Helena voltou cabisbaixa, sua mente girando em torno do enigma que o pacote representava. Ela encarou o endereço impresso no pacote e um frio percorreu sua espinha quando percebeu que era o endereço da sua casa, não o do escritório como ela havia planejado. Uma onda de confusão a envolveu, suas memórias se chocando com o que estava diante dela. Ela tinha certeza de que havia colocado o endereço do escritório, e além disso, não tinha postado o pacote porque havia se encontrado com Leandro naquele dia. Uma mistura de desespero e inquietação crescia dentro dela.
Uma ideia começou a se formar em sua mente, uma ideia que parecia absurda a princípio, mas que ganhava força a cada segundo. Talvez Leandro tivesse encontrado o pacote e, na tentativa de ajudá-la ou mesmo de protegê-la, o tivesse devolvido no lugar dela. A possibilidade desse ato altruísta a fez arregalar os olhos diante da possível realidade. A raiva tomou conta do seu olhar, misturando-se com a confusão e a sensação de traição.
Sem pensar duas vezes, Helena se dirigiu até Leandro, que estava encostado em seu carro, esperando por ela. Seus passos eram decididos, e quando ela chegou perto o suficiente, o encarou com fúria contida. Ela estava irritada e decidida a confrontá-lo.
"Você fez isso", acusou ela, apontando para o pacote em suas mãos.
Leandro franziu a testa, claramente confuso. "O que eu fiz?"
"Isso", disse ela, o tom áspero e furioso. "Você enviou o pacote para mim, não foi?"
Leandro piscou, parecendo genuinamente perplexo. "Eu nem sabia que você estava esperando um pacote, Helena. Como eu poderia ter enviado isso?"
A raiva de Helena não diminuiu, e ela estava determinada a fazer com que ele admitisse o que tinha feito. "Você encontrou o pacote, não foi? E decidiu devolvê-lo para que eu não tivesse mais nenhum motivo para falar com Bruno."
Leandro levantou as mãos em um gesto de rendição, seus olhos ainda mostrando confusão. "Helena, eu nem sei quem é esse cara. Como eu poderia ter feito algo assim?"
Ela apertou os lábios, frustrada por não ter certeza se estava realmente interpretando corretamente a situação. "Você está mentindo, Leandro."
Ele pareceu ferido pela acusação. "Helena, você está louca? Eu não sei do que você está falando! Eu nem sabia da existência desse pacote até você mencionar agora."
Ele olhou para o pacote como se fosse a coisa mais estranha do mundo. Então, com uma calma frustrante, ele perguntou. "O que você tem com esse Bruno, afinal?"
Helena sentiu um misto de raiva, tristeza e frustração. Ela olhou para Leandro com os olhos marejados e respondeu com um tom cortante, "A mesma coisa que eu tenho com você neste exato momento, Leandro. Nada."
Ela deu um passo para trás, sua mente em conflito entre a raiva e a incerteza. A frustração a consumia enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo. As emoções conflitantes a deixavam zonza, e ela finalmente virou as costas para Leandro e entrou no prédio, sentindo-se derrotada.
Se não foi Leandro, quem poderia ter enviado o pacote e por quê? As perguntas giravam em sua mente, e ela sabia que precisava descobrir a verdade.
***
Helena entrou em casa, a raiva fervendo dentro dela, e bateu a porta com toda a força, ecoando o estrondo pelo ambiente. Seu irmão Marcelo e sua mãe Regina estavam na sala, assistindo televisão, e ambos se viraram para olhar surpresos para Helena. Ela segurava o pacote nas mãos, a tensão palpável no ar.
Marcelo ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado com a atitude da irmã, enquanto Regina lutava para não deixar transparecer sua surpresa ao ver o pacote nas mãos de Helena. Helena encarou os dois com uma expressão de fúria contida e não perdeu tempo em lançar sua pergunta.
"Quem foi?", disparou ela, a voz carregada de frustração.
Marcelo trocou um olhar rápido com Regina, antes de responder com calma, "Quem foi o quê, Helena?"
Ela colocou o pacote na mesa de centro com um baque, seus olhos fixos em seu irmão. "Quem foi que pegou esse pacote e enviou de volta para Paraty?"
Marcelo parecia genuinamente confuso. "Eu não faço ideia do que você está falando. Não fui eu."
Regina pigarreou, tentando manter a calma. "Eu nunca vi esse pacote antes, Helena."
A irritação de Helena cresceu ainda mais ao ouvir isso. Ela estava certa de que alguém tinha colocado suas mãos no pacote, alguém que sabia da importância dele. Marcelo olhou para a mãe, um tanto suspeitoso, e então olhou de volta para Helena.
"Espera aí", disse ele, suas sobrancelhas se unindo em uma expressão pensativa. "Mãe, você tem ido ao correio ultimamente, não é?"
Regina encolheu os ombros, evitando o olhar de Helena. "Bem, eu... tenho ido enviar algumas coisas."
Helena fixou os olhos na mãe, sua desconfiança aumentando. "Enviar o quê, mãe?"
Regina hesitou por um momento antes de responder. "Algumas coisas pessoais, documentos, você sabe."
A raiva de Helena cresceu ainda mais diante da revelação. "Enviar algumas coisas pessoais? Você foi ao correio e enviou o meu pacote de volta para Paraty?"
Regina pareceu desconfortável sob o olhar acusador da filha. "Eu não sabia que era o seu pacote, Helena. Eu só estava mandando algumas encomendas e ele se perdeu nos meio das minhas."
Marcelo suspirou, sentindo a tensão no ar. "Espera, o que tem de tão importante nesse pacote, Helena?"
Helena soltou um suspiro frustrado antes de responder, sua voz carregada de desânimo. "Eram trajes, roupas de ciclista que eu ganhei do Bruno."
Regina respirou fundo, tentando manter a calma diante da situação. Ela comentou de forma casual, tentando diminuir a importância do pacote. "Toda essa confusão por causa de algumas roupas do bicicleteiro?"
Helena virou o olhar para a mãe, seus olhos expressando incredulidade. "Não são apenas algumas roupas, mãe. E o Bruno é ciclista, as roupas são especiais para ele. E toda essa confusão aconteceu porque você mandou esse pacote de volta para Paraty."
Regina piscou, surpresa pelo tom ácido de Helena. "Espera, do que você está falando?"
Helena suspirou, a frustração ainda visível em sua expressão. "Bruno apareceu na entrada do prédio, viu Leandro ajoelhado e pedindo para eu me casar com ele. Tudo isso porque você enviou o pacote de volta para Paraty. Eu acabei acusando o Leandro de ter tramado isso tudo, quando na verdade você foi a responsável."
Marcelo soltou um "uau" chocado, processando rapidamente todas as informações. A situação estava se desenrolando de maneira inesperada e cada detalhe parecia mais intrigante que o outro.
Regina, por sua vez, levantou-se do sofá com um sorriso no rosto, como se tivesse finalmente entendido a situação. Sua voz estava cheia de entusiasmo enquanto ela se expressava. "Ah, minha querida, eu rezei tanto por esse momento, por você e Leandro. Tenho certeza de que vocês estão destinados a ficar juntos."
Helena encarou a mãe, seus olhos faiscando de irritação. "Você rezou tanto, não é? Então acho que você precisa rezar mais, mãe. Porque não só Bruno se afastou de mim, como eu mesma acabei acusando o Leandro de ter armado tudo isso, quando na verdade foi culpa sua."
Regina olhou para a filha, sua expressão uma mistura de choque e confusão. Ela gesticulou com as mãos, tentando se explicar. "Eu... Eu não sabia que era algo tão importante, Helena. Eu só achei que estava fazendo algo para te ajudar."
Helena fechou os olhos por um momento, tentando controlar a raiva que a consumia. "Bem, você fez exatamente o oposto, mãe. Parabéns."
Regina estava visivelmente nervosa, suas mãos inquietas enquanto tentava argumentar com a filha. "Helena, você precisa falar com o Leandro e pedir desculpas. Foi injusta com ele, meu bem. Ele te ama de verdade."
Helena encarou a mãe com uma expressão cansada, seus olhos refletindo a tristeza que a invadia. "Eu não vou fazer isso, mãe."
Regina insistiu, sua voz um tanto exasperada. "Você vai sim, Helena. Ele merece uma explicação, pelo menos. Ele estava ali, ajoelhado, te pedindo em casamento, e você simplesmente saiu sem dizer nada. Ele não merece isso."
Helena suspirou, seu rosto contorcido em conflito interno. "Eu sei que ele merece uma explicação, mas eu não posso simplesmente voltar para ele agora."
Regina não parecia disposta a ceder. "Helena, olhe para você. Você ficou tão abalada por causa daquele rapaz que vive no meio do mato, sem qualquer futuro, nem mesmo um trabalho decente. Ele nem se importava com você o suficiente para ficar. Até onde eu sei, ele largou você."
Helena sentiu uma pontada de irritação, defendendo Bruno apesar das circunstâncias. "Você não entende, mãe. Não é assim tão simples."
Regina continuou, sua frustração visível em sua expressão. "E por que você se importa tanto com alguém que não se importou com você? Foram apenas alguns dias, Helena, e acabou. Já está na hora de você voltar aos eixos e perceber que o seu futuro sempre foi e sempre será com o Leandro."
Helena encarou a mãe, seus olhos brilhando com uma mistura de emoções. Ela soltou um suspiro pesado, percebendo que a mãe não iria ceder. "Eu não posso simplesmente voltar para o Leandro e fingir que nada aconteceu. Eu preciso de um tempo para entender tudo isso."
Regina cruzou os braços, parecendo ainda mais frustrada com a teimosia da filha. "Um tempo? Você teve semanas para pensar sobre isso. O Leandro te ama, Helena. Ele merece uma explicação."
Helena apenas balançou a cabeça, sentindo-se esgotada com toda a situação. "Eu vou para o quarto, mãe."
Regina soltou um suspiro frustrado, percebendo que não conseguiria convencer a filha naquele momento. "Pense no que eu disse, Helena."
Helena assentiu levemente, virando-se e caminhando em direção ao quarto. Ela sabia que precisava resolver as coisas com Leandro, mas no momento, suas emoções estavam tão tumultuadas que ela m*l sabia por onde começar. A confusão em seu coração era uma batalha que ela teria que enfrentar sozinha.