Capítulo 4

1652 Words
— Luara Cavalcanti — Chegamos em um lugar que eu não sei onde é, as ruas aparentam ter pedras no chão, espécie de retângulo, observo assustada alguns homens rodando com a arma atravessada nas costas, mulheres com roupas curtíssimas, crianças jogando bola na rua... Sorri observado aquilo tudo, bares, lanchonetes e outros comércios. O irmão da Eliza passa direto e muito rápido sem dar pra ver quase nada. Chegamos em uma casa que tinha um portão branco e elétrico que se movia com um controle, a faixada tinha muros altos da cor amarela. Na parte de dentro fiquei encantada, era uma casa dúplex. No segundo andar, tinham duas varandas de quarto com persianas enormes. Na parte de baixo tinha um caminho com pedrinhas e um jardim bem fofo, tinha pilastra de mármore que sustentava o segunda andar e pequenos degraus com uma calçada estreita para porta central que era grande e feita por uma madeira clara, com uma maçaneta prateada. Na lateral da casa tinha uma piscina enorme e bem do lado uma outra ponta que descendo a rampa, dava numa garagem. Olhei com a boca aberta a Eliza riu de mim. Entramos na garagem e tinha muitos carros e motos, eles devem ser podres de rico, o tal Polegar estacionou e saiu, acompanhamos. Assim que eu o vi, paralisei. Era o homem mais bonito que eu já tinha visto em toda a minha vida! Ele tava há uns 5cm longe de mim, me olhou dos pés à cabeça e eu fiquei vermelha, com o rosto queimando, depois olhou bem no fundo dos meus olhos e sua expressão era vazia. Ele tinha a barba um pouco grande e um brinco no nariz, arqueei as sobrancelhas e o vi sumindo da minha vista, devo ter dado um susto nele com minha feiura. Tomei um outro susto quando a Eliza pegou na minha mão e me puxou para dentro da casa dela falando, mas eu não prestei atenção em nada, o irmão dela ainda estava na minha cabeça. Tão bonito, pena que é um bruto sem coração. — Você tem que aprender muitas coisas, Lua. Não é pecado você andar de roupas curtas, não é pecado você querer uma vida fora da Igreja. Você pode ter uma vida normal e ir as missas aos domingos, porque não? Sua tia te força, te esconde, você deve pensar nisso. – Olhei com espanto. Oi? Como assim? — Eliza, vou pro meu quarto, qualquer coisa chama. – Ela assente e acena com a cabeça pra mim, fico vermelha e encaro meus pés. Não sei porque tenho essa sensação com ele, esse frio no fundo da barriga, coisa estranha, será que estou doente? — Lua, presta atenção em mim, poxa! Não é pecado viver fora da Igreja, sua tia quer te manter em c*******o. Não é pecador sair na rua com roupas curtas, é verão, todas as pessoas fazem isso! Você tem 18 anos, precisa curtir sua liberdade, sua juventude, precisa trocar de roupas e ser feliz. – Ela passa o restante da noite me contando o quanto a vida é uma caixinha de surpresas e que eu não preciso viver na Igreja para ser uma pessoa abençoada. Aprendo muitas coisas com Eliza e descubro que amizades é isso, amizade é união, é compaixão e que também não é pecado encostar, abraçar. Não quero voltar para casa da Helga, Eliza me mostrou tantas coisas legais na internet, que agora eu sei o que é e amei. Como vou conseguir viver longe disso sendo proibida de tanta coisa? Me sinto uma perversa, bem no fundo. — Liza, não quero voltar pra casa dela. – Abraço-a e encosto minha cabeça em seu ombro. — Fica aqui comigo, Lua. Você sabe que pode ficar. Tô feliz em poder te ajudar, em ser sua amiga. – Ela retribui meu abraço e afaga meus cabelos. — Não quero ser um incômodo. – Choramingo. — Você não é um incômodo, para com isso! Aquela bruxa quer te manter presa, mas isso não vai acontecer. Prometo. — Obrigada, Liza. Acho que descobri em somente uma noite em como o mundo pode ser bom, mas não sei se minha tia deixa eu sair de casa. – Olho e dou um sorriso triste. Ela traz um sanduíche com coca cola, eu nuca tinha comido uma coisa tão gostosa. Vimos um filme que eu nunca tinha visto e dormimos, sem nem perceber. *** Acordo e reparo que estou na casa da Eliza, me desespero com os olhos arregalados, corro pro quarto pra fazer minhas necessidades e desço voada pra ver se encontro minha amiga. — Meu Deus! Minha tia vai me m***r. Tem misericórdia de mim, Senhor! – Grito desesperada e junto minhas mãos em forma de oração olhando pro céu. Ouço um baralho e desvio minha atenção pra cozinha, me assusto em ver o irmão da Lua comendo um sanduíche e sem blusa. Meu coração acelera. — Oh... Des-desculpa. Bom dia. – Ele me olha cima a baixo com apenas um moletom uma blusa de alcinha, acena a cabeça e vira as costas. Esse homem só sabe acenar a cabeça? Ele não tem língua? Não fala? O acompanho pensativa, preciso voltar pra casa e Eliza não tá aqui. — Olha, perdão incomodar mas eu gostaria de saber se você pode me levar para casa. Minha tia vai me bater muito. – Olho pra baixo e ele faz careta pensativo. — Cadê Eliza? Por que veio pra cá se não pode? p**a que pariu, ein! Dá próxima vez pensa bem antes de vir, tenho obrigações, não da pra ser seu motorista particular. – Ele fala e eu dou de ombros. Que homem bruto. Ele sai e volta com uma blusa. – Vamos logo antes que eu meta o pé pra rua e te deixe aí. – Sigo ele até o carro e vou na parte de trás. — Você é bem bruto, né? Grosso e ignorante. — Olha, aprendeu novos adjetivos, to vendo que a Liza te ensinou bastante coisa durante a noite. – Ele disse irônico. — Posso vir do Convento, mas não sou i****a. – Rolo os olhos e permaneço quieta. Não falamos mais nada em todo o caminho, chegamos na minha casa, agradeço correndo e saio. Ao chegar perto da janela do meu quarto que antes estava aberta, agora encontra-se fechada, engulo seco e absorvo toda coragem do mundo pra bater na porta da frente. Quando minha tia me vê, me puxa pelos cabelos e me dá um t**a no rosto, arregalo os olhos. — Tá ficando louca? – Grito sentindo outro t**a. — Garota, eu falei para não sair! Não quero você saindo, escutou? E por que está gritando comigo? Ficou maluca? – Puxa mais meus cabelos e eu n**o. – Ficarei te olhando 24h. – Ela fala e sai. Corro para meu quarto chorando, ela me bateu! Não poderei mais ver a Eliza! Agarro meu travesseiro tentando encontrar uma solução e adormeço. Acordo e olho pra minha escrivaninha com um relógio sobre ela, noto que são 18:30 e que faltam 30min pro jantar, levanto e vou pro banheiro tomar banho, minha cara está inchada de tanto chorar e meu rosto tá vermelho, fico cerca de 15 minutos sentindo a água morna pelo meu corpo, saio do banho e visto uma saia jeans até a canela, um casaco fechado vermelho e meu sapatênis, essa roupa é h******l em comparação com as roupas da Liza, lembro dela e fico triste. Será que ela vem me ver? Não sei chegar na casa dela. Ouço os gritos da bruxa, como diz Liza, e vou até a cozinha. — Coma essa comida! Estou de saída. – Ela pega sua pequena bolsa e aponta para o prato. – Se pensar em sair, vai se ver comigo. — Mas para onde você vai, tia? – Pergunto colocando um pouco do arroz com feijão na boca. — Para nenhum lugar que te interessa. – Empina o nariz e sai andando. Essa mulher tem problemas, penso. Ao acabar com minha comida, subo para o meu quarto e me assusto ao ver Eliza montada em um moto preta, muito bonita. Aproximo-me da janela rindo. — Sua louca, o que está fazendo aqui? — Estamos parecendo casal de adolescente que saem escondido na madrugada. – Ela ri e pisca. — Casal tipo minha mãe e meu pai? – Indago. — Sim, Lua. É quando duas pessoas se apaixonam uma pela outra e namoram. Fazem muitas coisas boa juntos, quando você descobrir, vai saber quem é essa pessoa especial. Agora vamos pro Morro, comprei umas coisas para você! – Ela abre um largo sorriso e eu encaro o chão. – Que foi, Lua? — Helga está no meu pé, não posso sair, ontem ela me bateu! E se ela quiser me levar pra longe de você? Você é minha única amiga, não quero te perder como aconteceu com papai e mamãe. – Com os olhos marejados, permaneço encarando o chão. Ela sai de cima da sua máquina e vem em minha direção e como a janela é baixa, ela levanta meu queixo e me olha. — Tá bom Lua, vou te dar um celular e o carregador, seu chip é de conta, pode mexer nas suas redes sociais e me mandar mensagem. – Redes sociais? Mensagem? Eu nunca nem toquei em um telefone, como ela quer que eu mexa assim? Ela parece pensativa e ri. – Esqueci que você é novata nessas coisas. Aqui já estão baixados algumas coisas, w******p e f*******:. Pesquisa sobre eles que você vai descobrir. Quando eu te mandar mensagem, você clica, desbloqueia e me responde. Prometo que vou voltar mais vezes pra te ver e daqui uns dias te levar pra minha casa, agora vou embora. – Ela sobe em cima o e sai dando um tchauzinho com a mão. Faço a mesma coisa que ela e fecho a janela.
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