Mariana Cipriano.
Depois que ele foi embora, tentei digerir tudo que aconteceu. Pela segunda vez na minha vida, eu tinha beijado uma pessoa e sentido coisas completamente diferentes das quais eu já senti com o Mauro, foi algo tão natural que eu não conseguia pensar em mais nada a não ser nele. O cheiro, o beijo, o toque, o carinho.. Como assim eu me senti completamente confortável e feliz na presença de um homem? Homem do qual eu nem conhecia. Era uma situação reconfortante, mas ao mesmo tempo assustadora, eu não sabia o que fazer de agora em diante e nem como me comportar com o Mauro sabendo que outro homem estava na minha vida.
Arrumei a cozinha, fiz uma comida simples porque estava sem cabeça e subi pra tomar banho e escovar os dentes antes do Mauro chegar. Vai que o cheiro estaria na minha roupa? Ou eu estivesse com um hálito diferente? Subo as escadas e tomo um banho, tomo um analgésico para as dores no corpo e faço um curativo no meu dedo do pé, coloco uma roupa de frio confortável e desço quando vejo que está quase na hora do Mauro chegar. Penso no Vinícius.. O que ele devia estar fazendo agora? Penso na minha tarde, no beijo que ele me deu, no carinho que ele tinha comigo, só tinha visto isso na televisão, não sabia que um homem poderia ser amável assim na vida real.
Tomo um susto quando Mauro chega com algumas marcas no rosto, chegou curvado e me olha durante alguns minutos. Meu coração acelera, será que ele sabia de alguma coisa?
- Oi, boa noite. O que houve? - Pergunto ajudando-o a tirar o paletó.
- Ontem a noite a janela do quarto estava aberta? - Ele pergunta.
- Normalmente ela dorme aberta sim, para entrar ventilação. - Respondo. - Por que da pergunta?
Ele me ignora e sobe as escadas, provavelmente indo tomar um banho. Respiro fundo e coloco o prato na mesa junto com a comida que eu já havia esquentado. Depois de 20 minutos Mauro desce com uma blusa e um short de dormir e eu percebo seu corpo marcado e seu rosto com um curativo, mas decido não perguntar mais nada porque antes de não quis responder, então agora provavelmente não responderia também.
- É.. está me custando caro te manter aqui. - Ele diz enquanto sirvo-o.
- Como assim? - Pergunto me servindo.
- Ultimamente você tem me dado bastante dor de cabeça, não tem sido uma boa esposa. - Ele fala enquanto come.
- Mas eu faço tudo para você, para que tudo esteja sempre limpo e apresentável. - Falo com uma certa urgência.
- É, mas ontem fez besteira inclusive deixou o delegado arrombado perceber que eu tinha batido na sua mão.
- Mas não foi intencional. - Abaixo a cabeça.
- E hoje eu descobri que alguém viu a lição que eu te dei ontem, e decidiu me dar uma lição hoje também. - Ele aponta para o curativo.
Abro a boca surpresa com a revelação, mas no fundo feliz por saber que eu não vou ser a única a sentir dor.
- Sinto muito. - Falo baixo.
- Sente p***a nenhuma, sua inútil. - Ele bate na mesa, me dando um susto. - Nós vamos nos mudar daqui. Eu não posso ficar a vontade com a minha esposa que vão vigiar pela janela?
- A gente pode fechar a janela da.. - engulo seco - ..próxima vez.
Ele fica calado e continua comendo.
- Mauro.. - Começo.
- Fala, espero que dessa vez não fale nenhuma merda. - Responde grosseiro.
- Eu posso chamar a Pam pra vir aqui em casa amanhã? - Peço, esperando um não bem grande.
- Pode, mas espero que ela não fique muito e nem fique falando besteiras para você. - Dou um largo sorriso comemorando.
Ele fala sobre isso de besteira porque uma vez a Pam pegou uma banana e me mostrou como fazia um “boquete”, mas ele chegou antes e viu ela com a banana na boca, no fim das contas ela se engasgou, ele negou com a cabeça e subiu as escadas. Eu só conseguia rir da situação, era uma das coisas mais engraçadas que eu poderia vivenciar. Pâmela é minha amiga desde a época da escola, ela sabe tudo sobre minha vida e sempre pediu para eu me separar do Mauro, ela praticamente implora de pé junto para eu não viver essa vida que eu levo, no fundo, diz ficar muito triste. Pam sempre diz que eu vivo presa, que eu não preciso disso e eu sempre bati o pé pedindo para ela não se meter em relação a isso, que da minha vida quem sabe sou eu e que eu sabia o que era melhor para mim, já brigamos diversas vezes por isso mas eu amava ela com todo meu coração e nunca me desfaria da amizade dela, uma das pessoas pessoas que me fazem realmente muito feliz.
Ligo para ela feliz da vida.
- Amiga, vem aqui amanhã? - Peço quando Mauro sobe pro quarto depois da janta.
- Ai Mari, não sei.. Estou lotada de trabalhos da faculdade. - Ela diz, Pam fazia faculdade de Arquitetura, um dos tópicos que eu mais amava, queria muito entrar nessa área mas não tinha permissão pra isso.
- Então vem que eu te ajudo! - Grito.
- Ai, maluca, meu ouvido! - Ela diz e da uma risada. - Tá bom, amanhã tô aí, faz uma comida bem gostosa.
Falamos mais um pouco e eu desligo, recebendo uma mensagem logo em seguida.
“Oi princesa, já estou com saudade do seu cheiro e do seu beijo. Espero que durma bem, não paro de pensar em você. Boa noite.” - Número desconhecido.”
Mando apenas um coração e desejo boa noite, Mauro estava em casa então eu não queria falar com ele nesses momentos. Desligo meu celular, subo pro meu quarto e durmo, no dia seguinte repetindo a mesma rotina de sempre.
- Amiga! - Ela grita e se joga em cima de mim me abraçando, com um monte de pasta e bolsa.
Era 13h quando Pam chegou, eu já tinha feito o almoço, frango xadrez que ela amava. Ajudei a colocar as coisas em cima da bancada, colocamos a comida no prato e fomos pra sala assistir programa e fofocar.
- Ai, nem me fala, esse final de semana eu peguei um moreno TÃO gostoso. Meu Deus, eu fui no céu! - Ela se expressava e eu ria demais, Pâmela era maluca, ela vivia falando sobre seus sexos fenomenais e eu não entendia, achava na verdade que era apenas de pessoa para pessoa, os prazeres e etc.
- Eu preciso te contar uma coisa. - Sussurro depois do almoço.
- Vai separar daquele velho? - Ela diz e eu n**o com a cabeça, rindo.
- Você é terrível.
- Mariana, se você disser que está grávida eu chuto sua barriga. - Olho assustada pra ela, mas ignoro.
- Precisa ficar aqui, você definitivamente não pode contar pra ninguém. - Ela revira os olhos.
- Conta, carai! - Ela fala.
- Aconteceu uma coisa muito estranha. Eu recebi diversas mensagens de um suposto “admirador secreto”..
Pâmela arregala os olhos.
-.. esse admirador me mandou flores, insistiu em conversar comigo e eu simplesmente não sei o que aconteceu, que eu dei corda. Na verdade, pedi pra ele não me mandar mensagens e ele não ligou, continuou me mandando, continuou insistindo e eu desisti e começamos a conversar.
Pâmela dá uma risadinha e bota a mão na boca.
- Por favor, me dá um desfecho digno. - Ela junta aos mãos em forma de oração e sussurra com os olhos fechados.
- Então, ele veio aqui ontem.
- AI MEU DEUS! QUE ISSO, UM FILME? - Grita.