— Saiu. — Sophia não gostava de mentir para os seus pais, porém toda aquela situação era complicada. — Teve que resolver alguma coisa.
Marie Anne achou estranho a saída dele sem ao menos entrar para a conhecer. Pensou um pouco e, como viu a filha preocupada, achou que algo antes disso havia acontecido. Não tocou no assunto, só a abraçou e a ajudou a entrar.
— Como foi a viagem? — tentou descobrir algo.
— Longa — respondeu vagamente.
— Que história é essa de casamento?
Sophia, ligeiramente, retornou à realidade. Esse foi o tópico que acabou deixando Chris chateado e que a deixava confusa. Ele falou aquilo com tanta certeza e desejo, que a deixou em dúvida se era real ou não. Ela não achava que ele queria isso para completar a farsa. Na verdade, ele queria por outro motivo. Motivo esse que não a deixava quieta.
Tudo aconteceu tão rápido. Até pouco tempo atrás ela o odiava, mas ali estava ela com o coração na mão, achando que tinha magoado e perdido o cara da sua vida só porque o assunto “casamento” entrou em questão.
Afinal, por que raios ele queria casar de verdade? Tudo bem que o sentimento cresceu e os dois se gostavam, porém, casamento?
— Acho que cheguei na melhor hora — a voz de seu pai soou atrás dela, congelando o seu corpo por inteiro.
Enfrentar sua mãe era fichinha, afinal, ela era a sua cúmplice, mas o seu pai não. Ele era rígido, apesar de ser amoroso, e adorava julgá-la. Causava-lhe arrepios só pensar em decepcioná-lo novamente.
— É bom vê-la de novo, pequena. — Ele a abraçou assim que ela se virou para o olhar. Seu aconchego fez com que o coração dela pulasse. — Onde está o seu noivo?
Noivo! Como discordar disso? Ela não parou para pensar nessas coisas antes de viajar. Havia se esquecido desse ponto.
— Saiu um pouco — disse, sem graça. — Estava no consultório? — Tentou fazer com que ele esquecesse o outro assunto.
Seu pai vestia uma camisa branca e uma calça azul de alfaiataria. Mesmo ela mandando um bom dinheiro para eles, além de ter reformado e ampliado a casa e comprado os terrenos ao lado, seu pai não deixava de ser o dentista da cidade. Ele conhecia praticamente todo mundo.
— Sim. — Ela não conseguiu tirar da cabeça dele a pergunta. — O que houve com o pé? — interessou-se.
— Caí no banheiro.
Deus! Mentir não era a solução.
— Então... Ele veio oficializar? — sua pergunta pairou no ar, até ela entender.
— Acho que é melhor conversarmos sobre isso depois — desconversou.
— Espero que ele volte logo. — Foi à cozinha pegar água. — Sabe como é a cidade, vive chovendo aqui. Vai cair muita chuva, e não irá demorar.
Sophia se preocupou. Ela não queria que as coisas acabassem assim. Deveria ter sido mais sensível. Christian não estava acostumado a se envolver, entretanto, como ela iria adivinhar que ele se chatearia?
Ela começava a ficar angustiada a cada minuto. Passou a olhar pela janela da sala, onde tinha um batente com acolchoado, observando o lado de fora e rezando para que ele não a torturasse ainda mais. Christian estava mexendo com seus sentimentos já abalados. Como se já não fosse o bastante ela se achar uma perdedora e não ter mais uma agente por culpa dele mesmo, ela estava com o coração na mão só porque o i****a cafajeste, que a enlouquecia dia e noite, estava fora, pensando sabe-se lá no quê. E se chegasse à conclusão de que ela não sentia o mesmo que ele?
Seu pai tinha razão. As nuvens já estavam se formando. Na adolescência, Sophia gostava daquele clima diferenciado. Eles estavam quase na fronteira de São Francisco, onde vivia mais nublado do que com o sol alto, como na capital litorânea do estado, que era conhecida pelas praias.
Christian estava se questionando sobre tudo que já tinha feito até ali. Nunca imaginou que estaria naquela situação. Era para ser uma farsa que duraria uns meses, para ele curtir aqueles momentos com a mulher que mais o irritava e o provocava ao não ceder às suas investidas, só que o tiro saiu pela culatra e foi ele quem se apaixonou. Não notou quando estava se entregando a ela e quando deixou de pensar só em si para passar a se concentrar nela, no seu sorriso, nos seus olhos pervertidos e cheios de luz, nos seus lábios sensuais e até mesmo no que ela gostava de comer, beber e vestir.
Sophia foi a sua surpresa. Ele não a estava procurando, mas achou. Todavia, sentia-se levando o troco do mundo por ter sido um cara tão errado e cafajeste. Justamente a mulher por quem ele se apaixonou, rejeitou-o.
Aquele tempo não foi o suficiente. Ele sabia que tinha cometido um erro, tanto por ter viajado, quanto por ter se metido naquela história da agente. Só que ver Soph triste naquela cama, machucada, deixou-o furioso. Ele não queria vê-la chorar por se achar fraca ou pouca coisa. Aos olhos dele, Sophia Thompson era a melhor de Hollywood, e ele não deixaria que aquela megera a rebaixasse daquela forma.
Tudo o que Christian queria era vê-la sorrir e se divertir ao atuar, como um dia ele já tinha experimentado.
Ele não estava com forças para olhar para ela ou ficar ao seu lado.
Bem feito. Quem mandou ser tão i****a?
Dessa vez foi ele quem teve o seu coração partido.
Voltar àquela casa seria pôr um fim nessa tortura. Mas Chris não queria ter que conhecer os pais dela e fingir que tudo estava bem, quando, na realidade, passava por um turbilhão de sentimentos. No final, no que isso daria?
Ela não me quer mesmo.
O dia começava a escurecer. Era natural naquela região. E assim que Soph pôs os olhos nele, seu coração pulou. Ela se levantou e foi até a porta. A cara dele não era uma das melhores. Ela não sabia onde estava os seus pais, só pensava em esclarecer os fatos.
— Onde você estava? — questionou, furiosa, após sair pela porta com dificuldade e ir até onde ele estava, perto do carro.
Chris manteve o olhar baixo. Não queria conversar sobre os seus sentimentos.
— Christian!
— Estou indo embora. Não posso ficar aqui agora. — Limitou-se a dizer isso.
Surpresa, Sophia se enfureceu outra vez. Ele dizia que ela era teimosa, mas era ele quem não a ouvia.
— Você quer me dar um tempo para falar? — Pegou em seu braço, forçando-o a olhá-la no rosto. Chris não queria mais discutir. Sinceramente, odiava isso. — Não pode ir assim.
— Sophia...
— Quero que fique. — Não era bem essas palavras que ela queria dizer, mas as verdadeiras estavam presas na sua boca.
— Da última vez que fiquei, confundi as coisas — lamentou-se.
Soph nunca o tinha visto desse jeito. Sempre via o Christian egocêntrico e o cafajeste, não o tristonho.
— Não era para ser assim. — Suas mãos não o largaram, e os olhos azuis dele seguiram os dedos dela.
Ele a olhou pedaço por pedaço, sentindo seu coração acelerar como um louco. Martirizava-se por sentir isso. Ele deveria ser mais forte e não se deixar seduzir por uma menina.
— Você deveria ser só um i****a, um safado.
— Se surpreendeu por eu ser mais do que fútil?
— Confesso que sim. — Sophia estava a centímetros de seu rosto. Alisou sua barba e tocou em seus lábios, hipnotizando-o. — Mas eu o amo. Não queria, mas admito que sim, amo.
— O que disse? — Christian paralisou, achando ter se confundido, olhou no fundo de seus olhos castanhos e buscou por respostas. — Você está me torturando? É isso?
— Você é um i*****l, mandão, cafajeste e irritante, mas, ainda assim, gosto de você. E não sei mais como seria viver sem me irritar diariamente com os seus caprichos e piadinhas sem graça.
Ele abriu um sorriso lento e cheio de orgulho. Chris pensou em algum momento de sua vida que se comparasse àquela sensação, mas não achou nada. Claro que, com sua família, ele era feliz e alegre, mas ouvir e sentir aquele amor era diferente. Não foi algo que veio de berço ou do seio de sua mãe, ele conquistou. Significava que Sophia amava e odiava as suas partes boas e ruins.
Empolgado, ele a puxou pela cintura e beijou seus lábios. Depois de tudo que pensou anteriormente, esse momento era de alívio.
Arthur olhava para aquela cena e sentia alegria e preocupação. Ele não era bobo. Achava que esse relacionamento estava estranho. Sua filha sempre lhe contava tudo. Além do mais, casamento assim, tão rápido? O que aquele safado fez com a sua menina?
Ele saiu pela porta. Os dois ainda se beijavam e gotículas começavam a cair. Com um pigarro audível, ele cessou aquele clima.
— É melhor entrarmos — falou, duro. — Vai chover.