— Luara Cavalcanti —
— Eliza? – Indago, nervosa. Ela me olha e respira fundo, como se tivesse aliviada, logo me surpreendo com um abraço. É pecado tocar em outra pessoa, segundo minha tia e todas as leis do Convento? Era. Mas eu não gostei de ver a Eliza daquela forma, logo a retribui com um abraço apertado e carinho nos cabelos.
— Oi, Freira. – Ela ri tristonha e continua – Pega meu celular, preciso ir embora, eu me perdi aqui, vim ficar com um carinha e ele me deu um perdido. Pega o meu celular e liga pro meu irmão, por favor.
— Como assim você ficou? Carinha? Perdido? Do que você tá faland...– Ela me entrega um aparelho grande que deduzo ser um celular, já vi um desses numa revista que peguei escondido da Irmã Luzia, é bem legal de perto, mas não sei mexer. – Eu não sei mexer nisso. – Empurro o aparelho pro seu colo e ela me olha assustada, logo após explode numa gargalhada. Fico magoada pela forma como ela riu de mim e me levanto pronta pra ir embora.
— Calma. Como é seu nome? Como assim você não sabe mexer num celular? Não sabe o que é ficar e afins? Você ficou quanto tempo no Convento? – Ela tagarela sem parar.
— Meu nome é Luara, mas pode me chamar de Lua e eu não sei o que é ficar, nem mexer em celular. Morei 12 anos no Convento e nunca pisei o pé pra fora. – Digo dura e ela se espanta. Será que fui grossa demais?
— Vamos pd minha casa? Lá eu te ensino algumas coisas. – Ela diz batendo palmas e sorrindo.
— Não podia nem sair do meu quarto, quanto mais ir pra sua casa, se minha tia descobre, eu tô perdida. – Digo fazendo bico, eu queria muito sair pra casa dela, conhecer novos lugares....
— Vamos, Lua! Prometo te ensinar muitas coisas e voltar com você antes mesmo da sua tia acordar. – Diz ela com expectativa. Acho que não faz m*l, assinto e ela liga para o irmão chamado "Bradock"
— Vamos, Lua. Meu irmão já tá chegando! – Ela abre um sorrisão contagiante e eu sorrio junto.
— É rápido, hein? Eu não posso demorar. – Murmuro e de repente bate curiosidade. – Eliza, porque seu irmão se chama Bradock? – Pergunto pensativa e ela cai na gargalhada de novo, olho pra ela divertida, rindo junto.
— Não Lua, não é nome, é apelido que demos a ele. Seu nome é Luara, sua família te chama de Lua, certo? Então, seu apelido pros próximos é Lua, é a mesma coisa com Bradock. – Na hora que eu ia responder, uma carro bem grande e branco para do nosso lado, Eliza me puxa pela mão e me coloca dentro do carro e entra logo em seguida.
— p***a, Eliza! Tá de s*******m, cara? Me fez sair do morro, da minha cama, meu dia de folga pra fazer eu te buscar das tuas farras? Toma juízo, garota! – O tom de voz do tal Polegar é rouco e mandão, não sei por qual motivo, mas me arrepio da cabeça aos pés ao ouvir e me encolho no canto.
— Vai se f***r, Bradock! Não me enche. Você tá sempre quieto, quase nunca fala nada e quando fala é pra atazanar minha mente? Vai comer uma mulher! – Ela diz isso e eu olho os dois brigando, alternamente.
— Me respeita que eu sou mais velho, p*****a! Te estouro na p*****a e com você eu falo o tempo todo. – Ele diz com o rosto fervendo. – Agora me conta, quem é essa múmia aí? Ela não fala? Não tem boca? – Olho abismada para ele. Múmia?! Que i****a!
— Ei. Como assim múmia? Por que tá me chamando assim? – Olho frustrada e ele permanece sério.
— Polegar, não provoca, ela tá sendo criada pra ser freira, morou 12 anos no convento e saiu de lá tem poucos dias, não sabe nada da vida. – Eliza diz pro seu irmão e eu fico apenas observando a paisagem do lado de fora.
— Impossivel ela não saber nada da vida, Liz. Ela pode ser ingênua, mas alguma coisa ela deve saber. Já beijou na boca, menina? – Fico pensativa, nunca beijei como meus pais beijavam, mas eu tinha um amigo que quando fui embora ele me deu um beijo na boca e desde então, nunca mais falei com ele.
— Bom, eu nunca beijo como os meus pais se beijavam, com língua e tudo mais. Mas, quando eu fui embora pro convento, eu tive um amigo que me deu um beijinho na boca. – Meu rosto esquenta. – Acho que só, nunca mais tive contato com nenhum garoto. Mas no Convento, diziam que abraçar, beijar, e fazer outras coisas que eu não sei, nos tornaríamos impuras.
— Como assim impuras? Beijar, abraçar e s**o todo mundo faz! Todo mundo pode ter um namorado e se apaixonar. Faz parte da vida, somos um só, temos que aproveitar o máximo possível. Tira essas coisas da sua cabeça que não fazem bem. – Eliza diz revirando os olhos e Bradock permanece serio.
— Ah, ok. Eu também sempre quis ter uma família igual aos meus pais. Quando fui pro Convento, sempre soube que tinha algo errado e que eu não nasci pra ser freira. – Fico pensativa e a Liza ri.
— Isso aí, Lua! Vou te ensinar a fazer muitas coisas e logo mais você vai morar comigo, se sua tia maluca souber de nós, ela vai te trancar e não vai te deixar sair, então boca fechada. Vamos tomar cuidado. Gostei de você!
— Eu também gostei de você, Eliza. – Sorrio. E assim sei que nasceria uma amizade linda.