novo ar

2368 Words
Há muito tempo a fama já havia perdido a graça. Chris gostava de estar em alta e nas grandes produções, porém se sentia cansado de sempre ser perseguido e nunca provar algo novo. Quando ele conheceu Sophia, as coisas começaram a mudar. Ela era fogo, chamava a sua atenção e não o tratava com toda aquela bajulação, como os outros. O que a destacou e o fez observá-la, até tornar isso uma aventura. Aos 41 anos, Christian era um solteiro safado, que já havia estado em inúmeros filmes e séries, sempre era chamado para dar notícias e era adorado pelos fãs, mas quando chegava em casa, sentia-se vazio e sem objetivo. Já não era tão empolgante ler um novo roteiro e era batido demais chegar às filmagens e fazer a maquiagem para entrar em cena. As premiações eram chatas e sem emoção. Porém, sua vida mudou completamente desde que começou com aquela farsa, e até bem antes, ao conhecer Sophia. Ele ficava ansioso para trabalhar só porque sabia que ela estaria lá e gostava de pensar que, daquela vez, ela lhe daria atenção. No entanto, ela retribuía seus elogios com farpas, e isso só o deixava mais empolgado. Tudo em Soph lhe agradava, até mesmo o que o irritava. Era a aventura da sua vida. Contudo, depois ele descobriu ser um sentimento que não deveria existir. — Não acho que este seja o melhor momento — ela disse, olhando para ele levando algumas de suas coisas para o carro. Ir à casa dos seus pais lhe faria bem. Ela sentia falta do aconchego e tinha prometido visitá-los, entretanto aconteceram coisas que não a deixaram feliz. Ela estava desanimada e não queria levar esses problemas para casa, ainda mais sabendo que seu pai desaprovava toda a sua vida. Seria mais um motivo para críticas. — Acho que prometemos isso, e você precisa sair. Não seja teimosa — ele respondeu, sem ligar para a argumentação dela. Sophia iria atrás dele e tentaria fazê-lo mudar de ideia, mas estava com o pé em uma bota preta que a estava ajudando com a lesão, e ela sabia que Christian era tão teimoso quanto ela. — Não quero ouvir críticas sobre o meu trabalho. — Cruzou os braços, chateada. — Meu pai não é fácil, e não gosto de mentir para eles. Quando ele perguntar, irá saber que foi por conta do trabalho. — Então, deixa que eu conto. — Voltou, sem mais nada para levar ao veículo, a não ser ela. Sophia sentia que a cada dia ele estava mais bonito. Ter responsabilidade não era o seu forte, porém ele estava muito mais atraente, sendo o cara que escolhia as coisas certas e que cuidava dela com carinho. Até mesmo seus olhos azuis, que a encaravam, faziam com que o coração dela parasse de bater no peito. — Por que está fazendo tudo isso? Descobrir que realmente gostava dele estava sendo difícil de digerir. Significava que ela acabaria de coração partido, pois nada disso era real e Christian só a usava como uma roupa a prova de balas, ela achava. — Sou seu namorado — ele disse as palavras tão facilmente e cheio de si, que a surpreendeu. — Agora, para de ser uma chata e entra no carro. Ele a fez rir e concordar. De pouco em pouco ela se dirigiu até lá e se sentou no banco do passageiro. Chris a ajudou, parecendo que ela era uma criança. Só que não acabou por aí. Christian viu um automóvel se aproximando dali e constatou, logo quando ele parou, que não iria partir sem antes ter uma dor de cabeça. A agente saiu do carro com fogo nos olhos. Ela odiava Christian, apesar de estar sendo bom ver sua cliente andar na onda dele. Acreditava que o homem era um problema, uma bomba guardada, e que se Sophia não o controlasse, poderia estragar a sua carreira. — Já volto — ele avisou. — Espera. Deixa que eu falo com ela — disse Soph, pegando-o pelo braço. — Acho melhor continuar aqui. Confia em mim. — Antes de ir, deixou um beijo nos seus lábios. Sophia ainda estava magoada, sentindo-se uma i****a que caiu e se machucou, literalmente, mas aquela mulher estava com ela desde o início. Pensava que, apesar do olho gordo, ela era a sua agente e sabia o que era melhor para a sua carreira, embora a tenha magoado com aquelas palavras horríveis. Chris, por outro lado, não pensava que o que aconteceu foi algo isolado, um conselho de alguém mais experiente. Ele já tinha passado dessa fase e já tinha vivido um drama parecido. Isso ferrou com a sua cabeça e o transformou naquele homem vazio e sem propósito, que trabalhava por dinheiro e bebia para esquecer o quão fodido estava longe de casa. Ele não deixaria ninguém fazer isso com Sophia. Ela era diferente, uma garota doce e divertida. Ele mudou a forma como enxergava as coisas, e ninguém tiraria isso dos dois, nem mesmo uma mulher arrogante que estava criando uma competição i****a entre duas pessoas, achando que, assim, elas iriam se esforçar o dobro para serem destaques, dando a ela mais grana. — O que está fazendo? — A mulher cerrou os olhos ao se aproximar dele. Claramente, não estava gostando do rumo que aquele romance estava tomando. Acreditava que Chris estava começando a estragar as coisas. — Por que toda a agenda da minha cliente foi cancelada por uma semana? — Pergunte a si mesma, já que causou esse estrago — ele respondeu, irônico. — Olha aqui. Você poderia ser o próprio papa, mas não venha com essa pinta de fodona. Já conheci muitas como você, e até piores. — A loira não estava gostando nada da conversa e procurou por Sophia, seja lá onde ela estava. — Vamos dar um tempo de Hollywood, visitar nossas famílias. Não enche o saco. — Não pode me impedir de conversar com a minha... — Da última vez que isso aconteceu, ela torceu o tornozelo por botar na cabeça as merdas que você falou. — Sai da minha frente, Harrison. — Acho que não está entendendo. — Ah, não? — Pôs as mãos na cintura e o encarou com um sorriso irônico. — Está demitida. — O quê?! — Arregalou os olhos, surpresa. — É isso que ouviu. Não vou deixar que envenene a minha garota. Saia do nosso pé e deixe que eu cuido dela. — Você não pode fazer isso. — Ela estava cética, enquanto ele se segurava para não gritar. Com certeza iria pegar m*l. — Sophia, você não pode deixar que ele faça isso. A morena, dentro do carro, notou que a conversa não estava nada bem, então decidiu sair e ver o que estava acontecendo. Mas Christian, impaciente, já estava escorraçando a agente dali. Soph ficou nervosa e confusa. Viu o olhar furioso da loira e não sabia o que Christian tinha dito para a deixar tão p**a. — Você ainda me paga, Harrison. — Foi o que ela conseguiu ouvir antes da mulher partir com o carro. — O que você fez? — Ela chegou até ele mancando, pois ainda era desconfortável andar. — Por que ela saiu daquele jeito? Christian sabia que Sophia iria surtar quando descobrisse a verdade. Não era o seu plano estragar a viagem, no entanto ele acabou tomando a liberdade de demitir a i****a que estava causando problemas. Ele sabia como resolver isso, mas antes de explicar tudo à Soph, ouviria poucas e boas dela. — Demiti ela — foi curto e sem medo. Sophia parou no tempo, observou seu rosto e esperou por uma piada. — Você o quê?! — Ainda confusa, viu no olhar dele que isso não era nada engraçado. — Você o quê?! — Dessa vez pareceu quase desesperada. — Certo, vou deixar que me bata e grite o quanto quiser. Sei que está precisando. — Ele não conseguiu esconder um sorriso. O que fez Sophia imaginar que ela era uma piada para ele. — Você acha isso engraçado? — Não importava o quanto ela o amasse, iria matá-lo bem ali. — Estragou tudo. Tem ideia do que fez? — Vamos para o carro. — Vou passar com ele por cima de você — disse entre dentes, furiosa, tentando evitar que Chris tocasse nela e a levasse de volta ao veículo. — Como pôde fazer isso? Sophia se sentia traída e ferrada ao mesmo tempo. Antes pensou que Christian era confiável e se abriu com ele, mas, no momento, acreditava que ele estava acabando com ela. Sim, esse era um risco. Ela só não achou que ele iria acabar com ela. — Soph... — Ele tentou acalmá-la, acariciando o seu rosto, mas ela o afastou. — Eu nunca prejudicaria você. — Chris não era o dono da verdade. Sabia que ela ficaria furiosa e tomou a atitude sem falar com ela. — Me desculpe por não ter lhe dito nada. Não achei que ela viria até aqui sem que antes eu pudesse lhe dizer algo. — Dizer o quê? — Não precisa suportar todo esse peso nas costas. Ela estava te fazendo m*l. — Esse é o meu trabalho. Não tem direito de tomar atitudes como essa sem minha autorização. — Ela estava certa, e Christian sabia disso. — Acha que foi fácil chegar onde cheguei? — Não importava mais se o pé dela doía, ela não deixaria isso barato. Estava tão brava e magoada, que acabaria com tudo bem ali. — Talvez tenha sido fácil para você. É homem. É sempre mais fácil, não é? — Sophia... — Ele queria lhe explicar que tinha uma ideia em mente, só que ela não queria ouvir. Não havia como negar que as coisas desandaram. — Sophia nada. Você foi um i****a. Eu sabia que iria acabar estragando tudo para mim. — Amo você, e nunca pensei em prejudicá-la — as palavras passaram sem ser percebidas. — Sério que não se sente culpado pelo que fez? — Se me deixar explicar, não achará que sou um completo i****a. A essa altura, os dois estavam brigando na porta de casa para que qualquer um que passasse, pudesse ouvir. — Você é um i****a! — Um i****a apaixonado que só quer cuidar de você, não prejudicar. — Dessa vez ela ouviu e entendeu a palavra. Isso a calou por um instante. — Me desculpa por ter feito isso sem dizer nada. Achei que já estaríamos na estrada há minutos, mas aquela Cruella apareceu do nada. Eu não iria deixar que, novamente, ela magoasse você com suas falas. — Sophia ficou nervosa. Estava sentindo a ansiedade bater nela. Tudo pelo que lutou, foi jogado fora em duas palavras. — Eu não sabia que algum dia me apaixonaria dessa forma. Ver você triste foi uma das piores coisas que já senti. Não vou deixar que essa merda destrua você, como me destruiu — ele disse de novo. Saiu tão facilmente, que ela se impressionou. No momento, ela não sabia se o matava de tanta raiva ou o beijava por tê-lo ouvido repetir essa confissão. — Olha o que me tornei: alguém detestável em quem você não confia. Sei bem que me odeia, que desaprova tudo que sou, mas foi você quem mudou tudo de uma hora para a outra, que me deu significado e transformou meus dias em momentos bons. Não foi fácil para mim também. Não faz ideia do que eu tive que fazer, do que ouvi e do que deixei para trás. — Seus olhos cheios de emoção se encheram de água. Soph parou e prestou atenção no que ele dizia. Ela nunca tinha escutado nada disso. Ele sempre era brincalhão e sarcástico, mas sentimental não. Ela estava irritada, porém esperaria por uma conclusão dessa vez. — Eu quis desistir, quis ser normal. Porém, minha família só tinha, e tem, a mim. Minha mãe estava doente e meu irmão era uma criança. Fiz tudo que fosse possível para permanecer aqui e ganhar dinheiro. Fui humilhado e usado. Sou um bosta. Nada disso justifica a minha atitude, nem todos esses anos, mas hoje eu sei como lidar com isso. Tenho você, e não é minha intenção te prejudicar. Eu me mataria antes de fazer isso. — Ele tentou se aproximar dela de novo, e, dessa vez, conseguiu. Olhou em seus olhos, que estavam serenos, e viu que estava vulnerável a ela. Não podia mais esconder seus sentimentos. Ali, Chris poderia perdê-la, e não era o que ele queria. — Eu te amo e não quero que passe pelo mesmo que eu. Não tem que se sacrificar tanto, se machucar e se magoar só porque uma i****a quer que você dê 200% de si só para ganhar mais. — O que vou fazer agora? Não tenho mais nada. Chris poderia estar sendo sincero e querendo protegê-la, mas fez algo imperdoável. — Você é Sophia Thompson. — Franziu o cenho. — Não precisa daquela babaca. Existem milhares de outros agentes. — Você sabe que temos um contrato e que achar outra pessoa me faria perder o juízo... — Sophia, você já estava perdendo a cabeça. Só você que não percebeu. — Isso era verdade, mas ela ficava com medo de se aventurar com outro agente e se ferrar tanto quanto com quem já estava. — Deixe-me cuidar de você. — Não pode tomar decisões sem minha autorização — ela falou, enraivecida. — Eu sei. Desculpe. — Recomeçar será um saco. Sem falar na fúria que despertou nela. — Não acho que ela seria louca de nos atacar depois do que fez você passar. — Eu aposto que vai. Ela não aceita ser rejeitada. — Que bom que eu não ligo. — Não sei se o perdoei ainda. Não era fácil engolir isso, mas depois do discurso, ela estava aberta a ouvi-lo. — Eu sei. Mas aprendi a ser paciente. — Isso não é brincadeira. — Pôs as mãos na cintura e cerrou os olhos. — Eu sei. — Riu ao puxá-la para junto dele. — Prometo resolver tudo. — Se me ferrar, eu ferro você. — Ele já tinha ouvido isso antes. — Você tem razão. Então, vou ficar esperto.
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