Até que a vida nos separe | [MORRO]

41" Nas garras da tempestade "

Maria Luiza

Acordei com a sensação de um calor intenso queimando minha perna, proveniente dos primeiros raios de sol que filtravam pela janela. O calor do sol parecia intensificar-se a cada minuto, inundando o quarto com uma luz dourada que tornava tudo ao redor mais vivo e vibrante. Guilherme ainda estava deitado ao meu lado, seu corpo quente encostado no meu, e seus braços me envolvendo em um abraço protetor. Senti um alívio por ele não roncar; seu sono tranquilo proporcionava uma serenidade rara nas manhãs.

Tentei me movimentar discretamente para ir ao banheiro, mas, ao fazer isso, notei que ele me segurava com mais firmeza. Seus braços se apertaram ao redor de mim, quase como se inconscientemente tentasse me manter no lugar, impedir minha saída. O calor do sol e a sensação do corpo dele me envolvendo criavam uma mistura de conforto e desconforto, uma luta entre a necessidade de me levantar e a vontade de permanecer ali, envolta em seu abraço.

Ajeitei a posição, tentando encontrar um jeito de sair sem perturbá-lo, mas a sensação de estar tão próxima dele era difícil de ignorar. Com um suspiro, decidi aguardar um pouco mais, permitindo que o calor do sol e o calor de Guilherme se fundissem em um momento de tranquilidade antes de buscar meu alívio no banheiro.

Malu _ Guilherme, eu preciso ir trabalhar, me solta! _ falei, me contorcendo.

Ele ergueu a cabeça lentamente, os olhos se fixando nos meus com uma intensidade que fazia o tempo parecer suspenso. Seus dedos se moveram para o celular que repousava na mesinha ao lado da cama, a luz suave da tela iluminando seu rosto enquanto ele desbloqueava o aparelho. Com um gesto lento, ele conferiu as horas, a expressão dele mudando ligeiramente conforme absorvia a informação. A luz fria da tela lançava sombras sutis, acentuando os traços de seu rosto e criando um contraste intrigante com a penumbra ao nosso redor.

Águia _ Ainda são 6:30, Malu. Você vai para lá às 8:00 _ disse ele, com a voz rouca.

Malu _ Claro que não, o salão abre às 6:00, e meu primeiro horário é às 7:20.

Águia _ Não vem de perreco pra cima de mim, ontem você foi às sete e pouca da manhã e chegou lá no seu trabalho umas 8:00 _ ele disse, revirando os olhos.

Águia _ Como você sabe disso?

Águia _ Eu sei de tudo, pô! _ ele respondeu, se virando de barriga para baixo.

Malu _ Você está me vigiando, senhor Águia? _ perguntei, subindo em cima dele.

Águia _ Eu não, tenho coisas mais importantes para fazer _ ele disse, tentando brincar

Malu _ Tá bom falei, me levantando com um exagero teatral. Ele se levantou e me abraçou por trás, beijando meu pescoço.

Águia _ Eu estava brincando, gostosa. Vai se arrumar que eu te levo _ ele disse.

Malu _ Você não tem coisas mais importantes para resolver? _ perguntei, enfatizando o "mais importantes".

Águia _ Iih pode parar, eu estava zoando, pô! _ ele respondeu, me dando um beijo.

Me separei dele e fui até o guarda-roupa separar uma roupa. Guilherme, que tinha dormido apenas de cueca, estava agora se vestindo. Fui ao banheiro tomar um banho e peguei uma escova de dentes nova que tinha na gaveta e dei para ele.

Quando voltei para o quarto, Guilherme estava sentado na ponta da cama, digitando algo no celular. Ele largou o celular e me olhou com um sorriso de canto.

Troquei de roupa na frente dele mesmo. Já tinha visto tudo aqui. Vesti uma calça cargo bege, um cropped de manga longa branco e coloquei um par de Air Force. Arrumei minhas coisas na minha mini mochila branca, peguei meu celular do carregador e mandei uma mensagem no grupo onde eu e as meninas estávamos (Letícia e Rebeca):

Whatsapp on

Malu _ Vocês já estão no salão?

Rebeca _ Sim, você é a mais sortuda de todas nós. Suas clientes só marcam horário mais tarde

Letícia _ Na verdade, a minha também marcou mais tarde hoje, mas como sou filha da dona do salão e eu que abro, tive que vir cedo

Malu _ Que triste já estou indo, bjs

Whatsapp off

Malu _ Estou pronta, vamos? _ perguntei a Guilherme, que me olhou nos olhos com um sorriso de admiração.

Águia _ Dá uma voltinha _ ele fez um sinal com os dedos.

Dei uma voltinha, olhando para ele que estava sorrindo.

Águia _ Caramba, você é muito linda, gostosa! _ ele disse, levantando-se e vindo me beijar.

Malu _ Eu sei disso _ me gabei _ Vamos logo, estou com fome!

Peguei minha mochila e fui até a cozinha. Meus pais já não estavam mais em casa; meu pai foi provavelmente para o morro e minha mãe para o trabalho.

Guilherme e eu tomamos café da manhã e depois ele me levou para o trabalho. Quando chegamos, Letícia estava do lado de fora, fumando um cigarro. Ao me ver descendo da moto, ela abriu um sorriso malicioso.

Águia _ Não vai me dar nem um beijinho de agradecimento? _ Guilherme tirou o capacete e me provocou.

Fui até ele, dei-lhe um beijo e tentei me afastar, mas ele não me deixou.

Malu _ Guilherme, eu tenho que trabalhar! _ falei, tentando me separar.

Águia _ Adoro quando você me chama pelo meu nome, sabia? _ ele disse, dando-me outro beijo.

Letícia, observando a cena, gritou:

Letícia _ Não é querendo atrapalhar o momento do casal, mas vocês estão no meio da rua. Se vocês quiserem t*****r, tem um motel aqui pertinho, e é baratinho! _ riu.

Águia _ Calada você é uma poeta, Letícia! _ Guilherme respondeu com deboche. Ele me deu um selinho e me soltou.

Malu _ E eu tenho que trabalhar! repeti, indo até Letícia.

Letícia _ Safadinha! _ brincou.

Malu _ Fica caladinha, tá? _ pedi, entrando no salão.

Leticia _ Você vai me contar tudo! _ insistiu.

Rebeca apareceu do nada, curiosa:

Rebeca _ O que aconteceu?

Malu _ Depois, meninas. Minha cliente já está chegando e eu preciso organizar as coisas na minha sala _ respondi, começando a me dirigir para a minha área.

Leticia _ Depois você vai contar tudo, não adianta fugir do assunto!_ insistiu.

Malu _ Tá bom, fofoqueira! _ ri.

Fui até minha sala, peguei minha roupa de trabalho que estava na mochila e fui ao banheiro trocar de roupa. Coloquei a touca no cabelo para não encher de pó e comecei a organizar as coisas na mesa. Uns cinco minutos depois, minha cliente chegou.

Para minha surpresa, era Amanda. Fiquei assustada ao vê-la entrar sem o filho. Amanda parecia ótima, com extensão de cílios e mega hair.

Malu _ Oi, bom dia, pode se sentar e ficar a vontade _ falei cumprimentando-a.

Amanda _ Ah, sim! _ respondeu, sentando-se.

Malu _ Você já sabe qual unha quer fazer? _ perguntei.

Amanda hesitou e, depois de um momento, disse:

Amanda _ Na verdade, não. Quero que você me surpreenda. _ respondeu depois de um tempo calada.

Malu _ Tá bom. Você prefere unha grande, média ou pequena? _ perguntei, observando-a com atenção.

Amanda _ Grande, bem grande!

Malu _ Mas isso não vai atrapalhar você a cuidar do seu filho? _ perguntei, preocupada _ Unhas grandes podem arranhar.

Amanda interrompeu:

Amanda _ Não estou pedindo sua opinião. Eu sou a cliente aqui, então eu escolho.

Eu, normalmente calma, mas agora um pouco exasperada, respondi:

Malu _ Olha só, ou você me respeita ou pode se retirar. Você pediu para eu fazer o que eu quisesse, então eu apenas estava sendo profissional. Em nenhum momento te tratei com falta de respeito, então trate de me respeitar.

Amanda _ Olha ela mostrando as garrinhas. Eu sabia que você não era essa menininha boba que você se faz ser. Tá enganando todo mundo, né? _ respondeu, debochada, enquanto cruzava os braços.

Malu _ Por favor, me dá licença! _ falei, levantando-me e abrindo a porta para ela passar.

Amanda _ Claro que não, eu paguei o adiantamento _ retrucou.

Malu _ Não seja por isso, te devolvo o dinheiro. Você pode passar na recepção e pedir, agora saia! _ insisti

Amanda _ m*l educada! Eu vou acabar com esse buraco que vocês chamam de salão! _ gritou furiosa

Malu _ Pode tentar. Se conseguir, eu te parabenizo! _ respondi com um tom desafiador.

Amanda saiu gritando e batendo os pés. Voltei para minha sala, onde Rebeca e Letícia me seguiram.

Rebeca _ O que aconteceu? _ perguntou, preocupada.

Leticia _ Quem é essa mulher maluca? _ acrescentou, intrigada.

Suspirei, olhando para minhas amigas.

Malu _ Depois eu conto tudo. Vamos apenas tentar retomar o dia _ disse, tentando me acalmar.