Narração por Vinícius Barone.
O suor pingava pelo meu corpo, conforme eu corria na esteira, a música “In the dark” do Vintage estourava nos meus ouvidos, a batida me inebriava. Depois de puxar algumas barras, saí da academia, peguei minha moto na garagem e fui para o meu apartamento. Na minha cabeça só vinha ela, linda. Desde que eu a vi a primeira vez, surtei, p**a que pariu, eu precisava ter aquela mulher pra mim.
Eu sabia dos maus tratos que o Mauro tinha fama, desde a sua primeira esposa, ele foi denunciado diversas vezes por violência doméstica, difamação, mas eu ainda não era delegado de fato, então não consegui pegar o caso dele, que obviamente foi arquivado e apagado para não aparecer nas mídias e nem nos seus esquemas. Ele não era burro, mas eu conseguia ser mais inteligente que ele, fui um dos advogados cotados a desvendar o caso de tráfico humano que acontecia no Rio de Janeiro. A grande rede de sequestro acontecia entre Brasil e países arredores, Bolívia, - m Uruguai, Chile e Paraguai, tudo indicava que eram laranjas, segundo o detetive da Polícia. Mas esses laranjas, coincidentemente, possuíam o mesmo sobrenome que o Mauro, o que nos levava a certeza de que ele estava envolvido nessa quadrilha e que era uma quadrilha familiar.
Com um telefone paralelo, eu decidi mandar mensagens pra Mariana. Sim, imprudentemente? Sim, mas é claro que eu não desvendaria quem eu sou. Primeiro que eu gamei pra c*****o naquela mulher, segundo que eu me aproximaria para tirá-la dos braços dele e de quebra, conseguiria reunir provas das quais Mariana me ajudaria, assim era o plano, e eu conseguia matar dois coelhos numa cajadada só. No início, foi bastante complicado para que ela ao menos me respondesse, me bloqueou e eu tive que arrumar outro número para conseguir um minuto de atenção daquela mulher. E eu consegui. Aos poucos, quebraria o muro e mostraria o lado bom da vida. Eu conhecia a rotina inteira da Mariana, sabia exatamente o que ela fazia, como fazia, e o que fazia, e chego sempre a mesma conclusão: pena.
Pena por ela ser uma mulher tão linda e eu acredito que inteligentíssima pra ser submissa a um casamento que não agrega, que não ama. Ela é apenas um robô, faz as coisas aleatoriamente com o intuito de agradar? Ou agrada apenas porque acha que é sua obrigação enquanto mulher, e está completamente errada. Mulher é livre, mulheres independentes, com atitudes, com falas e andados, são mulheres que fodem meu juízo, e eu sei que a Mariana seria esse tipo de mulher se não fosse tão reprimida.
Visto meu terno, e pelo horário, o p*u no cu daquele velho já saiu de casa. Mando mensagem, aguardo, mas não obtenho resposta. E depois de alguns minutos, recebo a resposta dela que me faz sorrir. Será que não acreditava mesmo que era eu? Sopro hálito no espelho e escrevo o nome dela. Mari. Minha Mari. Eu me sentia um maluco, mas eu estava doido por essa mulher e eu nem precisei de muito.
Saí de casa para resolver pendências da empresa, meu irmão estava junto comigo em tudo. Era literalmente meu melhor amigo, fui na sede do Barone’s Whisky e estávamos implementando um novo sabor, se tudo desse certo, até o mês que vem já iríamos jogar na pista e seria mais um novo sucesso. Assinamos o contrato com a empresa de fermentação do Whisky que era da Alemanha, a equipe de marketing já estava preparando o rótulo e as coisas estão fluindo de vento em polpa. Saio da empresa, e sorrindo, mando mensagem para Mari, já passava do horário de almoço.
Oi princesa. Como tá sendo seu dia? - Pergunto.
Oi. Está sendo tranquilo, o Mauro acabou de chegar da rua desde ontem. - Ela responde.
Desde ontem? Onde esse corno estava?
Desde ontem? Como assim? - Pergunto.
Sim, ele disse que tinha ido a um jantar importante do seu trabalho. Dormiu fora e acabou de chegar. - Ela responde alguns minutos depois.
Então deixe para me responder quando ele sair. Não quero te prejudicar. - Falo.
Está tudo bem, ele foi dormir. Deve ter ficado a noite toda trabalhando. - Digita.
Mariana, pelo amor de Deus, este cara claramente não estava trabalhando. Ele devia estar fazendo alguma merda na rua. - Me exalto, meu rosto logo fica quente.
Preciso tirar logo ela de lá.
- Que houve, Vinicius? - Meu irmão pergunta.
- Nada.
Jogo o celular no bolso do terno e entro dentro do meu carro, meu irmão entra no banco do carona e eu ligo, descendo o freio de mão e acelerando pra casa pensativo. Como que ela vê tudo isso e não consegue simplesmente entender que ele não é pra ela? Ou que ela não é obrigada a estar com ele?
- Fala, filho de p*****a.
Meu irmão puxa minha orelha e eu expiro fundo antes de explicar toda a história pra ele.
- c*****o, tu tá cercando a mulher do cara? Se ele descobrir pode matar vocês dois, p***a!
- Eu sei, mas ele não vai tocar a mão nela, ele não tá comendo merda ainda.
- E como você vai saber? Tu gosta dela o suficiente pra arriscar tua vida?
- Eu sou policial, tu acha mesmo que ele pode fazer alguma coisa contra mim? E sim, eu gosto dela, vou tirar ela de lá.
- Você é policial, não imortal. Toma cuidado e presta atenção. - Vitor diz e eu concordo.
Depois de sair da delegacia, já passava de 23 horas. Não consegui conversar mais com a Mariana, a última mensagem dela foi:
“Por favor, não mande mensagens, eu te mando logo logo”
E não mandou, minha preocupação elevou um nível tão alto que eu simplesmente precisei ir até o condomínio que ela morava, numa casa horrorosa, para saber se estava tudo bem. Eu nunca estive tão obcecado por alguém na vida, mas a doçura dela me encanta, me fascina.
Assim que parei em frente a casa dela, apenas a luz da cozinha estava acesa, o restante da casa estava completamente apagada. Saí do carro e calmamente fui até a janela da cozinha, olhei em volta e estava tudo bem, apenas um copo quebrado no chão, o que já me deixou um pouco desconfortável. Se ele tiver feito qualquer coisa pra ela, amanhã ele seria um homem morto.
Voltei para o meu quarto e segui para o meu apartamento, com uma vontade louca de mandar mensagem para saber se estava tudo bem, mas me contive, afinal, se eu mandasse qualquer mensagem pra ela agora, ele poderia ver. Amanhã era um novo dia, e eu precisava pelo menos enxergá-la de perto, de uma forma que conseguisse sentir seu cheiro, ou sua presença de alguma forma.
Quando já estava esticado na minha cama, recebo alguns arquivos confidenciais na qual o Mauro Ferraz estava inserido junto com os laranjas da sua família. Como não seria possível prendê-lo por não ter provas concretas, apenas pedi um mandato de busca e apreensão para itens e objetos pessoais na casa dele, o que seria incrível, porque eu conseguiria reunir provas pra f***r a vida dele e ainda conseguiria ver a Mariana.
Durmo feliz.