DOCUMENTO DE OBSERVAÇÃO PELO INSPETOR DIOGO DUTRA E SUPERVISIONADO PELO DELEGADO VINÍCIUS BARONE.
NOME: Mariana Cipriano Ferraz
DATA DE NASCIMENTO: 10/03/1996 (25 anos)
CPF: 171.xxx.xxx.-x7
IDENTIDADE: 32.xxx.xxx-1
CONTA BANCÁRIA: Sem conta bancária.
OCUPAÇÃO: Dona de casa.
FORMAÇÃO: Completou o 2º grau.
ENDEREÇO: Rio de Janeiro - RJ
TELEFONE: 21 96875-6599
ROTINA: Todas as manhãs em torno de 06 horas, pega o jornal que é deixado em sua porta. Abre as cortinas de sua janela, das duas da frente e da lateral que dá acesso a cozinha. Já na cozinha, ela deve fazer o café da manhã para o seu companheiro. Às 07:30, Mauro Ferraz sai. Às 09h da manhã, ela sai com o seu shitzu, da uma volta no condomínio durante 30 minutos e pontualmente, às 09:30 retorna. Terças e quintas, o jardineiro cuida do matagal que fica na frente da casa. Às 20h, Mauro chega. Esposa sempre bem arrumada, com cara de assustada quando está na presença do marido.
NOME DO CÔNJUGE: Mauro Ferraz Vian
DATA DE NASCIMENTO: 12/12/1968 (53 anos)
OCUPAÇÃO: Sócio da boate ALL KISS, situado na Barra da Tijuca, boate clandestina. > Motivo: buscar. CEO de uma empresa no ramo de bebida alcóolica.
FORMAÇÃO: Ensino superior em Administração e Contabilidade.
TELEFONE: 21 98765-0900
ROTINA: Às 07:30 sai de casa, pega seu carro e chega na empresa da qual trabalha entre 08:10 e 08:20. Sai às 16:30, passa na boate do qual é sócio e sempre sai com uma mulher. Todos os dias. Entre 20 e 30 anos de idade, morena, roupas sempre muito justas e decotadas, vão para um condomínio de luxo no Mansões, situado também na Barra, umas 17 horas e sai sempre depois das 19:30, retornando a sua casa às 20h.
FIM DA OBSERVAÇÃO
Levanto às 06:50 assustada, meu coração acelera só com a possibilidade de alguma coisa sair fora dos eixos para a rotina do meu marido. Corro por um banho vestindo meu vestido largo e longo, arrumo o cabelo em um r**o de cabelo e desço apressada as escadas. 07:00 pego o jornal enrolado na porta de casa e preparo a mesa enquanto coloco a água no fogo, dessa vez o café seria feito no modo rápido.
Às 07:15, Mauro desceu arrumado e se sentou a mesa, abrindo seu jornal. Sirvo-o com um pouco de café, passo a manteiga no pão árabe que ele comprava sempre e preencho com queijo. Para mim, coloco requeijão nas torradas e um pouco de café, me sento observando-o, agitada. Quando bebo o café, faço uma careta, não estava bom e eu sabia que teria consequências.
— Que p***a de café é esse, Mariana? - Ele cospe o café no meu rosto quando dá uma grande golada.
Com a quentura do café, sinto meu rosto esquentar. Pego o guardanapo da mesa e limpo com cuidado.
— Me perdoa, meu bem. Eu me atrasei um pouco hoje, não consegui acordar no horário e tive que fazer o café apenas na melita. Não coloquei na cafeteira. - Falo urgentemente.
— Mulher inútil! - Ele bate com a xícara na mesa derrubando o líquido para todos os lados e levanta. - Vou tomar café na empresa, na próxima vez, faça um café decente. A única coisa que você faz dentro dessa casa é cozinhar, então cozinhe bem!
Ele grita e eu apenas concordo. Já estava acostumada com as grosserias e ignorâncias do meu marido, a única vez que tentei argumentar levei um tapa no rosto, desde então, não falo e nem teimo, apenas deixo falar o que ele quiser.
— Outra coisa, hoje é sexta-feira, terá um coquetel importante da boate, coloque uma roupa simples que não seja chamativa e esteja me esperando às 21h.
Olho boquiaberta antes de perguntar:
— Eu vou com você?
— Infelizmente. - Ele resmunga e sai batendo a porta.
Radiante de felicidade, arrumo as coisas com muita disposição. Nesses quase 8 anos que estou com o Mauro, nunca fui em nenhum lugar com ele exceto em datas comemorativas da minha família. Em eventos de trabalho, nunca fui, e a expectativa quanto a essa saída já era extasiante.
Depois de arrumar tudo, subi para o meu quarto tentando encontrar algo que me deixasse elegante porque sei que era tudo muito chique no trabalho do Mauro. Meu guarda-roupa tinha diversos vestidos dos quais eu nunca nem tinha usado, vestidos da minha época de adolescente, roupas e trajes esporte fino que eu usava para prestigiar também algum evento que meu pai fazia. Dando uma olhada, decido tirar do cabide um vestido salmão, logo, mas que marcava minha cintura e meus p****s, ou seja, no b***o ele era mais apertado. Eu não me considero uma mulher feia, tenho em torno de 1 metro e sessenta e cinco, peso menos que isso e tenho uma pele branca, meus cabelos são ondulados até a metade das costas mas está completamente sem vida porque nunca mais fui permitida a ir num cabeleireiro, meu marido sempre falou que era gastar dinheiro com coisas fúteis. E parando pra pensar, eu concordava. Pra que gastar no salão se eu tenho meu shampoo, condicionador e máscara em casa?
Depois de muito tempo, fiz minhas unhas, meu cabelo, e quando deu 20 horas, fui para o banho tomando cuidado com o cabelo. Eu estava estranhamente feliz, só ficava aqui em casa e quase não via pessoas, me sentia literalmente presa. Mamãe pelo menos saía, nos levava para passear e eu me sentia muito só, era só eu e a Amora, minha cachorrinha. Saí, me perfumei, coloquei meu vestido e achei ele mais justo que o normal, ele era completamente fechado e só marcava meu b***o e minha cintura. Fiz uma maquiagem básica para não chamar atenção, deixei meus cabelos escorridos e quando olhei no espelho, me senti linda. Porém, quando meu marido chegou ele me olhou por dois segundos antes de pedir pra eu me desmontar inteira.
Você está achando que vai para onde com este c*****o de roupa? Troca isso, tá horrorosa, tá marcando tudo e você tá gorda! Usa algo mais largo porque eu não quero mulher minha sendo m*l vista. - Ele gritou grosseiramente e os meus olhos marejaram.
Dividi meu olhar entre o meu reflexo no espelho e ele parado na porta do quarto e respirei fundo antes de tirar o vestido, colocar qualquer coisa que estivesse à minha frente, vestir um salto médio e ir.
Dentro do carro, como sempre, o silêncio era absoluto. Ele me fez tirar até o batom rosa que estava na minha boca, coloquei apenas um hidratante labial para dar uma cor. Mauro nunca foi ao menos gentil comigo, ele sempre me tratava exatamente como meu pai tratava minha mãe, e acho que nunca apanhei porque fazia absolutamente tudo que ele queria sem pestanejar. O que ele precisava, eu fazia. Antes mesmo dele pensar em qualquer coisa, eu fazia para não dar chances dele me cobrar. As agressões eram apenas verbais, ele sempre fazia muita questão de me desmotivar a qualquer coisa, então minha autoestima não existia. Saímos do carro e levantei meu vestido para não tropeçar; Eu estava com um vestido longo, no estilo cigana ombro a ombro na cor azul turquesa, era completamente liso e largo, o meu cordão de brilhantes dado pelo meu pai no meu último aniversário antes do casamento estava pendurado no meu pescoço, era o único acessório que eu tinha além de alguns brincos.
Ele me deu o braço para eu cruzar e atravessarmos o enorme hall de entrada, e eu entendi na hora porque ele me trouxe. Meu pai e minha mãe estavam presentes, meu pai conversava com executivos super bem vestidos e minha mãe estava sentada num divã junto com algumas outras mulheres. O local era bem grande, as luzes baixas compunham o local e dava um charme diferente, havia alguns barmen que serviam whisky, champanhe, água e entre outros. Quando minha mãe me viu, chegou em mim para me abraçar e eu me afastei ligeiramente do Mauro.
- Minha filha, que saudade. Você está linda. - Ela me aperta em seus braços.
Oi, mamãe. Poxa, não sabia que você estava aqui, Mauro não me contou.
É, evento das boas novas da empresa. - Ela alisa a lateral da minha cabeça e me apresenta pra outras duas mulheres.
Meu pai tinha sociedade com o meu marido por termos juntado nosso patrimônio, ele e meu pai tinham uma sociedade em uma luxuosa casa de festa. Ou algo assim. Mas eu estava feliz por saber que eles se juntariam e se tornariam mais unidos, afinal, se eles se dessem bem, talvez eu não precisaria ficar tanto tempo sem ver minha família.
As mulheres pareciam ser uma mãe e uma filha. A mulher tinha seus quase 50 anos, e a mais nova deveria ter a minha idade.
Esta aqui é minha filha Mariana. Mariana, essa senhora chama-se Vânia Barone, ela é esposa do empresário Ivan Barone, e ao lado está sua filha Laiza.
Cumprimentei cada uma, mas estava totalmente fora do que acontecia ali.
Quem são esses? - Cochicho para que apenas a minha mãe ouça.
Nossa, mas que filha linda, Leonor. - Sorrio agradecida quando ouço a senhora Vânia elogiar.
Conversamos todas enquanto tomávamos um suco que o barman servia, mas estava completamente horrorizada por ver a Laiza tomando whisky, assim como os homens. Ela era muito “não-como-eu”, estava com a sua roupa curta com uma f***a na lateral e a alça do seu vestido era de uma corrente dourada, a sua cor bronzeada fazia um lindo contraste com o vestido vermelho. Descobri que ela tinha uma empresa de Arquitetura & Urbanismo, e eu era completamente apaixonada pela área, puxei assunto e nunca me entrosei tanto com uma amizade, conversei, perguntei e minha curiosidade triplicou sobre como deveria ser trabalhar todos os dias com aquilo que você mais ama. Ela me chamou para, qualquer dia desses, conhecer sua empresa que era toda estruturada no ramo, além de Arquitetura, tinha também profissionais especializados em Design de Interiores. Por um momento eu sonhei, mas logo ouvi minha mãe:
A Mariana é muitíssimo ocupada em casa, ser dona de casa também é uma tarefa difícil. - Ela dá um sorriso amarelo para Laiza.
Mas não é porque ela é dona de casa que ela tem que deixar de trabalhar e estudar. Todas as mulheres são donas de casa, afinal, ninguém quer a casa uma caçamba de lixo, né? - Eu dei uma risadinha, mas logo prendi quando percebi o quanto minha mãe estava irritada com aquele assunto, e para tentar apaziguar as coisas, falei:
Ah, mas além disso, eu também cuido do meu marido, cuido da casa, da minha cachorra, da nossa alimentação. Não quero que meu marido me largue por eu não cumprir obrigações básicas dentro da minha casa, para o nosso bem-estar.
Laiza e Vânia me olham indignada.
- Oi? Meu Deus Mariana, você parou em qual período histórico? - Laiza pergunta. - Seu marido é adulto ou ainda é uma criança de colo? Você não precisa abdicar de sua vida para o seu marido e sua casa, deve existir um equilíbrio. Afinal, século XXI, os tempos são outros. Todas as mulheres casam, mas também podem ter uma profissão, um trabalho, seu próprio dinheiro.
Nego com a cabeça dando um sorriso, não existe isso. Não existe.
Na minha casa, ela foi criada para servir o marido e só. E está tudo bem. - Mamãe diz, furiosa. Laiza levanta e nos olha com desdém.
Que doença e que vida infeliz a de vocês. - Ela vira as costas e se afasta no meio de outras pessoas que estavam no ambiente.
Desculpe pela Laiza, ela sempre foi assim muito independente, destemida e não tem filtro. - Ela dá um sorriso e eu retribuo, minha mãe fala qualquer coisa mas eu penso em tudo que tinha acabado de ouvir.
Olho em volta procurando por ela, e meu olhar esbarra com o de um homem que eu nunca tinha visto na vida, mas ele me olhava fixamente me deixando desconcertada. Ele era um rapaz novo, muito bonito e elegante, bebia o líquido âmbar enquanto me encarava sem vergonha nenhuma, eu demoro a perceber o meu olhar travado no dele e só me dou conta quando minha mãe me cutuca.