Ainda meio nervosa com o que tinha acontecido, decidi tentar esquecer fazendo uma geral na casa. Arrumei a sala, varri, passei pano, arrumei a cozinha, as escadas, meu quarto, quarto de hóspedes e não consegui limpar os banheiros, tive que descer correndo para fazer comida. Preparei algo simples, porém gostoso para o meu marido que merecia. Apesar do Mauro ser meio grosso às vezes, ele é meu marido, certo? E como minha mãe sempre falou: mantenha seu marido próximo a você, seja amiga, seja companheira e leal. Eu nõ iria decepcionar uem estava sempre disposto a me sustentar.
Assim que terminei, subi para tomar um banho. Coloquei meu costumeiro vestido longo, fiz uma trança no cabelo e coloquei uma sandália de dedo para recebê-lo. Desci as escadas cansada assim que ele chegou, me apressei e fui até a ele, pegando seu paletó e sua mala.
- Mariana, hoje não vou jantar em casa. Surgiu um jantar de negócios, vou só tomar um banho, prepara meu melhor terno.
Ele diz subindo as escadas e eu me prontifico. Parecia até que um peso tinha saído das minhas costas, embora o Mauro fosse meu marido, eu me sentia muitíssimo melhor sem ele perto de mim. Eu me sentia mais confiante comigo mesma, mais confortável, menos agitada. Eu gostava da minha própria companhia e isso bastava pra mim.
Subi as escadas correndo abrindo meu guarda-roupa, tirei um palató de linho que o Mauro tinha, uma gravata que combinava e um sapato italiano que brilhava de tão preto. Assim que ele saiu, vestiu uma cueca e seu paletó, que eu ajustei em seu corpo junto com a gravata, me permiti perguntar que jantar é esse ao qual ele estava tão arrumado.
- Mauro, que jantar tão importante é esse? - Pergunto curiosa.
- Larga de ser fofoqueira, jantar de negócios, não meta o nariz onde não foi chamada. - Ele me corta e eu engulo seco, decepcionada.
Era sempre assim, e eu aceitava tranquilamente. Meus pais sempre diziam que eu tinha que ser grata a ele, então só cabia a mim ficar quieta toda vez que era tratada de tal maneira. Depois que ele se arrumou, colocou seu permute importado, desceu as escadas e saiu. Nenhum obrigada, nada. Mas eu também não me importava, sinceramente. Coloquei meu pijama e desci para jantar, sozinha. E nossa, que tranquilidade, que paz, pego meu prato, coloco a quantidade que eu quero e me permito sentar no sofá pra jantar enquanto assisto um programa de Arquitetura na TV.
Ouço a campanhia tocar, meus olhos saltam com a possibilidade de ser o Mauro, mas tinha apenas 15 minutos que ele tinha saído. Levanto calmamente, e abro apenas uma fresta da porta para espiar quem poderia ser a essa hora. Um homem de mais ou menos 25 anos, vestido casualmente, estava com uma ramalhete de flores nas mãos. Meu rosto torce numa carteira.
- Boa noite. - Ele fala.
- Sim, boa noite. O que deseja? - Pergunto confusa.
- Pediram pra fazer uma entrega aqui para a Mariana Cipriano. É a senhora?
- Sou eu, sim. Mas não pedi nada não.
- Pediram e estou entregando para a senhora. - Ele me estende as flores junto com uma carta, pego os dois itens e agradeço entrando pra casa.
Como se fosse uma bomba, jogo as flores na bancada de casa e abro a carta.
"Oi, Mari.
Eu não disse que você tinha um admirador? (:
Recebe estas flores com todo carinho,
cheire-as e perceba que têm o mesmo cheiro
do meu perfume. Espero que goste, e saiba que
sou completamente fascinado por você.
Um grande beijo,
seu futuro amor."
Essa pessoa que está fazendo esse tipo de brincadeira deve ser um grande desocupado! Tem cabimento ficar paquerando mulher casa? Quem este homem pensa que é? Bufo e recebo uma mensagem no meu telefone, dessa vez de outro numero. Era ele, e eu já estava ficando com medo.
Mari, meu amor. - Numero desconhecido.
Você está me assustando. - Respondo.
Não precisa se assustar, eu te vi na festa com o pela-saco do seu marido, ele não te merece. Confie em mim, hum? Prometo que não estou forjando, não estou nada, quero apenas te conhecer e quero que você me conheça. - Numero desconhecido.
Como vou permitir que você me conheça se eu sou casada? Está ficando louco? - Reviro os olhos.
Você é feliz no seu casamento? - Numero desconhecido.
Isso importa pra quem?
Pra qualquer pessoa que case com amor. Você casou por amor? - Numero desconhecido.
Engulo a seco.
Prefiro não responder.
Você sabe a resposta, no final das contas. ;)
Para de ficar me mandando essas carinhas. - Reviro os olhos.
Pare de ser tão amargurada, se liberte. - Numero desconhecido.
Não sou amargurada.
É sim, tá igual o babão do seu marido. - Numero desconhecido.
Não fale assim dele.
Estou mentindo? - Numero desconhecido pergunta e eu prendo a risada.
Quantos anos você tem e qual é o seu nome? - Pergunto.
Não posso dizer meu nome, vai que você já tenha ouvido falar de mim? E eu tenho 32 anos. - Numero desconhecido.
Assim não tem graça. Vou te chamar do quê?
Então pretende continuar conversando comigo? Já posso comemorar? - Numero desconhecido.
Engraçadinho. Preciso terminar de jantar, então vou sair do telefone porque meu marido foi em um jantar importante.
Seu futuro ex-marido é um i*****l. - Numero desconhecido.
Não quero que seja ex-marido. - Respondo.
Quer sim, só não consegue admitir. - Numero desconhecido.
Boa noite! Não me manda mais mensagens porque o Mauro pode ver.
Amanhã quando ele sair para o trabalho, pode deixar que eu mando. Sei os horários certos. Boa noite, meu amor. ;) - Numero desconhecido.
Olho as flores na minha frente e suspiro, pego-o e inalo o cheiro, que me desconcertou, acelerou meus batimentos cardíacos e deixou minha boca seca. Não era uma parada cardíaca, eu só tinha ficado sem reação pro tanto que aquele perfume era cheiroso, quem será essa pessoa? E por que será que ele está me mandando mensagens?
Abro a porta calmamente, e correndo, fui até o outro lado da rua jogando o buquê na grande lata de lixo.
Volto para casa, limpo a louça que lavei e vendo que já se passava 22:30 da noite, apago as luzes e subo para o meu quarto. Deito na minha cama, tateio meu celular na mesa de cabeceira relendo as mensagens, um sorriso surge em meus lábios e eu me sinto uma grande pervertida, pecadora, que estava traindo meu marido. Apago as mensagens, coloco meu celular para carregar como sempre e agarro o travesseiro para dormir. Acordei algumas vezes durante a noite vendo seu Mauro havia chego, mas não, o que era preocupante já que raramente ele dormia fora de casa. Mando uma mensagem apenas perguntando se estava tudo bem, não obtive resposta, apenas voltei a dormir e acordei com o meu despertador.
Levantei, vesti uma roupá casual, fiz minhas necessidades especiais e desci para preparar o café. Vai que ele aparecesse? Ainda sim, eu precisava fazer o café. Então fiz o café, fui à padaria, coloquei os pães na cesta, separei os adereços, frutas e esperei durante 1 hora. Ele não apareceu, então comi um pão com ovo e café, guardei o restante das coisas e como a casa estava limpa, fui assistir um pouco do meu programa que eu tanto gostava.
Durante a tarde, meu celular vibrou. Achei que poderia ser o "senhor admirador", mas o final do telefone dele era 80. Este final era 54, e tinha algumas fotos do Mauro dormindo numa cama amassada com uma mulher ao lado, garrafas em volta da cama, costas arranhadas, beijos em batom pelo seu ombro. Não tive reação, apenas arregalei os olhos surpresa, respirei fundo e deletei as imagens.
Não senti raiva, apenas tristeza por ter esperado, feito o que pude, para no final das contas ele estar com outra mulher. Ajudei-o a se arrumar para encontrar outra, mas eu já vi minha mãe passando por isso várias vezes, então eu já estava blindada, já sabia exatamente o que fazer: sorrir e acenar. Não poderia exigir, gritar, tampouco cobrar. Homens são assim, e tá tudo bem.
Segui minha rotina normal, coloquei roupas para bater, estendi e depois, me sentei n poltrona para assistir meu programa. Meu celulr apita, e eu já sabia quem era. Ele me mandou uma mensagem no espelho, do pescoço para baixo, na verdade. Estava com a mão dentro do bolso, o paletó azul claro com a gravata vermelha, dava para ver que era um homem bronzeado, forte e com mãos grandes.
Boa tarde, meu amor. Receba essa foto do seu futuro marido. (: - Numero desconhecido.
Boa tarde. É você ou está brincando comigo? - Falo, ainda desacreditada.
Em seguida ele me mandou uma foto com angulo parecido, mas no espelho embaçado estava escrito "Mari" e um coração. Dou um sorriso, agora sim acreditando.
Muito bonito, mas porque não mostra o rosto? - Pergunto esparançosa.
No momento certo você saberá. - Numero desconhecido.