligente e me prendia a atenção. Poderíamos ter sido um casal. Talvez, assim, eu me esquecesse de tudo isso. As portas do elevador se fecharam e eu apertei o número da cobertura. — Por que ela veio e por que estava quase nua no seu apartamento? — Como soube sobre mim? — ela perguntou, ainda pensativa. — Para onde vamos? — Dá para responder as minhas perguntas? Você já está com um saldo negativo comigo. — Não queria ser rude, ainda mais com alguém que amava tanto, porém essa era a única coisa que me impedia de mostrar a confusão emocional dentro de mim. — Tive que descobrir por um acaso, quando a b****a da sua irmã soltou uma indireta para mim em um evento. Depois tive que falar com seu pai, que não gosta nem um pouco da nossa amizade e de mim; ainda mais agora, com a fama que ganhei. — Você perguntou ao meu pai!? — indagou com o cenho franzido, a voz aguda e de cara fechada. — Que tipo de maluco é você? — O maluco aqui se importa se sua melhor amiga está de volta à Nova York depois de cinco anos. — respondi, rude, encarando-a. Também pus as mãos na cintura. — Você mudou. Notei isso nos seis primeiros meses depois que foi para a Europa. Não quis que eu fosse visitá-la, odiava as minhas ligações e me substituiu. Agora volta ao país e nem me diz nada. Que espécie de pessoa faz isso? E, por favor, fale o que eu fiz de tão r**m para você agir dessa forma? — Por que está brigando comigo por isso? Eu queria fazer uma surpresa. E quem disse que substituí você? Quando a porta se abriu — algo que não demorou, pois só estávamos a um andar do dela — ainda estávamos nos encarando e bem chateados. Assim que ela percebeu, olhou para o apartamento com estranheza. — Por que estamos aqui? Invadiu outro apartamento? — Não invadi seu apartamento. Eu sabia que estava lá. E este é o meu apartamento. — Saí do elevador tão irritado quanto antes. Esse era o poder que ela tinha: fazia eu agir como nunca agiria com outra. — Por que Laura está aqui? — Isso não é da sua conta. — Cruzou os braços. — Posso saber que história é essa de você ser meu vizinho? Respirei fundo, pois não queria brigar. Odiava brigar com Sophia. Ela era como uma metade de mim. E, sim, isso me assustava e me amedrontava. Um conflito não era a solução e, no momento, eu estava mais com saudade dela do que raiva. — Soph, você é uma das pessoas mais importantes para mim, no mundo. Eu sempre fui um bom amigo, certo? Cometi algum erro? Diga alguma coisa, me acuse de algo. Pois já faz cinco anos que não nos encontramos, e agora, que está de volta, você se esconde de mim. — Você não fez nada. — abaixou a guarda, vindo em minha direção. — É que eu estava me concentrando e... Uma coisa que me deixava mais furioso do que aquela estranheza entre nós era saber que ela estava mentindo. Sophia sabia que eu podia notar quando ela mentia, e por isso ficou em silêncio. Pensei que estivesse tentando arranjar outra desculpa. — Desculpa. Não estou fugindo de você, só não avisei porque queria fazer uma surpresa, tipo daquelas que estamos conversando ao celular e aí eu apareço do nada, surpreendendo você. Desviar do assunto foi a sua escolha. Eu não tocaria nele novamente e o deixaria para quando estivesse confortável. Pressioná-la era como tentar abrir uma panela de pressão: não dava para abrir sem fazer um estrago caso não tivesse paciência de esperar. — Estraguei a sua entrada triunfal? — Coloquei um sorriso no rosto, sabendo que ela estava chateada. — Acho que dei o troco. — Por que este é o seu apartamento? — Estava com saudade da garota curiosa. Eu gostava de surpreendê-la. — Tenho que ficar com medo por ter se dedicado tanto para me surpreender? — Comprei há dois dias. E não acho que deva se preocupar. Eu gosto de fazer as coisas por impulso, e assim poderemos ficar mais tempo juntos. — Depois que eu disse a frase em voz alta, notei que falei demais. — Claro... Após tanto tempo, acho que essa é uma espécie de casa da árvore moderna. Poderemos conversar longe daquela substituta i****a que você arrumou. — O quê?! — soltou, rindo de mim. — Não fale assim da LP. Ela não é uma substituta, nem i****a. — Ela estava seminua na sua sala. Acha que isso é normal? — Saí da sua frente, julgando-me por ainda estar falando. — Quando eu falar sobre os meus maiores erros, não quero que ela saiba. Só você pode saber. — Christophe! — Eu até já sabia o que ela iria dizer. — Todo mundo sabe sobre seus erros. Tem uma coletânea de reportagens e sites de fofocas que fizeram questão de documentá-los. — debochou, fazendo-me rir de mim mesmo. — Ela não é uma substituta. Não tem como achar um segundo Christophe Morson. — Sou único na sua vida? — Foi ironia, mas gostei de ver seu olhar julgador. Peguei um copo d’água, tentando achar alguma coisa que me deixasse menos nervoso. É impressionante como me torno um t**o perto dela. — Espero que sim. — comentei baixinho. — Está perguntando se tenho namorado? — Pôs seu pequeno corpo esbelto quase em cima da ilha da cozinha, onde eu estava bebendo o copo d’água devagar, tentando achar uma maneira de não parecer que estava sondando a sua vida. — Acha que alguém como eu teria um namorado facilmente? — Você é linda, inteligente, engraçada e muito mais. São os caras que são burros por não verem isso em você. — Eu a encarei, mas não foi nada bom, porque quando estávamos muito perto e ela olhava para mim daquele jeito, parecia que podia ler a minha mente e descobrir o que eu mais tentava esconder. — Fico feliz por nenhum i****a ter visto ainda. Seria desconfortável eu não saber quem é o i****a e ter que mandar investigá-lo. Saberia disso, pois não sou nada discreto. — Acho você um estranho. — Fez eu rir de novo. — Não preciso disso agora. Acabei de voltar e tenho planos para o meu futuro. Relacionamentos só vão atrasar tudo. — Eu concordo. Portanto, se concentre e faça o seu trabalho. — É sério que você é meu vizinho? — questionou, desconfiada. — Não é meio estranho? — Vou ter a oportunidade de sempre ver você, e sei onde vai estar quando eu precisar. Não gosto da ideia de você ter trazido junto uma estranha que conhece só há cinco anos. — brinquei, mas nem tudo foi ironia. — Pare de implicar com a LP. — pediu. — Ela vai ser a minha sócia aqui, em Nova York. Mas antes vou trabalhar na cozinha de um restaurante em Manhattan. Não tenho o dinheiro todo e não vou me precipitar. — Precisa de investimento... — Não, preciso do meu dinheiro. Então, só escute. — interrompeu-me. Soph era muito diferente da irmã, Jessica, que não se cansava de sugar o dinheiro do pai, mas eu achava muito orgulho da sua parte não aceitar uma ajuda. — Não vai demorar, e ainda tenho que planejar tudo certinho. Mas, mudando de assunto... Por que não deu certo com aquela... bonitona cientista? — Ela estava falando da Hoper. Minha tentativa de esquecer Sophia que não deu certo, pois não era Hoper que eu via todas as vezes que a beijava. Na verdade, a personalidade parecida com a de Soph era o que me atraía nela. Mas depois que bebi duas doses de Bourbon e passamos a noite juntos, vi, por alguns minutos que pareceram intermináveis, a imagem de Sophia. E foi tão bom, que não consegui parar. No fim, eu me senti culpado, um completo i****a. Então resolvi acabar antes que eu estragasse tudo. Hoper não merecia isso. Por esse motivo era difícil olhar nos olhos de Sophia assim, tão de perto. Fazia eu me lembrar daquele dia. — Não tínhamos muito em comum, e ela sabia que eu era um b****a. Não estava esperando um pedido de namoro. — respondi com meias-verdades, pois assim como eu sei quando ela mente, ela tem esse poder comigo. — Acho que foi um erro e exagero meu ter vindo morar aqui. — falei ao me afastar. — O quê?! — Ela veio atrás de mim. — Por que está dizendo isso? — Achei que seria uma boa ideia, mas estou indo longe demais, e você precisa de um tempo para voltar à rotina de Nova York. Não precisa de mim... — Você tem algum distúrbio? — Foi rápida em tomar a minha frente e me impedir de ir muito longe. — Você faz tudo isso e, agora, quer ir embora? Fiz algo que o chateou ou só achou chato ser meu vizinho? Não queria dizê-la que estava com medo de ficar e perder a cabeça, confessar o que sentia. Mentir não era a melhor opção. Não dava para a enganar ou construir uma desculpa do nada. — Quer que eu fique? — perguntei, nervoso. Eu não era um covarde e odiava me ver nessa posição, porém não era um simples medo de errar, era medo de errar com ela. Estragar tudo com Sophia seria a pior coisa do mundo. — Seria bom ter você por perto, ainda mais com os meus novos desafios. — Ela evitava me encarar diretamente, e eu agradeci por isso. — Sabe como sou indecisa. E passei tanto tempo fora... Estou com saudade. Mas se quiser ir, eu não posso impedi-lo. — Também estou com saudade. — confessei. Não percebi quando ela me abraçou. Fiquei surpreso e aliviado. Queria ter lhe abraçado desde que a vi em carne e osso. Sentir seu corpo tão perto, o perfume no seu pescoço e o calor que mais parecia um incêndio me deixou completamente instável. Isso não era para acontecer. Ela era a minha amiga, minha melhor amiga, quase uma irmã mais nova. Então, todo esse turbilhão de sensações e sentimentos me deixava perdido. Não seja i****a, é só um abraço. Você não é apaixonado, só sentiu saudade, falta de estar com ela. Não confunda as coisas. — Prometa que não vai mais a essas baladas, que não vai sair com uma mulher a cada noite e que vai parar de beber como um alcoólatra. — Afastou-se um pouco, encarando os meus olhos. Ela não estava me dando um conselho, estava exigindo. — Prometa! — Não sou um alcoólatra. — defendi-me. — Só bebia para passar o tempo. E eu só saía com uma a cada noite porque bebia. Em meu estado normal, nunca faria isso. — Ótimo. Mas eu quero que prometa. Sabe que promessas não podem ser quebradas. E se for, vai se ver comigo. Dava para perceber quando ela ficava irritada, por causa das suas bochechas avermelhadas e do olhar de durona. — Prometo que não toco em um gole de álcool e que não vou sair com mais ninguém, só com você. — Revirei os olhos e respirei fundo. O pior é que ela não levou fé no que falei, então peguei o seu dedinho e o entrelacei ao meu. — Prometo. O sorriso que eu mais gostava, apareceu, dando às suas bochechas fofas duas covinhas. — Seu fígado e todos os outros órgãos agradecem. — debochou. — Espero que tenha uma boa alimentação acompanhada por hábitos saudáveis. — Se tornou nutricionista em Paris? — Levantei uma das sobrancelhas. — Você vai ser o meu provador de doces. Preciso que esteja saudável, pois penso em um longo cardápio. — Ela nem deixou que eu dissesse mais nada, andando até o elevador. — Vai sair hoje à noite? Não importava o quanto eu repetisse na minha cabeça que ela era só minha amiga, porque sempre que eu a olhava, não conseguia parar de desejá-la. Ainda mais agora, quando está tão linda. — Fui proibido de beber e de sair com mulheres. Acho que não tenho muito o que fazer. — brinquei. — Ótimo. Vamos ter tempo para conversar mais. — As portas se fecharam, levando-a embora para o andar de baixo. Fiquei encarando a saída, pensando no que faria. Sempre tomava decisões antes de pensar muito bem. Ir para aquela cobertura parecia uma boa ideia. Realmente achei que seria. Porém, vi que estava morando a alguns metros da pessoa que mais amava no mundo. Meu medo era esquecer o quanto eu me importava com ela, deixando o desejo falar mais alto, e pôr os pés pelas mãos.
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