Que responsabilidade?

1212 Words
Alexia Já era finalzinho da tarde quando deixei Patrícia, minha meia irmã e melhor amiga, na mansão em que ela morava com Alessandra, sua mãe. Passamos o dia inteiro no shopping fazendo, havia um novo lançamento de sapatos de grife, nós não podíamos perder isso. Era mais um para a minha coleção, pena que as bolsas que eu tanto queria estavam esgotadas. Um dia inteiro no shopping, não me fazia esquecer dos problemas, nem uma noite inteira na balada. Eu estava me preparando para a missão que teria que enfrentar. Tinha voltado há pouco tempo de Londres, me formei em administração e economia, duas matérias chatas que eu odiava, mas tinha que fazer esse sacrifício. Então, precisava de roupas novas para a minha nova fase de vida. Não comprei apenas sapatos, comprei alguns vestidos de noite para festas e para as baladas, roupas para o cotidiano para usar no dia a dia e para usar o trabalho. Esperava começar a trabalhar com o meu pai, o único problema era que ele não queria. Eu não entendia a sua recusa, talvez achasse que eu não sabia fazer nada na vida, pois, desde que voltei para o Brasil, não fiz nada além de compras e ir para a balada. Na verdade, eu temia sobre a minha responsabilidade, o que se revelaria e enfrentaria a partir do momento em que decidisse fazer o que pretendia. Mas não podia voltar mais atrás, eu estava decidida a alcançar todos os meus objetivos. Teria queria provar que podia administrar aquela empresa melhor do que ele. Aliás, eu tinha uma promessa a cumprir e não desistiria facilmente. Era somente isso que me impulsionava. Entrei na garagem da mansão e antes de sair do carro, abri o meu relicário, contendo a minha imagem e do Heitor, de oito anos atrás. Acariciei sua foto e dei um beijo, como se isso tivesse me dando forças para fazer o que eu tinha que fazer. Não podia mais esperar. Saí do carro, dando ordens para os empregados levarem as minhas compras para o meu quarto e guardá-las nos seus devidos lugares. Entrei em casa e fui direto para a cozinha tomar um copo de água, pensando em como recusar a proposta de casamento do Conrado, não respondi a ele, prometi que iria pensar. Nos conhecemos em Londres, seu pai era um dos investidores da empresa, nem sabia do porquê ficamos juntos, achava que era só por prazer do que por amor. Pois, sabia muito bem que Conrado não era o homem certo, ele só se aproximou de mim por interesse e não podia fazer parte dos meus planos. Homem na minha vida, só entraria para fazer a minha vontade, compromisso com outra pessoa estava fora de cogitação. O único compromisso real que eu queria, era com o Heitor e ainda temia o dia que esse encontro acontecesse. Primeiro teria que convencer o meu pai, a trabalhar na empresa dele, depois procuraria um apartamento para mim e iria atrás do Heitor. Tinha todo plano em mente, só me restava coloca-la em ação. Terminei meu copo d’água e voltei para a sala, essa casa me trazia péssimas lembranças e não via a hora de sair daqui. — Trouxe algum presente para a sua mãe dessa vez? Dona Paula, só porque ela era minha mãe, achava que eu devia algo a ela. Quarenta anos, olhos castanhos, loira, cabelos lisos por causa de permanentes. Uma vez ela quase ficou careca de tanto passar química no cabelo. Eu tinha sorte de ter puxado ao meu pai, não precisava de ir tanto ao cabeleireiro. Ela vivia do dinheiro dele e sempre queria mais. — Eu tive um dia tão divertido com a Patrícia e nem pensei em você, que coisa né? Ela nunca pensou em mim, não faria o mesmo por ela. — Você deveria ter mais consideração com aquela que te trouxe ao mundo. — Consideração? Por você? Onde você estava enquanto eu era criada pelas babás? — Eu era muito jovem quando engravidei, eu precisava de ajuda. — Até os meus dezoito anos? — Está reclamando do que? Você estudou nas melhores escolas, fez faculdade em Londres, fala seis idiomas, tem tudo o que quer nas mãos e ainda um dia vai assumir a empresa no lugar do seu pai, você deveria me agradecer pelo que eu fiz por você. Dei uma risada sarcástica. — O que você fez por mim, me fala? O que eu saiba, você nem me amamentou. — Se não fosse por mim, quem assumiria a empresa, seria a i****a da sua irmã. — Não fale assim da Patrícia, ela é muito mais minha família, do que você e o meu pai junto. E se um dia eu for assumir a empresa, é porque eu nasci primeiro, só isso. — Você só nasceu primeiro, porque eu induzi o parto. — O que? — questionei surpresa ao ouvir isso, por essa eu não esperava. — A mãe da Patrícia entrou em trabalho de parto de madrugada, mas só foi ter a Patrícia no final da tarde. Eu fiquei sabendo que ela estava no hospital, então fui para lá, na intenção de te ter primeiro, porque só o primogênito poderia assumir a empresa. — Ouvia tudo espantada, não acreditando em suas palavras. — Os médicos não queriam fazer o meu parto, pelo fato, que ainda faltava uma semana para a data prevista para o nascimento. Então, entrei na enfermaria e tomei alguns comprimidos que me fez te ter mais cedo. Fiquei espantada, que tipo de mulher põe em risco a vida da filha por ambição? Eu tinha os meus planos e queria mostrar ao meu pai o valor que eu tinha para empresa. Mas nunca faria algo do tipo só para ter dinheiro, ou poder, ou faria algo que prejudicasse alguém, ou um filho. Essa mulher era muito fria. — A senhora é louca só pode. Isso era demais para mim. — Ah, minha querida, você não sabe o que passei para chegar onde cheguei. Realmente, o passado dos meus pais para mim, era um mistério. — Você alguma vez pensou em mim? Que essa sua atitude poderia me prejudicar? Ela ficou pensativa, por um momento, percebi uma sombra de arrependimento, mas logo se recompôs. — Não exagere! Você está aí, linda, forte e capaz de administrar aquela empresa melhor do que seu pai. Continuei a olhando indignada. Antes que eu tivesse tempo para responder, meu pai entrou em casa com a sua secretária e amante. Uma vez, eu os surpreendi no escritório da empresa. Ele nem deu ao trabalho de deixar Sara parar o que estavam fazendo, expulsou-me do escritório sem cerimônias. — Temos trabalhos pendentes para fazer, vamos ficar no escritório, não nos incomode para nada. Minha mãe fechou a cara imediatamente. — Eu não acredito, Roberto, você trouxe essa v***a para trepar debaixo do nosso teto, com a desculpa de que é trabalho. Deixei de me intrometer nas brigas dos meus pais, desde que eu voltei de Londres. Ele nunca escondeu suas traições e nem ela. Não eram casados oficialmente e minha mãe se recusava sair da mansão. — Não enche o saco, lembre-se que você mora aqui de favor. A única responsabilidade que eu tenho, é com nossa filha. Que responsabilidade?
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