Semanas haviam se passado, mas ao ver Bruno parado em sua frente, a sensação era de que foi ontem. Seu coração disparou involuntariamente, e Helena teve que se esforçar para não demonstrar a surpresa e a emoção que sentiu. Aqueles olhos familiares, aquele sorriso que costumava iluminar seus dias, tudo estava ali diante dela.
Leandro olhou de Helena para Bruno, claramente confuso com a situação. Ele se levantou, seu semblante passando de confiança a incerteza. Helena sentiu seu estômago se apertar, sua mente girando para compreender o que estava acontecendo. O ex- noivo de Helena, percebendo a tensão no ar, se levantou e pigarreou suavemente, trazendo a atenção de Helena de volta à realidade. Ela o encarou por um momento antes de recompôr sua expressão, buscando entender o que estava acontecendo.
"Oi, Bruno", ela finalmente conseguiu dizer, sua voz soando trêmula. " O que está fazendo aqui?
"Oi, Helena," Bruno disse com uma voz que parecia um pouco nervosa. "Eu estava passando por aqui e... bem, decidi entregar esse pacote para você."
Helena reconheceu o pacote em suas mãos e franziu o cenho, confusa. "O que esse pacote está fazendo com você?"
Bruno coçou a nuca, visivelmente desconfortável. "Ele voltou para mim várias vezes. Aparentemente, os correios não conseguiram entregá-lo. Então, eu decidi fazer o que você pediu na carta... entregar pessoalmente."
Ela ficou atônita, processando as palavras de Bruno. Ele tinha lido a carta, a carta que ela escreveu como uma espécie de desabafo e que nunca esperou que ele visse. O fato de ele ter se esforçado para entregar pessoalmente o pacote a deixou sem palavras.
Helena segurou o pacote com as mãos trêmulas, seus dedos acidentalmente tocando os de Bruno enquanto ela o pegava. Uma eletricidade pareceu percorrer seu corpo no momento em que suas peles se encontraram. Ela olhou nos olhos dele por um instante, buscando entender o que estava acontecendo entre eles.
Leandro, percebendo a conexão palpável, se aproximou um pouco mais e estendeu a mão. "Oi, eu sou Leandro, o noivo de Helena."
Helena sentiu a necessidade de esclarecer as coisas rapidamente. "Ex-noivo, Leandro. Ex- noiva. " ela corrigiu, lançando um olhar significativo para Leandro.
Leandro pareceu momentaneamente desconcertado, mas logo se recompôs. "Bem, tecnicamente ex, mas faltou pouco para voltar a ser o atual."
Bruno observou a interação entre os dois, sua expressão indecifrável. Ele parecia prestes a dizer algo quando finalmente soltou um suspiro e dirigiu seu olhar novamente a Helena.
"Helena, eu não vim aqui para atrapalhar nada. Só queria entregar o pacote e... espero que esteja bem." Seu tom era suave, e seus olhos carregavam uma mistura de tristeza e nostalgia.
Ela sentiu uma mistura de emoções transbordando dentro dela. Aquele reencontro era mais do que ela esperava, mais do que estava preparada para lidar naquele momento. Mas, enquanto olhava para Bruno, as memórias dos momentos felizes e das tristezas que compartilharam voltaram à tona. E, apesar das circunstâncias atuais, uma parte dela ainda se sentia ligada a ele.
"Obrigada por entregar o pacote, Bruno," ela disse com sinceridade, segurando o pacote um pouco mais perto do peito. "Foi bom te ver de novo."
Ele assentiu, oferecendo um sorriso triste. "Você também, Helena."
Ele se virou para partir, mas antes de afastar-se, seus olhos encontraram os dela mais uma vez. "Cuide-se", ele disse suavemente e então se afastou, deixando Helena com o pacote em mãos e um turbilhão de sentimentos em seu coração.
***
Bruno caminhava atordoado pelas ruas movimentadas de São Paulo. Seu encontro com Helena havia deixado sua mente em um turbilhão de emoções que ele não estava preparado para lidar. Ele não tinha a menor ideia de que a encontraria daquela forma, especialmente ao lado de um noivo, ou ex-noivo, para ser mais preciso. Sua imaginação durante toda a viagem o levou por um caminho completamente diferente: bateria na porta do apartamento de Helena, ela abriria com aquele sorriso encantador, e ele entregaria o pacote com um ar misterioso, dizendo que estava fazendo exatamente o que ela pediu. Ela, intrigada, perguntaria o que era aquilo. E então, com um sorriso travesso, ele diria que estava entregando pessoalmente, e a beijaria com paixão.
No entanto, a realidade estava longe da fantasia que ele construiu em sua mente. Ele ficou ali, atônito, observando Leandro ajoelhado no meio da rua, prestes a fazer uma proposta de casamento. Se Bruno não tivesse aparecido, talvez Helena tivesse aceitado. Ou talvez não? Todas essas possibilidades se chocaram dentro de sua cabeça, deixando-o confuso e perturbado.
Enquanto estava perdido em seus pensamentos, a voz doce de Helena cortou o ar, chamando seu nome mais uma vez. Ele se virou rapidamente para confirmar e a viu, ofegante, atrás dele. Seu coração deu um salto, e seu estômago se encheu de borboletas. Ela estava ali, diante dele, tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante.
Helena se aproximou, os olhos fixos nele, preocupada. "Bruno, você está bem?"
Ele forçou um sorriso falso, tentando esconder o caos que estava dentro dele. "Sim, estou bem."
As palavras saíram com dificuldade, e ele podia sentir os olhos dela analisando-o, tentando decifrar o que estava acontecendo. Ele queria dizer a ela tudo o que estava passando em sua mente naquele momento, mas as palavras pareciam presas em sua garganta.
Helena estendeu a mão, tocando levemente seu braço. "Você parece... Tem certeza de que está bem?"
Bruno desviou o olhar por um momento, incapaz de encarar a intensidade nos olhos dela. "É só...não se preocupe, vou ficar bem."
Ele esperava que ela aceitasse sua explicação superficial e deixasse para lá, mas seus olhos nunca deixaram os dela, como se estivesse tentando ler sua alma. E naquele momento, Bruno desejou mais do que nunca poder compartilhar toda a verdade com ela. Porém, ele sabia que havia um abismo entre eles agora, um abismo que ele mesmo ajudou a criar.
Helena passou a mão pelos cabelos loiros, uma tentativa involuntária de acalmar os sentimentos tumultuados que a presença inesperada de Bruno havia desencadeado. Ela mordeu os lábios, os olhos fixos nele, e então, como se precisasse quebrar o silêncio incômodo, finalmente perguntou: "O que você está fazendo aqui em São Paulo?"
Bruno olhou para ela, sua expressão séria e intensa. "Vim entregar o pacote", respondeu, sua voz carregando um misto de seriedade e determinação.
Helena o encarou, os olhos ligeiramente arregalados de incredulidade. Ela soltou um riso amargo, suas emoções se misturando em um turbilhão. "Você viajou até São Paulo só para entregar um pacote?", indagou, como se fosse difícil acreditar naquilo.
Ele assentiu, mantendo o olhar fixo no dela. "Fiz o que você pediu na carta."
As palavras dele ecoaram em sua mente. Semanas haviam se passado desde que ela havia escrito aquela carta, desde que tinha tentado jogar tudo para trás e seguir em frente. E agora, ali estava ele, Bruno, parado à sua frente, como se o tempo não tivesse passado.
Helena sentiu um nó se formar em sua garganta, suas emoções à flor da pele. Ela mordeu novamente os lábios, lutando contra as lágrimas que ameaçavam escapar. "Foram semanas, Bruno. Semanas em que eu fiquei esperando qualquer sinal seu. E nada."
Bruno manteve o olhar firme, mas havia algo em sua expressão que indicava que ele estava lutando com suas próprias emoções. "Agora que você estava de volta com o amor da sua vida, eu atrapalhei", disse ele, interrompendo as palavras dela.
Helena sacudiu a cabeça, frustrada e nervosa. "Não era isso o que eu ia dizer."
Ele a observou por um momento e então soltou um suspiro pesado. "Não importa o que você ia dizer, Helena. Importa o que eu vi."
Ela o encarou, seu olhar se encontrando com o dele. "O quê... o que você viu?"
Bruno apontou para a cena que ainda estava fresca em sua mente: Leandro ajoelhado no meio da rua, prestes a pedir Helena em casamento. "Eu vi Leandro ajoelhado, te pedindo em casamento. E para ele fazer um gesto como esse, no mínimo, vocês estão tentando de novo, não é? Porque eu não acho que ele é louco o suficiente para aparecer do nada com um anel, pedindo a ex-namorada em casamento."
Helena sentiu uma mistura de emoções tumultuando dentro dela. Ela queria gritar com Bruno, queria explicar que as coisas não eram tão simples, que havia mais naquele momento do que ele podia ver. Mas as palavras pareciam presas em sua garganta, e ela só conseguia olhar para ele, o coração pesado.
Helena apertou os lábios, sentindo a tensão no ar. "Não é assim, Bruno. Não é tão simples."
Ele balançou a cabeça, a frustração evidente em seu olhar. "Às vezes, as coisas são exatamente assim, Helena."
Ela queria argumentar, explicar, mas as palavras pareciam presas em sua garganta. Ele tinha vindo entregar um pacote, e agora ela estava enfrentando a possibilidade de ficar noiva novamente. A ironia da situação a deixava sem palavras.
"Peça- me para não ficar noiva", disse ela finalmente, lutando contra as emoções tumultuadas.
E naquele momento, enquanto o mundo continuava a se mover ao seu redor, Bruno sentiu que havia muito mais a dizer, muito mais a esclarecer. Mas por enquanto, ele estava ali, na presença dela, mesmo que as circunstâncias fossem completamente diferentes das que ele imaginou.
Bruno pareceu hesitar por um momento, como se ponderasse suas palavras. "Você deveria aceitar, Helena. Não há mais nada para você comigo, Helena. O pacote já foi entregue."
As palavras dele atingiram como um soco, uma dose brutal de realidade. Helena sentiu-se perdida, com as emoções em conflito. Ela assistiu enquanto Bruno se afastava, se perdendo na esquina da rua, e uma sensação de vazio a envolveu. As lágrimas finalmente rolaram por seu rosto, e ela soube que a presença inesperada de Bruno havia virado sua vida de cabeça para baixo mais uma vez.
O pacote estava ali, como uma lembrança tangível de um passado que ela não conseguia deixar para trás. E, à medida que o ruído da cidade ecoava ao seu redor, ela se viu diante de uma encruzilhada, com escolhas a fazer que poderiam determinar o curso de sua vida.