Capítulo 2

1293 Words
— Luara Cavalcanti — — Do canto esquerdo, é o meu e o seu quarto. Seu quarto ficará próximo ao meu, e essa porta à frente do meu quarto, é o banheiro. No seu quarto, comprei algumas roupas apropriadas pra você, presente de 18 anos. – Ela dá um sorriso falso, sem mostrar os dentes – Irei para o meu quarto, o almoço será servido pela Lena às 13h da tarde, esteja pronta, logo após você poderá descansar caso eu não precisar da sua ajuda em casa. Agora são 12:25, você tem 35 minutos para se ajeitar e vir almoçar comigo, horário de almoço não será servido depois das 13h, esteja pronta.  Ela sai de perto e vai pro quarto. Observo os cômodos e vou pro lado esquerdo da sala que tem uma porta, abro a mesma e me deparo com uma mulher nova até, bonita porém descuidada, deve ter lá seus 40 e poucos anos, fazendo o almoço. Ela me olha, dá um sorriso e volta a fazer a comida, deve ser a tal Lena e pelo que eu vi, ela não é muito comunicativa.  Saio dali e decido ir ao meu quarto, passo pelo corredor e entro no pequeno cômodo com a cor branca, uma cama de madeira com um colchão fofo, um guarda roupa antigo de madeira, um criado-mudo de madeira e uma penteadeira em frente à minha cama de madeira também, acho que Helga tem apreço a decorações rústicas. Dou um risinho abafado. Vou em direção ao guarda roupa e abro o mesmo, me deparo com muitas roupas escuras, torço o rosto numa careta. Vestidos longos com mangas longas, saias jeans até o pé com casacos pretos, moletom marrom, calça jeans largas com a cor desbotada e grande blusas com mangas longas, opto por vestir uma vestido longo com mangas longas e um sapatênis preto já que eu não tenho muitas opções, pego uma toalha e vou para o banheiro. Tomo banho por uns 10 minutos com água fria, molho os cabelos e passo um sabonete inodoro no corpo. Ao ouvir minha tia gritar, desligo o chuveiro e saio do boxe desesperada, ponho minhas roupas íntimas e meu vestido, penteio meu cabelo e faço um coque nele, calço meu sapato, estendo minha toalha no gancho e saio do banheiro correndo à cozinha.  — Até que enfim, menina. Achei que tivesse morrido naquele banheiro. – Minha tia diz irritada e eu me contenho, meu prato já está feito, é sopa de legumes. Como silenciosamente e a observo falando – Após comer, vamos ao mercado fazer algumas comprar que estou precisando aqui para casa. — Assinto já terminando de comer, ponho meu prato na pia e saio para escovar os dentes. Volto alguns minutos depois, titia já está pronta pra irmos ao mercado, ela pega sua bolsa de ombro e vamos andando para o mercado que fica +/- uns 15 minutos andando, eu não reclamei, adoro andar e é bom conhecer o ambiente, mesmo sendo completamente deserto. Chegamos no mercado, acho que era o maior pela região porque estava cheio, e até que era movimentado, as pessoas estavam com a parte do corpo descoberto, olho com espanto enquanto elas também me olhavam da mesma forma, uns cochichavam e outros riam, eu não entendi mas preferi ficar quieta.  Titia me pede para procurar Ades e pede pra eu ficar a vontade na hora de escolher sabor, sorrio e ando distraída em busca do tal Ades, depois de 5 minutos rodando as fileiras do mercado, encontro junto com outras bebidas que eu não conhecia, olho atentamente aos sabores e sem querer esbarro com uma moça bem bonita com uma garrafa de vidro na mão e o líquido transparente, olho para ela e depois para garrafa, era algo parecido com "Smirnoff", acho que é uma agua diferente, já que é transparente.  — Poxa, colega, olha pra onde anda. – Ela diz me olhando de cima a baixo. — Você é freira? – segura o riso e eu assinto. — Deu pra perceber, sua roupa é horrorosa. Quantos anos você tem? 35? – arqueio as sobrancelhas. — N..n-ão, tenho 18 anos. E minha tia quer que eu seja freira, tô treinando pra isso. – Olho retraída, e depois desvio o olhar. — Vamos Eliza, não temos muito tempo. Já peguei o Big Apple, o Relíquia tá esperando nós lá fora. – Ele diz olhado pra nós e quando me vê, arqueia a sobrancelha, sinto meu rosto ficar quente e abaixo a cabeça. Esse moço é bem bonito.  — Sua tia quer que você seja, mas e você? Você quer ser? Você parece ser legal, mas suas roupas são horríveis pra gente da sua idade, tem 18 anos e deveria se cuidar mais. Vou indo, nos esbarramos por aí. – Ela sai com o moço bonito e ele permanece me encarando e logo some da minha vista. Fico confusa, como assim "eu quero ser?", eu não tenho opção. Pego um Ades de pêssego e uva, vou em direção a fileira que minha tia se encontra.  — Você é lenta demais, Luara. – Ela diz indo pro caixa pagar a mercadoria. No caixa ao lado vejo a menina que me parou, ela parece tão contente com suas roupas curtas e seus rabiscos no corpo, o olhar dela se cruza com o meu e eu dou meio sorriso, ela pisca pra mim e sai do mercado. Volto pra casa com esses pensamentos na cabeça, se o mundo é tão injusto e as mulheres que exibem seu corpo são pecadores e impuras, porque ela veio tentar me ajudar e foi legal comigo? Eu gostei dela, queria ter uma amiga, me sinto muito sozinha. Vou pra minha casa e agarro meu travesseiro já na minha cama. Será mesmo que eu não sou obrigada a ser freira? Titia diz que eu não tenho escolha, mas meu coração diz que eu posso ser uma profissional como mamãe era.. Adormeço com esses pensamentos.  Acordo, e noto que já escureceu, busco um casaco e uma calça de moletom larga e vou ao banheiro tomar banho, lavo meus cabelos e decido deixá-los soltos, nunca deixei solto, apenas para dormir no meu quarto no Convento sozinha. Desço para sala e a mesa já está posta, decido esperar por titia mas ela não aparece, como estou com muita fome, me sirvo da sopa que a Lena fez e ataco tudo, na hora de tirar o prato da mesa, Helga me puxa pelo braço com muita brutalidade. — Por que não me esperou para jantar? Por que não foi lá em cima e me chamou? Ninguém janta sem mim nessa casa! – Ela diz com muita raiva, me puxa pelos cabelos e vai em direção ao meu quarto comigo, me joga no chão e fecha porta trancando logo depois. Meu Deus, o que eu fiz?  Titia está magoada comigo.  Choro baixinho e adomerço no chão do quarto. Acordo no meio da madrugada com muitos zumbidos na parte de fora da casa, forço minha vista pra enxergar que horas são e percebo que é apenas 23:00 da noite. Abro a janela do meu quarto com delicadeza e vejo uma menina com a pele branquinha, baixinha e com um cabelo enorme sentada encolhida na calçada chorando, me dá um aperto no peito e eu sinto necessidade de ir até lá e dar um abraço.  Pego o banquinho da penteadeira e posiciono na frente da janela, com cuidado dou um pulo pra fora da janela e por pouco, não caio com a testa no chão. Vou andando com passos lentos até a menina que ao me notar, se encolhe e chora ainda mais. Me agacho na sua frente e quando reparo, pude perceber que é aquela menina do mercado. — Eliza?
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