Bruno leva Helena até o quarto de seus pais e enquanto a jovem fica parada na porta , ele vai até o guarda roupa, abrindo em seguida. O rapaz não precisa mexer muito e já encontra alguns trajes femininos muito bem embalados. Ele pega dois deles balançando em direção a Helena.
— Achei. - Fala jogando um deles em direção a jovem. —Veja se serve em você.
—Aqui? Esse quarto é seu? - Pergunta Helena, receosa.
—Ahmmm, não...Venha. - Chama Bruno segurando na mão de Helena e a levando em direção ao seu quarto. Ele abre a porta e então aponta para dentro. — Fique à vontade.
— Obrigada. - Agradece Helena entrando no quarto de Bruno. Ela se vira e nota que Bruno continua na porta a observando. — Será que você poderia.... fechar a porta?
—Ah, claro. Desculpa. Avise quando terminar - Pede Bruno antes de fechar a porta.
Helena então se vira e então começa a tirar suas roupas, colocando o primeiro traje que serviu perfeitamente nela, para sua surpresa. Veste o segundo e cai como uma luva em seu corpo, fazendo Helena se perguntar a quem pertenciam aquelas roupas. Da ex-namorada, talvez? pensa enquanto abre o zíper do segundo traje e o deixando deslizar pelo seu corpo.
—Então, ficou bom? - Pergunta Bruno entrando abruptamente.
—Ei! - Grita Helena segurando o traje contra seu corpo, assustada. Ela puxa o zíper rapidamente enquanto encara Bruno, séria.
—Desculpa! - Pede Bruno, nervoso tentando fechar os olhos. — É que você estava demorando...
—Sim, serviram, mas eu não me sinto bem usando a roupa de outra pessoa. - Fala Helena, sem jeito.
—Pode ter certeza que a pessoa não fará muita questão do traje... - Alega Bruno.
— Duvido que a sua ex não vai querer esses trajes. Eles são perfeitos. - Comenta Helena tentando descobrir a dona dos trajes de ciclismo.
—Eles não são de nenhuma ex-namorada minha, se é isso que está passando pela sua cabeça. - Fala Bruno sentando na cama. Ele respira fundo e continua. — São da minha mãe, quando ela praticava ciclismo.
— Hummm... Eu vi algumas fotos dela com seu pai lá embaixo. Deveria ter suspeitado disso. - Fala Helena, sem graça por achar que fosse de alguma ex de Bruno. — Por que ela parou?
— Alzheimer... Ela foi diagnosticada há uns dois anos, depois de se perder em uma competição aqui na região, sendo que ela conhecia o percurso como a palma da mão dela. Ela foi achando que era apenas estress e descobriu a doença.
—Sinto muito. - Fala Helena sentando ao lado de Bruno. Ela segura na mão do rapaz.— Não deve ser fácil.
— É... tem seus dias bons e ruins. - Comenta Bruno. — Hoje é um dia bom, apesar de achar que você fosse minha namorada.
—Mesmo? - Pergunta Helena arqueando a sobrancelha. — Por quê?
—Bom, com o tempo minha mãe começou a ter uma aversão por mulheres... Ela ficou muito agressiva com a diarista e com sua própria médica. Nenhuma mulher mais poderia sequer passar aqui na frente de casa que ela jogava um balde de água nelas. Diante desse quadro, meu pai ficou responsável por ela integralmente, já que minha mãe só aceita ele e eu aqui em casa. E agora, aceitou você.
— Nossa, eu não imaginava... Ela foi tão doce comigo.
— Pois é. - Confirma Bruno encarando Helena. — Aliás, desculpa por ela ter dito que você é minha namorada...
—Tudo bem. Agora que você me contou da doença dela, tudo fez sentido. E fico muito feliz por ela ter gostado de mim.
— Você tem algo de especial, Helena...
Ele ergue sua mão em direção aos fios bagunçados da loira, os ajeitando atrás da orelha enquanto seu rosto se aproxima do dela. Helena encara Bruno com os lábios entreabertos e trêmulos. Ela não conseguia explicar esse imã que os atraía a ponto dela sentir uma enorme vontade de beijá-lo, sem qualquer resistência. Bruno se ajeita levando seus lábios de encontro com os de Helena, ansiava por sentir o gosto do beijo da jovem que mexeu com ele desde o primeiro dia.
— Estou entrando, estou entrando... - Avisa Nilton entrando no quarto de Bruno , fazendo com que os jovens praticamente pulassem da cama.
Bruno foi parar praticamente na porta do banheiro, enquanto Helena pegava as roupas do chão. Nenhum movimento passou despercebido pelo pai de Bruno que solta um sorriso maroto em direção aos dois. Nilton então se vira para o filho que estava menos vermelho que Helena e diz:
— Desculpa atrapalhar os pombinhos, mas eu vim aqui conhecer a minha nova nora.
—Pai, essa é a Helena. - Fala Bruno apontando para Helena. — Helena esse é o meu pai, Nilton.
—Prazer, senhor Nilton. - Fala Helena erguendo a mão em direção ao seu "sogro". — Mas eu não sou a namorada do Bruno.
—Na verdade, ela é cliente da loja e viemos aqui para ela provar uns trajes da mãe para usar hoje já que o dela está... inutlizável. - Explica Bruno.
—Sei... - Solta Nilton encarando Helena dos pés a cabeça. — Esse traje foi de quando Loreta venceu a Brasil Ride Bahia. O que está na sua mão foi quando ela ficou em 3 lugar na Brasil Ride Espinhaço.
—Desculpe-me por estar usando, não sabia que era tão importante. Eu vou tirar. - Explica Helena, nervosa.
—Não, por favor. Ficou ótimo você, se quiser pode ficar com ele. Com os dois. - Fala Nilton.
—Não, imagina...
—Eu faço questão, Helena. - Fala Nilton com um leve sorriso para Helena. — Só peço que se dedique a praticar ciclismo, pois é um esporte maravilhoso.
—Pode deixar, seu filho me incentivou bastante com paisagens lindas...
—Fico feliz em ouvir isso. - Fala Nilton encarando o filho. — Enfim, também vim para avisar que sua mãe convidou sua namorada para almoçar conosco.
—Pai, ela não é minha namorada. - Reforça Bruno, sério.
—Por hoje, ela terá de ser. - Diz Nilton para o filho. — Sua mãe está cozinhando Peixe azul-marinho e disse que fará ainda Manuê de bacia para o café da tarde.
— É sério, pai? - Pergunta Bruno, surpreso. Não é para menos, pois sãos os pratos favoritos de Bruno que há muito tempo não saboreava. Ele se vira para Helena. — Você se importa em ser minha namorada por algumas horas? Por favor...
— Está bem. - Aceita Helena sorrindo para Bruno.
***
Depois que Helena trocou de roupa, o trio desceu as escadas escutando o cantarolar de Loreta na cozinha. Nilton entra no cômodo primeiro que Bruno e Helena que segura no braço do rapaz atraindo sua atenção:
— O que é Peixe azul-marinho?
— Nunca ouviu falar no melhor prato do mundo? - Pergunto Bruno, sorrindo. Ele segura na mão da jovem e diz: — Venha você terá uma experiência única hoje.
Os dois entram na cozinha e encontram Loreta cortando o robalo enquanto Nilton ajeita a panela de ferro em cima do fogão. Helena observa o peixe que não tem nem de perto a cor azul, surpresa.
— O peixe não deveria ser azul? - Pergunta atraindo atenção de Loreta que sorri para ela.
—Na verdade, não existe nenhum peixe de cor azul. - Começa Loreta separando o peixe em um recipiente. — Venha, vou te ensinar a fazer o prato. Meninos, saiam da cozinha, que hoje vou cozinhar com a minha nora.
Bruno e Nilton se olham, preocupados. Há muito tempo que não deixam Loreta sem supervisão nenhuma e ainda mais com uma mulher.
—Vamos, vamos. - Fala Loreta empurrando os dois para fora da cozinha. — Ficaremos bem. Aproveitem e limpem a sala de jantar e arrumem a mesa. Bruno, vai comprar um refrigerante lá na mercearia, por favor.
Os dois saem ainda surpresos com a postura altiva de Loreta que agora sorri para Helena que se aproxima da bancada. Loreta pacientemente ensina Helena a temperar o peixe com sal, primenta, suco de limão e cravo, enquanto ela mesma foi refogando o alho, cebola, pimentão e o tomate no azeite dentro da panela de barro.
— Pegue pra mim, querida a verdolenga. - Pede Loreta apontando para a banana que não está nem verde e nem madura. Helena se aproxima com o recepiente das bananas cortadas em três pedaços e a mulher continua explicando: — Esse é o ponto ideal da banana para esse prato. Precisa ter essa seiva brotando da casca.
Depois Helena começa a colocar as postas de peixe dentro da panela ,enquanto Loreta coloca um pouco de água, o que faz o caldo ganhar um tom azulado , durante o processo de cozimento , por conta de reação química que ocorre entre peixe, panela de ferro e a banana. Loreta sorri ao ver o olhar de admiração de Helena ao ver a reação química acontecer. Ela pega um pouco do caldo azul da panela, aproveitado para fazer um pirão com farinha de mandioca,enquanto Helena salpica um pouco de coentro e cheiro-verde, dando um sabor a mais no prato.
— Sabe, meu sonho sempre foi passar essa receita para alguém. O Bruno não é muito interessado em cozinha, aprendeu a fazer o básico com muito esforço da minha parte. Então, fico feliz de estar ensinando a você. - Fala Loreta sorrindo enquanto tenta se livrar das lágrimas nos cantos dos olhos.
—É uma honra para mim aprender esse prato, Senhora Loreta. - Fala Helena , emocionada.
O motivo da emoção de Helena é que em toda sua vida nunca tivera uma experiência dessa nem com sua mãe , pois Regina era muito ocupada e deixava a alimentação dos filhos a cargo de comidas prontas ou compradas em restaurante. Nem mesmo com sua ex-sogra ela teve essa oportunidade e acredita fielmente que a mãe de Leandro nem devia saber onde fica a cozinha em sua própria casa. Portanto, Helena era muito grata por ter vivido aquela experiência com sua sogra emprestada.
— Vamos, lá? - Pergunta Loreta chamando atenção de Helena.
—Espero que eles gostem. - Comenta Helena segurando o refratário onde Loreta serviu o peixe.
— Menina, quem não gostar só pode ser r**m da cabeça ou doente da boca. - Comenta Loreta rindo.
As duas entram na sala de jantar sendo aplaudidas por Bruno e Nilton que já tinham deixado tudo pronto. Todos se sentam e então Loreta se vira para eles dizendo:
— Quero fazer uma prece pelo nosso almoço, você se importa, Helena?
— Não, imagina. Toda benção é bem vinda. - Responde Helena segurando então na mão de Bruno e de Loreta enquanto Nilton segura na mão da esposa e do filho.
— Senhor, Deus Pai e Jesus Cristo peço que abençoe nossa mesa farta e também esse jovem casal. Derrame teu Espírito neste momento, e eu oro para que fales a mim e através de mim, ao abençoar esse casal. O Senhor uniu esse casal com a tua habilidade divina e permitiu que eles se conhecessem, tendo um grande plano para o seu futuro. Comece a tocar seus corações para que possam saber o caminho exato a seguir, estando sempre em acordo. Oro para que meu filho sempre honre e ame Helena, preferindo-a acima de todas as outras. Oro para que a minha nora já tão amada por mim respeite e ame meu filho sempre. Dê-lhes uma porção extra de tua graça para lidar com algumas decepções que a vida pode lançar em seu caminho. O mais importante, mantenha-os perto de ti. Tua Palavra diz que o Senhor nunca nos deixará ou nos abandonará . Ajude-os a voltarem-se para Ti em primeiro lugar, e depois um para o outro. Pedimos todas essas coisas em nome de Cristo. Amém .
—Amém. - Falam os outros três acompanhando Loreta.
Helena encara Loreta , sem graça. Sentia-se traindo a boa vontade de Loreta para com ela. Não achava justo receber uma oração tão linda sobre um relacionamento que não existia.
—Vamos, meu bem, prove. - Pede Loreta servindo o peixe para sua "nora" .
Helena coloca um pouco em seu talher e então leva para sua boca, saboreando o prato. Uma explosão de sabor acontece em sua boca a fazendo suspirar com vontade arrancando sorrisos da família de Bruno.
—Esse prato é muito bom!
—Por isso que é o meu favorito feito pela melhor cozinheira do mundo. - Fala Bruno dando beijo no rosto de sua mãe.
Eles almoçam a base de muita conversa e risos. Helena fica surpresa em ver que Nilton, aquele senhor de rosto tão sério que falou com ela a pouco, era um verdadeiro contador de piadas e anedotas. Bruno também era muito bom contando as histórias de suas travessuras que deixavam Loreta de cabelos em pé, segundo ela mesma. A conversa entre eles fluíram tanto que Helena nem notou o dia ser levado pelo entardecer, só percebendo quando ajudava Bruno com a louça do café da tarde. Após terminarem a louça o "casal" volta sala encontrando os pais de Bruno assistindo televisão e então se despedem deles que insistem para Helena ficar para o jantar.
—Não posso. Uma hora dessas a minha mãe já colocou a polícia atrás de mim. - Explica Helena a Loreta.
—Tudo bem, entendo sua mãe. Porém, volte sempre. A minha casa está de portas abertas para você, querida. - Fala Loreta abraçando Helena mais uma vez.
—Obrigada, Senhora Loreta.
—Loreta, já somos quase família. - Corrige Loreta.
—Mãe, por favor... - Fala Bruno dando um beijo no rosto de sua mãe. — Ja volto, tá bom. A benção.
— Deus te abençoe. - Fala Loreta segurando nas mãos juntas do filho.
Bruno pega a bicicleta e então ajuda Helena a subir, pedalando em direção a penumbra que já tomava a rua. O frio fazia Helena se agarrar em Bruno que não se importava com o toque mais ousada da loira. Ele apenas ficou triste por chegar tão rápido até a pousada da jovem que também não está com uma cara muito feliz.
— Então, gostou de conhecer os meus pais, namorada? - Pergunta Bruno.
— Amei. Seus pais são fantásticos! - Elogia Helena. — Dá até vontade de guardar eles em um potinho.
— Obrigado. - Agradece Bruno. — Espero que a minha sogra também seja assim.
—Ahmmm. tenho péssimas notícias para lhe dar. - Avisa Helena fazendo uma careta recebendo uma risada de Bruno.
—Adoro esse seu jeito, sabia? - Solta Bruno.
— Fico feliz em saber. - Comenta Helena, sorrindo ,tímida, mexendo nos cabelos.
—Sério... muito obrigado por tudo hoje. Há muito tempo não via minha mãe tão feliz. Aliás, meus pais felizes... Há muito tempo não tínhamos um momento tão bom quanto hoje.
—Bruno, eu quem agradeço. Eu amei passar o dia com sua família. Foi muito bom ser sua namorada por um dia.
— Você é uma ótima namorada.
—Sabe, até que você não é um péssimo namorado. - Ela aperta a sacola entre os braços e continua. — Pena que não somos reais... Digo, namorados de verdade... Ou talvez se fôssemos, não daria certo... Sei lá. Não sei o que estou dizendo...
Bruno não pensa duas vezes e então toma os lábios de Helena, finalmente a beijando como queria há muito tempo. Ela abre os lábios permitindo que o beije se intensifique , quando suas línguas se encontram e continuam em um mesmo ritmo. Helena deixa a sacola com os trajes cair, erguendo sua mão para segurar o rosto do rapaz que a puxa contra si. O beijo foi até mais do que Bruno e Helena foram capazer de prever, era como se eles estivessem na mesma sintonia, se conectado ao universo que parecia ter parado no tempo. Bruno não queria parar, mas precisava fazer uma pergunta a Helena, então afasta de leve deixando suas testas se encostando enquanto suas respirações ofegantes tomam conta do lugar onde estava o silêncio.
— Helena! - Chama Regina da porta da pousada, irritada.