fora das câmeras

2592 Words
A viagem fez bem aos dois. Eles estavam felizes e relaxados, achando que viviam um mar de rosas. Sophia pensou que nunca tinha sido feliz desse jeito e acreditou que pudesse estar sonhando. Ela mesma sabia que o homem perfeito não existia e que Christian passava longe disso, no entanto algo nesse cara defeituoso a impressionou e a prendeu com suas garras. Ela já não se via distante dele. Chris também estava feliz. Isso nunca havia acontecido. Ele sabia que tinha percorrido um longo caminho para conquistar Sophia, e deu certo. Entretanto, uma parte dele, a que ficou com os pés firmes no chão, acreditava que alguma hora tudo isso iria acabar. Sempre acontecia algo para estragar. O que o impulsionava a aproveitar esse paraíso antes das coisas desmoronarem. Os celulares deles estavam no modo avião. Era bom não serem atrapalhados por problemas artísticos, mas os dois estavam a um passo de serem puxados para dentro deles. — O que é tudo isso? — Sophia se perguntou, vendo mais fotógrafos do que o normal. Na verdade, era como uma alegoria em cada casa daquele imenso condomínio de luxo. Bem... Não era bem um condomínio, mas parecia ser. Ali moravam muitas personalidades da mídia, então, obviamente, tinha paparazzi uma vez ou outra e algum repórter. — Estão na sua casa — ela comentou. — Será que pegou fogo? — ele brincou. Já estava calejado com tudo isso. Desde cedo sabia identificar uma polêmica, e ali estava uma, bem na porta dele. — Acho que fiz algo r**m. Ou alguém disse que eu fiz. — O que fez? — Franziu o cenho, olhando para o noivo. Ela não via nada de r**m desde que eles foram ao pequeno passeio à casa de seus pais, portanto estava confusa. — Christian! — Irritou-se com a falta de informação. — Eu não faço ideia. Geralmente, faço coisas o tempo todo — foi sincero. — E você sabe: tudo que tem meu nome, chama a atenção. Por isso as pessoas usam isso contra mim. — Estacionou na sua vaga com certa dificuldade. Os fotógrafos e um ou dois fofoqueiros de blogs estavam no meio do caminho. Essa e muitas outras coisas eram a parte r**m da fama. Eles nem podiam tirar alguns dias de folga, que já arrumavam algum falatório. Soph respirou fundo antes de sair do carro, acompanhada por Chris, que pegou em sua mão e a levou para dentro. Na porta da imensa casa de luxo, estavam os assistentes pessoais dos dois e Eduard, que estava pálido. Christian deduziu que o baixinho miserável tinha feito outra merda usando o nome deles. Dessa vez o mataria. De caras fechadas, eles entraram em casa, fugindo daqueles urubus idiotas. Assim que a porta se fechou, Chris encarou os três, que já estavam ali. — Que p***a aconteceu aqui? — questionou, furioso. — Não posso nem tirar dois dias de folga? — É. O que aconteceu? — Sophia cruzou os braços. Evitou buscar informações na internet, pois não queria se estressar ainda mais. — Estão vivendo em outro planeta? — Eduard começou com um tom autoritário e arrogante, mas foi perdendo isso ao ver Christian ainda mais furioso andando em sua direção. — Foram os dois que começaram com isso. — Com isso o quê? — Ele cerrou os olhos. — Angelina expôs vocês publicamente — disse Keilly, achando que Christian acabaria com Eduard. Ele parou imediatamente, encarando a mulher de olhos castanhos. — O quê?! — Sophia se preocupou. Ela quase tinha se esquecido da existência daquela bruxa, então se lembrou de que eles mexeram em uma casa de abelhas. — O que ela disse? — Que tudo entre vocês é uma farsa, que Christian é abusivo e tóxico e que ele foi a causa do seu machucado. — Keilly estava com medo de dizer isso, tanto por Soph, quanto pela forma como Christian estava. Não era verdade que ele era abusivo, pelo contrário, ele foi fofo ao defendê-la. Keilly não havia imaginado que o safado poderia ser tão protetor e cuidadoso com a sua amiga. — As pessoas estão fervorosas — ela contou. — Sua popularidade está caindo desde ontem. Como não estavam sabendo sobre isso? — Eduard estava tão nervoso, que suava. Sabia o quanto isso acabaria com a carreira do seu cliente. Christian não sabia o que dizer. Era a primeira vez que não sabia o que fazer. Nunca teria imaginado que Angelina seria tão baixa e mentirosa. — Que absurdo. Christian nem estava comigo quando isso aconteceu. Como ela pôde ser tão babaca? — Soph teve dois dias de paz, mas, no momento, estava nervosa, quase roendo as unhas. Christian era o único ali que se importava com ela o bastante para tomar aquela atitude. Ele tomou uma decisão precipitada, porém não a machucou. Nunca tocou nela para a machucar, muito pelo contrário. — Está surpresa? — Keilly estava certa. Angelina era uma cobra venenosa. — Temos que consertar isso antes que Christian perca muito mais do que já perdeu: os contratos, as parcerias... — Sinceramente, estou cansado disso tudo — ele disse, chateado, saiu da sala e foi para o seu quarto. Sophia se sentiu m*l por vê-lo assim. Claro que ele não era um santo, mas vivendo todos os dias em Hollywood, ela entendia o porquê de ele estar tão cansado. Era difícil viver sob os holofotes: sempre se explicando e deixando de viver por conta do trabalho. De fora, Sophia achava que tudo, ou quase tudo, era culpa dele por ser o Christian Harrison, só que, depois de conhecê-lo, soube que, mesmo que ele fosse um babaca antes dos dois ficarem juntos, ele não era mais desse jeito. Chris só quis ajudar. Achou que demitindo aquela agente, tudo ficaria bem com Sophia, porque ela não seria pressionada e não teria que perder a sanidade, assim como ele perdeu a sua durante a carreira. Ele planejava um grande futuro para ela, levando-a a ser uma das melhores no ramo do entretenimento. Todavia, depois do que houve, todos achariam que, sim, ele era abusivo, pois que tipo de namorado toma tais decisões sobre a vida da namorada desse jeito? — Vou resolver isso — Sophia disse, irritada, indo novamente na direção da porta, onde muitos esperavam para registrar mais alguma parte de sua vida. Ela evitava ficar no meio do furacão. Até aquele momento pensou que não precisaria expor sua vida particular e que ninguém precisava saber de cada passo que ela dava. Entretanto, Soph não deixaria as pessoas acharem que seu namorado era um monstro obsessivo, quando, na verdade, ele era doce, gentil, gostava de agradá-la e estava mais a servindo do que sendo servido. Conhecer Christian desse jeito estava sendo bom, e ela realmente o amava. — Sophia, o que está fazendo? — Keilly a seguiu, preocupada. — Temos que ter um texto pronto. Não pode fazer isso sem antes pensar no que irá dizer. — Sei bem o que vou dizer. — Irritou-se antes de girar a maçaneta. — Ele é meu namorado, eu o amo, e ninguém vai desmoralizá-lo usando mentiras para derrubá-lo. A assistente falaria mais alguma coisa, só que a morena abriu a porta. As pessoas se amontoaram e prestaram atenção nela. Sophia conhecia as duas mulheres, que eram donas de blogs bem conhecidos na cidade e no país. Fofocas alimentavam bocas de leões, e, nesse momento, essa seria a forma mais rápida de apagar o fogo que se alastrava pelo trabalho de uma vida. Não importava se era um lixo jogado na calçada ou o uso ilícito de drogas, eles pintavam como a coisa mais absurda do mundo. — Sophia, é verdade o que sua ex-agente falou sobre o seu relacionamento com Christian Harrison? — uma delas perguntou e os demais concordaram. Os flashes incomodavam os olhos dela. Essa era uma das piores partes de ser uma figura pública. — Esta é a primeira vez que ouço isso, e penso que Angelina só está irritada porque a demiti há alguns dias — ela começou. Apesar de estar determinada a falar a sua versão dos fatos, Soph sentia suas mãos suarem e seu coração acelerar. Quando ela não estava em uma personagem, sentia-se como um peixe fora d’água. — Nada do que ela relatou é verdade. Inclusive, meu descontentamento com ela foi por uma invasão sua na minha vida pessoal. O que me abalou consideravelmente, me levando a me desconcentrar e machucar o tornozelo. Como se já não bastasse isso, ela me deu um ultimato absurdo que me colocava em uma competição com uma colega de trabalho. — Então o acidente, na realidade, foi por uma falta de concentração? — a mulher duvidou. — Por que eu mentiria? — Franziu o cenho. — É um motivo vago. — Foi o que aconteceu. — Está dizendo que não fazem isso por popularidade e que Christian Harrison não é abusivo? — Não precisamos de popularidade. Quem conhece o Chris, sabe que ele é um fofo e que cuida de mim como nenhum outro já cuidou. Por isso o amo tanto. E nós vamos nos casar em breve. Se, por um acaso, ele fosse esse monstro, eu não seria louca de aceitar seu pedido. — Nossa! Esse anel é lindo e essa pedra é enorme. — A morena observou. Claro que as câmeras não deixariam isso de fora. — Se tudo foi apenas uma forma de Angelina se vingar pela demissão, onde está Christian agora, que não aparece para esclarecer as coisas? — Assim como eu, Chris está chateado. E nem é para ele que devem pedir explicações. Atacar Christian se tornou uma rotina, mas agora ele não está mais sozinho. Então, se eu sou o problema da Angelina, espero que ela seja justa e deixe de inventar mentiras sobre o meu relacionamento. Estamos felizes e nada, nem mesmo falsas notícias, irá me tirar essa alegria. — A própria Sophia se impressionou com sua coragem. Ela odiava ficar em frente às câmeras se não fosse para gravar um filme ou série. Soph fechou a porta e respirou fundo. Keilly a encarou com o coração na mão, sem saber se isso iria piorar as coisas. — Acha que fui bem? — Finalmente, ela pôde demostrar quão nervosa estava. — Acho que sim. Estava confiante. — Foi atuação. Não estou nada confiante. — Acho que foi melhor do que o silêncio — Eduard se meteu. — Claro que vão continuar comentando, mas a melhor forma de vocês mostrarem que estão bem e felizes é vivendo sem se preocuparem com essas fofocas. Sophia tomou isso como um conselho, saiu da porta, andou até a escada e subiu os degraus, indo para o quarto de Christian. Sua ansiedade atacava, porém estava sob controle. Chris entrou no banho, achando que levaria os problemas para o ralo, porém não funcionou. Ela o viu de frente ao espelho, olhando para si mesmo, apenas com uma toalha enrolada na cintura, e o abraçou, sentindo conforto e achando que isso amenizaria o seu nervosismo. — Tenho certeza de que tudo vai passar — ela disse, tentando animá-lo. — Vou me aposentar das telas — foi firme e quase frio. — O quê?! — Ela o soltou para o encarar. — Não precisa exagerar. Coisas assim sempre acontecem. Vamos contornar essa situação. Chris riu ao ver sua preocupação. Ele abaixou a cabeça por alguns minutos, virou-se para a olhar e se encostou na pia, de costas para o espelho do banheiro. — Estou cansado, e comecei a ver o quanto isso me faz ser detestável e infeliz. — Está infeliz? — Ela franziu o cenho, preocupada. — Com você não, mas com o trabalho sim — explicou, puxando-a para mais perto de si. — Sou bom em outras coisas, e posso me concentrar em você agora. — Mas... achei que faria de tudo para continuar nas telas. — Sophia se culpava, afinal, achava que isso tinha sido por causa dela. — E eu faria — confessou. — Mas conhecer você me abriu os olhos. — Lembrava-se de toda a sua trajetória e se condenava por tudo. O que só reafirmava a sua decisão, que foi tomada em poucos minutos. — Minha vida é um inferno desde os meus 18 anos, e talvez até antes disso. — Como assim? Ele dizia, às vezes, o quanto foi difícil começar cedo, porém não tinha usado essas palavras antes. — Aceitei fazer de tudo um pouco e me esqueci de viver fora das câmeras. Tudo foi se amontoando, e a única forma que achei de sobreviver a isso foi bebendo e usando coisas erradas. — Essa parte, todo mundo sabia. A vida de Christian Harrison era um livro aberto. Bem... Pelo menos a parte r**m que ele deixava aparecer ou fotografaram. — Eu não fazia ideia de como era viver sem atuar. Era para ganhar dinheiro, mas depois passou a ser uma meta. Isso me tornou vazio e nunca fui feliz realmente. Apesar de sorrir e brincar, isso durava pouco. Eu não podia fugir. Depois que meu pai e irmã morreram, vi minha mãe entrando em depressão, precisando de mim. Não podia sair e visitá-la quando queria, pois tinha que trabalhar. Sophia sempre achou que Christian era um babaca safado, quando, na verdade, estava usando isso para mascarar o quão ferido estava. Ela se martirizou novamente, vendo todo esse sentimento saindo de uma só vez. Ela nunca o tinha visto ficar tão emocionado. Seu rosto estava triste e seu corpo tenso. Soph o abraçou forte, sentiu seu cheiro, beijou o seu pescoço e esperou. Estava triste por tudo que ele passou sem que ninguém tivesse conhecimento. Acreditou que era injusto ele achar que tudo era culpa dele. — Sempre tive que me defender. E sei o quanto sou errado, que tomei atitudes ruins. Não faz ideia de quantas vezes eu quis parar ou... acabar de vez com essa tortura. Mas não podia, porque tinha que cuidar da minha família. — Sinto muito. — Ela sentia mesmo, tanto que se enfureceu ainda mais com aquelas mentiras que circulavam pela mídia. — Você não merece nada disso. — Estou bem agora, com você. — Ela se afastou, olhou em seus olhos e o viu sorrir, mesmo que pouco. — Não preciso ser o Christian Harrison dos cinemas para ser feliz. Sinceramente, eu não era, mas desde que a conheci, estou em paz, apesar da mídia me perseguir. — Vai deixar tudo que conquistou. Como pode não estar chateado? — Estou, só que não como pensei que ficaria ao cogitar nunca mais atuar. — Tem certeza de que é isso que quer? — Assim como tenho a certeza de que vou me casar com você. Quem imaginaria que o cafajeste de Hollywood seria tão sensível e fofo? Sophia ainda se sentia m*l por ver o homem que ela admirou e namorou à distância por anos, deprimido e pensando em abandonar a sua carreira renomada, mas estava feliz por ver alguém diferente tomando o seu lugar. Soph estava orgulhosa. Nunca pensou que encontraria o amor em alguém que ela passou a odiar. Já Christian estava mais certo do que nunca que o melhor para ele seria, finalmente, largar o que mais lhe cobrava e tentar ser alguém diferente. Ele já tinha conquistado muito ao longo dos 30 anos de carreira, e era alguém inteligente, que fazia bem mais do que só atuar. Daria os holofotes à mulher que amava, estando ao seu lado; não para a controlar, mas para evitar que acontecesse com ela o que aconteceu com ele.
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