Enquanto Jonathan, Gabriel e Lucas conversavam pelo caminho sobre o tempo perdido e como tudo poderia ter sido evitado, eles viraram a esquina e se depararam com uma figura conhecida. Bruno estava parado em frente à loja, com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto. Ele os observou se aproximando, e os amigos trocaram olhares nervosos entre si.
Bruno caminhou até eles, seu olhar fixo nos três com uma intensidade que transmitia seriedade. "Onde vocês estavam ontem?", ele perguntou diretamente.
Gabriel tentou desconversar, sorrindo nervosamente. "Ah, você sabe como é, Bruno, achamos que fosse feriado..."
Lucas entrou na tentativa de Gabriel, concordando com ele. "Sim, exatamente! Jurávamos que era um feriado."
Jonathan também confirmou, tentando acompanhar a história inventada. "Isso mesmo, parecia um feriado."
No entanto, Bruno não estava disposto a aceitar a desculpa. Ele olhou para os três com olhos estreitos, desconfiado. "Vocês três sabem muito bem que ontem não foi feriado. Pela expressão de vocês, vocês andaram aprontando alguma coisa."
Gabriel tentou manter a calma, defendendo a história fictícia. "Foi apenas uma falha na comunicação, Bruno."
Mas Bruno estava determinado a saber a verdade. Ele disse com firmeza: "Agora chega disso. Ou vocês contam o que fizeram ontem ou os três estão demitidos."
Os três amigos trocaram olhares nervosos entre si, percebendo que não havia mais como esconder a verdade. Lucas finalmente quebrou o silêncio e admitiu que eles tinham ido ver Helena, revelando que a ideia partiu de Jonathan.
Bruno encarou os três com uma mistura de surpresa e raiva. Ele segurou Jonathan pela gola da camisa, olhando diretamente em seus olhos. "Por que você fez isso, Jonathan? Por que vocês foram lá?
Gabriel tentou intervir, mas Jonathan decidiu assumir a responsabilidade. Ele olhou para Bruno com sinceridade e disse: "Eu fiz isso pelo seu bem, Bruno. Nós três sabíamos que você ama a Helena, e nós vimos como você estava se distanciando por causa da profecia. Nós sabemos, mas também sabíamos que você não ia contar para ela por conta própria. Nós só queríamos que ela tivesse todas as informações."
Gabriel tentou interferir e respondeu com sinceridade. "Nós não conseguíamos simplesmente ficar de braços cruzados enquanto você estava sofrendo."
Bruno segurou com mais força a gola da camisa de Jonathan, seus olhos fixos nos dele, como se estivesse tentando entender a motivação por trás da ação do amigo. "E o que vocês achavam que poderiam fazer? Helena está prestes a se casar, Jonathan. E, além disso, vocês não têm o direito de se intrometerem assim na minha vida."
Jonathan olhou para o chão por um momento, sentindo o peso das palavras de Bruno. Finalmente, ele respondeu com sinceridade. "Nós sabemos que Helena está prestes a se casar. Fomos lá para contar a ela sobre a profecia, porque achamos que você tinha o direito de ser honesto com ela. Mas, no final, ela já tinha feito sua escolha."
Bruno soltou Jonathan e recuou um passo, sua expressão se tornando mais suave, mas ainda repleta de conflito interno. Ele passou a mão pelo cabelo e suspirou profundamente. "Vocês três não tinham o direito de se intrometerem na minha vida dessa forma. Eu precisava lidar com isso do meu jeito, mesmo que seja difícil."
Lucas e Gabriel permaneceram em silêncio, olhando para o chão, cientes do desconforto e da tensão na situação. Era evidente que as ações deles tinham mexido com Bruno e que ele estava tentando processar tudo.
Lucas e Gabriel trocaram olhares antes de Lucas falar. "A gente sabe agora, Bruno. Nós chegamos tarde demais."
Jonathan suspirou, olhando nos olhos de Bruno. "Desculpa, cara. Nós só queríamos te ajudar."
Bruno olhou para Jonathan por um momento antes de finalmente soltar um suspiro. "Eu sei que vocês tinham boas intenções. Mas, por favor, da próxima vez, confiem em mim para lidar com as minhas próprias questões."
Os três amigos assentiram, um misto de alívio e arrependimento pairando no ar. O entendimento estava presente, mas as consequências de suas ações ainda estavam sendo processadas.
***
Marcelo chegou silenciosamente ao apartamento da família, sua curiosidade o levando em direção às vozes vindas da cozinha. Ele parou no limite da entrada, ocultando-se para ouvir a conversa que se desenrolava ali. As vozes eram nítidas: sua mãe, Regina, e uma que ele reconheceu instantaneamente como sendo Greta Albuquerque, a mãe de Leandro. Seus ouvidos captaram as palavras enquanto as duas mulheres conversavam.
Regina estava servindo café, aparentemente animada com o casamento que aconteceria no dia seguinte. Greta expressou seu próprio entusiasmo, mas com um tom de alívio evidente em sua voz.
"Sabe, não vejo a hora do meu filho dizer sim no casamento, assim não precisarei mais lidar com você, Regina."
As palavras de Greta eram carregadas de um subtexto que Marcelo não conseguia ignorar.
" Oh, não fale assim, Greta. Depois do sim, todos nós seremos uma grande família." Comentou Regina, servindo mais um pouco de café.
"Não, mas pelo menos a ameaça de contar ao meu marido do meu caso com outro homem, vai parar, não vai?" Questionou Greta, séria.
"Claro, meu bem." Confirmou Regina calmamente. "Só não ouse a contar a ninguém sobre o nosso acordo. Aliás, a ideia de fazer com que Leandro se casasse com Helena, ou seria deserdado, foi sua."
A conversa continuou, e Marcelo percebeu que as duas mulheres estavam envolvidas em um jogo de manipulação e chantagem, com consequências potencialmente destrutivas para a vida de Helena.
"Só fiz isso, pois Leandro estava irredutível, mas eu me arrependo. Acho que fui longe demais dessa vez." Falou Greta.
" Oh, querida, não se preocupe, isso tudo será superado quando Helena e Leandro estiverem felizes após o casamento." Regina justificou.
" Que seja, eu vou embora, antes que alguém apareça e nos escute." Avisou Greta. " Até o casamento, Regina".
Com a despedida de Greta e a Regina se levantando, Marcelo decidiu revelar sua presença. Ele entrou na cozinha e olhou sério para a mãe.
Regina acompanhou Greta até a porta, deixando-o a sós na cozinha. Foi então que ele confrontou sua mãe, olhando para ela com uma mistura de decepção e indignação.
"Eu ouvi tudo, mãe", ele disse, sua voz pesada de desapontamento. "Eu ouvi cada palavra que você e Greta disseram."
Regina olhou para o filho, sua expressão mudando de surpresa para preocupação. "Marcelo, eu... Você não deveria ter escutado isso."
"Não deveria ter ouvido, talvez, mas escutei", ele rebateu. "Você ameaçou Greta para obrigar Leandro a se casar com Helena? É isso mesmo?"
Regina pareceu lutar com as palavras, mas depois de um breve momento, ela assentiu com relutância. "Eu fiz o que achei que era necessário para garantir o futuro de Helena. Eu não queria que ela ficasse sozinha e sem opções. |Ou casada com o bicicleteiro."
Marcelo balançou a cabeça, sua decepção evidente. "Então você está disposta a manipular e ameaçar para conseguir o que quer, mesmo que seja às custas da felicidade de Helena?"
Regina olhou para seu filho, suas palavras parecendo pesar sobre ela. "Marcelo, eu entendo que isso parece errado, mas... eu estava pensando no bem dela."
Marcelo suspirou, sua frustração evidente. "Bem dela? Você está sacrificando a felicidade dela por causa de suas ambições. Você não acha que ela merece mais do que isso?"
Regina voltou-se para Marcelo, sua expressão tensa. "Marcelo, eu posso explicar..."
Marcelo a interrompeu, suas palavras cortantes. "Explicar o quê? Como você pôde fazer isso? Colocar o seu desejo acima do que realmente importa? E o que você planeja fazer agora? Continuar vivendo essa farsa?"
Regina parecia desconfortável, mas ainda tentava se defender. "Marcelo, você não entende como é a vida..."
Marcelo a interrompeu novamente, sua voz elevando-se em frustração. "Não, mãe, você não entende que suas ações afetaram a vida de Helena de uma maneira terrível? E agora, ela está prestes a se casar sem sequer saber a verdade por trás disso tudo."
A expressão de Regina oscilou entre a tristeza e a defesa, mas Marcelo estava determinado a confrontá-la sobre suas escolhas. "Você vai contar a Helena a verdade, mãe. Ela merece saber o que realmente está acontecendo antes de dar esse passo tão importante. E se você não contar, quem vai contar sou eu."
Enquanto as palavras pesavam no ar, a verdade ameaçava derrubar as fundações de um casamento que estava a poucos passos de se concretizar.
***
Enquanto Helena se arrumava em frente ao espelho para o seu casamento, as palavras dos amigos de Bruno ecoavam em sua mente, desencadeando uma turbulência emocional dentro dela. Ela ajustava seu vestido branco com mãos trêmulas, enquanto se esforçava para afastar os pensamentos que a atormentavam.
A mãe de Helena, Regina, entrou no cômodo, trazendo consigo o véu que deveria cobrir o rosto virginal da noiva. Com um gesto gentil, ela colocou o véu sobre o rosto de Helena, que permanecia em silêncio, envolvida em seus próprios pensamentos. Regina comentou que a filha estava deslumbrante com aquele vestido, muito mais do que com o anterior. Helena apenas sorriu levemente em resposta, sem dizer uma palavra.
Enquanto Regina ajustava o véu, ela olhou para a filha com carinho. "Está tudo bem, querida? Você parece um pouco distante."
Helena desviou o olhar do espelho e encarou a mãe com uma expressão pensativa. Ela se sentia dividida entre as expectativas que a vida havia estabelecido para ela e as revelações que havia recebido dos amigos de Bruno. Era um dilema que a consumia por dentro. Então, em um impulso, ela perguntou: "Mãe, você já pensou em algum momento da sua vida que poderia ter cometido um erro consciente disso?"
Regina arqueou a sobrancelha, surpresa pela pergunta inesperada. "Uma pergunta esquisita, querida. O que você quer dizer com isso?"
Helena suspirou e se virou para a mãe, buscando suas palavras com cuidado. "Às vezes sinto que as escolhas que fazemos podem nos afastar de algo que realmente importa. Às vezes, escolhemos um caminho que parece certo na época, mas depois percebemos que foi um erro."
Regina olhou para a filha com um misto de compreensão e curiosidade. "Helena, eu sempre fiz o que acreditei ser o melhor."
Helena estava prestes a responder quando a voz suave de Marcelo interrompeu a conversa. Ele entrou na sala reservada, seu olhar de admiração pousando na irmã. "Uau, você está absolutamente deslumbrante, Helena."
Helena sorriu para o irmão, agradecendo pelo elogio. Então, com uma pitada de nervosismo, ela perguntou: "Você viu o Leandro, Marcelo?"
Marcelo bufou levemente e então respondeu: "Sim, vi ele. Não precisa se preocupar, tenho certeza de que ele não vai fugir dessa vez."
Helena estranhou a resposta do irmão e inquiriu: "Como você tem tanta certeza disso, Marcelo?"
Marcelo trocou um olhar significativo com a mãe antes de responder. "Bem, talvez , Dona Regina, nossa mãe, possa te contar algo que você ainda não saiba."
"Marcelo, pare!" Ordenou Regina, séria.
Helena se virou para a mãe, sua expressão uma mistura de surpresa e apreensão. "O que ele quer dizer, mãe? Do que vocês estão falando?"
Marcelo lançou um olhar para Regina, claramente em um dilema sobre revelar algo que não devia. Ele então olhou de volta para Helena e disse: " Nossa mãe fez um acordo com os pais de Leandro."
Helena encarou a mãe, sua voz trêmula quando perguntou: "Mãe, é verdade?"
Regina se mostrou um pouco desconfortável, tentando desviar o olhar, mas Marcelo havia falado a verdade. "Helena, eu..."
Marcelo a interrompeu, exasperado: "Ela fez um acordo, Helena. Se Leandro desistir, ele será deserdado."
As palavras de Marcelo caíram como uma bomba na mente de Helena. Ela olhou para a mãe com olhos arregalados, lutando para compreender o que acabara de ouvir. O véu branco sobre seu rosto parecia ficar mais pesado com a revelação. A verdade estava diante dela, nua e crua, e ela precisava tomar uma decisão que poderia moldar o resto de sua vida.