Não estava sendo fácil separar as coisas, e não deveria ser assim, era preciso separá-las. Só que isso não funcionou e os dois estavam envolvidos, empurrando com a barriga aquela coisa de mentira e sentimentos.
Sophia estava concentrada em cessar a ansiedade da sua mãe, que não parava de falar sobre esse assunto e pedir uma visita, e da sua agente, que estava no seu pé desde cedo. Ela marcou uma consulta de rotina e não avisou isso a ninguém além da sua assistente pessoal. Porém, a sua agente tinha acesso a essas informações e bateu o pé no consultório sem ser chamada. Quando ela entrou pela porta da sala do médico, Soph e o próprio médico ficaram surpresos com a intromissão.
Sophia não tinha como descrever o ódio que sentiu nesse momento, mas ficou quieta; não queria fazer um show na frente do homem. Contudo, não se calou quando saiu de lá. Depois de ela ter trocado de roupa, as três estavam no estacionamento.
— Com que direito você entrou no consultório daquele jeito? — Pôs as mãos na cintura. Seu rosto estava vermelho de raiva e ela se segurava para não berrar. — O que pensava em fazer? Está louca?
— Como sua agente, devo saber sobre seu estado clínico e forma física, Sophia — tentou se explicar.
A arrogância em suas palavras esquentou ainda mais a morena.
— Não foi o que aconteceu. — Soph se aproximou dela.
Ela estava sob muita pressão. De um lado a mídia, do outro os fãs, a agente e até seus pais. Não era para ela estourar assim, sem ao menos estar em casa, só que sentiu que iria explodir se não fizesse isso.
— Entrou sem permissão, opinou e fez perguntas sobre a minha privacidade.
A assistente temia que a próxima a ser cobrada fosse ela, por isso resolveu sair dali e abrir o carro, esperando passar despercebida. Ao longe, como sempre, alguns fotógrafos espreitavam. Ali era uma área particular, porém nem sempre tinha como fugir dos zooms deles.
— Não bastava esperar para que eu lhe informasse?
— Esperei que me informasse sobre muitos assuntos, como o seu noivado, porém não obtive resposta.
— Isso também é da minha conta, não da sua. — Cerrou os olhos.
O sorriso de deboche dela irritou ainda mais Sophia, que estava começando a achar que era uma verdadeira piada ou uma marionete nas mãos dela.
— Sou a sua agente desde que era uma pirralha chata e feia. Trabalho duro para fazer de você uma das melhores dessa indústria, e não se deu ao trabalho de ligar para mim ou atender as minhas ligações quando eu queria saber que p***a é essa de casamento.
A morena se surpreendeu com as palavras rudes que a mulher usou para se referir a ela. Essa agente nunca caiu de amores por Sophia, e essa não era uma surpresa. Sua arrogância vinha de berço e ela só fazia esse trabalho porque ganhava muito para a agenciar. Todavia, Soph nunca havia sido tratada com tanta rispidez e palavras chulas.
— Acredite, eu ralo para tornar você relevante. Não é a mais talentosa, então tenho que barganhar. E a única coisa que peço é que seja uma boa menina e não se enfie em merdas como essa.
Sophia nunca tinha ouvido isso antes. O que causou uma quebra de confiança enorme. Ela sempre era cobrada e não podia fazer o que realmente queria, por conta da mídia ou do trabalho. No momento se achava um lixo.
— Admito que a onda de namorada do Christian Harrison está dando certo, mas esse homem não é estável, não segue regras e não se casaria com uma menina tola como você. Com o tempo verá que lhe fez mais m*l do que bem se meter nessa merda. — Essa foi outra parte dela que surpreendeu Soph.
Ela estava passando na sua cara erros do passado de Chris, sendo que, no início, tudo estava indo muito bem e ela aprovou o relacionamento.
— Além do mais, você está relaxando. Dois quilos a mais? — Veio em sua direção.
Soph não esperava por isso. Estava pensativa. A mulher a olhava com raiva e desdém. Ela não fazia ideia do que tinha acontecido para essa mudança de comportamento. Tudo que ouvia, quebrava de vez a sua felicidade.
— Tem um novo trabalho — a mulher disse, trazendo de volta a atenção de Sophia. — Mas deve perder esse peso extra. Irá treinar alguns movimentos de luta para o papel. Não quero que faça vexame, por isso vou ser clara. — Não lhe importava se isso machucava os sentimentos de sua cliente.
O mundo Hollywoodiano não era bonito nem sensível, e outras atrizes estavam esperando por essa oportunidade, então era melhor irem se acostumando.
— Se não ficar na linha e dobrar o tempo de exercícios na academia, passarei esse papel para outra que esteja em melhor estado.
— O quê?! — Ela se chocou. Nunca tinha ouvido isso da loira. Ser c***l tudo bem, mas a chantagear? — Não pode fazer isso.
— Posso e vou. — A mulher estava com um dos braços apoiado no corpo, com a bolsa de uma marca famosa sendo escorada. Elas se encararam e Soph só faltou explodir. — Não é a minha única cliente que está fazendo sucesso.
Claro, Jéssica estava em alta. Todos falavam sobre a garota de 22 anos que fez uma das melhores performances atuais em um filme de drama que tinha acabado de lançar. Sophia era mais velha e, mesmo estando em ascensão, não tinha feito um drama como esse ainda e seu filme não foi indicado. Era arriscado ela contradizer ou não seguir os “conselhos” de sua agente no momento, mesmo ela sendo uma babaca i****a.
— Você tem duas semanas. Use isso como um aviso. — A loira a deixou parada, olhando para o nada e pensando no que acabou de ouvir.
Não era justo ela ter sua vida invadida e, ainda, estar sendo ameaçada desse jeito. Sempre foi difícil ser Sophia Thompson no mundo do cinema e da TV. Quando ela começou, achou que seria fácil, que ganharia dinheiro, porém nenhuma quantia era suficiente para tapar os buracos que toda essa pressão causava nela.
Dois quilos eram motivo de alvoroço, só que, para o seu médico, com quem ela havia acabado de conversar, eram motivo de alegria. Ele lhe falou sobre o seu pouco peso e que, apesar da alimentação balanceada e cheia de nutrientes, ela tinha que ganhar alguns quilinhos. O que seria um absurdo para a sua carreira.
Sentindo-se na lama, Soph só andou até o carro, desanimada, e se sentou no banco do passageiro.
— Não consigo dirigir agora — falou, cabisbaixa. — Você pode me levar para casa, por favor?
Sua assistente também estava chocada com o que ouviu. As duas eram bem próximas, entretanto ela não podia opinar quando o assunto era com a agente, que já estava exigindo horas extras de exercícios pelo aplicativo.
— Sophia, não liga para o que ela disse. — A assistente tentou animá-la depois que ela se afundou no assento do carro, pensando e remoendo as palavras. — Você é incrível e sempre se esforça o dobro. Não deixe que isso mexa com você, como da última vez.
— Como não posso deixar que isso me afete?
As emoções dela estavam abaladas, e não era só pelo que ouviu minutos atrás, isso vinha de muito tempo, desde que começou naquilo. Ela já tinha passado por muitas coisas que não contou a ninguém, muito menos para a sua mãe, sua principal apoiadora.
— Nada está bom, sempre há algo de errado. Ganhei alguns prêmios, mas não fui indicada ao Oscar, por isso ela está dando preferência à Jéssica. — Seus olhos se encheram de água, porém ela se segurou. — Não me importo com nada disso. Tudo é uma merda, mas não dá para eu ficar bem ouvindo de todos que sou um desastre e desperdício.
— Você não é. — Pegou em seu braço, querendo confortá-la. Sophia sempre foi gentil e bondosa, muito diferente das suas chefes anteriores. — E está em perfeito estado.
— Não o bastante. — Encostou a cabeça no vidro, desejando desaparecer da face da Terra. — Vamos para casa. Preciso correr o dobro na esteira hoje.
Nada mudaria o estado de espírito dela por ora. Sua cabeça estava cheia e as emoções abaladas. Seus últimos dias tinham sido bons ao lado de Chris. Ele a distraía e a tirava desse mundo louco e exigente. Seu coração ficava mais calmo. Contudo, ele não estava ali no momento, e ela tinha ouvido muitas merdas. Feliz era algo que ela não estava.