Christian não sabia que iria gostar tanto de conhecer profundamente a menina que, até pouco tempo, era só mais uma atriz irritante com quem ele teria que contracenar. Sophia não era a mulher que mais chamaria a sua atenção se estivesse em um salão cheio de mulheres bonitas. Ela tinha a sua beleza específica e era sexy, entretanto o tipo dele era as mais espalhafatosas, peitudas, que usavam o mínimo de roupas e tinham um sorriso safado no rosto.
Sophia Thompson era doce, inocente em seu olhar, na maior parte do tempo, morena e, mesmo ficando sexy em algumas roupas, escolhia ficar, geralmente, com tecidos mais largos, moletons e casacos, em um estilo mais jovial e despojado.
Porém, o destino a colocou no caminho do cafajeste e o fez enxergá-la, finalmente.
Aquela personagem tinha as suas características mais fiéis: sempre irônica, inocente e sorridente. E Christian Harrison não tinha como ignorar sua parceira, tendo que a olhar nos olhos, tocar nela e a beijar. Foi aí que ele começou a perceber que existia outra coisa mais empolgante para fazer: seduzir a pequena Thompson e lhe provar que ela era caidinha por ele, só era irritante demais para perceber ou admitir isso.
Contudo, ele não esperava que levaria uma rasteira da garota, sendo ele o apaixonado que compraria anel de noivado, que sonharia e pensaria nela a todo momento e que largaria a vida de solteiro só para ficar ao seu lado. Ou melhor, que iria à sua casa e conheceria uma vida mais simples e amorosa, uma que ele não havia tido a oportunidade de ter.
Sim, sua mãe era amorosa e seu irmão era um bom garoto, porém, sendo o mais velho, e depois da morte do seu pai e irmã, foi ele quem teve que ralar. Christian já tinha trabalhado em muitos lugares antes da carreira de ator alavancar. Era um menino, só que já tinha consciência de que se não fosse o mais forte, sua família que restou desmoronaria.
Marie Anne era uma mãe babona que exibia os troféus da filha, as capas de revistas nas quais ela tinha saído e os primeiros trabalhos registrados dela. Também contava as histórias com um enorme sorriso no rosto.
Chris se lembrou da sua mãe, que não via há quase um ano. O trabalho atrapalhava esse relacionamento, que era mais à distância. Ele tentou, por diversas vezes, trazê-la para LA, porém ela gostava do Texas e não suportaria a agitada Los Angeles.
— Ah! Olha o que achei — Marie disse, surpresa, ao olhar para uma caixa que estava no fundo do guarda-roupa de madeira, que era enorme.
Christian estava escorado na cama, olhando os papéis com as fotos de Sophia aos 17 anos. Sim, ela era linda, mas naquela época era meio franzina.
— Você vai gostar disso. — Marie carregou a caixa para a cama.
Chris abandonou as revistas e prestou atenção no que havia no objeto. Soph, por sorte, havia ido com o pai ao centro da cidade. Pelo horário, já deveriam estar voltando. Christian ainda tinha que ganhar a confiança do velho, que parecia desconfiar de cada passo que ele dava. Não podia julgá-lo. Se ele tivesse uma filha, também ficaria de olho em um cara com um currículo como o dele.
— Sophia não deve ter lhe contado, e espero que ela não se chateie. — A mulher escondia o que estava no pedaço de papel em seu peito. Christian ficou curioso.
Marie Anne não queria arrumar encrenca com a filha. Fazia anos que ela chegou em casa, arrancou todos os pôsteres da parede, colocou-os um saco e o levou para fora. Mas a mãe, que guardava tudo, resolveu pegá-lo e guardá-lo, achando que, um dia, aquela mágoa desapareceria. Marie tinha se esquecido disso, e quando olhou para a caixa, percebeu que deveria mostrá-la ao Chris, já que, depois de anos, os dois, milagrosamente, estavam noivos.
— O que a senhora guarda aí? — O rosto dela e o objeto aguçavam a curiosidade de Christian.
— Sophia, um dia, já foi muito a sua fã — falou, finalmente, mostrando-lhe as coisas.
Chris praticamente pulou do canto onde estava sentado. A mulher tirou de dentro da caixa diversos outros pôsteres de quando ele era mais novo.
— Ela amava seus filmes. Recortava as revistas e colava no quarto.
Christian teve que se levantar da cama e os colocar sobre ela para ver melhor tudo que a mulher guardava. Por dentro, estava extasiado e rindo como um i****a. Sophia tinha se “esquecido” de lhe dizer alguns detalhes.
— Isso não é real. — Começou a rir pelo lado de fora também. — Sophia?! — Franziu o cenho ao olhar para a mãe dela. — Sophia Thompson era a minha fã?
— Ela não lhe contou que vocês já tinham se encontrado?
Espera! O quê?!
Chris parou no tempo, franziu o cenho de novo e tentou se lembrar de algo.
Claro que nos conhecemos naquele set. Mas antes disso?
— Não nos encontramos antes. — Ainda tentou se lembrar. — Claro que eu já tinha ouvido falar dela, mas encontrá-la ao vivo?
— Oh... Ela não disse. — A mãe estava arrependida.
— Acho que ela deixou de fora algumas coisinhas. — Chris olhou para a cama de novo e tentou adivinhar o que era tudo aquilo.
Como Sophia podia ser sua fã de carteirinha desde muito cedo, se o odiava tanto antes daquele acordo de namoro?
— Acho melhor eu guardar isso. — Marie se preocupou.
— Não vai adiantar. Ainda vou querer saber dessa história. — Sorriu, sabendo que dali para a frente teria como tirar sarro de Sophia.
No andar de baixo, ela entrava em casa. Seu pai teve que atender um paciente. Depois de voltar do supermercado e colocar as coisas sobre a bancada da cozinha, ela subiu as escadas, em busca da sua mãe e do seu namorado/noivo.
— Chris! — ela o chamou, achando a casa muito silenciosa. — Mãe? — Notou que havia vozes vindo do seu quarto, abriu a porta, que já estava entreaberta, e entrou. Nem sabia o que esperar. — Achei que tinha... — Olhou para tudo que estava na cama e perdeu a voz. Achou que estava vendo miragens ou que tinha batido a cabeça e estava desacordada. Não podia ser verdade.
— Que bom que chegou. — Christian não escondeu o grande sorriso ao encará-la. Ela estava quase da cor do papel. — Sua mãe me contou uma história engraçada.
— Mãe! — Olhou para a mulher, que se calou. — Eu tinha jogado tudo isso fora.
— Espera... O quê?! — Ele franziu o cenho mais uma vez, surpreso. — Ia me jogar fora?
— Achei que, algum dia, você mudaria de ideia — ela se defendeu.
— Ela, claramente, mudou — ele apontou.
— Vou deixar vocês a sós. — Marie Anne saiu de fininho e Sophia respirou fundo, sabendo que ouviria as piadinhas de Christian.
Assim que eles estavam a sós, ele riu alto, gargalhou, e seus olhos se encheram de água.
— Por essa, eu não esperava. — Ele pôs as mãos no peito. — Juro. Eu poderia criar diversas situações na minha cabeça, mas essa?
— Vou tirar tudo isso daqui. — Passou por ele, tentando ir buscar os pôsteres.
— Nada disso. — Ele a impediu, agarrando-a e a fazendo olhá-lo nos olhos. Ainda se divertia e se questionava sobre muitas coisas. — Não vai tocar nisso antes de me explicar por que e como você, minha crítica ferrenha, era uma fã escondida que passou a me odiar.
— Não deixei claro em todo esse tempo? — Ela não achava nada disso engraçado. Esse era um passado que Sophia tentava esquecer, afinal, foi uma bobagem de adolescente. — Isso é passado, e desejo esquecer.
— Não vai ser fácil tirar tudo isso da minha cabeça. Agora, me conta tudo.
— Christian, para. — Ela bateu nele assim que ele soltou seus braços e só a agarrou pela cintura. — Era para eu ter ateado fogo nisso.
— Qual é? Você me ama há mais tempo do que eu pensava. — Essa era uma história que ele contaria para as futuras gerações. — Por que passou a me odiar? Sua mãe falou que você chegou em casa um dia e arrancou os pôsteres. Por quê?
— Óbvio que você não lembra. Nem me olhou nos olhos. — Chateou-se por ser a piada dele. — Vou passar a odiá-lo novamente.
— Amor, eu nem sabia que tínhamos nos encontrado antes.
— Claro. Você não me deu chance, nem me olhou nos olhos. — Lembrar-se disso só a fazia m*l. Apesar da mudança, Christian não era santo, e Sophia odiava essa parte dele. — Além do mais, eu era uma adolescente. Só queria conhecer você, e me decepcionei.
Christian se sentiu m*l ao ouvir isso. Perdeu a graça irritá-la vendo sua decepção.
— Juro que não foi minha intenção. — Largou-a. — Sabe que meu passado não é um dos melhores. Tenho que admitir que fui um babaca com muita gente.
— Eu sei. — Cruzou os braços e viu em seu rosto que ele se arrependeu. — Como eu disse, é passado. Afinal, depois daquele dia, simplesmente, não permitiu mais que suas fãs mais novas chegassem perto de você. Talvez não quisesse se chatear com as crianças irritantes que só queriam uma foto com você.
— Não foi por causa disso. — Essa parte, ele queria esquecer. Aquela situação quase o levou para o buraco de vez. — Acredite. Sou um babaca, arrogante e egocêntrico, mas não foi por isso. E nem quis magoar você. Se eu tivesse em outra fase, com certeza teria sido mais gentil.
Nem Sophia nem Christian queriam que o passado atrapalhasse a nova fase em que os dois estavam felizes.
— Como eu disse, é passado.
— Devo confessar que você era boa em decoração. — Ele não deixaria passar essa piada. — Aquela dali é a mais bonita. — Apontou para uma foto dele sem camisa.
— Vou atear fogo nela — ameaçou.
— Não pode me queimar. — Chris não tinha imaginado que estaria tão feliz em estar com alguém. — Afinal, você gosta disso ao vivo.
Sophia revirou os olhos e não pôde esconder o sorriso.