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1530 Words
Mariana Cipriano Assim que alguém bate na porta, tento respirar 500 vezes para não surtar. Olho no relógio e batia exatamente 08:55, Mauro havia ido para o trabalho, a casa já estava arrumada e tinha um estranho do outro lado da porta esperando para ser atendido. Ele bate uma, duas e em seguida fala em um tom para que eu consiga entender: - Abre, princesa. - Meu coração simplesmente acelera, a voz era rouca, grossa, suave. Tomo coragem e abro o portão, ele estava bem caracterizado, parecia alguém que realmente mexia na internet. Será que ele realmente era e eu não sabia? Por isso que ele descobriu meu número e automaticamente sabe tudo que acontece? Será que ele sabe dos meus hematomas? Meus olhos arregalam e eu abro espaço para ele entrar na minha casa, estava vestido com um macacão cinza, um boné, óculos escuros, e uma bolsa com ferramentas. Ele me olha, tira os óculos e tira o boné. Era simplesmente o tal delegado de ontem, minha boca abre num “o” infinito. Ele foi tirando seu uniforme, estava com uma blusa branca e uma bermuda clara. Eu não tinha expressão, e ele apenas sorria para mim, um sorriso genuíno, lindo, ele era incrivelmente lindo. Coço a garganta e pergunto: - Por que? An? Que isso? Eu não estou entendendo nada, por favor, me conte… - gaguejo dando alguns passos para trás e ele segura em minha mão, me causando um pequeno desconforto. - Sim, eu sou o delegado. Meu nome é Vinícius Barone, lembra de mim? Eu também estava no evento, minha empresa está fazendo parceira com o negócio do seu pai e do Mauro, mas já retiramos a sociedade. Ele fala e vira a chave na minha cabeça, novamente eu arregalo os olhos. Meu Deus! Ele era aquele homem que vira e mexe eu olhava, admirando, na minha cabeça eu não consegui associar ele na hora do nervosismo de ontem, e nem agora. - Misericórdia! - Minha boca fica branca e eu me sento pra não cair. - O que deu em você? Como conseguiu meu número? Por que está me perseguindo? Eu metralho de perguntas, eu não conseguia entender, estava tudo bagunçado na minha cabeça. - Primeiro se acalma. - Ele entra na minha cozinha, vasculha algumas coisas e pega um copo de vidro no armário e uma garrafa d’água me servindo. - Esse filho da p**a é tão inútil que nem copo ele compra, né? Esse merda. Repreendo com os olhos pelo palavrão. - Desculpa, desculpa. - Ele coloca a mão na boca me arrancando uma risada. - Vou começar pelo começo, então apenas me escute, ok? Se quiser de alguns minutos pra digerir, eu te dou todos, mas não vou sair daqui agora. Aceno com a cabeça e chamo-o para o sofá de casa, de qualquer forma, para ficarmos confortáveis. Na cozinha, onde tinha a mesa e automaticamente a porta de entrada, havia algumas janelas e eu não queria que ninguém visse nada. Sentamos no sofá da minha casa, um de frente para o outro e esperei ele falar, mas ele apenas me olhava e eu me permiti olhá-lo de volta, tinha traços marcantes, os olhos claros me encaravam intensamente, eu me arrepiei inteira. Ele pegou na minha mão, alisou meu dorso, beijou e pousou em sua coxa enquanto me fazia um carinho singelo. - Eu conheço o Mauro há muito tempo, desde as suas antigas esposas, ele nunca teve uma esposa tão nova. As antigas esposas dele, ele batia, xingava, maltratava e falava coisas que a magoavam, até que uma delas, um dia, foi na delegacia dar parte dele. Antes de ser delegado, eu era só um escrivão, e eu acompanhei o caso dela mas foi arquivado, e sumiu igual fumaça. Eu consegui seus dados de um documento confidencial, eu não podia ter acesso a eles diretamente mesmo sendo delegado, mas eu não consegui, quando eu te vi linda com ele, automaticamente senti que precisava te proteger. E depois de te observar bastante, eu vi que p***a… - Repreendo novamente e ele dá risada. - Ah, para, eu xingo pra c****e e você vai ter que me aguentar “palavrudo” desse jeito. Eu vi que eu estava encantado, você é linda, dócil e sofre nas mãos desse desgraçado, e você não precisa disso. Eu tô aqui com você, p***a, fico de quatro por você. - Quatro por mim? - Não entendo e decido perguntar. - Sim, é uma forma de dizer que faço tudo por você. - Mas você nem me conhece. - Falo, enquanto ele alisa meu dorso. - Conheço o suficiente pra saber que você não merece esse pela-saco do c*****o que você chama de marido. - Ele reclama. - Eu vou te conquistar, e depois vou te tirar daqui. - Não posso, eu sou casada, meu pai me mata. - Penso na possibilidade. - Você tem quantos anos? - Ele me pergunta. - Vinte e cinco. - Respondo. - Vinte e cinco anos e acha que merece passar pelo que passou ontem? - Ele abaixa os olhos para o meu dedo e eu acompanho. - Ele não fe… - Tento defender mas ele me interrompe. - Para com isso, eu sei o que ele fez, foi óbvio Mariana, nítido. Ele te bateu na mão, provavelmente você estava com a xícara na mão que caiu no seu pé e te cortou. Todo mundo percebeu, somos policiais, você pode enganar qualquer pessoa menos a nós. E outra, o que você ganha aqui nessa casa? - Ele me pergunta. - Ele já te fez um carinho? Nego. - Ele já alisou seu rosto? Nego. - Ele já te deu um presente? Nego. - Vocês já viajaram juntos? Nego. - Você já gozou? Nego e só percebo depois do que se trata, meu rosto queima. Sim, eu sabia o que era gozar, mas pra mim isso só acontecia com homens. Decido ficar quieta. - Você já gozou? - Pergunta novamente. - Não me faça esse tipo de pergunta. Olho para o lado tentando desconversar, meu rosto queimava de vergonha. - Você nunca gozou. Ele já, você não, e você precisa. Quando você gozar a primeira vez, não vai querer outra coisa. - Ele me olha sorrindo e eu n**o. Que homem maluco, meu Deus! - Você quer viver infeliz como sua mãe ou quer ser feliz como sua amiga Pâmela? - Pergunta e eu respiro fundo. A Pâmela era minha melhor amiga, desde a infância. Ela era totalmente diferente de mim, desinibida, viajante, feliz e sempre me falou sobre a vida medíocre que eu levava, segundo ela. Mas como minha mãe dizia: levante as mãos para o céu, você tem um teto, um lar e comida na mesa. Sempre pensei em estudar, ser Arquiteta igual as mulheres do programa de televisão que eu gosto de assistir, mas isso sempre foi um sonho muito distante. Eu sou feliz? Respiro fundo. - Acho que você sabe qual é a resposta. Confia em mim, prometo que eu vou ser sei futuro marido e o seu melhor amigo também. Ele diz me arrancando uma risada, tô casada com um homem e tem outro homem querendo casar comigo? Como era possível? Ele me puxa para me abraçar e eu gemo de dor, arfando e segurando na minha costela. No mesmo momento ele me olha com a testa franzida, fecha a cara e puxa minha camisa. - Ei! - Reclamo. - p***a! - Ele grita e levanta de imediato. - Mariana, tira a roupa. Vinícius foi da calmaria pra tempestade, ele respirava fundo e forçava um dente no outro, sua mandíbula rígida me desestruturou. - Eu não vou tirar minha roupa.. - Falo com os olhos marejados e olho pro rosto dele, vendo que os olhos dele também estava assim. Ele se aproxima de mim, e cuidadosamente me abraça, e eu me permito chorar agarrada na sua camisa. Choro por tudo que ele me falou, choro pela dor, choro por levar uma vida com uma pessoa que só me machuca e choro pela possibilidade de ficar com o Vinícius, que se mostrava tão carinhoso como ninguém nunca foi comigo antes. - Ah, princesa.. - Ele alisa minha cabeça e beija minha têmpora. - Vem embora comigo, denuncia ele. Fica comigo. - Vinícius, eu nem te conheço, eu não vou sair de casa com uma pessoa que eu não conheço. - Falo entre lágrimas. - Então você quer me conhecer? Você deixa eu entrar na sua vida e te mostrar do que você realmente merece? - Ele me pergunta encostando sua testa na minha. - E como isso funcionaria? - Pergunto, baixinho. Ele beija a ponta do meu nariz, tinha dois metros de altura e era muito forte, me olhava com cuidado. - Eu viria te ver depois do Mauro sair, a gente reúne provas pra denunciar ele por tudo, e você vem pra minha vida. Eu vou te mostrar que eu posso ser quem você precisa, você só tem que permitir. - Eu permito. - Falo e ele sorri, me abraçando novamente, beija meu ombro e alisa minha cabeça. E eu nunca me senti tão segura na vida.
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