Fui para casa ainda petrificada por aquelas palavras, eu nem consegui chorar com a perda da p***a do emprego, de tanto que estava absorta em meus pensamentos. Tinha medo e ódio, aqueles sentimentos todos misturados em mim, faziam-me ofegar.
O pior de tudo é que quando eu pensava no rosto dele... Nossa... nem consegui pensar em mais nada, era como se o olhar dele pra mim ficasse literalmente cravado na minha alma de uma forma que não soltava. Estava colado e eu não conseguia desviar.
Comecei pelo que era mais sensato, mandei um currículo atrás do outro, precisava conseguir um outro emprego o mais rápido possível.
Não havia escolha pra mim e eu nem tinha um rumo decidido para a minha vida, mas o que eu poderia fazer? Sorrir e voltar para a casa do meu pai que me despreza? NÃO.
Eu tinha que tomar alguma atitude sobre toda aquela merda!
Fiz algumas entrevistas ainda aquela semana, as coisas não estavam tão ruins assim.
Quando eu me deitava no sofá, ou em minha cama, aquela cena, a ameaça vinha a toma, eu sentia meu corpo todo se arrepiar, por que eu não sabia o que estava sentindo. Medo da ameaça? Curiosidade para saber mais daquele ser humano imundo de alma e completamente bonito? Era um demônio sem nenhuma dúvida! Havia sido enviado apenas para me atormentar!
Em uma manhã as coisas que eram sempre iguais, ficaram um pouco diferentes, sai com o cabelo molhado, um copo de café nas mãos, e uma rosquinha presa na minha boca enquanto eu tentava equilibrar a minha bolsa, celular e chaves, tudo ao mesmo tempo.
Desci correndo para entrar no carro que eu havia chamado, se tudo desse certo, começaria a trabalhar. Finalmente! As contas estavam se acumulando rápido, e pedir dinheiro ou me enrolar no cartão de crédito já não era mais uma opção. Precisava acertar aquilo tudo.
Desci correndo, a cabeça cheia de problemas de tentativa e soluções... E foi quando o vi... De longe, mas mesmo assim eu vi.
CARALHO NEM ACREDITO!
O homem, o demônio dos meus sonhos, que martelava meus pesadelos e sonhos, que agora se misturavam em um só, parado do outro lado da minha rua, nem tentava se esconder, queria deixar claro que estava olhando para mim, queria deixar claro que estava de olho em meus passos.
O meu coração se acelerou, mas não pelo motivo certo, droga, eu queria ter medo! O que há com você Laura? Ele estava ainda mais lindo do que a primeira vez.
Porra, o que ele queria ali? Eu não voltei mais pra p***a da favela, nem cheguei perto de algo assim! Infringi alguma regra? Fui marcada pra morrer? Eu não sabia, mas eu não tinha tempo a perder, entrei no carro ainda olhando para ele através do vidro, o olhar gélido do qual eu me lembrava tão bem, nada de sorrisos, nada de flertes, apenas um homem inerte me observando, como se soubesse exatamente como fazer com que eu enlouqueça. E ELE SABIA!
Cheguei a redação de uma nova revista, um pouco mais politizada, que sorte eu havia tido! Quando sai de lá com os papéis para iniciar no outro dia, meu coração pulou de alegria.
Não havia sensação melhor do que aquela... Mas o que me esperava em casa? Ele ainda estaria lá?
Por que estava me apressando? Por que eu não simplesmente ligo para a policia como alguém normal? - Porque se eu fizesse isso eu não seria a Laura. E a Laura, caça confusão!
Cheguei a minha rua, observei tudo em volta antes de entrar no meu apartamento, ele havia ido embora. Me senti mais aliviada, decidi sair dali, beber um pouco não ia me fazer m*l! Me arrumei, desci a rua e me sentei em um pequeno PUB que quase nunca tinha ninguém. Fiquei por lá, bebendo por algum tempo, e quando finalmente vi o dia escurecer e se tornar noite, achei que já havia bebido o suficiente.
Já estava trançando as pernas, muito louca mesmo, resolvi ir até minha casa andando pelo meio fio, bêbado sempre toma umas decisões de merda é ou não é?
Caminhei até a minha casa, o frio que estava fazendo naquele dia com certeza não era normal, mas eu não senti, quase fui atropelada algumas vezes, e nem sei porque cometi essa imprudência.
Quando finalmente cheguei, olhei para o poste, e cara, eu não o vi outra vez, talvez de cara cheia eu fosse confrontá-lo. Senti uma pontada no coração, mas que ideia mais irracional a minha, achou o que, que o cara ir ficar de guarda na sua porta maluca? Me repreendi em pensamento, porém gargalhando por fora.
Cara eu sou muito i*****l.
Subi até o meu apartamento, eu adorava observar as pessoas passando pela janela, ainda mais quando bebia, aí sim as coisas ficavam mais interessantes, tinha um humor e uma poesia dentro disso que eu não conseguia explicar, o som do silêncio cortando a sala e sendo interrompido apenas pelo meu gato pedindo comida.
Me servi um pouco de vinho (mais vinho?) sim, eu não tenho limites, eu na verdade bebo pouco, o problema é que quando eu bebo, me transformo em alguém que bebe oito vezes mais, e esse era o problema. Mas eu estava em casa, m*l não iria fazer!
Quando finalmente retornei a minha poltrona, estrategicamente apontada para a janela, ele estava ali novamente, mas estava chapada pra c*****o, e não tinha a menor chance daquilo ser real. Era na verdade uma vontade do meu subconsciente, vê-lo novamente, era o desejo de olhar nos olhos dele, esquecer talvez que ele era um criminoso e deixar que me f**a-se de verdade e com força em cima do meu sofá, só a ideia me deixava em outro mundo. Bom, sonhar não é pecado! Nunca foi, não no meu mundo e de acordo com minhas regras.
Se um dia eu tivesse que ver minha vida em um telão, seria definitivamente um problema sério!
Eu fiquei observando a minha miragem favorita, ele acendeu um cigarro, p***a isso não fazia parte da minha imaginação, eu estava perdendo o juízo? Minha mente estava confusa, eu não conseguia mais separar o que era real do que não era, e em uma atitude i*****l, resolvi descer da forma como eu estava, sutiã e shorts, coloquei apenas um sobretudo que já estava na porta desde quando eu cheguei, não fechei o sobretudo, nem um sapato eu coloquei no pé, na verdade, em minha mente maluca, eu tinha muito... muito medo de que aquela miragem desaparecesse como fumaça, quando eu chegasse mais perto.
Mas não.
Atravessei a rua e um carro quase me pegou, mas tudo bem, quanto mais eu me aproximava mais nítido tudo aquilo ficava para mim, o que aquele homem estava fazendo de fato e de verdade ali? Veio me matar? Ou eu o desejava tanto que tomou forma? Entrei em algum espelho? Estou em matrix p***a? Eu gargalhei, as piadas eram ruins até para o meu padrão.
- O que está fazendo aqui embaixo vestida assim? - Ele disparou para mim, sem que eu nem desse um oi, a voz rouca e forte, e o olhar irritado me devoravam. - Sobe agora para o apartamento!
- Ah pronto, eu não deixo ninguém mandar em mim, e agora criei alguém para mandar na minha mente... Ah meu Deus! - Gargalhei mais.
Ele segurou forte o meu braço, não era bebida, não... ele estava lá! senti o toque das mãos dele, mesmo no frio que estava fazendo, aquela noite estava quente... ele me puxou para si, e o encarei nos olhos, o olhar firme me confundia, que confusão havia me metido? Bom Adeus! A vida foi boa até aqui...
- Sobe agora pra p***a do apartamento, e vê se põe uma roupa decente no corpo, não me irrita Laura, faz o que eu estou mandando agora! - O hálito quente contra o meu rosto, só podia ser um sonho, os olhos mais lindos e mais sombrios que já havia visto.
Eu apaguei, não lembro mais de nada. Nem sabia se o que havia acontecido era real, ele questionou as minhas roupas? Ele estava mesmo aqui? Eu desci?
Bom, aparentemente não desci, foi apenas um sonho! Eu disse para me acalmar, ou então quem teria me colocado na cama?
Se foi um sonho, vou beber de novo e sonhar outra vez, antes que essa sensação das mãos dele, fujam da minha cabeça. Devaneio ou não...Tirou o meu fôlego, como sempre.
E eu tinha uma sensação de que seria sempre assim.